quarta-feira, 12 de outubro de 2005

Neste dia, em . . .

1969 – Belenenses venceu Selecção de Sevilha por 7-3 em Hóquei em Patins

Foi mais um evento integrado nas comemorações dos 50 anos do Belenenses. Como já vimos, o Belenenses também defrontou e venceu os sevilhanos em Atletismo e Râguebi. Sabendo-se que, juntamente com Portugal, a Espanha é uma das duas grandes potências mundiais do Hóquei em Patins, esta vitória sobre os espanhóis esteve especial significado.

Na mesma altura, António Livramento era – e foi durante anos – o melhor jogador do mundo. Não percebemos porque é que, sendo ele sócio e adepto do Belenenses, nunca jogou no nosso clube, do mesmo modo que não percebemos porque é que no Belenenses quase nunca se apostou muito nesta modalidade, até à sua extinção...



1975 – Em jogo do Campeonato Nacional, o Belenenses vence o Benfica por 4-2, no Restelo, perante quase 60.000 espectadores

Foi um jogo, uma tarde, uma vitória inesquecível. Temos sinceramente pena de há muito não vivermos uma coisa assim – e, mais até, o receio de que não se volte a repetir. Temos pena que muitos dos que falam nos blogs não tenham tido a ventura de assistir, pois, muito provavelmente, pensariam e sentiriam de maneira diferente.

Não me refiro tanto à vitória. Ainda o ano passado ganhámos por números mais expressivos (4-1 ao Benfica). Mas a vibração, o empolgamento, a sensação de plenitude não se pode, nem de longe nem de perto, comparar. Falta o ambiente de um estádio muito mais que cheio - a transbordar por todos os lados; falta o clamor de dezenas de milhar de adeptos do Belenenses; falta a maneira como os jogadores festejavam os golos, sobretudo o último: em cachos, todos juntos entre si, e todos juntos com o povo. E falta a mística que se perdeu, a esperança, o frisson, a alegria da liderança...tanta coisa, Deus meu!

Mas vamos contar “tudo” desde o início. O campeonato de 75/76 iniciou-se com uma equipa moralizada, vitoriosa na Taça Intertoto, que recuperara uma coerência e um fio de jogo (mérito de Peres Bandeira), que compensara muito bem a saída de Quinito com a entrada de Vasques e que recebeu um Artur Jorge ainda em condições de marcar bastantes golos, de voltar à Selecção A e de ir ganhar uns bons cobres nos Estados Unidos da América, por deferência do nosso clube (para com o qual teve mais tarde comportamentos que preferimos não comentar e muito menos qualificar, pois receamos ser injustos ou…excessivos). Praticamente estivemos sempre nos três primeiros lugares, e grande parte do tempo no 2º lugar. E, aliás, à 6ª jornada, no dia 12 de Outubro de 1975, chegámos mesmo ao 1º lugar, com o Belenenses a viver um dia inesquecível.

Recebemos o Benfica no Estádio do Restelo, emoldurado com uma multidão verdadeiramente impressionante. As rádios, a televisão e os jornais falaram na presença de 60.000 espectadores! EXACTO, SESSENTA MIL! Podemos confirmá-lo documentalmente, através de excerto da “Bola” (nº 4494, de 13 de Outubro de 1975, página 5), que se reproduz em seguida (ver também gravura): “CASA CHEIA, COM GENTE POSTADA EM TODOS OS SÍTIOS POSSÍVEIS, com muita borla e alguma inconsciência. Alberto Mesquita, secretário-permanente do Belenenses chegou a manifestar-nos os seus temores pelo exagerado número de pessoas penduradas no quadro onde se anotam os resultados do Totobola, chamando-nos, também, a atenção para um assistente que se encontrava no topo duma das torres de iluminação. Mais tarde, viríamos a saber que a receita deverá rondar os 1.400 contos, para mais e não menos, pois os cálculos aproximados conduzem àquela conclusão. Todavia a receita não está de acordo com o número de pessoas que assistiram ao encontro pois, a determinada altura, entrou muita gente sem pagar qualquer bilhete. Apesar disso, julga-se que teriam estado no Estádio do Restelo CERCA DE 60 MIL PESSOAS”.

Não sabemos exactamente se teriam estado 60.000 pessoas, 55.000, 50.000 ou até 70.000 como num meio de comunicação social chegou a ser aventado; mas certo, seguríssimo, é que se tratou de uma multidão compacta, de uma assistência gigantesca e tonitruante.. E, tendo em conta que as bancadas transbordaram a ponto de algumas ténues vedações cederem aqui e acolá, que o Topo Norte estava cheio até aos pilares onde, desde há cerca de dois anos, assenta a cobertura, com a zona de acessos, o marcador do totobola e até os terrenos acima cheios de gente (inclusive as torres de iluminação!), tendo em conta que a lotação do Estádio era então superior a 40.000 pessoas (a capacidade oficial do Restelo era de 44.000 pessoas – cfr. “A Bola”, Ano XII, nº 1534, 22 de Setembro de 1956, página 4, coluna 3, linha 32….), não custa acreditar que, no mínimo, tenham estado presentes umas 50.000 pessoas. IMPRESSIONANTE!

Image hosted by Photobucket.com

Foi uma tarde de glória, com o Belenenses a triunfar por 4-2, depois de um jogo espectacular. Vale a pena recordar a marcha do marcador:

* Aos 15 minutos, Belenenses, 1 – Benfica – 0. Livre do lado esquerdo do nosso ataque, marcado por Gonzalez, e Pietra a marcar de cabeça.
* Aos 32 minutos, 1-1, por Jordão.
* Aos 45 minutos, 2-1 para o Belenenses: Gonzalez marca canto do lado direito, Artur Jorge amortece de cabeça, e Vasques surge a marcar com um espectacular pontapé de bicicleta.
* Aos 49 minutos, 2-2, por Néné.
* Aos 59 minutos, Belenenses, 3 – Benfica – 2, com golo de Vasques, na sequência de canto apontado por Gonzalez e de um primeiro remate de Artur Jorge. A bola sobrou para Vasques que, no bico da grande-área, no lado direito, embora usando o seu pior pé (o esquerdo), arrancou tiro portentoso, que entrou no canto esquerdo da baliza de Bento,
* Aos 90 minutos, 4-2 para o Belenenses. Grande jogada de Pietra, a driblar vários jogadores e a entregar a Artur Jorge que rodopiou, evitou um defesa encarnado, e atirou colocado ao canto esquerdo.

E o jogo – um grande jogo, um espectacular jogo! – terminou em euforia azul, com invasão de campo, Vasques e Artur Jorge carregados em ombros. Que tarde maravilhosa! E que diferente era o Belenenses de então (e até então, sempre!), que, no seu estádio fosse contra quem fosse, e ganhasse ou não, era quem detinha a iniciativa do ataque, quem ia à procura da vitória, quem tinha a maioria dos espectadores. Repito, fosse contra quem fosse, e sempre! Logo a seguir, nas duas ou três épocas seguintes, as coisas iriam mudar...

Como temos saudade, como desejamos voltar a celebrar um triunfo desses, que nos coloque lá no topo, como o estádio, nesses minutos finais, a ser todo “nosso”, depois de uma vitória a jogar ao ataque, depois de pormos em respeito os outros grandes, com a equipa e todos os beléns a serem um só!, cheios de orgulho, de élan e de alma!

Falámos há pouco na “Bola”. Vale a pena referir que, num dos títulos da crónica desse jogo (na qual era repetida a referência a 60 mil espectadores), se podia ler:

“Olha lá, BELENENSES
E se lutasses pelo Título?”

E, entre muitas outras afirmações enfáticas sobre a valia do Belenenses, escrevia Santos Neves: “(…) Belenenses que acaba de ‘apanhar’ o Benfica e com ele (e com o Braga e o Boavista) passa a repartir o 1º lugar. E agora, Belenenses? Olha lá, Belenenses… e se lutasses pelo título? …Exagero?... Vamos lá a ver que exagero? Porquê exagero?”. E seguia-se uma descrição pormenorizada da força e do mérito da equipa do Belenenses.

* * *

Não chegámos ao título, como se sabe; mas, apesar da oscilação de forma que houve durante a 1ª metade da 2ª volta, assegurámos um 3º lugar no final. Repare-se que, no Restelo, vencemos o Benfica por 4-2, e o Sporting e o F.C. Porto por 1-0. De resto, em casa, não registámos nenhuma derrota e somente cedemos 3 empates. Em 15 jogos, marcámos 27 golos e apenas sofremos 6. Nos jogos fora, a carreira não foi tão boa mas, por exemplo, empatámos 1-1 no Estádio da Luz. Fomos, aliás, a única equipa que não perdeu com o campeão Benfica – e mais do que isso, a ter um saldo positivo, com uma vitória e um empate, e 5-3 em golos.



1988 – 2ª vitória por 1-0 sobre o Bayer Leverkusen, eliminando o então detentor da Taça UEFA, no Estádio do Restelo

Como já vimos, nesta época de 1988/89, o sorteio da Taça UEFA voltou a ser madrasto: trouxe-nos o Bayer Leverkusen, vencedor da competição do ano anterior. À partida, não era um adversário nada fácil.

No campeonato, entrámos em força e andámos algumas jornadas em 1º lugar. Começou-se com 3 vitórias: 2-0 em casa contra o Espinho; 1-0 fora contra o Guimarães; 4-0 contra o Portimonense (futebol de luxo)! Curiosamente, tivemos outra vez o Portimonense a anteceder o primeiro jogo europeu, como acontecera no ano anterior, antes do jogo com o Barcelona…

No dia 7 de Setembro de 1988, fomos à Alemanha defrontar o poderoso Bayer Leverkusen e, contrariando a grande maioria das previsões, ganhámos por 1-0! Já anteriormente falámos sobre esse jogo.
Regressados ao campeonato, registámos dois empates: 1-1 fora, em Viseu, e 2-2 contra o Marítimo em casa – mas com uma excelente recuperação, pois estivemos a perder 2-0. E continuávamos no 1º lugar.
Seguiu-se uma desconsoladora derrota por 2-1 em Faro, e um empate, novamente fora, contra o Fafe (1-1). Mesmo assim mantínhamo-nos bem posicionados. E, curiosamente, um ou outro comentador, mais antigo e informado da História (lembramos por exemplo Alves dos Santos), voltava a falar em quatro grandes.
À 7ª jornada, grande enchente no Estádio do Restelo: cerca de 35.000 pessoas presentes em jogo com o Benfica. Com maioria de benfiquistas, é certo, mas com muitos belenenses, e com bastante arreganho da nossa massa adepta. Poucas vezes teremos saído de um jogo tão revoltado com a má sorte. A meio da primeira parte, com o jogo equilibrado, numa jogada sem o mais leve perigo, um defesa nosso (o esforçado Teixeira) precipita-se e mete mão à bola. Penalty e 1-0 para o Benfica (Jorge Martins quase deteve o remate de Chalana). Naquela altura, o Benfica não estava de maneira nenhuma a merecer o golo mas reconhecemos que depois, até ao intervalo, naturalmente moralizado, justificou a vantagem. Na 2ª parte fizemos, na nossa opinião, das melhores exibições de sempre. Fartámo-nos de jogar, dominando o jogo de forma avassaladora. Mas a bola, às vezes caprichosamente, teimou em não entrar... apesar de pelo menos 2 vezes estarmos convencidos que sim e chegarmos a gritar “golo”! Foi realmente pena: ganhando, voltávamos ao 1º lugar; assim descemos para 4º ou 5º. Foi no dia 9 de Outubro, Domingo; tentando refazer-nos do desgosto, “entrámos logo em estágio” para o jogo de 4ª feira seguinte contra o Leverkusen…

E chegou o dia doze de Outubro 1988, dia da 2ª mão, contra o Bayer Leverkusen, em nossa casa. Parecia o dia de nosso renascimento. Ainda nos lembramos e arrepiamos: íamos a passar ao lado de Escola Secundária do Restelo e vêm uns 20/30 rapazes com bandeiras, a caminho do estádio, gritando “Belém!”. Quase nem conseguimos jantar: engolíamos grandes bocados inteiros de comida. O jogo foi transmitido pela televisão, os bilhetes eram caros e, por isso, a assistência constituiu uma desilusão para mim: pouco mais de 15.000 pessoas (possivelmente umas 17.000). Talvez tenha sido um erro dar na TV, porque o dinheiro recebido não terá compensado a importância de ter o estádio mais cheio e de criar mais élan à volta da equipa. Mas, ainda assim, passámos a eliminatória, voltando a ganhar por 1-0, golo de livre (de Adão) a cerca de 12 minutos do fim, que provocou uma tremenda e estrondosa explosão de alegria no estádio. Foi um jogo terrivelmente disputado mas os últimos 10 minutos foram de autêntico delírio: por todo o estádio reverberava o grito “Belém!” Belém! Belém!”. Sabíamos já que a seguir jogaríamos com os jugoslavos do Velez Mostar (o sorteio da 2ª eliminatória fora já realizado) e todos (quase todos…) confiávamos numa carreira longa nessa edição da Taça UEFA. Digo todos porque, infelizmente, num daqueles alardes de menoridade militante, havia quem achasse que bom era sairmos da Europa para conter despesas e nos concentrarmos só no Campeonato...

Image hosted by Photobucket.com

Mas voltemos ao rescaldo do jogo contra os alemães. Foi uma noite de grande alegria. Ainda nos recordamos dos cânticos à saída, um ambiente mais jovem, mais confiante, quase direi, mais cosmopolita; ainda nos recordamos de uma senhora particularmente entusiástica a saudar os jogadores que saíam de carro e a dizer a cada um: “agora vamos ganhar às Antas” (jogo seguinte do campeonato). O azul brilhava, refulgia!

No jornal “A Bola” de 13 de Outubro, Aurélio Márcio escreveu alguns belos parágrafos, referindo-se à vitória do Belenenses, e aos minutos derradeiros do 2º jogo, a seguir a termos chegado ao golo:

Image hosted by Photobucket.com

O público, nesses minutos finais esqueceu o sofrimento que foi aquele ‘pressing’ dos alemães, a meio da segunda parte, antes da entrada de um jogador fresco, com toda a equipa a carregar sobre a grande área do Belenenses, até já nem se lembrava do bom futebol jogado pelos portugueses, daquele ‘sprint’ admirável de Jaime, a que faltou um pouquinho de força, de um outro lance de Mladenov, que já não foi capaz de bater o guarda redes, nem se lembrava já do polémico lance de Carlos Ribeiro, aparentemente derrubado pelo guarda redes para um penalty – lá não me pareceu mas agora, aqui, na madrugada, vêm dizer-me que foi. Vê-se tudo na TV.

Em boa verdade, os últimos cinco minutos foram disputados em êxtase por uma superequipa do Belenenses, que já no Domingo jogara muito bem contra o Benfica, exibindo ontem, como há três dias atrás, uma condição fisica impecável, uma organização de jogo impossível de ultrapassar, uma concentração que não deixou aos alemães qualquer hipótese de aproveitar um erro.
Um público inebriante de alegria, da vitória, da sede e da memória do passado, quando o Belenenses discutia com o Benfica e o Sporting, mais tarde com o F.C.Porto, a supremacia do futebol português.
Que bela vitória a do Belenenses, que bem que jogou a equipa, como ela tenta chegar ao pedestal que já foi seu! Que bela história para os Belenenses contarem mais tarde!
”.

E já agora, em declarações ao mesmo jornal, a seguir ao jogo, exclamava Mário Rosa Freire, então Presidente da Direcção: “O Belenenses está, sem dúvida, a viver um momento histórico, é o regresso do velho Belenenses! O nome do clube vai ecoar pela Europa fora! ”.

Image hosted by Photobucket.com

Mas a nossa carreira europeia não duraria muito. Tristemente, como já algures escrevi, perante a satisfação (sim, satisfação!!!) de alguns sócios, sempre de horizontes pequeninos…