sexta-feira, 2 de setembro de 2005

Benefícios

Comadres zangadas – Quais são as mais beneficiadas?

Enquanto comentador desportivo, não gosto de Miguel Sousa Tavares. É faccioso e ignorante da história, como ainda há pouco tempo demonstrou num comentário palerma sobre o Estádio do Restelo. Reconheço, contudo, que é menos irritante do que a indescritível lampiona Leonor Pinhão ou, por exemplo, do que o sonsinho Fernando Guerra que, como ainda há dias demonstrou em artigo sobre a questão do 4º grande (a que se fez referência num blog azul: Blog do Belenenses), se finge independente, mas é uma espécie híbrida da 2ª circular (isto é, com a mania do Benfica e Sporting; há muitos assim) e uns toques de saudosismo pelo Vitória de Setúbal do início dos anos 70 (que o terão marcado na sua juventude) e do que outros tripaineleiros da nossa praça.

Este tipo de comentadores não vê problemas em os três clubes (os outros grandes além do Belenenses) da sua preferência serem beneficiados escandalosamente por arbitragens, propaganda da comunicação social e todo o tipo de dádivas e favores dos poderes públicos (que se suporiam ser isentos); despudoradamente, digladiam-se apenas para proclamar que, dos três, o seu é o menos beneficiado.

Nestas questiúnculas, em que se zangam as comadres – “sou eu a mais ou menos beneficiada?” - , descobrem-se algumas verdades, entretanto. E, assim, na edição de 23 de Agosto p.p. do jornal “A Bola”, escreveu M.S.Tavares:

“O negócio que Santana Lopes fez quando era presidente da câmara de Lisboa, e destinado a co-financiar os estádios do Benfica e Sporting, continha uma última concessão verdadeiramente de pasmar. A CML, através da EPUL (uma empresa municipal, que urbaniza terrenos públicos para supostamente vender habitação mais barata), iria construir duas novas urbanizações que, uma vez vendidas, gerariam lucros a dividir entre a EPUL e o Benfica e o Sporting. Ou seja, a câmara de Lisboa pegava em terrenos públicos, construía neles com dinheiros públicos comercializava-os e depois, se lucros houvesse, dava metade deles aos clubes, que não tinham mexido uma palha nem arriscado um tostão. Tratava-se obviamente, de uma doação encapotada sob a forma de participação em negócio.

Mas eis que agora se vem a saber, através da divulgação das contas da EPUL, que também a condição a que estava sujeito o negócio foi afinal ignorada. Antes mesmo de se iniciar a construção, de haver quaisquer vendas e muito menos resultados do negócio, a EPUL adiantou ao Benfica e Sporting, em Dezembro passado, 20 milhões de euros ‘por conta dos lucros futuros’. Só que não apenas os especialistas contestam esse volume de lucros putativos como até duvidam que, por falta de condições legais para construir, as urbanizações em causa cheguem sequer a ver a luz do dia. Entretanto, para poder antecipar os hipotéticos lucros ao Benfica e Sporting, a EPUL foi à banca pedir um empréstimo – cujos juros, obviamente, lhe caberá também pagar”.

Elucidativo, espantoso e revoltante! Enquanto isto, na mesma cidade de Lisboa, o Belenenses foi pura e simplesmente proibido de fazer um novo estádio (pessoalmente, não concordava com alguns aspectos do projecto; mas a questão não é essa, pois, boa ou má, o certo é que nos impediram de levantar por diante a ideia). De resto, há uns 3 ou 4 anos, um Presidente da Câmara Municipal disse, no Estádio do Restelo, que “Doravante, em Lisboa, o Belenenses passará a ser tratado em pé de igualdade com o Benfica e o Sporting”. Claro que não passou a ser; mas a declaração é o reconhecimento expresso de que o Belenenses é preterido e os outros dois beneficiados.

No mesmo artigo a que fizemos referência, conclui M.S.Tavares:

“Ó senhores, que tanto se ofenderam porque um inspector do IGAT mais o sr. Rui Rio entenderam, ao arrepio de vários outros, que parte dos terrenos do FC Porto, expropriados para o Plano de Pormenor das Antas, teriam sido sobreavaliados: o que têm a dizer agora deste negócio?”

Eis que a anguis in herba levanta a cabeça: tudo se resume somente, para MST, a se o F.C.Porto é mais ou menos (injustamente) beneficiado que os outros dois.

Não tenho pena de nenhum dos três, lagartos, andrades ou milhafres. É quase diariamente que se sabe de novas benesses de que, numa voragem imparável, se alimentam e com que engordam cada vez mais.

Ainda há dias, um outro blog azul (
Belém Integral), num excelente artigo, se fazia eco de como empresas com capitais públicos financiam os três da vida airada.

Neste negócio de favores públicos e privados, o Belenenses é, na verdade, o parente pobre. Benfica, Porto e Sporting, recebem de todos os lados possíveis e imaginários, e ainda acham sempre pouco; Marítimo e Nacional vêm o seu saco cheio com o dinheiro (também ele resultante dos impostos pagos por todos nós) que lhes é oferecido pelo Governo Regional da Madeira; outros clubes da Superliga (e Liga de Honra e por aí fora), recebem todo o tipo de ajudas, subsídios e suportes financeiros das respectivas Autarquias. E nós? Nós, nada; lutamos só com os nossos próprios meios e, nisso, estamos praticamente sós.

Onde é que está a justiça? Onde é que está uma concorrência leal?