quinta-feira, 29 de setembro de 2005

Dr. José Coelho da Fonseca (1905-1996)

Hoje vou falar-vos sobre alguém que talvez seja desconhecido para a esmagadora maioria dos sócios do Belenenses. Quis o destino, como muitos de vocês sabem, que o meu pai me fizesse sócio, com lugar cativo central, desde o dia em que nasci. Quando comecei a ir ao futebol com ele, apercebi-me que sentada à direita dele, eu estava à sua esquerda, se encontrava a família Coelho da Fonseca, pai José, seu irmão António e seu filho José António. Vim a descobrir ao longo da vida que José Coelho da Fonseca, para além de melhor amigo do meu pai, e seu companheiro de vida, apesar dos onze anos de diferença de idade entre os dois, era, de facto, uma figura notável do Clube de Futebol “Os Belenenses”.

Separavam-me dessa ilustre personagem 61 longos anos, mas apenas em termos de idade, porque em discernimento, espírito crítico, e, acima de tudo, capacidade de adaptação a cada novo tempo que surgia, não parava de me surpreender. O ritual de ir ao Restelo ao Domingo à tarde era para nós, meu pai e eu, motivo não só para ver a nossa grande paixão, o Belenenses, como também ponto de encontro para estar com amigos. O meu pai aproveitava o intervalo dos jogos para rever velhas amizades e eu, enquanto me consolava com um “fruta ou chocolate”, consoante a estação do ano - meu primeiro grande chamariz para ir ao Restelo, tinha para aí uns três anos - comecei a ficar no meu lugar durante esses 15 minutos para “beber” sabedoria, experiência e lições de vida desse extraordinário homem chamado José Coelho da Fonseca.

Rapidamente me comecei a aperceber da enorme importância que esse homem teve na história do nosso Clube e que a sua vida se confundia, em muitos aspectos, com a vida do Belenenses. Junto deixo-vos uma pequena biografia do Dr. José Coelho da Fonseca, no que ao Belenenses diz respeito:

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15 de Outubro de 1905 – Data de nascimento do Dr. José Coelho da Fonseca

1929 – Admissão como sócio do Clube de Futebol “Os Belenenses”

1938/39 – Presidente da Direcção

1943/44 – Presidente da Associação de Futebol de Lisboa, em representação do Belenenses

1947 – Vice-Presidente da Assembleia Geral do CFB

1948 – Vice-Presidente da Assembleia Geral do CFB

1949 – Presidente da Assembleia Geral de CFB

1956 – Um dos grandes impulsionadores da construção do Estádio do Restelo

1956 – Atribuído o galardão de Sócio de Mérito

1958 – Setembro – Presidente da Comissão Central de Árbitros, em representação do Belenenses

1963 – Presidiu à Comissão de Assuntos Administrativos e Económicos do Conselho Geral que sempre integrou

1962/64 – Presidente do Conselho Fiscal do CFB

1967/69 – Vice-Presidente da Junta Directiva

1970 – Presidente do Conselho Fiscal do CFB

Integrou o Grupo dos Mil desde a sua Fundação

28 de Junho de 1996 – Data do falecimento do Dr. José Coelho da Fonseca, com o nº 43 de associado

Como podem ver, este curriculum é demasiado valioso para poder ser ignorado. Atrevo-me a dizer, como opinião meramente pessoal, que é a figura do nosso Clube com maior curriculum a nível directivo, mesmo mais do que Acácio Rosa, tanto em cargos dentro do próprio clube, como fora, em representação deste. Apenas lhe "faltou" ser Presidente da Federação Portuguesa de Futebol.

No entanto, como podem verificar neste resumo, o Clube apenas lhe atribuiu como galardão, a título de reconhecimento pelos serviços prestados, o de Sócio de Mérito, em 1956. Ou seja, para o Clube de Futebol “Os Belenenses”, José Coelho da Fonseca, prestou os mesmos serviços ao nosso Clube, e teve o mesmo reconhecimento que, por exemplo, imagine-se, Nuno Abecassis, João Soares ou Pedro Santana Lopes (ex-presidente de outro clube, que não o nosso, da capital)???

Creio tratar-se de uma situação que deve ser rápida e urgentemente corrigida. No dia 15 de Outubro próximo celebra-se o Centenário do nascimento desta grande figura. Tomei a iniciativa de enviar ao Presidente da Direcção, com conhecimento ao Presidente do Conselho Geral, a proposta de ser feita uma homenagem ao Dr. José Coelho da Fonseca, bem como a atribuição do Galardão, a título póstumo, da “Cruz de Cristo de Ouro – Dedicação e Valor”, que segundo os Estatutos do Clube, na Secção Quinta – Louvores e Galardões, Artigo 61º, diz, no parágrafo 1, "é o mais alto galardão do Clube atribuído a um sócio, e destina-se a tributar o reconhecimento do C.F.B. por serviços prestados de excepcional merecimento". No parágrafo 2 pode ler-se "a atribuição é da competência da Assembleia Geral, sobre proposta da Direcção, com parecer favorável do Conselho Geral, a aprovar por maioria qualificada de dois terços dos sócios presentes".

Estou confiante que esta proposta vai ser aprovada em reunião de Direcção, para que possa ser apresentada e votada na próxima Assembleia Geral do Clube. Trata-se de corrigir uma injustiça, ou lapso da nossa hitória, ainda que a título póstumo.

Tenho saudades das conversas, mais do que conversas, lições, com o Dr. Coelho da Fonseca. Como tenho saudades, e muitas, enormes, do meu pai (já lá vão sete anos e meio de eterna saudade), que me fez tudo aquilo que eu sou e, acima de tudo, Belenenses. Mas julgo ficar de bem com a minha consciência, e que também o meu pai lá em cima ficará muito orgulhoso, de ajudar a prestar esta homenagem a quem dedicou uma vida e tudo deu, e muito pouco ou nada pediu, ao Clube de Futebol “Os Belenenses”.

O Dr. José Coelho da Fonseca.