quarta-feira, 5 de outubro de 2005

Neste dia, em . . .

1935 – Belenenses recebe grau de Oficial da Ordem da Benemerência

Foi a 2ª das 7 grandes condecorações que o Belenenses recebeu. E...a propósito de benemerência: durante os 28 anos em que esteve nas Salésias, o Clube de Futebol “Os Belenenses” entregava ao Asilo Nun’Álvares a percentagem de 6 por cento sobre a receita bruta de todos os desafios de futebol ou festas desportivas, ali realizadas, bem como a receita líquida duma festa desportiva anual. Não consta que Benfica ou Sporting fizessem tal coisa.

No entanto, contrariamente a outros clubes, de Lisboa e não só, que receberam dinheiros públicos pelos terrenos que deixaram vagos (o Benfica, por exemplo, recebeu 800 contos em 1940, quantia astronómica para a época, ao deixar a “serração de madeira” das Amoreiras) – com instalações a anos-luz das Salésias -, além de ainda lhes serem cedidos outros terrenos para a construção, o Belenenses não recebeu nada por deixar as Salésias. Apenas foi oferecido um terreno vazio (e que terreno, e em que estado!), em troca dos terrenos e das instalações magníficas que teve de abandonar. O que, meus senhores, é bem diferente daquilo de que beneficiaram outros clubes... clubes que, mais tarde, receberam ainda mais terrenos quase ao preço da chuva e os venderam à mesma entidade pública por cerca de dez vezes o valor de origem!



1948 – Despedida de Artur Quaresma

Artur Quaresma é indiscutivelmente um dos maiores símbolos vivos do Belenenses, um dos Campeões Nacionais de 1946 que ainda permanecem entre nós. Nos seus 88 anos, permanece com uma vitalidade e lucidez impressionantes. Conversar com ele é um privilégio maravilhoso. Ele desfila as memórias e o orgulho do que ele e os seus companheiros fizeram pelo nosso clube, e é um testemunho vivente do que é amar com ardor o nosso clube e vê-lo com grandeza – postura bem diferente do cinzentismo rechonchudinho que hoje prevalece.

Vindo do Barreirense, clube da sua terra natal e onde ainda hoje vive, Artur Quaresma vestiu a nossa camisola durante onze anos. Ganhou um Campeonato Nacional (45/46), uma Taça de Portugal (41/42) e dois Campeonatos de Lisboa (43/44 e 45/46). Foi ainda finalista das Taças de Portugal de 39/40, 40/41 e 47/48. Esteve na nossa equipa que foi convidada para a inauguração do Estádio do Real Madrid, em Dezembro de 1947. Também jogou contra o Real Madrid por duas vezes em 1945: em 15 de Maio, empatámos 2-2 na capital espanhola; em 31 de Maio, ganhámos por 1-0 nas Salésias. No primeiro desses jogos, Quaresma brilhou a grande altura, merecendo rasgados elogios dos jornais espanhóis – pedaços que ele guarda carinhosa e orgulhosamente.

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Na festa de despedida, a equipa principal do Belenenses venceu o Sporting por 4-1 e os nossos infantis venceram o Atlético por 2-0.

Esta participação dos Infantis na Festa de Artur Quaresma não foi um acaso. Já enquanto jogador, ele colaborava com Scopelli na formação de jogadores; e continuaria, pelos anos fora, com as suas famosas escolas de miúdos. Foi, nos anos 50, treinador das nossa equipa de Juniores. E com que orgulho e alma Belenenses falava! Lembramos, por exemplo, as suas declarações na véspera de uma final do Campeonato de Lisboa, com o Benfica, realizada em 15 de Fevereiro de 1959. Que maneira exemplar de falar e de viver o Belenenses!

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Artur Quaresma representou a Selecção Nacional por 5 vezes. Teriam sido decerto muitas mais, se então os jogos internacionais não rareassem, mais a mais com a eclosão da 2ª Guerra Mundial. Estreou-se em 28 de Novembro de 1937, na 1ª vitória de Portugal contra a Espanha no país vizinho (estando presentes dois outros jogadores do Belenenses: José Simões e Mariano Amaro). Fez o último jogo em 14 de Abril de 1946: Portugal venceu a França por 2-1, com 5 jogadores do Belenenses presentes no Onze Nacional (ver gravura). Registe-se que Quaresma foi um dos jogadores do Belenenses – e só do Belenenses – que se recusaram a fazer a saudação fascista (dita olímpica) num jogo da selecção Nacional. E depois, venham dizer que o Belenenses era o clube do regime salazarista...

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Ouvimos da boca de Artur Quaresma o relato do jogo decisivo de 1946, que nos garantiu o triunfo no Campeonato. Ao intervalo, perdíamos por 1-0. E precisávamos de ganhar... Ele e Vasco Oliveira reuniram os companheiros e clamaram a exortação: “temos que ganhar isto!”. E ganharam!

Por tudo quanto representa e deu ao Belenenses, um grande, um imenso obrigado a Artur Quaresma!



1977 – Inaugurado Pavilhão do Restelo (actualmente, Pavilhão Acácio Rosa)

Foi nos tempos convulsos e revolucionários de 74/75 que a necessidade de construirmos um Pavilhão para os desportos extra-futebol passou de um anseio vago para uma ideia definida. Em 1976 e 1977, a obra iniciou-se, avançou e concluiu-se. A oposição da Câmara Municipal de Lisboa, por causa da (abandonada) Capela do Santo Cristo, foi ferocíssima: antes como depois do 25 de Abril, o Belenenses foi perseguido pela Câmara de Lisboa, sempre curvada e servil perante o Sporting e o Benfica. Uma vez mais, perante a ameaça camarária de derrubar, com bulldozers, o que, com tanto sacrifício construíramos, foi preciso lutarmos (Sequeira Nunes distinguiu-se então) durante vários anos!

No início da década de 90, foi dado ao Pavilhão o nome de Acácio Rosa. É uma justíssima homenagem a quem tanto amou e serviu o clube e, particularmente, a quem tanto protegeu e defendeu as modalidades extra-futebol.