domingo, 21 de agosto de 2005

A Crónica do Jogo

Derrota na estreia com exibição irregular

O Belenenses iniciou hoje o Campeonato Nacional de Futebol com uma derrota em Alvalade por 1-2. Num jogo presenciado por 30.789 espectadores, Carlos Carvalhal apresentou a seguinte equipa inicial: Marco Aurélio; Amaral, Rolando, Pelé e Vasco Faísca; Sandro, Pinheiro, José Pedro e Djurdjevic; Ahamada e Meyong. Fiel ao seu 4-4-2, com o meio-campo em losango e dois extremos na frente, Carlos Carvalhal não surpreendeu com a entrada de Faísca para defesa esquerdo, adiantando Djurdjevic para meio-campo, mas não se estava à espera da entrada de Sandro para o lugar de Rui Ferreira e de Meyong para um dos lugares do ataque, que em teoria se esperava que fosse de Paulo Sérgio ou Romeu. No caso de Sandro, do meu ponto de vista, Carvalhal acertou em cheio, pois já no jogo contra o St. de Liège este me parecera em melhor forma que Rui Ferreira. Em relação a Meyong teve azar, pois se este tem concretizado a oportunidade flagrante que dispôs e cruzado melhor na arrancada que teve antes de ser substituído, teria dado toda a razão ao treinador.

O jogo começou bastante equilibrado, o Sporting com o seu 4-3-3 habitual, tendo José Pedro arrancado uma boa defesa a Ricardo, na cobrança de um livre directo muito bem executado, logo aos 2 minutos de jogo. Respondeu o Sporting aos 5 min. também de livre directo por Rochemback, que Marco Aurélio defendeu com dificuldade, num lance em que socou a bola para cima e esta poderia ter entrado. Fiquei logo com a sensação que o nosso Imperador estava nervoso e intranquilo, algo que só uma vez tinha visto, num célebre jogo à noite em casa, como são agora quase todos, contra o Braga em que perdemos 0-3. Nesta toada equilibrada o Belenenses segurava muito bem a bola, não deixando o Sporting criar perigo, tendo inclusivé desperdiçado a melhor oportunidade de golo, quando Meyong isolado e com a bola controlada, após falha de Tonel, rematou por cima só com Ricardo pela frente. Falhanço incrível que estranhamente teve o condão de fazer recuar a equipa, que até final da 1ª parte se deixou dominar pelo Sporting, que, no entanto, só teve uma jogada de perigo, quando Faísca tirou a bola da frente de Liedson a 3 metros da baliza. Até que aos 39 min. da 1ª parte Rogério fez o 1º golo do jogo, num remate 10 metros fora da área, no enfiamento da linha lateral da grande área, em que Marco Aurélio me pareceu muito mal batido, porque não tira os pés do chão, raspando-lhe a bola nas pontas dos dedos e entrando na baliza. Digo mal batido em relação ao que estamos habituados do nosso Imperador. Verdade seja dita que o Sporting até então nada tinha feito para justificar a vantagem no marcador. Aos 44 min. Ahamada vê o cartão amarelo por protestos, a pedido de Beto (cada vez entendo mais porque é que este jogador não sai dali, nem tem hipóteses na Selecção). Já antes Rochemback tinha visto o amarelo. Com dois minutos de compensação, chegamos ao intervalo, com a sensação de este Sporting estar ao nosso alcance, mas com o defeito de só atacarmos pela direita.

No início da 2ª parte Carlos Carvalhal faz a substituíção anunciada na pré-época, tira Vasco Faísca e põe Fábio Januário na frente esquerda, recuando Djurdjevic. Era uma opção clara de maior libertação para o ataque, que não resultou porque Fábio não entrou bem no jogo, falhando até incrivelmente dentro da pequena área só com Ricardo pela frente, logo após o nosso golo, na altura o do empate, e porque Djurdi teve grandes dificuldades com Douala pela frente, sendo inclusivé admoestado com um cartão amarelo aos 16 min. Estava o jogo numa toada de parada e resposta, quando Fábio recuperou uma bola a meio do meio-campo adversário, passa para Pinheiro e este remata de longe, forte, com a bola a bater na frente de Ricardo, e restabelece o empate. Ricardo foi muito mal batido, mas, com o azar dos outros... Dois minutos depois a tal perdida incrível de Januário. O Belenenses tinha o adversário na mão, durante estes cinco minutos, quando Douala arranca pela direita, cruza e Marco Aurélio resolve socar a bola contra as pernas de Rolando, batendo esta no poste e entrando na baliza. Estava feito o 2-1, com uma grande dose de azar à mistura. O Belenenses enerva-se com este golo sofrido e cinco minutos depois, aos 23 da 2ª parte, Carlos Carvalhal esgota as substituições fazendo entrar P. Sérgio e Romeu para os lugares de Meyong, bastante apagado, e de Ahamada, este nem sempre bem servido e muito pouco apoiado por Pinheiro e Amaral. Estas substituições, ao contrário do que seria de esperar, partiram a equipa, que perdeu meio-campo, não havendo quem fizesse a transposição de jogo. Daí os muitos balões finais para a cabeça de Romeu, muito desamparado na frente, que eram inconsequentes por falta de apoio. Má entrada de Paulo Sérgio no jogo, não conseguindo uma única jogada objectiva, frente a um Tello muito fraquinho. Até final, mais dois cartões amarelos para dois jogadores azuis, aos 28 min. para Pelé, por entrada mais dura sobre Sá Pinto e aos 36 para Fábio Januário.

Boa arbitragem de Pedro Proença, apenas com dois reparos, o cartão amarelo a pedido para Ahamada e a falta de exibição deste a Tello numa jogada de simulação para pretenso penalti. Mas também Djurdjevic esteve algumas vezes no limite do 2º amarelo. Fossem todas as arbitragens assim até final do Campeonato...

Em resumo, derrota mais consentida que sofrida, que penaliza uma equipa que se enervou bastante com o 2º golo.

Análise individual dos nossos jogadores:

Marco Aurélio – 2. Culpado nos dois golos sofridos, talvez por estarmos habituados à quase perfeição do nosso guarda-redes, teve ainda mais duas saídas em falso. Boa defesa a um remate cruzado de Douala. Muito nervoso e intranquilo. São noites, não se vão repetir de certeza.

Amaral – 4. Perfeito a defender. Intransponível. Mas, com Pinheiro e Ahamada à sua frente, não ataca. Não me lembro de nenhuma das habituais arrancadas de Amaral.

Rolando – 4. Excelente exibição a defender. Secou Deivid ou Liedson, consoante o que lhe aparecia pela frente. Menos bem a sair com a bola jogada.

Pelé – 4. Tal como Rolando, imbatível no jogo aéreo e por baixo.

Vasco Faísca – 3. Bem a defender, algumas dificuldades a largar a bola. Como não ataca, foi o primeiro a ser sacrificado.

Sandro – 4. A surpresa no onze inicial. Para mim uma boa confirmação. Dominou a zona central do terreno, sendo o centrocampista que melhor aguentou fisicamente.

Pinheiro – 3. Boa primeira parte. Depois do golo, muito bom remate, estranhamente caiu. As pernas já não davam para mais.

José Pedro – 2. Esta nota penaliza essencialmente o que Zé Pedro devia ter feito e não fez, organizar o jogo de ataque. Excelente livre aos 2 min., óptimo passe a isolar Fábio na 2ª parte, boa ajuda defensiva, mas organizar jogo, mudar de flanco, enfim, criar, nada. Fez sentir saudades de Silas. A jogar assim, não tem lugar no onze inicial.

Djurdjevic – 3. Melhor na 1ª parte a fazer o flanco esquerdo, ajudando Faísca atrás e apoiando Meyong à frente. Pior na 2ª parte, tendo de recorrer algumas vezes à falta para travar Douala.

Ahamada – 3. Classe algo inconsequente. No entanto esteve bastante desapoiado no flanco direito, faltando muitas vezes o apoio de Pinheiro ou Amaral.

Meyong – 2. O mais penalizado pelo 4-4-2 de Carvalhal. Não é um extremo puro e gosta mais de também entrar pelo meio. Falhou um golo de baliza aberta, após um excelente roubo de bola.

Fábio Januário – 2. Não entrou bem no jogo e ainda falhou um golo à frente da baliza. Não conseguiu ser o extremo que precisávamos.

Paulo Sérgio – 1. Para mim o nosso pior em campo. Não fez uma jogada consequente e não conseguiu romper nunca pelo flanco direito, frente ao um fraco Tello.

Romeu – 2. Batalhador, mas muito desapoiado. Não se pode jogar para Romeu como se jogava para Antchouet.

Carlos Carvalhal – 3. Não foi por ele que perdemos o jogo. Nem que não ganhámos. Lançou todos os trunfos disponíveis, erradamente, para mim, as segunda e terceira substituições. Mas que culpa é que ele tem dos falhanços de Meyong e de Fábio, e dos erros de Marco Aurélio? Agora, claramente a rever, o 4-4-2 da 1ª parte, e a prestação atacante de José Pedro. Teria sido preferível fazer recuar Meyong para essa posição. Pelo menos tentar, que pior não devia fazer.