sexta-feira, 27 de janeiro de 2006

Neste dia, em . . .

2000 – Morte de Matateu

Matateu – Um Génio, Absoluto e Inigualável


Por Álvaro Antunes

Quando entro em campo, vou sempre a pensar que o Belenenses ganha por 5-0, pois acho que cada avançado deve marcar um golo. Por mim, não descanso enquanto não marcar o que me compete...

Era assim, com esta garra, com esta determinação, com esta indómita vontade de vencer, que Matateu entrava em campo para defender a camisola do seu Belenenses.


Sebastião Lucas da Fonseca nasceu a 26 de Julho de 1927, no bairro do Alto Mahé, em Lourenço Marques (hoje Maputo, capital de Moçambique). Filho de Lucas Matambo e Margarida Heliodoro, foi o terceiro de cinco irmãos: Alberto Monteiro, o mais velho; Albertina; Sebastião Lucas; Lisete e Vicente (o “nosso” grande Vicente, de quem já aqui falámos a propósito do seu septuagésimo aniversário).

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A origem da sua alcunha, nem ele próprio sabia ao certo explicar. Crê-se que tenha surgido a partir do termo landim “tateu”, que quer dizer “crosta”. E ele, em pequeno, arrancava as crostas das feridas que o seu irrequietismo provocava. Se ligarmos o nome do pai -“Matambo”- a “tateu”, é possível que daí tenha surgido “Matateu”.

Foi na rua, mais concretamente na Estrada do Zixaxa, no meio da pequenada, jogando com uma bola de trapos que em Matateu nasceu o gosto pelo futebol. Nessas partidas animadas e renhidas, ele era dos mais pequenos e só a sua habilidade fazia com que os mais crescidos o admitissem nas suas equipas. O seu primeiro sonho de criança era ser jogador de futebol, como o seu irmão Alberto. Mas um dia, jogando à bola na praia, viu um grupo de pescadores sentados numa muralha, de cana em riste, esperando que algum peixe mordesse o anzol... Matateu ficou preso a essa imagem, e passou a dedicar grande parte do seu tempo à pesca. A bola de trapos deu então, muitas vezes, lugar à cana, à linha e a uma alcofa onde guardava o que ia pescando.

No entanto, o futebol estava-lhe no sangue e, aos catorze anos, levado pelo seu tio Eugénio de Carvalho, ingressou no clube “João Albasini”, onde jogava o seu irmão Alberto Monteiro. O treinador era o pai de Mário Coluna, e aí jogou até aos vinte anos, sempre nos lugares da linha avançada. A convite de Ervin Brás mudou-se para o Grupo Desportivo 1º de Maio (filial do Belenenses). O clube arranjou-lhe emprego de serralheiro na construção civil. Costumava treinar-se depois de sair do emprego. O treinador era então Mário Galvão e, na sua estreia com a camisola do 1º de Maio, empatou 2-2 com o Ferroviário, marcando um golo depois de driblar alguns adversários.

Em 1950 integrou a selecção dos Naturais de Lourenço Marques que derrotou o Benfica por 3-1. Matateu realizou uma prometedora exibição, marcando o terceiro golo da sua equipa. Entretanto, Megre Pires, administrador de Manjacaze, convenceu-o a ir jogar e treinar o clube local. Pagavam-lhe mil escudos por mês e tinha um emprego na Administração. Foi no final do primeiro jogo pelo seu novo clube, que surgiu o grande momento. O árbitro João Belo, antigo “internacional” belenense, chegou-se a Matateu e perguntou-lhe: “Queres ir para Lisboa, para o Belenenses ?”. Havia já vários clubes interessados no seu concurso, entre os quais o F. C. Porto que lhe oferecia 60 contos, recebendo 30 em Lourenço Marques e o restante no Porto. Mas Matateu recusou a conselho da mãe, que temia que ele ficasse abandonado no Porto, muito longe de Lisboa...
Desta vez porém, o convite era de Lisboa e Matateu resolveu aceitar. Como João Belo trabalhava no mato, foi o Sr. Cardoso, grande belenense de Lourenço Marques, quem tratou de tudo. Tinha já a passagem de barco marcada, quando um telegrama do Belenenses lhe deu instruções para apanhar o primeiro avião: “Tratar tudo urgentemente. Stop. Matateu embarque Lisboa primeiro avião.
A urgência tinha uma explicação: Ao Belenenses chegavam notícias de que, não só o F. C. Porto continuava a tentar a sua aquisição, como também Benfica, e União de Coimbra se mostravam interessados. No dia 4 de Setembro de 1951, a aeronave que transportava Matateu (com 24 anos) aterrou no Aeroporto da Portela.
À espera do moçambicano estava Manuel Vacondeus, chefe dos serviços administrativos do Belenenses, e um contrato de 30 contos de luvas e 1600 escudos de subsídio mensal. Numa entrevista publicada a 15 de Maio de 1958 na revista “Crónica Desportiva”, Matateu descreveu assim a sua vinda para o Belenenses:

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Tinha passagem marcada no barco, mas à última da hora recebi um telegrama com ordem de apanhar o primeiro avião. Assim fiz...
Nunca tinha “voado”. Foi uma viagem tormentosa. Chuva, relâmpagos e três dias de viagem. Julgava ficar no caminho e apenas me consolava a ideia de que se ‘aquilo’ caísse minha mãe receberia um bom “seguro”...

Cheguei a Lisboa no dia 4 de Setembro de 1951, numa terça-feira, salvo erro, pelo meio-dia. O Sr. Vacondeus, chefe da secretaria do Belenenses, estava à minha espera, no aeroporto. Assim que dei com os olhos nele , tive um pressentimento e pensei: deve ser aquele.
Depois de se apresentar, o Sr. Vacondeus meteu-me num automóvel, direitos à Delegação. Estava lá o Feliciano, ao tempo gerente do restaurante. Almocei com ele, mais outro colega desse tempo, Martins, que ficou sendo meu companheiro de pensão.
Depois do almoço, o Sr. Vacondeus levou-me ao café Restauração, onde me apresentou ao Sr. Mega, ao tempo presidente do Belenenses. Só no dia seguinte visitei as Salésias, pela primeira vez. Augusto Silva era o treinador – e durante quase duas semanas andei a “sonhar” com o dia da estreia
.”

Doze dias após a chegada, a 16 de Setembro de 1951, deu-se a estreia de Matateu com a “Cruz de Cristo” ao peito. Foi no Estádio Nacional, num encontro com o F.C. Porto a contar para a Taça Maia Loureiro (um torneio particular de início de época) que terminou empatado a 3-3. Pela equipa de Belém alinharam: Sério; Rocha e Serafim; Castela, Feliciano e Rebelo; Mário Rui, Pedroto, André, Matateu e Narciso.
No jornal “A Bola”, o jornalista Alberto Valente, apreciava da seguinte forma a estreia de Matateu: “Atingido o empate 1-1 e tomado o pulso à ‘disposição’ do F.C. Porto de ontem, o Belenenses “cresceu”, reabilitou-se e veio a valorizar-se imenso com o “sangue novo” que Matateu lhe ministrou.

Com um “jeito” individual muito diferente dos habituais recrutas azuis, o curso das operações permitiram que o “feitio” demonstrado por Matateu não fosse absorvido, eclipsado – antes pelo contrário!... E estamos mesmo em crer que se pudessem e quisessem dar largas às características específicas de rapazes como o estreante africano, é muito natural que o Belenenses tenha desde já... ou venha a ter encontrado um novo “padrão de jogo” que talvez comece a debelar a sua crise. É só aperfeiçoar depois esse “padrão”, moldando-o então e bem aos jogadores que o servirem – sem tentar jamais obrigar os jogadores a sujeitarem-se a um tipo de jogo que se tenha preconcebido... embora estabelecido pela tradição gloriosa do Clube!
A vivacidade do estreante Matateu, provocando as primeiras ovações da assistência, galvanizou os restante jogadores da Cruz de Cristo
.”

Ainda sobre a estreia de Matateu, num artigo assinado por Xara Brasil, publicado na revista “Flama” a 4 de Abril de 1952, podia-se ler:

Foi no dia 16 de Setembro do ano passado. Quando chegámos ao Estádio Nacional já havia principiado o encontro Belenenses-Porto e o esférico rondava perigosamente a baliza de Sério. Num ápice surge “um jogador negro” que salva o golo quase sobre a linha fatal. Sentámo-nos na bancada e voltámos a olhar o relvado. Na sequência da jogada, desenhara-se um contra-ataque da equipa de Belém e “um jogador negro”, de fora da área, arranca um tiro extraordinário que Barrigana repele “in-extremis”; André acorre à recarga e... golo do Belenenses! A rapidez do contra-ataque fora de tal ordem que nos convencemos alinharem no Belenenses 2 jogadores negros: um defesa e um atacante.
“Examinámos”, um por um, todos os futebolistas belenenses: só havia um negro. Contámo-los (podia o “outro” ter saído do rectângulo por qualquer motivo...): lá estavam os 11. Concluímos, claro, que havia apenas um negro e ficámos impressionados com a velocidade com que, naquele contra-ataque, ele chegara da sua baliza à área adversária. E de tal maneira que, durante o encontro, não tirámos os olhos do interior de Belém.
Prendeu-nos a maneira como ele evolucionava no terreno, a ligeireza das suas fintas e “driblings” e o sentido exacto da desmarcação; apreciámos a sua preocupação constante em baixar jogo e a técnica perfeita com que cobria a bola com o corpo; pasmámos com a sua velocidade, capacidade física e noção de verdadeiro “association”; impressionou-nos, sobremaneira, a facilidade com que, num palmo de terreno e com duas ou três simulações, se desenvencilhava dos opositores abrindo brechas irresistíveis na defesa contrária; entusiasmou-nos a certeza e a violência dos seus disparos à baliza e a generosidade com que despendeu energias; surpreendeu-nos, finalmente, o à-vontade que patenteou nesta estreia, perante o público da capital, não obstante o ambiente ser, para ele, absolutamente inédito. Em suma: naquela tarde “Matateu” havia conquistado o público, se bem que a maior parte dos espectadores (incluindo nós...), habituada, infelizmente, a “revelações que se eclipsam”, ficasse aguardando, com uma certa incredulidade, a confirmação do êxito.


Sete dias depois nas Salésias, o Belenenses venceu o Sporting por 4-3 na jornada inaugural do Campeonato. Foi a estreia de Matateu, em jogos oficiais pelo Belenenses. E que estreia!
Pedroto aos 8 minutos marcou para os”azuis”. Aos 26 minutos Jesus Correia empatou, para aos 34 minutos Travaços colocar o Sporting em vantagem. Dois minutos depois, Matateu fez o 2-2. Aos 55 minutos Mário Rui colocou os azuis de novo a vencer, mas aos 83 minutos Jesus Correia empatou novamente a partida. Faltavam dois minutos para o final, quando Matateu, numa jogada soberba, deu a vitória ao Belenenses. Salvador do Carmo, antigo Presidente do Clube e várias vezes seleccionador nacional, descreveu assim a forma como Matateu marcou o quarto golo azul: “Captou o esférico a meio do terreno e ei-lo em fintas sucessivas e em corrida vertiginosa para, perto de Azevedo, disparar um colossal remate.
No final da partida foi a consagração. Os adeptos azuis, em completo delírio, invadiram o campo e levaram-no em ombros até à cabina.

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O jornal “Ecos de Belém” referia-se assim à exibição de Matateu:
A verdade é que no passado Domingo, no final do encontro “Belenenses-Sporting” Matateu, depois de uma brilhante exibição, foi levado em triunfo desde o rectângulo de jogo até à cabina, e isto é uma demonstração de que o “Belenenses” se encontra de parabéns, parabéns bem merecidos sobretudo na quadra em que o Clube festeja mais um aniversário na sua existência gloriosa de tradições.

A 7 de Outubro no Estádio José Manuel Soares, a equipa de Belém não foi além de um empate a zero frente ao Vitória de Guimarães. Matateu, no entanto, tornou a dar nas vistas. Pelo Belenenses jogaram: Sério; Rocha e Serafim; Castela , Feliciano e Rebelo; Mário Rui, Pedroto, André, Matateu e Narciso.
O jornal “A Bola” de 8 de Outubro de 1951 analisou assim a sua actuação: “Embora atentamente vigiado por Vieira, que conseguiu muitas vezes levar a melhor na disputa da bola, Matateu, o novo ídolo da gente de Belém, evidencia-se dos companheiros, tenta constantemente fugir ao embate e furar por entre a defesa. O seu “dribling” curto desconcerta os adversários, que voltam logo à carga, e o perigoso moçambicano vê assim dificultados os seus propósitos.” e ainda “Matateu, muito bem vigiado, teve ensejo, mesmo assim, de mostrar-se excelente jogador.” .

Em Braga, no dia 25 de Novembro frente à equipa local, Matateu marcou mais dois golos, na vitória do Belenenses por 4-1. Com a camisola azul alinharam: Sério; Rocha e Serafim; Castela, Feliciano e Rebelo; Mário Rui, Pedroto, André, Matateu e Narciso.
Na 1ª parte: 0-1 aos 34 minutos, por Matateu; 1-1 aos 40 minutos, por Abel.
Na 2ª parte: 1-2 aos 7 minutos, por Matateu; 1-3 aos 14 minutos, por André: 1-4 aos 38 minutos, por Castela.

No dia seguinte o jornal “A Bola”, por Araújo Pereira, em artigo com o título “TRIUNFO CERTO DA MELHOR EQUIPA” escrevia na análise ao encontro:

Os belenenses começaram a partida pouco auspiciosamente, numa toada incerta, talvez pelo nervosismo de algum elementos, que tardaram em acertar o passo, e certa lentidão de outros. A contrastar, os donos da casa cedo se lançaram numa tarefa puramente ofensiva e em ritmo veloz.
(...)
Esta pressão tornava-se, pois, inconsistente. A equipa lá ia dominando é certo, mas a sua superioridade só se manifestava, praticamente a meio do terreno, onde os dois citados elementos da turma local arquitectavam jogadas. a que os restantes não davam finalidade proveitosa. Já os visitantes quando se lhes proporcionavam oportunidades de contra-atacar, faziam-no sempre com evidente perigo. André teve, aos 25 e 27 minutos duas perdidas inglórias. Sózinho, em frente da baliza, enviou a bola, da primeira vez, para as mãos de Cesário e, na segunda, para fora.
Apareceu, depois, o 1º golo belenense, com culpas para Grecco, que, tapando Cesário, não permitiu que este detivesse uma recarga frouxa de Matateu.
A equipa de Belém veio, então mais ao de cima, aparecendo com mais frequência ao ataque. Porém, a estreita vigilância exercida por Meszaros sobre Matateu tirava evidentemente possibilidades ao ataque dos “azuis”, que viam anulada uma das suas melhores unidades.” (...)
“Depois do descanso, a fisionomia do jogo sofreu profunda reviravolta. Matateu passou a ter absoluta liberdade de acção, ao passo que, no lado oposta Elói era estreitamente vigiado por Rebelo. O interior belenenses pôde assim emprestar melhor colaboração à sua avançada, enquanto que do lado contrário Elói deixava de gozar da liberdade que Rebelo lhe concedera em todo o 1º tempo, acabando por eclipsar-se, ante a acertada marcação do seu par.” (...)
“Dito isto, resta salientar, na equipa vencedora, a boa actuação de Sério e Serafim e o trabalho de Rebelo no segundo tempo, em que “secou” Elói por completo; a sóbria mas eficaz actuação de Castela e a desenvoltura do trio atacante a que Mário Rui emprestou boa colaboração. Narciso foi o elemento mais apagado da equipa
.”

Nas Salésias a 2 de Dezembro, em jogo a contar para o Campeonato, o Belenenses goleou o Salgueiros por 7-0. Matateu marcou um golo, deu outro a marcar, e viu outro ser anulado por “fora-de-jogo”. Nesta partida, a equipa azul apresentou: Sério; Rocha e Serafim; Castela, Feliciano e Rebelo; Mário Rui, Pedroto, Narciso, Matateu e Castanheira. 1-0 aos 3 minutos, por intermédio de Pedroto a concluir um passe em profundidade de Castanheira rematando, sem preparação, com o pé esquerdo; aos 5 minutos, 2-0 por Narciso com um chuto violento que fez tabela na quina inferior da barra horizontal; aos 21 minutos, 3-0 em recarga de cabeça de Matateu a uma bola devolvida pela madeira e que havia sido atirada por Narciso; aos 26 minutos, 4-0 também de cabeça, mas de Pedroto, no seguimento dum “canto” provocado por um formidável tiro de Castela; instantes depois, Matateu voltou a marcar novo golo, que o árbitro, contudo anulou por “fora-de-jogo”; aos 76 minutos, 5-0 por Pedroto que aproveitou excelentemente uma bola ressaltada da imperfeita “barreira” com que os visitantes quiseram opor-se a um “livre” apontado por Rebelo; logo aos 78 minutos, 6-0 de novo por Pedroto (que assim obteve quatro tentos nesta partida) a passe magnífico de Matateu; e finalmente aos 79 minutos, 7-0 mercê duma “infiltração” de Mário Rui aguentando duas “cargas irregulares” com que os adversários tentaram em último recurso, cortar-lhe a corrida pelo centro da zona perigosa em direcção à baliza.

A 6 de Janeiro de 1952, na 14ª jornada do Campeonato, Sporting e Belenenses empataram a um golo, em Alvalade. Matateu foi o marcador do golo belenense, finalizando uma jogada individual em que bateu três adversários...

Na 21ª jornada do Campeonato, a 24 de Fevereiro, o Belenenses recebeu o Benfica nas Salésias. Aos 33 minutos, Matateu vibrante de engodo e alardeando classe puríssima, capta o esférico, finta sucessivamente Moreira, Félix, Artur e aproveitando a saída de Bastos dispara, marcando o primeiro golo do encontro. A multidão que esgotara o Estádio José Manuel Soares rendeu-se perante o espectáculo da jogada e tributou-lhe ovação calorosa e prolongada. Aos 49 minutos, Castela fez o resultado final: vitória dos “azuis” por 2-0.

A equipa de Belém terminou o Campeonato de 1951/52 em 4º lugar (a 5 pontos do primeiro) e Matateu marcou 17 tentos nas 26 partidas disputadas.

Ainda durante a sua primeira época no Belenenses, em Abril de 1952, Matateu foi chamado aos treinos da Selecção Nacional. Era uma “imposição” do público que Cândido Oliveira (então seleccionador) não podia ignorar. No entanto não chegou a jogar... Alinhou sim, pela equipa das quinas, num jogo-treino entre a Selecção Nacional e a Selecção de Lisboa. Foi englobado no conjunto que partiu para França. Ia convencido de que jogaria, mas ficou no banco de suplentes. No dia 20 de Abril, a equipa portuguesa capitaneada pelo belenense Serafim das Neves, perdeu com a França por 3-0, em Paris. Matateu logo na sua primeira época em Belém, não teria lugar numa linha de avançados constituída por: Jesus Correia, Vasques, Ben David, Travaços e Albano?

Na época seguinte, a 23 de Novembro de 1952, Cândido de Oliveira apostou finalmente em Matateu, que assim se estreava na Selecção frente à Áustria, no Estádio das Antas, actuando na posição de “interior-direito”. Entrou aos 26 minutos a substituir Juca. A crítica aprovou a sua actuação. Nessa partida, que terminou empatada a um golo, estreou-se ainda o médio belenense António Castela.

Passados 21 dias foi novamente chamado à equipa nacional para defrontar a Argentina no Jamor. Apesar da cerrada marcação de que foi alvo por parte dos defesas sul-americanos, fez uma brilhante exibição actuando a “interior-esquerdo”.

A 3 de Janeiro de 1953, Matateu estreava-se em jogos internacionais pelo Clube, o Belenenses- Wacker de Viena que terminou empatado a um golo. Pela equipa de Belém actuaram: Sério; Rocha e Serafim; Castela (depois Rebelo), Feliciano e Amorim; Martins, Manuel Jorge, André, Matateu e Narciso.
Matateu esteve na origem do tento belenense, numa arrancada pela esquerda até quase à linha de fundo, de onde centrou a bola por alto para a frente da baliza, proporcionando o golo a Martins. Apesar de ter falhado uma “grande penalidade” atirando para fora, rubricou uma exibição portentosa.

Nessa época Matateu não falhou um jogo para o campeonato. O Clube, mais uma vez candidato ao título, ficou em 3º lugar. Mas o galardão individual, o de melhor marcador, não escapou a Matateu, que ganhou a primeira edição da “Bola de Prata” instituída pelo Jornal “A Bola”. Marcou 29 golos nos 26 jogos disputados.
Para o feito contribuiu Fernando Vaz, então treinador do Belenenses, que soube tirar partido das suas fenomenais qualidades de goleador, colocando-o em “ponta-de-lança”, e com André a combinar bem com ele, espalhavam o terror diante das balizas adversárias. Mas o esforço de Fernando Vaz sofreu um duro revés. Inesperadamente, viu-se eliminado da Taça de Portugal pelo Barreirense, e o Clube mudou de técnico... Fora da Taça, a equipa de Belém deslocou-se à Madeira, onde o génio de Matateu ficou expresso num golo monumental contra o Nacional, que ainda hoje é recordado no Funchal.

A 20 de Setembro de 1953, no Estádio Nacional, o Belenenses com duas vitórias sagrou-se o grande vencedor da “Taça Lisboa”, em que participaram ainda Benfica, Sporting e F. C. Porto. Matateu participou nos dois encontros. No último, contra o Sporting, que os azuis venceram por 2-1, alinharam pela equipa de Belém: José Pereira; Rocha e Serafim; Castela, Feliciano e Diamantino; Passos, Di Pace, Perez, Matateu e Medeiros.

Frente à África do Sul, a 22 de Novembro de 1953, Matateu jogando a “interior-esquerdo”, foi “internacional” pela terceira vez e marcou, aos 73 minutos, o seu primeiro golo ao serviço da Selecção portuguesa. Nesse encontro, que Portugal venceu por 3-1, actuou ainda Diamantino, médio do Belenenses.

A 28 de Fevereiro de 1954 nas Salésias, o Belenenses bateu o F.C. Porto por 5-2. O jornal do Clube de 3 de Março, na primeira página, deu destaque à vitória com os títulos “INESQUECÍVEL EXIBIÇÃO da equipa belenense de futebol vencedora do F.C. do Porto por 5-2” e “MATATEU EM GRANDE VEIA MARCADOR DE TRÊS «GOALS»”. Com a “Cruz de Cristo” alinharam: Sério; Rocha e Serafim; Castela, Raúl Figueiredo e Diamantino; Dimas, Di Pace, Perez, Matateu e Narciso.
Logo no primeiro minuto, António Teixeira marcou para o Porto. Aos 16 minutos Matateu empatou. Narciso cruzou a bola, como pé direito, obrigando-a a uma trajectória caprichosa; Matateu desmarcado, levantou os olhos, viu bem o caminho da bola e no momento exacto pulou ligeiramente para cabecear com êxito, conseguindo um golo aparatoso e de grande categoria. Dez minutos depois, Perez de “penalty” fez o 2-1. Ainda na primeira parte, o Belenenses chegou aos 3-1 com mais um golo de Matateu. Diamantino alongou um passe a Matateu, este esgueirou-se por uma faixa de terreno livre e disparou um “tiro de canhão” que o guarda-redes contrário não conseguiu deter. Aos 30 minutos do segundo tempo, Matateu, mais uma vez, fez o 4-1. Foi assinalado um fora-de-jogo a Matateu, quando havia três adversários mais próximos do que ele da linha de golo da baliza portista! Matateu, porém, não se descontrolou, e na jogada imediata lutando pela posse da bola, e conseguindo-a, disparou mais um remate certeiro, fazendo golo! O Porto aligeirou, momentaneamente, a derrota com um tento de Hernâni, mas o Belenenses estava imparável, e a um minuto do final, Perez fez o 5-2 numa recarga a um remate de Matateu que Barrigana defendeu para a frente.
Alberto Freitas, redactor principal do jornal do Clube, apreciou da seguinte forma a sua exibição: “Matateu esteve numa tarde de inspiração – numa daquelas tardes em que é irresistível. Os seus pés foram duas espingardas apontadas à baliza do Porto; a sua velocidade, o “dribling” na justa medida, o raciocínio rápido, o domínio de bola, tudo isto fez parte da bagagem com que Matateu entrou em campo e de que se serviu com clamoroso êxito.”

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Nessa época de 1953/54, com a equipa de Belém, participou em 25 jogos para o Campeonato Nacional conseguindo 14 tentos. O Belenenses quedou-se pelo 4º lugar.

No final da temporada, a 17 de Junho, lesionou-se na primeira-mão da meia-final da “Taça de Portugal”, frente ao Sporting no Estádio de Alvalade. Nesse encontro actuaram com a camisola azul: José Pereira; Marçal e Serafim; Castela, Feliciano e Pires; Dimas, Di Pace, Perez, Matateu e Alexandre.
Aos 12 minutos Alexandre abriu o marcador para o Belenenses; aos 25 minutos, num lance simples, Dimas serviu Matateu e este fez o 2-0; aos 38 minutos Perez aumentou para 3-0; dois minutos depois, um lance semelhante ao do segundo tento, permitiu a Matateu fazer o 4-0; aos 52 minutos Martins reduziu para 4-1 e um minuto depois o mesmo Martins fez o 4-2 final. Aos 70 minutos, uma combinação Di Pace-Matateu permitiu a este internar-se, sendo derrubado já na grande área e depois pisado pelo sportinguista Gonçalves. O árbitro, Abel Castro, nada marcou... Matateu saiu lesionado do campo, para regressar algum tempo depois e voltar a sair definitivamente. O diagnóstico feito imediatamente no campo e, depois confirmado radiologicamente no Banco do Hospital de S. José, acusou fractura completa da união do tércio médio com o tércio externo da clavícula esquerda. A lesão implicaria uma inactividade de 6 semanas.
Na época, comentou-se que o jogador leonino teria lesionado propositadamente Matateu... A verdade é que sem Matateu, o Belenenses baqueou no encontro da segunda volta e foi eliminado.
No jornal do Clube de 23 de Junho Matateu explicava como tinha sido lesionado:
Quando recebi a bola de Di Pace, caminhei isolado para a baliza e quando me aprestava para concluir a jogada, Gonçalves empurrou-me, obrigando-me a cair. O médio centro do Sporting, não contente com o meu derrube, deixou-se cair sobre mim e como eu estava apoiado sobre o ombro, o peso do jogador do Sporting fez com que a clavícula cedesse, fracturando-a. É de lamentar a atitude de Gonçalves, pois creio que podia evitar facilmente a queda sobre mim.”

Na 3ª jornada do Campeonato de 1954/55, a 26 de Setembro de 1954, o Belenenses goleou a Académica por 6-2 nas Salésias. Matateu, de novo em grande, marcou quatro tentos. Alinharam então pela equipa “azul”: José Pereira; Rocha e Serafim; Pires, Raúl Figueiredo e Diamantino; Vinagre, Di Pace, Matateu, Vicente e Angeja. Para o Belenenses marcaram ainda Di Pace e Torres (na própria baliza). O último golo do desafio foi todo obra de Matateu, que em fintas sucessivas derrotou a defesa, abrindo-a ora para um lado ora para o outro, até ficar com a baliza às suas ordens.
Sob o título “Quando Matateu está inspirado e em boa forma física é muito difícil dominá-lo.. .”, Alberto Freitas referia-se assim à sua exibição, no semanário “Os Belenenses” de 30 de Setembro:
Bem aproveitado pelos interiores e por Diamantino, Matateu pôde dar largas à sua inspiração, vindo a lume, também, a sua excelente condição física. E quando isto acontece – Matateu é imparável” (...) “Nos melhores períodos da equipa, a acção de Di Pace, Vicente, Diamantino e Matateu foi preponderante; Matateu merece que se lhe enderece um parabém porque ele pôs nas Salésias todo o seu valor de atleta, dando uma imagem admirável do futebol prático, incisivo, emocionante.
Não nos parece que a fadiga manifestada pela Académica justifique o volume do resultado; a justificação deste está na manobra da equipa belenense, ligando os esforços positivos dos interiores e médios e utilizando, no momento próprio, o dinamismo incomparável de Matateu.
”.

A 28 de Novembro, ao serviço da Selecção Nacional defronta novamente a Argentina no Estádio Nacional. Desta vez, actuando a “extremo-esquerdo”. Na 1ª parte demonstra grande nervosismo. Ao intervalo, o seleccionador Tavares da Silva dá-lhe a notícia: “Já és pai!”. Na 2ª parte transfigura-se. Corre a todos os lados, em “fugas e fintas quase diabólicas”. À filha, nascida enquanto ele envergava a camisola nacional, dá o nome de Argentina.

No Sporting-Belenenses da 1ª volta, realizado a 26 de Dezembro, Matateu foi mais uma vez, alvo de agressão e de entradas violentas por parte dos jogadores leoninos. Nesta partida, foi marcado por nada menos que três adversários (Pacheco, Passos e Janos), mas nem assim o conseguiam travar... A equipa da “Cruz de Cristo” venceu por 2-1 e ele marcou mais dois golos!
Jogaram nessa tarde pela equipa de Belém: José Pereira; Pires e Serafim; Castela, Raúl Figueiredo e Vicente; Di Pace, Dimas, Matateu, Perez e Tito.

Alberto Freitas, no jornal do Clube de 31 de Dezembro, escrevia:
Em duas vezes a defesa do Sporting incorreu em “penalty” sem que o árbitro interviesse; as cargas sobre Matateu sucederam-se, perante a impassibilidade do juiz de campo que, “nalgumas vezes”, se limitou a ordenar “pontapé livre” – e tais factos não podem deixar de ser observados como influentes na “expressão numérica” do desafio.
Especialmente nos surpreendeu a “atitude tolerante” do árbitro no caso da agressão de Pacheco a Matateu, que podia ter tido consequências funestas para o jogador belenense. Felizmente para o jogo e para os jogadores, “cargas” daquele jaez não são vulgares nos campos portugueses de futebol; mas isso não deve levar os árbitros a julgá-las apenas como uma “carga dura” – até para evitar que a moda se desenvolva...
O certo é que Matateu continua a ser alvo dos “mimos” dos adversários, que não tendo recursos legais para contrariar a sua acção, recorrem a todas as irregularidades, incluindo a agressão, para fazer frente ao jogador belenense. O facto parece, no entanto, não impressionar quem tem o dever de agir nas circunstâncias e que até, noutras situações bem diferentes, não tem hesitado em fazer “recomendações especiais” (...)
“O “team” belenense fez o seu melhor jogo da época. Razão tínhamos quando aqui dissemos que vários factores influíam no menor rendimento da equipa, em especial a ausência de Castela e de Di Pace.
Castela regressou à equipa e ele foi a base da organização geral. Pode dizer-se que o Belenenses era uma casa desarrumada e que Castela veio pôr os móveis no seu lugar. No centro do terreno apareceu a ordem que faltava e a criação de jogo de ataque teve um método que antes não havia. Esta referência individual é absolutamente necessária para se compreender a influência que a categoria de Castela (o melhor médio português) teve na transformação da equipa belenense e na exibição global apontada neste desafio. Como são necessárias mais quatro referências pessoais: - a Francisco Pires, “pau para toda a colher”, pela sua espantosa vitalidade e pela forma como ele serve a equipa, nas circunstâncias mais diversas; a Vicente, pelos progressos que em cada jogo se acentuam, tendo sido neste desafio precioso em alívios longos, que permitiram a passagem automática da defesa para o ataque; a Dimas, pela maneira como aplicou a sua velocidade e pela alegria que deu ao ataque; a Matateu (os últimos são os primeiros) pelos seus dois golos, pelo punhado de remates que teve, pela fantástica rapidez de julgamento da ocasião e pelo estoicismo com que recebeu a perseguição que lhe moveram três adversários: - Pacheco, Passos e Janos.


Na primeira página do mesmo jornal, era ainda publicado o seguinte comentário:

No desafio Belenenses-Sporting, em futebol, Matateu foi violentamente agredido por Pacheco, podendo dizer-se que só por milagre não temos a lamentar a esta hora a irreparável perda do nosso atleta. A agressão de que foi alvo Matateu, pertence ao número daquelas que revoltam toda a gente sensata e raramente são vistas num campo de desporto, pois é necessário um espírito especialíssimo para as pôr em prática.
Embora se tratasse de uma pura agressão, o jogador Pacheco ficou em campo e não recebeu, mesmo, a mais ligeira observação por parte do árbitro...


Ainda no referido jornal do Clube publicava-se um artigo assinado por Homero Serpa intitulado “Matateu igualou, em prestígio, o malogrado Pepe”, que a seguir se reproduzimos:
Terror dos guarda-redes e dos defesas, ídolo de uma multidão que engloba muitos milhares de desportistas e até não desportistas, Sebastião Lucas da Fonseca, o popular Matateu, grande jogador do Belenenses, pode ser considerado, pelos adeptos dos “azuis”, como um novo “Pepe”, porque, como José Manuel Soares, ele é a alma do seu Clube. É um “Pepe” algo diferente fisicamente, mas com ele tem afinidades, na forma ardorosa de jogar, no seu amor à camisola, na potência do pontapé e na popularidade de que goza e que ultrapassou fronteiras.
Matateu, pelos seus dotes de bom jogador, pela sua correcção nunca desmentida, pela sua simpatia imposta mesmo entre adversários, guindou-se ao cume da fama, sendo, actualmente, o futebolista mais conhecido em todo o País.
Até uma criança sabe quem é o Matateu; pessoas idosas, que nunca se preocuparam com estas coisas da bola, se deslocam unicamente para ver o Matateu.
Provincianos abandonaram, talvez pela primeira vez, as suas terras, para virem a Lisboa admirar o Matateu! Os jornais, quando pretendem fazer humor, representam o Belenenses por um jogador de cor: Matateu.
E quantas vezes este jogador habilidoso, correcto como poucos e simpático, tem sido alvo de diversos ataques, sofrendo agressões no campo de luta, por parte de certos jogadores em tentativas desesperadas para o desarmar.
Fazendo alarde de uma categoria conquistada por mérito próprio, sem favores, Matateu a tudo resiste, continuando a ser o mesmo hábil e temível avançado, louvado por críticos e jogadores estrangeiros.
Nesta época, o moçambicano tem demonstrado inegavelmente o seu valor, cotando-se como o melhor elemento português em jogos internacionais.
Claro, como não podia deixar de ser, o facto sido muito comentado e até posto em dúvida!
Então ouvem-se afirmações como estas: “Porque atirou de ângulo impossível”, “porque perdeu tempo”, “porque não foi tão rápido como seria de desejar”.
Mas, alheio a essas críticas perniciosas, cônscio daquilo que vale, ciente de que, na verdade, mesmo aqueles que o depreciam o temem, o simpático Lucas da Fonseca vai trilhando a sua carreira de futebolista, o caminho luminoso dos grandes “ases” do Desporto – aquele mesmo caminho que um jovem, também belenense, vítima de duma morte tão brutal como prematura, apenas percorreu em parte, e que o levará aos píncaros da celebridade.
Escrevemos estas linhas porque conhecemos perfeitamente a índole de Matateu. Não se envaidecerá com elas, apenas pensará que, realmente, e como, de resto, já tem tido provas evidentes, as sua exibições são devidamente apreciadas e que a nossa apreciação é, afinal, a de muitos milhares de belenenses, sã, leal, em estilo de louvor, mas merecida.
Não será o jovem moçambicano o maior ídolo belenense depois do malogrado José Manuel Soares? Não igualará também a auréola de glória de César de Matos, de Augusto Silva ou de Mariano Amaro? Não será Matateu o futebolista mais popular do Belenenses?
Cremos que sim.
Matateu, o temível avançado que conquistou definitivamente o seu lugar no ‘team’ das quinas, por mérito próprio, sem favores, é um novo “Pepe”, tão querido dos belenenses como o foi José Manuel Soares.
”.

Nas Salésias a 6 de Fevereiro de 1955, já na 2ª volta do Campeonato, a equipa de Belém venceu o Atlético por 5-2. Alinharam pelo Belenenses: José Pereira; Pires e Serafim; Vicente, Raúl Figueiredo e Moreira; Carlos Silva, Dimas, Matateu, Di Pace e Tito.
Depois de um início prometedor, os visitantes foram subjugados pela melhor categoria dos pupilos de Fernando Riera, onde sobressaíram Matateu a rematar à baliza e Di Pace a pautar o jogo. O moçambicano foi autor de dois golos, que lhe permitiram continuar a comandar a lista dos melhores marcadores.

Depois de uma carreira brilhante, a equipa belenense chegou ao último jogo do Campeonato para jogar com o Sporting. Para conquistar pela quinta vez o título de campeão português, os azuis precisavam de ganhar porque o Benfica, seu rival, por certo venceria o Atlético. Nas Salésias a 24 de Abril de 1955, alinharam pelo Belenenses: José Pereira; Pires e Serafim; Carlos Silva, Raúl Figueiredo e Vicente; Di Pace, Dimas, Perez, Matateu e Tito.

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Aos 3 minutos Perez abriu o marcador para o Belenenses. Albano aos 11 minutos, de “penalty” empatou, mas aos 41 minutos Matateu voltou a colocar o Belenenses a vencer. Já na 2ª parte, perto do final da partida, e perante os protestos “azuis”, o árbitro Domingos Miranda (que antes havia perdoado um “penalty” aos leões) invalidou um golo limpo a Matateu. Carlos Gomes, guarda-redes do Sporting, tirou a bola já de dentro da baliza (o próprio Carlos Gomes afirmaria que o golo havia sido mal anulado, já que a bola se encontrava bem dentro da baliza...).
Ribombavam já foguetes e morteiros, preanunciando a Belém e bairros circunvizinhos a estrondosa vitória do Belenenses quando, numa jogada de contra-ataque, João Martins restabeleceu o empate a dois golos e fez gelar as Salésias. Faltavam apenas quatro minutos para o final, e o Benfica vencia o Atlético por 3-0... No último minuto, Matateu ainda se apossou da bola e avançou furiosamente para a baliza contrária mas, isolado perante Carlos Gomes, rematou por cima da barra.
Quando terminou a partida um adepto, revoltado com a actuação do árbitro, tentou agredi-lo. Alejandro Scopelli, treinador dos “leões” (mas com o Belenenses no coração), juntou-se então aos atletas “azuis” em lágrimas. Matateu, chorando convulsivamente, afirmava:
Meu Deus! Não sei... Só sei que vi o juiz de linha numa jogada em que Carlos Gomes se estirou sobre o risco da baliza para deter uma bola que rematei, correr para o centro do terreno, indicando, provavelmente, que a bola entrara. Seria o 3-1, seria o descanso, mas...”.

Perante o sucedido, a Direcção do Belenenses oficiou à Comissão Central de Árbitros, solicitando que fosse efectuado um rigoroso inquérito à arbitragem e dirigiu à Federação Portuguesa de Futebol uma completa exposição acerca dos factos ocorridos no Estádio José Manuel Soares.

No final das 26 jornadas, a equipa azul, quase unanimemente considerada a melhor da prova, ficou em 2º lugar. Matateu, alinhando em todas elas, conseguiu 32 golos e alcançou a sua segunda “Bola de Prata” (feito inédito até então).

Enaltecendo a proeza, o semanário “Os Belenenses” de 29 de Abril de 1955 publicou um artigo intitulado “Matateu Conquistou a “Bola de Prata” – confirmando as suas excepcionais qualidades de rematador sem rival.”:

Pela segunda vez, Matateu conquistou, com o maior brilho e evidenciando nítida superioridade, a “Bola de Prata”, troféu oferecido todos os anos ao melhor marcador de golos do Campeonato Nacional.
Este facto seria, só por si, suficiente para colocar o jogador em plano de maior evidência.
Mas acontece que Matateu é, sem dúvida, além de rematador prodigioso, um jogador do mais elevado nível e de faculdades extraordinárias que, por si só, resolve – e tem resolvido – problemas difíceis, arrancando golos e jogadas que levantam estádios e electrizam multidões.
Verdadeiro ídolo e um “caso sério” de popularidade, efectivo por direito próprio da selecção Nacional, o dianteiro belenense é sempre e em todas as circunstâncias o alvo número um dos defesas adversários, que não raro se servem de intervenções à margem das leis para o anular. Deste modo, é o avançado português que mais vezes é castigado impiedosamente por esses defesas.
Para além de tudo, porém, fica sempre a pairar a sua figura de grande jogador, dos melhores do futebol português de todos os tempos e a sua popularidade que, depois de se estender por todos os cantos de Portugal, ultrapassou as fronteiras.
”.

Em Maio de 1955, Matateu volta a envergar a camisola das quinas. O jogo realizou-se na cidade de Glasgow e, não obstante o resultado de 3-0 a favor da Escócia, a crítica escocesa teceu os maiores elogios à actuação do moçambicano, a quem cognominaram de “O Rei da Finta”. Todavia, seria no desafio contra a Inglaterra, disputado dezoito dias depois na cidade do Porto, que Matateu viria a assinar uma das maiores exibições de sempre na sua brilhante carreira de “internacional”. Nessa partida, disputada a 22 de Maio, a Selecção Nacional escreveu uma das mais belas páginas do seu historial. No Estádio das Antas, oito anos depois de ter sido goleada por 0-10 (na estreia dos ingleses em Portugal), conseguia a primeira vitória sobre os “pais” e “mestres” do futebol. Matateu, que actuou a “interior-direito”, teve a companhia do também belenense Dimas.

Aos 19 minutos, Bentley abriu o marcador para os ingleses. Aos 25 minutos numa jogada espectacular pela direita, Dimas avança com a bola e centra para Matateu que, com um passe brilhante, permite a José Águas empatar a partida. Aos 80 minutos, Matateu culminou a sua extraordinária exibição com um tento inesquecível, que colocou todo o Estádio ao rubro. Numa jogada de grande talento individual, pleno de pujança e habilidade, entra na grande área inglesa, dribla vários adversários e remata colocado batendo o guarda-redes Williams. Foi a loucura completa entre o público. As macas, ao serviço da Cruz Vermelha, tiveram de entrar em acção para acudir aos espectadores que se sentiam mal devido à emoção. Cinco minutos depois, José Águas fez o 3-1. No final do encontro, o público entusiasmado levou Matateu em triunfo.

Esta vitória de Portugal e a sua magnífica exibição tiveram grande repercussão internacional. O jornal inglês “Daily Sketch”, de 23 de Maio de 1955, com o título “Fomos batidos pela 8ª Maravilha”, destacava assim a sua actuação:
Um negro, sempre sorridente, natural de Moçambique, África Oriental Portuguesa, é esta noite o rei do futebol português.
Em Moçambique foi-lhe dado o nome de Lucas da Fonseca, mas há muito tempo já que ninguém se preocupa com isso.
Passaram a chamar-lhe Matateu – um cognome que significa “A Oitava Maravilha do Mundo” – desde que começou a driblar como um mago e a chutar como um canhão.
E foi essa oitava maravilha do Mundo do futebol, que rebaixou e humilhou, esta noite, uma Inglaterra destroçada e “groggy”, dando a Portugal a sua primeira vitória sobre nós.
”.
Depois acrescentava:
À parte Matthews, não tivemos um avançado digno de atacar as botas de Matateu.”.

E mais adiante:
Não há justificação porque, com excepção do maravilhoso Matateu, o grupo português era uma equipa de passeantes – conseguiram apenas bater a África do Sul nos últimos seus 19 jogos internacionais.”.

No Daily Mail podia-se ler:
Portugal não jogou com tanta classe como as equipas da França ou da Espanha, mas progrediu com rapidez e inteligência na disputa, principalmente na asa direita, onde Matateu era sempre um perigo, particularmente quando nas fugas com a bola para a nossa baliza.
O interior direito foi bloqueado na grande área para não marcar golos, mas, mesmo assim, conseguiu tornar-se o herói nacional durante o encontro.
”.

O “Times” afirmava:
Matateu foi o herói de Portugal e um inteligente jogador. Foi rápido de mais. Num relâmpago apossou-se da bola e a defesa inglesa foi apanhada aberta. Quatro passos mais e Williams apanhava a bola da rede assim que Matateu a colocou velozmente num pontapé curto.”.

Na primeira página do semanário “Os Belenenses”, de 27 de Maio de 1955, com o título “MATATEU – GRANDE FIGURA DO FUTEBOL PORTUGUÊS E EUROPEU” podia-se ler:
Matateu – que é hoje um grande jogador do futebol europeu, com nome fora do País – voltou a revelar a sua enorme capacidade, guindando-se a plano de maior evidência e marcando o golo que abriu o caminho ao triunfo da selecção nacional.
Foi, sem dúvida, uma das figuras mais destacadas da equipa, apesar de estreitamente vigiado pelos adversários que, avisados da sua capacidade, o perseguiram tenazmente e, algumas vezes, de forma algo anormal.
Segundo alguns críticos, Matateu teria lugar em qualquer das boas equipas inglesas, incluindo a própria selecção nacional. Isto diz bem do seu valor.
Justifica-se, pois, que o público, tal como aconteceu em Bruxelas, no Bélgica-Portugal, o tenha levado em triunfo no final do encontro!
”.

As referências elogiosas a Matateu, feitas pela imprensa estrangeira, continuavam. A sua classe era cada vez mais notável.
Em Junho de 1955, o Belenenses deslocou-se a Paris, para disputar a “Taça Latina”. Di Stefano e Kopa eram as grandes “vedetas”. No entanto, o nome de Matateu figurava também em grande caracteres nos jornais da capital francesa. O sorteio ditou que o Belenenses defrontaria a famosa equipa do Real Madrid, onde pontificava o extraordinário Di Stefano.
Frente aos madrilenos, a 22 de Junho, alinharam pelo Belenenses: José Pereira; Pires e Serafim; Carlos Silva, Raúl Figueiredo e Vicente; Di Pace, Dimas, Perez, Matateu e Tito.
O “onze” belenense realizou uma magnífica exibição e a actuação de Matateu foi extraordinária. Apesar do resultado desfavorável, a crítica francesa foi unânime em afirmar que os 2-0 conseguidos pela equipa espanhola não representavam a verdade do jogo, já que o Belenenses fora a equipa que melhor futebol havia praticado durante os noventa minutos. Durante o encontro, Matateu sofreu uma rude entrada do defesa Oliva, que lhe originou um profundo golpe no sobrolho.

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A imprensa presente no torneio rendeu-se completamente à classe de Matateu.
A revista francesa “Miroir-Sprint” colocou o seguinte título a duas fotografias, uma de Di Stefano e outra de Matateu: “Di Stefano perdeu o sorriso frente ao negro Matateu”. A legenda dizia:
Perante os portugueses do Belenenses, o Real Madrid esteve muitas vezes em dificuldade no decurso da meia-final.
Di Stefano, a despeito da sua classe e da sua reputação, nem sempre levou a melhor em face dos seus fogosos adversários, entre os quais o negro interior esquerdo Matateu se comportou como um atacante terrível pela sua mobilidade e prontidão de tiro.


No semanário “France-Football” de 28 de Junho, quase exclusivamente aos encontros da “Taça Latina”, num dos artigos, em título a toda a largura da página lia-se:
Alfredo Di Stefano cede o seu lugar de vedeta a Matateu, o extraordinário negro de Moçambique.”.
Assinado por Jean Cornou, o artigo em questão refere-se à equipa do Belenenses, afirmando que conquistara a simpatia do público, que gostaria de ver transformados em golos os dois remates de Dimas e Di Pace que embateram nos postes. O último capítulo, intitulado “Revelação”, é dedicado a Matateu, o homem que, depois de ter deslumbrado a “fria” crítica inglesa, acabara de “conquistar” Paris! Nele, o jornalista refere-se às grandes qualidades do jogador belenense, afirmando que a sua velocidade é tal que ele constitui um perigo permanente para qualquer defesa. Quanto à sua “souplesse” – afirma o articulista: “ela é tão felina que uma simples finta de ancas efectuada em plena corrida, ao longo da linha lateral, teria atirado com Oliva para cima do público se o jogador espanhol não tivesse sido seguro por uma mão salvadora!
E Jean Cornou termina o seu artigo com a seguinte afirmação:
Esperava-se Di Stefano e tivemos Matateu. Uma revelação!”.

No “Le Figaro”, o jornalista Roland Mesmeur declarava:
Os portugueses tiveram um grande jogador: Matateu, sólido de pernas e senhor de assombrosa agilidade. Serviram-se dele para inquietar e ameaçar a defesa espanhola.”.

Por sua vez, o famoso Kopa dizia no “Le Parisien”:
Fiquei surpreendido com a velocidade de execução das duas equipas e apreciei esta maneira espectacular de jogar futebol. Esperava mais de Di Stefano que foi anunciado como vedeta e fiquei entusiasmado com a velocidade do extremo-esquerdo Gento. Entre os portugueses o negro Matateu realizou verdadeiras proezas.

Após o encontro com o Real Madrid, a equipa da “Cruz de Cristo” defrontou os italianos do Milan. Apesar de estar apenas em disputa o apuramento do 3º classificado do torneio, foi bastante o público que acorreu ao Estádio, com o interesse de voltar a ver em acção a nova “vedeta” do futebol europeu que era, nem mais nem menos, que o moçambicano Matateu. A fama do jogador “noir” era o maior cartaz publicitário para o encontro. E Matateu não desiludiu. Após mais uma excelente exibição, em que as suas extraordinárias faculdades mais uma vez foram postas à prova, o público estava rendido, a tal ponto que, quando o jogador belenense, depois de uma série de fintas diabólicas rematou imparável o golo da sua equipa, o Estádio foi “sacudido” por uma grande ovação.
A crítica francesa exultou de novo com a sua actuação, tendo a revista “Miroir-Sprint”, considerado o nº 10 de Belém como “a vedeta da Taça Latina” dessa época.

Ainda durante a participação do Belenenses na “Taça Latina”, o prestigiado jornalista e Seleccionador Nacional Tavares da Silva, pletórico de entusiasmo e admiração afirmou:
Nunca na minha vida vi um português jogar tão bem no estrangeiro! Matateu foi um diabo à solta no Parque dos Príncipes, onde deixou escrito um verdadeiro poema ao futebol. Os parisienses ficaram malucos com ele. Nunca um jogador português serviu em tão elevado grau o prestígio do nosso futebol!”.

Depois da bela figura feita na “Taça Latina”, o Stade Reims mostrou-se interessado na sua aquisição e chegou a abordar os dirigentes “azuis”. Mas para estes, transferir Matateu no auge da sua forma, era algo que “nem a brincar” lhes passava pela cabeça...

Aos 27 anos, Matateu era um caso ímpar de popularidade: O maior em Portugal; um dos maiores na Europa!

Na preparação para a nova época, em Setembro de 1955 participou na Festa de Homenagem ao “internacional” belenense Serafim das Neves. O Belenenses derrotou o Torreense por 6-4 e Matateu, que fez uma exibição a prometer uma época em cheio, foi o autor de 3 tentos.

Em Dezembro, integrou a Selecção de Lisboa contra a de Madrid, numa partida disputada no Estádio de Chamartin, na capital espanhola. Matateu teve uma actuação brilhantíssima, que a enorme assistência aplaudiu com entusiasmo. A sua exibição foi coroada com um excelente golo e, embora na equipa de Madrid tivesse actuado Di Stefano, tanto a crítica espanhola como a portuguesa consideraram-no o melhor jogador em campo.

No final do Campeonato Nacional de 1955/56, o Belenenses ficou em 3º lugar e Matateu, com 22 golos em 24 jogos, foi o terceiro na lista dos melhores marcadores.

Entretanto aproximava-se o dia 23 de Setembro de 1956, dia do 37º Aniversário do Clube e dia da inauguração do Estádio do Restelo. O Belenenses era toda uma máquina de excitação e entusiasmo. No dia aprazado, o povo de Belém e bairros limítrofes veio para a rua, e orgulhoso do seu novo Estádio e do seu Clube deixou “cantar” o coração. Nem a chuva, que por vezes fazia a sua aparição, conseguia parar o ímpeto da multidão. Todo este ambiente de festa, acompanhou a equipa, quando esta entrou em campo para defrontar o Sporting. Com a camisola azul, alinharam então: José Pereira; Pires, Raul Figueiredo e Moreira; Carlos Silva (depois Inácio) e Vicente; Dimas, Di Pace, Miranda (depois Perez), Matateu e Tito.

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Aos 24 minutos da 1ª parte, Matateu lutava no lado direito com Couceiro (defesa leonino). Bola para fora e, no reatamento, Dimas foi servido. Centro largo, Octávio de Sá (guarda-redes sportinguista) falhou e Miranda, de cabeça, aproveitou para marcar o primeiro golo no Estádio do Restelo! Depois de Perez ter falhado um “penalty”, o Sporting empatou por Gabriel. A 6 minutos do final, Matateu, evidenciando uma vontade indomável , correu pelo lado direito (perseguido por Couceiro) e centrou largo para Tito, que se encontrava livre de adversários. O “extremo-esquerdo” azul centrou de novo para Matateu, que de cabeça fez o 2-1. O entusiasmo dos adeptos “azuis” era indescritível.
Mais uma vez, Matateu triunfara. No final, ao ser entrevistado afirmou:
Sou um homem feliz. Quando marquei o ponto da vitória fiquei doido de contente. Quase que não queria acreditar”.

Dois dias depois, o Estádio do Restelo estava de novo em festa. Inaugurava-se a sua iluminação. O Belenenses derrotou por 2-0 os franceses do Stade Reims. Alinharam então: José Pereira; Pires, Raul Figueiredo e Moreira; Carlos Silva e Vicente; Dimas, Di Pace, Miranda (depois Massey), Matateu e Tito.
Logo aos 2 minutos, Miranda abriu o marcador. Matateu faria o 2-0, culminando mais uma excelente actuação.
Sobre a partida, Mário Macedo escreveu no jornal do Clube de 27 de Setembro de 1956: “A defesa belenense, em magnífica exibição (Raul teve momentos empolgantes) sustinha o combate e Vicente (passado ligeiro período de acerto de posição), impulsionava o ataque (com bela ajuda de Silva) onde Matateu, galvanizava a assistência com jogadas irresistíveis”.
Matateu foi de novo o herói do encontro, efectuando uma exibição muito elogiada, não só pela crítica mas também pelos próprios adversários que o consideravam “um elemento de cartel em qualquer país”. O “internacional” francês Vincent afirmou:
Gostei muito do nosso adversário, especialmente de Matateu, que confirmou o grande cartel deixado em Paris, quando na disputa da Taça Latina”.

A 30 de Setembro, no primeiro jogo oficial realizado no Estádio do Restelo para o campeonato, o Belenenses venceu o Vitória de Setúbal por 5-1. O “artilheiro” belenense voltou a fazer alarde da sua excepcional qualidade de jogador. Foi no entanto um tanto sôfrego, tendo resultado daí a marcação de inúmeros “foras-de-jogo”.

Contra o Toulouse a 21 de Outubro, foram mais três golos da sua autoria e outro dado a marcar. O Belenenses venceu por 4-3.

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Na 7ª jornada do campeonato a 28 de Outubro, os “azuis” receberam o Benfica, que nessa altura liderava a prova. Foi o primeiro Belenenses-Benfica no Estádio do Restelo. O resultado foi um empate a dois tentos.
Alinharam pelo Belenenses: José Pereira; Pires, Paz e Moreira; Carlos Silva e Vicente; Di Pace, Dimas, Miranda, Perez e Matateu.
Jogando a “extremo-esquerdo”, Matateu obteve o segundo golo belenense aos 61 minutos, com um tremendo remate que bateu o guardião “encarnado” Bastos.

No Estádio Nacional, em desafio realizado a 26 de Maio de 1957, a contar para a fase de apuramento do Campeonato do Mundo de 1958, Portugal derrotou a poderosa Itália por 3-0.
Alinhando a “avançado-centro”, Matateu teve actuação meritória. Aos 83 minutos, desmarcando-se em velocidade, pela ala direita, cruzou para o centro da área italiana onde, de cabeça, António Teixeira fez o 2-0. Passados 4 minutos, depois de uma arrancada estonteante em direcção à baliza contrária, disparou um “tiro” indefensável, com a bola a entrar junto ao poste esquerdo da baliza de Bugatti, que se limitou a olhar.

Na revista “O Século Ilustrado” de 1 de Junho de 1957, que o considerou o melhor português em campo frente à Itália, podia-se ler:
Foi, particularmente, à combatividade do fogoso “Matateu” que Portugal ficou a dever a sua primeira vitória no Campeonato do Mundo, quando no relvado do Jamor derrotou, espectacularmente, a selecção de football italiana. As vertiginosas descidas do centro-avançado belenense causaram embaraço na defesa transalpina, que se deixava apossar pelo pânico quando “Matateu”, ajeitando o esférico no seu estilo característico, rematava fortemente para as balizas, depois de dribles azougados.”.

No Campeonato de 1956/57, o Belenenses, mais uma vez, foi 3º e Matateu, com 23 golos em 22 jogos (falhou quatro devido a uma lesão contraída num treino da Selecção), foi o terceiro melhor marcador.

Na preparação da época de 1957/58, o Belenenses deslocou-se à cidade espanhola de Cadiz para disputar a “Taça Ramon Carranza”. Coube-lhe defrontar o Sevilha, jogo que foi aguardado com grande expectativa. Matateu era anunciado nos “periódicos” espanhóis, especialmente nos de Andaluzia, como um dos melhores jogadores do futebol europeu. A partida, seguida com extraordinário interesse, foi ganha pelos sevilhanos, depois de duas horas de luta renhida.
Matateu arrancou a maior ovação do Estádio, com um pontapé que fez sair a bola para fora do rectângulo de jogo, depois de se encontrar em boa posição para rematar com êxito. O que aconteceu foi o seguinte: Valero, defesa sevilhano, estava caído no solo e Matateu, ao ver o seu adversário prostrado, desportivamente atirou a bola para fora. Os “azuis” perderam por 4-3 com Matateu a ser considerado o melhor jogador em campo.

Na 1ª jornada do Campeonato Nacional a 8 de Setembro de 1957, o Belenenses venceu a Académica no Restelo por 2-0. Matateu marcou o primeiro tento e a crítica considerou-o o melhor elemento no rectângulo:
Foi um perigo constante, com sentido de perfuração como nenhum outro.”.

Em jogo a contar para a 5ª jornada, a equipa de Belém deslocou-se ao Barreiro para defrontar a C.U.F.. Os “azuis” venceram por 2-1 e Matateu obteve um golo monumental: “Matateu recebeu a bola meio voltado para a baliza e, sem perda de tempo, aplicou um remate violentíssimo que fez passar a bola pela única nesga que o cacho de jogadores deixara em aberto. Um golo que valeu uma vitória “tirada a ferros”.

No dia 3 de Novembro, o Belenenses triunfou por 1-0 no Estádio da Luz frente ao Benfica, em jogo a contar para a 9ª jornada do Campeonato. Alinharam pelo Belenenses: José Pereira; Pires, Paz e Moreira; Edison e Vicente; Dimas, Matateu, Suarez, Di Pace e Tito.
Os “azuis” tiveram um início fulgurante e aos 14 minutos Matateu coroou um lance individual com a marcação do golo belenense. Quase em cima da linha de cabeceira, de um ângulo verdadeiramente inverosímil, rematou fazendo a bola anichar-se no canto contrário da baliza de Costa Pereira.
Para o jornal Record, Matateu cotou-se como um dos melhores elementos da equipa de Belém.

A 29 de Dezembro, na 16ª jornada do Campeonato, o Belenenses recebeu no Restelo a equipa do Sporting de Braga. Os “azuis” cilindraram os bracarenses por 9-3! Matateu brindou o público com a obtenção de seis golos, numa exibição portentosa que desbaratou por completo a defesa adversária.

Na época de 1957/58, o Clube ficaria em 4º lugar no Campeonato. Matateu foi o terceiro melhor marcador com 21 golos em 24 jogos.

No dia 7 de Maio de 1958, em jogo particular disputado no Estádio do Restelo, o Belenenses recebeu a forte equipa do Barcelona, que havia goleado a Selecção de Londres por 6-0. A turma de Belém, orientada pelo argentino Miguel Di Pace, derrotou sensacionalmente a categorizada equipa catalã por 2-1.
Alinharam pelo Belenenses: José Pereira; Pires, Figueiredo e Paz; Moreira e Vicente; Milton (depois Miguel Norte), Matateu, Carlos Silva (depois Bezerra), Yaúca e Tito.
Matateu fez excelente exibição e marcou um golo estupendo. Os outros golos foram marcados por Carlos Silva (pelo Belenenses) e Martinez (pelo Barcelona).
No final do encontro, o famoso Kubala declarou: “Conheço Matateu, que tem muita categoria, e admiro a sua “sede” pela baliza.”.

Em Setembro, o Clube retribuiu a visita dos catalães deslocando-se a Barcelona, para defrontar a equipa orientada por Helenio Herrera. Assistiram ao encontro 50 mil pessoas, que seguiram entusiasmadas a actuação da turma belenense que, não obstante ter perdido por 2-1, realizou uma excelente exibição.
Alinharam com a “Cruz de Cristo” ao peito: José Pereira; Pires, Raul Figueiredo e Carlos Silva; Moreira e Vicente; Dimas, Yaúca, Tonho, Matateu e Tito.
A crítica, mais uma vez, teceu os maiores elogios a Matateu.
Entretanto, o jornal “Faro de Vigo” noticiava a 11 de Setembro (quatro dias depois do encontro de Barcelona):
Estivemos em contacto com o Sr. Herrera com o objectivo de conhecer o motivo da sua viagem. Entre outros pormenores, aquele técnico revelou: lembrei ao Sr. Santiago que se deslocasse directamente a Portugal, onde se estabelecerá contacto com determinado dianteiro de um clube de Lisboa. O jogador em referência, segundo informes particulares, deve ser Matateu ou Jaburu.”.
O jogador em questão era na realidade Matateu, que rejeitou as propostas apresentadas...

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A 1ª jornada do Campeonato de 1958/59 colocou frente a frente as equipas do Belenenses e da C.U.F.. Jogando em casa, os “azuis” venceram por 3-0, tendo Matateu obtido o último tento da partida.
No final da época, com 31 anos, Matateu atravessava um dos melhores períodos da sua carreira. No encontro com o F. C. Porto para o Campeonato, realizado no Restelo, fez uma exibição de grande nível, valorizada pelo golo da vitória e por uma aplicação constante. Mais jogador de equipa, foi em todo o jogo um problema permanente para os defensores portistas.
Oito dias depois, em Setúbal, o Belenenses venceu por 5-0 e Matateu voltou a “encher” o campo.

Mas mais uma vez, não alcançaria o título tão ambicionado. A equipa de Belém terminava o Campeonato em 3º lugar, a três pontos do primeiro. Com 21 golos em 26 jogos, seria novamente o terceiro melhor marcador da prova.

Em representação da Selecção Nacional, a 3 de Junho de 1959 venceu a Escócia por 1-0, no Estádio de Alvalade. Com este jogo Matateu completava vinte e uma “internacionalizações”, igualando assim o “record” de Augusto Silva, antiga glória do Clube. Neste encontro, estrearam-se na Selecção o seu irmão Vicente Lucas e o também belenense Raul Figueiredo. O público, presente em grande número, tributou-lhe uma grande ovação, quando aos 25 minutos obteve o tento do triunfo.

Novamente com a equipa de Portugal, deslocou-se a Berlim onde, a 21 de Junho, derrotou a Alemanha Oriental por 2-0. Nesta partida tornaram alinhar os belenenses Raul Figueiredo e Vicente Lucas. Matateu, em tarde inspirada, produziu uma exibição fulgurante, cotando-se como o melhor avançado e um dos melhores em campo. Os seus dribles e fintas desconcertantes galvanizaram os milhares de militares russos presentes no Estádio, que a dada altura entoaram o seu nome, quase de uma forma perfeita, em tom cântico: “Matateu! Matateu! Matateu!”
Aos 12 minutos, no lado direito Carlos Duarte centrou para Coluna, que depois de se livrar de dois alemães desmarcou Matateu na esquerda. Este controlou a bola, com um drible estonteante tirou da frente um adversário, e rematando de seguida fez o primeiro golo para os portugueses. Com este tento, subia ao 2º lugar na lista dos melhores marcadores de sempre da Selecção.
Após o apito final, o seu nome era o que mais se ouvia nas bancadas, principalmente entre o numeroso público feminino. Uma adepta chegou a atirar-lhe um urso de peluche, que Matateu agradeceu, saindo do relvado com ele nos braços.
Sobre a sua prestação neste encontro, Ricardo Ornelas escreveu no “Diário Popular” do dia seguinte: “Matateu foi excelente de entusiasmo, sempre perigoso, com realce nos passes que executou para os companheiros.”.

No Estádio Nacional a 13 de Setembro de 1959, Matateu conquistou pelo Belenenses a primeira “Taça de Honra” da A. F. L., ao vencer o Sporting por 1-0 na Final. No jogo de apuramento, a 7 de Setembro, os “azuis” haviam batido o Benfica por 1-0.
Frente ao Sporting, alinharam: José Pereira; Pires, Raul Figueiredo e Moreira; Marciano e Vicente; Dimas, Yaúca, Tonho, Matateu e Estêvão. Yaúca marcou aos 89 minutos o golo da vitória.
A crítica considerou-o um dos melhores elementos em campo, por parte do Belenenses.

À 5ª jornada do Campeonato de 1959/60, o Belenenses defrontou o F. C. Porto na cidade invicta.
Alinharam pelo Belenenses: José Pereira; Pires, Paz e Moreira; Carlos Silva e Vicente; Dimas, Carvalho, Vítor Silva, Matateu e Yaúca.
A equipa da “Cruz de Cristo” venceu por 3-2. Aos 16 minutos, Hernâni marcou para o Porto. Yaúca empatou aos 30 minutos, e tornou a marcar aos 43 minutos pondo o Belenenses em vantagem. Na segunda parte Humaitá igualou aos 21 minutos e, 3 minutos depois, numa jogada de insistência Matateu fez o resultado final.
Para além do golo alcançado, Matateu contribuiu com uma notável actuação, sendo um dos maiores quebra-cabeças para a defesa portista, pela sua fogosidade e domínio de bola.
Antes do encontro, o Dr. Silva Rocha prometera a Matateu, como prémio de vitória, a sua gravata, que o moçambicano desde há muito cobiçava. Terminada a partida, o médico do Belenenses senhor da sua palavra, cumpriu imediatamente a promessa e, ainda dentro do rectângulo, colocou no pescoço de Matateu o cobiçado troféu.

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No domingo seguinte, com o Estádio do Restelo completamente esgotado, o Belenenses recebeu o Sporting que estreava o peruano Juan Seminário. Os “azuis” venceram por 1-0, com um golo de Yaúca aos 18 minutos.
Actuando a “interior-direito”, Matateu teve alguns apontamentos que definiram a sua verdadeira e extraordinária classe. Construiu muitos lances de ataque, ao mesmo tempo que foi um importante colaborador da defesa. Foi apontado pela maioria da crítica, como o melhor jogador em campo.

No dia 11 de Novembro de 1959, ao serviço da Selecção, defrontou a França, num jogo particular disputado em Paris. Alinharam ainda pela equipa de Portugal, os atletas belenenses Vicente e Yaúca, que se estreava. Apesar da equipa das quinas ter perdido por 5-3, Matateu marcou mais dois golos. Aos 36 minutos num livre directo, e aos 77 minutos numa jogada individual. Perfazia assim 12 golos pela Selecção, ficando apenas a um do “record” de Peyroteo.

Finalmente, no dia 5 de Maio de 1960, frente à Jugoslávia no Estádio Nacional, Matateu marca o seu 13º golo ao serviço da Selecção, igualando assim o “record” de Peyroteo. Foi aos 69 minutos, quando fez o segundo tento de Portugal, numa assistência de Cavém. A equipa nacional venceria por 2-1.

No dia 22 de Maio de 1960 em Belgrado, novamente perante a Jugoslávia, atinge a sua 27ª “internacionalização”. Matateu não marcou mas, por algumas vezes, ouviu os jugoslavos gritar: “Matateu! Matateu! Matateu!”. Portugal perdeu por 5-1, e esta seria a última vez que Matateu vestia a camisola das quinas. A equipa nacional reclamou muito da arbitragem e no final do encontro Matateu afirmaria ao jornal “Mundo Desportivo”: “Não foi um jogo foi uma tourada!”.

Na última jornada do Campeonato, disputada a 29 de Maio de 1960, o Benfica recebeu o Belenenses no Estádio da Luz e preparava-se para comemorar o título invicto. Os “azuis”, porém, não estiveram pelos ajustes, e estragaram-lhe a festa vencendo por 2-1.
Alinharam pelo Belenenses: José Pereira; Rosendo, Pires e Moreira; Vicente e Castro; Tonho, Carvalho, Yaúca, Matateu e Estêvão.
Matateu, que a crítica considerou um dos melhores jogadores da equipa azul, marcou aos 42 minutos o primeiro golo do Belenenses.
Sobre o encontro, Guido Carvalho escreveu no jornal do Clube que “...o Belenenses não perdeu nunca o sentido do contra-ataque iniciado quase sempre por Tonho e Vicente, os dois homens de meio campo, ou ainda por Matateu, que muitas vezes desceu até à sua linha defensiva.” e acrescentou “O sector ofensivo dos visitantes desenhou modificações constantes, Yaúca na extrema direita, Tonho tanto a médio como a interior, Carvalho a avançado-centro, Matateu em toda a parte, e Estêvão em colaboração directa com os homens do centro do terreno.” (...) “Poderia mesmo, se não tem existido por parte de alguns dianteiros “azuis” (Matateu e Yaúca), excessivos pessoalismos, marcar-se mais golos, até porque a defesa adversária, à excepção de Artur, nunca acertou na colocação. Perto do final Yaúca, por duas vezes, e Matateu perderam oportunidades soberanas de elevar o marcador.”.

O Belenenses terminou o Campeonato em 3º lugar. Matateu contribuiu com 16 golos, em 26 jogos efectuados (a totalidade).

Entretanto prosseguia a “Taça”. Moralizada pelos êxitos alcançados nas últimas jornadas, a equipa de Belém foi às Antas vencer o F. C. Porto, na 1ª mão da meia-final. Matateu foi um verdadeiro perigo para as redes de Acúrcio, tendo colaborado em dois dos golos do Belenenses, que venceu por 3-1.
No encontro da 2ª mão disputado no Restelo, os pupilos de Otto Glória apesar de perderem por 1-0, conseguiram apurar-se para a Final com um total de 3-2. Embora bem “guardado”, Matateu teve algumas das suas jogadas características que empolgaram o público.

E chegou o grande dia. A 3 de Julho de 1960, no Estádio Nacional, repleto de um público vibrante, o Belenenses subiu ao relvado para defrontar o Sporting.
Alinharam então com a camisola azul: José Pereira; Rosendo, Pires e Moreira; Castro e Vicente; Yaúca, Carvalho, Tonho, Matateu e Estêvão.
Ao intervalo, o resultado era 1-1. Marcaram os golos, Carvalho pelo Belenenses, e Diego pelo Sporting. No 2º tempo, Belém ficaria em festa. E foi Matateu, o mais “internacional” dos “internacionais” belenenses, quem viria a oferecer essa grande festa:
Atenção... confusão na grande área dos leões, a bola vai a entrar, Sá mergulha... Golo... go-o-o-o-o-lo do Belenenses, golo de Matateu... ”.

Yaúca fez um excelente passe para Matateu e este, bem colocado, rematou imparável o golo da vitória.
Com a vitória na Final da “Taça” por 2-1, terminava uma das mais brilhantes épocas de Matateu, então prestes a completar 33 anos.

Na abertura da época de 1960/61, para a “Taça de Honra”, o Belenenses goleou o Benfica por 5-0, em jogo disputado no Estádio do Jamor a 4 de Setembro de 1960, apurando-se para a Final.
Alinharam: José Pereira; Rosendo, Pires e Moreira; Castro e Vicente; Yaúca, Matateu, Tonho, Carlos Silva e Estêvão.
Neste desafio, Matateu cometeu a proeza de obter 3 golos seguidos, em seis remates à baliza “encarnada”. Yaúca marcou os outros dois.
O jornal “Record” de 6 de Setembro analisou assim a exibição de Matateu: “Fez três golos, sendo um deles – o primeiro – de cabeça o que lhe não é vulgar. Mantém intactos o seu poder de finta e de remate.”.
Entrevistado no final da partida pelo “Record”, Matateu declarou:
- Foi um bom jogo. O Benfica pareceu-me em forma menos boa e o Belenenses em condições de fazer uma excelente época.”.

Descontente com o autêntico “baile” que a equipa “encarnada” havia levado, o seu capitão José Águas afirmaria ao mesmo jornal:
- Estou extraordinariamente decepcionado com Otto Glória, de quem sou amigo.
- Então, porquê?
” – Questiona o jornalista.
- Não viu como a equipa do Belenenses se pôs a brincar, sem o menor respeito pelo adversário, num período de desorientação? Foi preciso o José Pereira gritar que não procedessem assim, enquanto o técnico não se opôs mesmo. E quem diz isto sou eu, um amigo de Otto Glória e que me prezo de ser desportista.

E Águas afirmou depois:
- Sem dúvida que o Belenenses ganhou bem. Jogou para isso e teve a fortuna pelo seu lado, ao invés do Benfica”.

Na Final, disputada com o Atlético a 11 de Setembro, novamente no Estádio Nacional, o Belenenses
venceu por 2-0, conquistando a “Taça de Honra” da A. F. L. pela segunda vez consecutiva.
Alinharam então pelo Belenenses: José Pereira; Rosendo, Pires e Moreira; Castro e Vicente; Yaúca, Matateu, Tonho, Carlos Silva e Estêvão.
Matateu, em sete remates à baliza, viu dois embaterem no poste e outro dar golo no último minuto, quando a bola por si rematada bateu nos pés do alcantarense Tomé, tomou efeito e foi entrar junto ao poste.
Sobre a sua actuação, podia-se ler no “Record” de 13 de Setembro:
Matateu – Não foi o jogador das grandes tardes, mas mesmo assim não pode deixar de merecer boa nota pelo trabalho que deu à defesa contrária”.

Na memorável noite de 21 de Setembro de 1960, Sebastião Lucas da Fonseca recebeu a consagração pública das suas extraordinárias qualidades de futebolista, numa Festa de Homenagem realizada no Estádio do Restelo, que contou com a presença de bastante público.
Depois de entrar em campo a equipa do Belenenses, que transportava os inúmeros troféus conquistados durante a digressão por Moçambique e Angola, foi anunciada a entrada de Matateu que, delirantemente aplaudido, caminhou para o centro do terreno onde, emocionado, agradeceu o carinho com que o público, de pé, o recebera.
Francisco Mega, na altura Presidente da Federação Portuguesa de Futebol e, Presidente do Clube na época em que Matateu ingressara no Belenenses, dirigiu-se então para a pista onde, frente aos microfones, proferiu um improviso que empolgou a multidão:
Nada se poderá acrescentar sobre a carreira de Matateu àquilo que a Imprensa já publicou. Que poderei eu dizer? Que nunca deixaste de jogar no primeiro jogo oficial de cada época desde que vieste para a Metrópole, e isto para quem dirige quer dizer muito.
(...)
Os ídolos, fá-los o próprio valor. Tu chegaste a essa categoria. És um ídolo. Tu e o Belenenses são dois e um único. O Belenenses conta contigo porque tu fazes parte integrante deste grande clube português.
Deves sentir orgulho da tua carreira, deves dizer a todos os teus, ascendentes ou descendentes, que nós não nos preocupámos de te levar às costas. Levámos um português que é nosso orgulho e isso podes dizer à tua filha.
”.
E terminou:
Obrigado, Matateu, por mim, pelo Belenenses, por todos os desportistas portugueses.”.

Após o grande abraço que lhe deu Francisco Mega, Matateu recebeu as medalhas de ouro de Mérito Desportivo e a de exemplar comportamento, concedidas pela F. P. F.. Também a A. F. L. lhe conferiu a medalha de Mérito Desportivo daquela Associação.

Depois de um autêntico cortejo de prendas, foi a vez de Vicente, em nome do treinador e dos colegas de equipa, lhe entregar uma linda salva de prata.
As luzes apagaram-se então, e no alto do topo norte, apareceram duas palavras que brilhavam mais no escuro da noite: Matateu agradece.
Enquanto o público vivia o grande momento, estalaram no ar alguns morteiros e foi lançado um vistoso fogo de artifício.
Entretanto as luzes voltaram a acender-se. Ia começar o jogo entre as equipas do Belenenses e do Sporting, para atribuição da Taça “41º Aniversário do Clube de Futebol “Os Belenenses”.
Depois de um empate a um tento, o Sporting acabou por vencer no desempate por grandes penalidades.

Terminada a festa, Matateu, visivelmente emocionado, afirmaria ao jornal “Record”:
Que lhe poderei dizer? Que estou agradecido a todos aqueles que me proporcionaram tão grande momento. Eu não tenho feito mais do que servir o clube a que sempre tenho pertencido e que pertencerei enquanto o Belenenses assim o entender.
Qual o momento que mais o emocionou?
– pergunta o jornalista.
As palavras do Sr. Francisco Mega, a homenagem dos dirigentes do meu clube e os aplausos com que fui recebido. Eu não sabia que tinha tantos amigos. Agora não me pergunte mais nada.”.

Sobre o que se passou nessa noite, o jornalista Guido Carvalho escreveu:
Lucas da Fonseca viveu a hora mais emotiva da sua já longa e extraordinária carreira. Temos lidado com ele de há alguns anos, pois nunca o víramos como naquela noite: Houve momentos em que pelo rosto de Matateu, caíram algumas lágrimas. Mas nem sempre é feio um homem chorar, e Matateu demonstrou, naqueles instantes, toda a sua condição de humanismo, toda a emoção que vive no seu corpo ágil e felino, aquele mesmo corpo que, em corridas vertiginosas e cambaleantes, causa temor aos adversários e são terror dos guardiões”.

Com vista à preparação do jogo contra a Inglaterra para o Campeonato do Mundo, Matateu regressou ao lote dos convocados da Selecção Nacional. Na primeira sessão de treinos, realizada a 13 de Abril, alinhando pela equipa titular foi um dos elementos em maior evidência.

No dia 22 de Abril, um sábado, Matateu sofreu um acidente de viação que lhe causou um traumatismo craniano. Foi internado na clínica do Dr. Oliveira Martins, onde permaneceu até à segunda-feira seguinte, altura em que regressou a sua casa em virtude do seu estado não requerer cuidados especiais. Não pôde assim participar na 23ª jornada, quando o Belenenses perdeu em casa com o Covilhã por 1-0. Sobre o acidente, publica-se a seguir, parte uma entrevista que Matateu deu ao “Record” de 13 de Maio de 1960:

Ao que julgámos, felizmente o acidente não teve a gravidade que se chegou a temer, não é verdade?” Pergunta-lhe o jornalista.
“É certo que se chegou a pensar ter sido pior, mas olhe que, mesmo assim não foi brincadeira nenhuma.
Mas enfim, já passou, eu já estou bom, e isso é o que interessa de momento.
Quando começou a treinar?
” Questiona o jornalista.
Comecei já a meio da semana passada, mas, como é natural, estranhei um pouco o facto de ter estado sem treinar durante alguns dias.”.

Regressou a 14 de Maio, no Barreiro, frente ao Barreirense, jogo que o Belenenses venceu por 4-3. No entanto, foi afastado da partida com a Inglaterra, realizada sete dias depois...

No decorrer da época de 1960/61 a equipa do Belenenses foi assolada por uma onda de lesões e Matateu não fugiu à regra. Esteve mais vezes sem jogar essa época, que durante o restante tempo que anteriormente havia estado ao serviço do Clube.
Assim se explica que o Belenenses tivesse terminado o Campeonato num modesto 5º lugar. Matateu, que participou em 18 encontros, obteve 7 golos.

A 4 de Setembro de 1961, na cidade de Edimburgo, os “azuis” empataram a três golos com a equipa escocesa do Hibernian, em partida a contar para a “Taça das Cidades com Feira” (agora denominada “Taça UEFA”). Era a estreia de uma equipa portuguesa na referida competição.
Alinharam pelo Belenenses: José Pereira; Rosendo, Alfredo e Castro; Cordeiro e Vicente; Yaúca, Carvalho, Matateu, Salvador e Estêvão.
Nesse desafio a equipa de Belém fez uma excelente primeira parte, chegando ao intervalo a vencer por 3-0. Matateu, que fez uma excelente exibição, marcou o primeiro golo aos 13 minutos, numa jogada espectacular pela direita em que, depois de se livrar de um adversário, disparou para o fundo da baliza escocesa. Aos 26 minutos, depois duma combinação com Estêvão pelo centro do terreno, Matateu fez o terceiro tento do Belenenses.
No encontro da 2ª mão, no Estádio do Restelo, Matateu voltou a marcar um golo, mas a equipa escocesa venceu por 3-1 e passou à eliminatória seguinte.

Depois da 2ª jornada do Campeonato Nacional de 1961/62, o jornal “Record”, a 3 de Outubro publicou na sua primeira página, uma das mais belas fotografias alguma vez registadas sobre desporto. Nela aparecia Matateu, em posição acrobática, durante o desafio Covilhã-Belenenses.

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Na sua legenda podia-se ler:
SINCERAMENTE não sabemos que mais admirar nesta gravura. Se a posição, verdadeiramente acrobática desse fabuloso Matateu, que ainda quer continuar a ser o “rei” dos nossos campos de futebol, se a oportunidade do nosso colaborador fotográfico da Covilhã, que conseguiu, no domingo, no encontro do Estádio Santos Pinto, uma foto que qualquer camarada não desdenharia de tirar.”.
Sobre a actuação de Matateu nesse desafio, que terminou empatado a um golo, escrevia o mesmo jornal: “Bem vigiado, produziu no entanto trabalho aceitável”.

Com 34 anos, foi convocado por Fernando Peyroteo (então Seleccionador) para a Selecção Nacional que iria defrontar a Inglaterra, em 25 de Outubro, no Estádio de Wembley. Não chegou no entanto a jogar, e Portugal perdeu por 2-0, não se conseguindo apurar para a fase final do Campeonato do Mundo de 1962.

A 10 de Dezembro frente ao Leixões, no Restelo, Matateu marcou dois golos e o jornal “Record” colocou-o no “Quadro de Honra” da 9ª jornada: “Matateu, que fez lembrar os seus melhores tempos, distinguiu-se entre os “azuis”.
O Belenenses, que venceu por 6-3, apresentou: José Pereira; Rosendo, Pires e Castro; Cordeiro e Vicente; Yaúca, Livinho, Matateu, Peres e Estêvão. Yaúca (3) e Estêvão marcaram os outros tentos.

O Clube, que começava a sentir os efeitos de uma crise profunda provocada pela construção do Estádio do Restelo, ficou-se pelo 5º lugar no Campeonato Nacional de 1961/62. Matateu conseguiu 7 golos, em 24 jogos disputados.

Acabado o Campeonato e fora da “Taça” (onde mais uma vez chegou à meia-final), o Belenenses participou no Torneio Internacional de Nova Iorque, que se realizava em duas séries, de 20 de Maio a 29 de Julho.
No jogo disputado a 22 de Julho, bateu a equipa grega do Panathinaikos por 5-1. Alinharam pelo Belenenses: Nascimento; Rosendo, Castro e Rodrigues; Cordeiro e Vicente; Vítor Silva, Livinho, Yaúca, Matateu e Peres.
Matateu marcou um dos golos da equipa azul, os outros foram marcados por Yaúca (2), Vítor Silva e Livinho.
No final do jogo, a colónia portuguesa conduziu os jogadores belenenses em triunfo, formando até ao hotel onde a equipa estava hospedada, um grande cortejo de automóveis.
No jogo seguinte a 29 de Julho, a equipa de Belém venceu a equipa austríaca do Wiener AC por 2-1 e apurou-se para a Final. Alinharam contra os austríacos: José Pereira; Rosendo, Castro e Rodrigues; Cordeiro e Vicente; Vítor Silva, Livinho, Yaúca, Matateu (depois Abdul) e Peres.
Matateu, que realizou uma partida acertada, sofreu uma forte contusão na tíbia da perna direita e teve de ser substituído. Mais tarde depois de radiografado, foi-lhe colocado um aparelho de gesso por se concluir haver uma ligeira fractura.
Mas no final do encontro só pensava no jogo da Final, como demonstra a entrevista dada ao jornal “Record”, que a seguir se publica na íntegra:
MATATEU, o homem que é uma legenda viva do grande clube do Restelo, desabafou connosco:
- Não calcula a pena que eu tive de não ir até ao fim. Cá fora, sofri muito. Parecia que “aquilo” nunca mais acabava.
E depois lamurioso:
- Agora só tenho medo, verdadeiro medo se não consigo estar bom do pé para o jogo com o América. Quando sair daqui vou falar com o Dr., para ele me pôr bom até quarta-feira. Se não rebento de desgosto.
E à despedida:
- Vai ver que ainda daremos mais uma alegria aos nossos adeptos.
”.

Sem Matateu, a equipa de Belém perderia os jogos da Final frente ao América. À chegada a Lisboa, o moçambicano era o homem mais infeliz da caravana. Sentado numa cadeira de rodas, com a perna direita engessada, Matateu era uma sombra daquele jogador sempre risonho, alegre e combativo. Entrevistado nessa altura, explicou o que lhe havia sucedido:
- Foi no jogo contra os austríacos. Já na segunda parte, e com o resultado de 1-0 a nosso favor, quando eu ia a rematar ao golo, o defesa-direito contrário colocou à frente da minha perna os “pitons” da sua bota. Simples como vê!
- O gesso vem assinado pelos seus colegas de equipa...
” Comenta o jornalista.
- É uma recordação má de Nova Iorque.
- Concorda, no entanto, que isso é bastante aborrecido, não é?
” Pergunta-lhe o jornalista.
- Sim. Quanto mais não seja, pelas consequências que daí vêm a resultar. Estarei inactivo bastante tempo, e só em 1963 voltarei aos relvados de futebol. ”.

Enquanto recuperava, Matateu ia assistindo aos treinos e aos jogos do seu Belenenses, não deixando de incentivar os colegas. Havia no entanto quem achasse, que devido à sua idade, não voltaria a jogar futebol.
Porém, depois de quatro meses de ausência, voltou a pisar a relva do Estádio do Restelo, onde conhecera tantas horas de glória. Foi numa terça-feira, dia 11 de Dezembro de 1962. Lá estava ele, numa sessão de treino, correndo, saltando, driblando aqui, fintando ali, sem nunca perder aquele sorriso que o caracterizava. No final do treino, declarou ao jornalista Guido Carvalho:
Não há palavras que exprimir toda a satisfação que me vai na alma. Voltei ao futebol, estou mais uma vez dentro do meu verdadeiro mundo. Aproveito já para lhe dizer que devo o meu regresso, em grande parte, a maior parte, à competência extraordinária do Dr. Silva Rocha e à dedicação, e saber também, do massagista Silva e seus auxiliares. Sem eles, sem esta equipa, eu não estaria aqui hoje no convívio dos meus companheiros.
Quanto tempo esteve inactivo?
” Pergunta-lhe Guido Carvalho.
Ora vejamos: lesionei-me em fins de Julho no encontro com o Wiener de Áustria a contar para o Torneio de Iorque. Estive três meses com o aparelho de gesso. Depois um mês com outro aparelho. Regressei na terça-feira.”.
E concluiu:
Ao todo cerca de quatro meses; o meu maior período de ausência dos campos de futebol.
Foi a sua maior lesão desde que joga futebol?
” Questiona o jornalista.
Sim, senhor. Anteriormente a maior lesão sofrida foi quando fracturei a clavícula, mas esta foi maior.
Mas já passou o mau tempo, agora é só matar as grandes saudades que já tinha.
Quando é que o Matateu voltará a jogar?
” Pergunta Guido Carvalho.
Se fosse eu que mandasse, já sabia quando regressava. A minha vontade é jogar o mais depressa possível.
Porque quanto tempo ainda jogará?
” Pergunta-lhe Guido Carvalho.
Olhe, meu amigo, tudo o que se disse por aí era cantiga. Eu ainda jogarei muito tempo e pode escrever que regresso ao futebol com a esperança de ser campeão.”.

Mas até ao final dessa época de 1962/63, Fernando Vaz (então treinador do Clube) não o chamaria para nenhuma partida, por considerar que Matateu ainda não havia recuperado a totalidade da sua “forma”. Nem tão pouco o colocava a jogar nas reservas... O Belenenses acabaria o Campeonato na 4ª posição e pela quarta vez consecutiva chegaria à meia-final da “Taça de Portugal”.

Em Março, o Presidente da Direcção do Clube, António Manuel Pereira, declarou que havia falado com Matateu, convidando-o para que este orientasse as equipas de amadores e uma escola de jogadores, mas que este declinara o convite.

A 16 de Abril de 1963, participou com o Belenenses num jogo-treino com Selecção que se preparava para defrontar o Brasil. Na reportagem sobre o treino, o jornal “Record” publicava: “Nos “azuis” esteve, também presente o famoso Matateu, que nos pareceu completamente recuperado”...

No dia 20 de Agosto de 1963, a conselho de Fernando Vaz que entendia que Matateu não tinha condições fisiológicas para representar o Belenenses, a Direcção do Clube dispensa-o e entrega-lhe a “Carta de Desobrigação”.

Para adquirir a sua “forma” física e técnica passou a treinar-se no Estádio José Alvalade, surgindo então o boato de que iria ingressar no clube “leonino”...

Entretanto, Acácio Rosa, inconformado com a decisão da Direcção, escreveu um artigo no jornal do Clube, no qual manifestava a sua completa oposição à saída de Matateu dos quadros de jogadores do Belenenses. Foi então, que António Manuel Pereira delegou em Acácio Rosa para que este se avistasse com o jogador, de forma a estudar até que ponto era viável a hipótese deste continuar ao serviço do Belenenses.
E no dia 20 de Setembro, pelas 19 horas, Matateu acompanhado de Acácio Rosa, transpunha a porta da delegação do Clube no Estádio do Restelo. Nesse momento, já se encontravam presentes no gabinete da Direcção, quase todos os dirigentes do Clube, à excepção do Presidente, que estava ausente de Lisboa. Pouco depois chegou Fernando Vaz. Estiveram reunidos durante cerca de duas horas, e no final, com a emoção estampada em alguns rostos, era dada a notícia de que a “Carta” de Matateu estava de novo na posse do Belenenses.

O regresso de Matateu, a 19 de Outubro de 1963, para jogar nas reservas contra o Sporting, foi assinalado com relevo na primeira página do jornal “Record”. No interior do mesmo jornal, o jornalista Guido Carvalho escrevia:
Matateu voltou ao futebol. Regressou no sábado, no jogo em que a “reserva” do Belenenses defrontou a do Sporting. E se durante todo o encontro o famoso ultramarino não foi aquele Matateu dos tempos do seu maior fulgor, não há dúvida que demonstrou, em vários lances, ser ainda elemento de grande utilidade”. Tinha então 36 anos.

Apesar de ter aceite a sua colaboração perante a Direcção, Fernando Vaz apenas o colocava a jogar nas “reservas”, onde jogo após jogo era considerado um dos melhores da equipa e continuava a marcar golos.
A partir do dia 27 de Janeiro de 1964, Matateu passou a acumular as funções de jogador e de responsável pela preparação das equipas de infantis e amadores do Belenenses. Antes de se iniciar a primeira sessão de treino, Acácio Rosa entregou 100 exemplares da sua obra “Factos, Nomes e Números da História do Clube de Futebol “Os Belenenses” aos jovens das equipas de infantis.

Depois da derrota em casa por 2-0 diante da Académica, em jogo a contar para a 21ª jornada do Campeonato, Fernando Vaz pediu a demissão, alegando não existir ambiente favorável ao seu trabalho. A Direcção do Clube, com o acordo do Conselho Geral, aceitou a rescisão do contrato. A contestação dos sócios, em relação ao técnico, já antes havia provocado a interrupção de um treino e uma Assembleia-Geral histórica, na qual se travaram de razões Fernando Vaz e Acácio Rosa. Nessa Assembleia, depois de acalorada defesa do jogador, por parte de Acácio Rosa, seria concedida a medalha de “Mérito e Valor Desportivo” a Matateu e a categoria de sócio de mérito.

Na jornada seguinte, já sem Fernando Vaz no comando, Matateu regressava finalmente à primeira equipa do Clube. Foi no Barreiro a 15 de Março de 1964, frente ao Barreirense, tendo-se registado um empate a zero.
Alinharam pelo Belenenses: Nascimento; Rosendo, Abdul e Alberto Luís; Pelézinho e Vicente; Adelino, Virgílio, Matateu, Peres e Godinho.
Sobre a sua actuação, o jornal do Clube publicou:
Uma exibição positiva, especialmente no capítulo de remate, no qual “Matateu” continua a manter as suas qualidades. Seis potentes remates todos eles bem desferidos e com a indispensável força ficaram a assinalar o poder rematador de Lucas, isto não obstante a marcação cerrada a que foi sujeito durante todo o encontro. “Matateu” foi o avançado mais perigoso do Belenenses, numa linha avançada onde pontificava a juventude. Será preciso dizer algo mais como justificação para a inclusão de “Matateu” na primeira equipa do Belenenses?”.

Por sua vez, o “Record” analisou assim a sua exibição:
MATATEU – O desejado! Quase se pode considerar o “benjamim” do encontro. Foi o primeiro a entrar em campo, foi bastante cumprimentado pelos adversários e acarinhado pelos companheiros. Mas para além destes pormenores mais ou menos sentimentais, o certo é que Matateu foi um excelente rematador. Bem marcado por Lança ele não terá sido um grande batalhador e revelou-se até lento no arranque. Mas satisfez embora o encontro não fosse o melhor para um “test”. Estamos certos de que no domingo, contra o F. C. Porto, poderemos apreciá-lo mais conscientemente.”.

Na última jornada, o Belenenses venceu o Sporting por 4-2, no Estádio do Restelo. Alinharam pelos “azuis”: José Pereira; Rosendo, Rodrigues e Alberto Luís; Vicente e Cardoso; Adelino, Pelézinho, Matateu, Garcia e Peres.
Seria o último jogo oficial que Matateu disputaria com a camisola do Belenenses. Despedia-se como se estreara há quase treze anos. Contra a equipa rival do Sporting.
Sobre a sua exibição, disse o “Record”:
Manteve-se em nível apreciável passando com intenção e a propósito”.

Na sua última época ao serviço da equipa da “Cruz de Cristo”, Matateu participou em quatro desafios para o Campeonato, não tendo alcançado qualquer golo. O Belenenses terminaria o Nacional na 6ª posição e chegaria, mais uma vez (a quinta consecutiva), à meia-final da “Taça de Portugal.

Cumprindo uma promessa que constava no seu último acordo com o Belenenses, em 15 de Novembro de 1964, teve lugar no Estádio do Restelo uma Festa de Homenagem a Matateu.
Albano de Oliveira, Vice-Presidente do Clube, leu um discurso de elogio ao atleta, escrito pelo jornalista Marques Gastão (membro do Conselho Geral), que não pode estar presente. Depois de receber vários ramos de flores, entre os quais um de sua filha Argentina, Matateu visivelmente emocionado, agradeceu em palavras breves a homenagem prestada. Alvo de significativa e entusiástica ovação, Matateu no meio do relvado agradeceu erguendo os braços.
Realizaram-se ainda dois encontros de futebol. No primeiro, o Atlético venceu o Sintrense por 3-1 e no segundo, o Belenenses, defrontando o Benfica, perdeu por 4-2.

Pensava-se que teria sido uma festa de despedida dos relvados. Mas Matateu amava desenfreadamente o jogo de futebol e, em 14 de Dezembro daquele mesmo ano, ingressou no Atlético, aceitando um convite que os alcantarenses lhe tinham feito.
Quando chegou à Tapadinha disse:
Estive muito tempo inactivo, desejo, acima de tudo, mostrar que ainda valho alguma coisa.”.

Com José Águas como treinador, ajudou o clube a subir à I Divisão. A 20 de Novembro de 1966, com 39 anos, marcou um golo ao seu Belenenses, numa partida para o Campeonato Nacional que o Atlético venceu por 2-1, na Tapadinha.
Em 22 de Janeiro de 1967 participou na “Festa de Homenagem” a seu irmão Vicente, realizada no Estádio do Restelo. Nesse dia, o Belenenses derrotou o Atlético por 4-3 e Matateu marcou mais dois golos ao clube do seu coração.
No Campeonato Nacional de 1966/67 marcaria 9 golos, em 21 desafios disputados pela equipa alcantarense.

Em 1967/68, o seu amigo Acácio Rosa intercedeu para que ele ingressasse no Gouveia. Na época seguinte ajudou o Amora a subir à III Divisão.

Em entrevista ao jornal “A Bola” do dia 18 de Janeiro de 1969 disse:
Tenho 41 anos, mas parece que tenho 19, porque estou conservado em cerveja”. “Acredite, quando não bebo cerveja, não sou o mesmo, sinto-me mal e o meu rendimento é sempre inferior.”.
(...)
É verdade, se eu não bebesse cerveja, já teria arrumado as botas há muito tempo”.

No início de 1970, jogou pela primeira vez no Canadá ao serviço da equipa do First Portuguese. Ainda nesse ano, regressou a Portugal para alinhar no Desportivo de Chaves. Passados dois anos, regressou ao Canadá para visitar um amigo, e aceitou um convite para ensinar cerca de oito mil crianças a jogar futebol, ao mesmo tempo que ficava ligado ao Sagres Victoria, clube de portugueses que representaria até 1982, com a idade de 55 anos.

Por duas vezes voltaria a Portugal e seria recebido em delírio: em 1987, quando recebeu a medalha de Mérito Desportivo do Governo português, e em Outubro de 1994.

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No final de 1999, noticiava-se que Matateu estaria muito doente. A seu pedido, e com o patrocínio do Clube, a sua filha Argentina e o seu irmão Vicente, deslocaram-se então ao Canadá. O seu estado era muito grave, e não deixava antever melhoras. Consciente dessa gravidade, pediu a Argentina que transmitisse que partia com o Belenenses no coração, deixando-lhe todo o seu espólio desportivo.

No dia 27 de Janeiro de 2000, há precisamente seis anos, falecia no Canadá com 72 anos, no Victoria General Hospital, onde estava internado há cerca de dois meses.
O anúncio da sua morte encheu de consternação toda a nação belenense e o mundo do futebol em geral.

Carlos Silva, seu antigo companheiro e amigo declarou então:
Morreu um campeão e campeão por todas as razões, pelo espectáculo que sempre proporcionou a quem ia para o ver. Tenho na memória três momentos inesquecíveis: na primeira viagem que fizemos a Moçambique foi recebido como um rei; na “Taça Latina” em Paris, na qual, apesar da participação de Di Stefano e Kopa, foi ele o melhor jogador da prova; e um jogo do Belenenses no Maracanã com uma selecção brasileira na qual actuava Pelé, com 16 anos, no qual antes de Pelé fazer das suas já Matateu tinha atirado três bolas à trave, deixando o público de boca aberta. Era um animal de área como nunca vi até hoje. Deus deve estar à espera dele. E vai oferecer-lhe uma cerveja. Ele merece! ”.

Na mesma altura, Mário Wilson, antigo jogador e Seleccionador Nacional disse:
De facto um momento muito difícil. Homenageamos um homem e um grande futebolista. Matateu tinha excelentes condições técnicas e era um atleta de eleição. Ele é o meu primeiro ídolo, seguindo-se Eusébio. Recordo-me que as maiores fintas que sofri foram do Matateu. Tinha como missão marcá-lo, mas a verdade é que levava grandes nós cegos. Fico com a imagem de um homem bondoso, próprio dos africanos. Matateu era um atleta de eleição... genial. Um excelente companheiro e um grande amigo. É com saudade que o vimos partir.”.

Ainda na mesma ocasião, o jornalista Aurélio Márcio afirmou:
Dentro da área, nos últimos dez metros de terreno, foi o melhor jogador de sempre. É inacreditável como se podem esquecer dele nas nomeações para os melhores do século.”.


Matateu foi um fenómeno do futebol, um génio inigualável. Porventura, o melhor futebolista português de todos os tempos, se tivermos em conta que não teve atrás de si uma poderosa máquina de propaganda, como tiveram outros que se lhe seguiram.

Viveu e morreu com o Belenenses no coração. Não conseguiu materializar o sonho de ser campeão nacional com a camisola azul e a “Cruz de Cristo” ao peito! Mas quantas vitórias e tardes de glória lhe devem o Belenenses e o futebol português!


Cumpre-nos a nós belenenses – atletas, adeptos, sócios e dirigentes – tornar o seu sonho realidade!

Eternamente Obrigado, Matateu!



1924 – Nasce Joaquim Branco

Referimo-nos e este excelente atleta com mais detalhe a propósito da festa de homenagem que, muito justamente, lhe foi prestada em 16 de Setembro de 1953.

De qualquer forma, não podemos deixar de referir, por esta ocasião, que este meio fundista, que brilhou a grande altura nos anos 40 e 50, Sócio de Mérito distinguido em 1963, foi também galardoado com o prémio “Atleta do Ano”, promovido pelo extinto jornal diário lisboeta “Diário Popular”, em 1949.

Depois de terminar o seu percurso enquanto atleta, Joaquim Branco tornou-se árbitro de futebol. Um dia, já nos anos 60, salvo em 1963 (o facto está documentado num Jornal do Belenenses e numa edição do Record de que publicamos a imagem), quando treinava no Estádio Nacional, foi abordada pelo Rei Pelé. Ao saber que Joaquim Branco fora atleta do Belenenses, o maior jogador de futebol do mundo de todos os tempos confidenciou-lhe a sua admiração pelo nosso clube e, nomeadamente, por Vicente.


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