quarta-feira, 7 de dezembro de 2005

Em Busca do Belenenses Profundo – Parte II

Desde o início que vi o Blog Belenenses Sempre como um meio para lutar por causas. Por esse motivo, nunca me interessou muito (nada mesmo) vê-lo a fazer parte de alguma frente comum blogoesférica que se esgota em si mesma. Aborrece-me esta ideia de uma dúzia de blogs a funcionar em circuito fechado uns para os outros e mais ou menos para as mesmas pessoas; aborrece-me esta hiper-susceptibilidade pessoal, feita de amizades superficiais e formalismos, que se sobrepõe à clara e desassombrada expressão de argumentos, de dúvidas, angústias e propostas; aborrece-me a pessoalização das coisas “então o seu filho continua na escola X?”, “o seu irmão ainda trabalha na Rua Y?”, “as melhoras da sua tia e cumprimentos à sua cunhada”. Aborrece-me, talvez, porque vejo nisso a representação do que se passa nos jogos do Restelo, onde, ao invés do que sempre quis e sonho – UM CLUBE DE MASSAS -, já se nota que hoje o Joaquim não veio, que o António trouxe a namorada, ou que o Barnabé tem barba de dois dias.

Assim, o nosso blog assume-se como algo que vai em busca do Belenenses profundo. O que se fez até agora, é meramente uma de diversas fases. As que se seguirão devem trazer algo de bem distinto.

O Belenenses, como já vimos em outros artigos, terá cerca de 200.000 adeptos, cerca de 150.000 dos quais vivem em Portugal. Nestes termos, o drama é que uma tão escassa percentagem vá assistir aos jogos do Restelo. Estamos ser igualados ou até ultrapassados por clubes com bem menos adeptos que nós. É fácil e comodista atribuir essa situação apenas ao resultados, tanto mais que alguns dos clubes que ora nos superam em assistências não têm tido melhores resultados que nós. Sejamos claros: muito da crise de assistências tem como causa uma política que vem ressequindo a alma do clube: a perda de orgulho e identidade (um jovem lisboeta quer ser de um clube carregado de emprestados pelo Benfica e pelo Sporting?!); o discurso frio ou inexistente dos dirigentes; a incapacidade de estes se dirigirem aos adeptos e de os mobilizarem. Há cerca de um ano e meio que os sócios não recebem uma carta do clube; os ex-sócios há anos e anos que não são contactados; só uma ínfima percentagem dos tais 200 mil adeptos do Belenenses saberá sequer o nome de um único dirigente do seu clube.

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Para mim, o limiar do non-sense atinge-se quando, apesar disto, apesar do património de uma massa de adeptos ainda tão vasta - resquícios da grandeza imensa que foi nossa -, as soluções apontadas pela oligarquia dirigente do clube, abstendo-se de tentar fazer regressar essa massa com os meios próprios da Era da Comunicação em que estamos, se resumem a duas:

a) Fazer praticantes, de algumas modalidades no nosso clube, jovens que continuam a ser adeptos de outros clubes. Isto foi claramente dito na última Assembleia Geral. É um golpe terrível ouvir isto e escutar aplausos a uma tal afirmação. O futuro do Belenenses passa então por, durante meia dúzia de anos (até deixarem a prática) ter mais uns tantos sócios que, porém, reconhecidamente, continuam a ser adeptos do Benfica ou do Sporting!!! “Brilhante”! Não há-de a nossa identidade andar pelas ruas da amargura, não hão-de alguns logo aclamar acefalamente cada hipótese de empréstimos (esmolas) que recolhamos de Benfica, Porto ou Sporting... Será que não se aprendeu nada com o facto de as piscinas praticamente nos não terem trazido adeptos nenhuns?

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b) Captar adeptos entre as comunidades imigrantes. Outra ideia “genial”! E prefere-se isso a fazer-se seja o que seja para recuperar os Belenenses afastados por anos e anos de práticas clubísticas que representam a perversão do que o Belenenses foi! Sejamos claro: um eslavo que, tantas vezes com uma formação académica superior, come no nosso país o pão que o diabo amassou, que tem uma vida dura e difícil, será masoquista ao ponto de ainda ir escolher um clube, como o Belenenses, que quase só dá desgostos e depressões? Por favor, sejamos lúcidos!

Sejamos lúcidos e, antes de tudo, vamos em busca do que é nosso, do que – ainda que o actual estado do clube lhe não diga nada e, por defesa, quase o prefira esquecer – sempre foi Belenenses e sê-lo-á até ao fim dos seus dias...

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Sinal desta maneira de estar do nosso blog, desejoso de que voltemos a ser um clube de massas, foi o inquérito que colocámos com o título “Onde Vivem os Belenenses?”.

Foram colocadas 22 hipóteses de resposta: os 18 distritos do continente; as regiões autónomas dos Açores e da Madeira; e os residentes no estrangeiro, divididos em dois tipos: os que têm a nacionalidade portuguesa e os que a não têm.

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Ao fim de 310 votos (à data em que escrevemos este artigo, 2 de Dezembro), os resultados são significativos. Houve votos em todas as hipóteses, se bem que nos distritos de Beja, Guarda e Vila Real e na Madeira tenha havido apenas um voto. Isto mostra que o Belenenses é um clube de expressão nacional (e não só, como veremos).

Obviamente que a maioria das respostas indicam a residência no distrito de Lisboa: 56, 13%. Mas, repare-se: não é muito mais do que metade. E note-se que distrito de Lisboa não é cidade de Lisboa. Uma grande proporção destes 174 votos do distrito de Lisboa serão residentes em outros concelhos, sobretudo os de Oeiras, Sintra, Cascais, Loures e Amadora.

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Admitimos, portanto, que apenas uns 20% dos adeptos do Belenenses habitem no concelho de Lisboa. É uma realidade muito diferente, por exemplo, da do Vitória de Guimarães: estes concentrar-se-ão, muito perto dos 100%, no concelho de Guimarães. Isso, bem entendido, facilita uma melhor proporção de assistentes aos seus jogos.

Face a isto, podemos arriscar-nos a afirmar que hoje só uma parte relativamente pequena (1/7?; 1/6?; 1/5?) dos adeptos do nosso clube vivem em Belém, Ajuda e Algés. O bairrismo esbateu-se, para o bem e para o mal. Para o bem, porque o clube tem adeptos por todo o lado; para o mal, porque se esbateu um núcleo tendencialmente mais radical e indefectível.

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A 2ª resposta mais votada ( naturalmente, dados os muitos adeptos que temos na Margem Sul) foi o distrito de Setúbal, com 15,48% das respostas. Os distritos de Lisboa e Setúbal, somados, representam 71,61%. Como partes de ambos os distritos não se integram no que chamamos de grande Lisboa, podemos concluir que menos de 70%, cerca de 2/3 dos adeptos do Belenenses vivem na região metropolitana de Lisboa. O restante 1/3 vive fora desses limites, ou seja, já muito ou relativamente longe do estádio.

Mostrando a dimensão da diáspora portuguesa e, por conseguinte, belenense, o coração de mais de 5% dos adeptos azuis, portugueses de nacionalidade, pulsa em outros países, correspondendo a 16 respostas. Se lhe somarmos as 7 respostas de não portugueses que vivem fora do nosso país e que são adeptos do Belenenses (quase seguramente, cidadãos dos PALOP), temos um total de 7,42% de belenenses, ou seja, cerca de 1 em casa 14, que vivem fora de Portugal.

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Os restantes resultados com mais expressão são os de Leiria (9 votos = 2,90%, o que se pode considerar natural dada a relativa proximidade de Lisboa); os de Santarém (6 votos = 1,94%; idem); os do Porto (8 votos = 2,58%; também se pode considerar normal, atendendo à vastidão populacional do distrito do Porto, que é cerca de 10% do país); Aveiro (7 votos = 2,26%; igualmente sem surpresa, pois é sabido ser esta uma região tradicionalmente de importante implantação do Belenenses); Évora (também com 7 votos e 2, 26%; aqui, confessamos, com alguma surpresa para nós).

Os resultados dos Açores são largamente superiores aos da Madeira.

Registo ainda para o facto de os habitantes em regiões que ficam a mais de 200 km do Estádio somarem um muito significativo total de 21,30%. É quase 1/4 da nação azul! Isto corresponderá, portanto, a uns 30 ou 40 mil belenenses que só muito dificilmente poderão assistir aos jogos no Restelo (mais a mais, aos dias e horários em que se realizam).

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Pensamos que com este inquérito se deixa suficiente material para estudo. E tanto mais assim será, quantos mais votantes surgirem. Continuem, pois a votar!