terça-feira, 8 de novembro de 2005

Em Busca do Belenenses Profundo

Gostava de começar por dizer que sou contra todo o tipos de fanatismos, fundamentalismos e sectarismos. Mas...

Há dias atrás, numa telenovela, a avó comentava para o neto que o avô tinha ido ver uma final europeia do Benfica ao estrangeiro. Incrédulo, o neto perguntava: “Então...mas ele não era do Belenenses? Como é que pode isso ser?”. E ela respondia: “Sim, era do Belenenses mas gostava sobretudo de ver um bom jogo. E o Benfica tinha uma grande equipa!”.

Senti vergonha de ser esta a imagem que o nosso clube possa ter junto de muitos! Senti-me humilhado por saber que, em grande parte, ela assenta na realidade: sim, há so called adeptos do Belenenses capazes de ir gastar uma catrefada de massa numa viagem ao estrangeiro para ver uma final europeia do Benfica, do Porto ou do Sporting, embora possam estar ausentes do Restelo ou, então, mudos e de braços cruzados, na mais cinzenta das atitudes...

Existem, sim. Mas este não é o Belenenses profundo e original, o Belenenses de glória e de raça, o Belenenses de alma e de mística, o Belenenses de Artur José Pereira e Amaro.

Como também não o são os que acham que o nosso problema é não irmos a Alvalade apreciar o Sporting-Académica; os que, no meio dos festejos de um golo nosso, saem impávidos, dizendo “vou ver o jogo do Porto” (na televisão); como não o são os que, no detestável e doutoral sector 4, de onde estou desejoso de sair (e onde me arrependo de ter adquirido cativo), palitam os dentes e sorriem quando o Belenenses acaba de sofrer um golo; os que aplaudiam em delírio o Chalana na nossa bancada de sócios; os que gelam tudo com as suas (assim julgam) teorias de gestão e frases pomposas sobre activos e merchandising; como o não são os entusiastas dos emprestados; como o não são os “sereninhos” incapazes de vibrar e ter “força na verga”; como não o são os que, por mais que o clube se afunde e as bancadas se desertifiquem, aplaudem e rejubilam com a corrida para o abismo; como o não são os que vêm a nossa equipa com a mesma mentalidade com que jogam as equipas do Campeonato do INATEL; como o não são os que acham que “não custa muito” perder contra o Sporting ou o Benfica, porque “os nossos verdadeiros rivais são o Rio Ave, o Gil Vicente ou o União de Leiria”; como o não são os que acham que devemos pensar (ainda) mais pequenino; como não o são (embora possam ser recuperados), “os filhos da decadência”, os que (sem culpa nenhuma) só viram o Belenenses decadente, lhe absorveram os vícios e têm do clube a imagem que lhes é impinginda por jornalistas ignorantes e serviçais dos 3 que sabemos. Como não o são, enfim, os cinzentos, híbridos e panachés...

Nada disto pode salvar, regenerar, fazer reviver e fortalecer o Belenenses. Nada disto é o Belenenses profundo. Pelo contrário, o Belenenses profundo “morto de saudades e de dor”, foi sendo expulso, por tudo isto, das bancadas do Restelo. Está em depressão profunda, tentando esquecer, até ao dia em que lhe gritem, de cima dos telhados, que o grande, nobre e altaneiro Belenenses ainda existe.

Já sei que vou ser criticado por “distinguir belenenses de primeira e de segunda”. Pouco importa. Considero que cumpro o meu dever. Só este Belenenses profundo, mobilizado, poderá reerguer o grande clube que fomos.

Este blogue veio em busca do Belenenses profundo. Uma parte aderiu-lhe, embora em grande medida (como mostram os e-mails que recebemos) se abstenha de comentar, farto das banalidades e alarvices dos que não entendem esse Belenenses original.

E iremos buscá-lo muito mais no futuro, por muitos meios que não pretendemos revelar. Se ele ainda existe, e achamos que sim, só este Belenenses profundo, sublevado, nos pode valer! Vamos (todos?) na sua demanda!