O adversário ideal para uma noite de futebol em grande
O futebol não se rege por uma lógica de previsibilidade. Porém, tenho a história e a estatística do meu lado ao afirmar que o Boavista é um dos clubes que, nos últimos dez anos, mais dificuldades nos criou no Restelo. O histórico de resultados fala por si: VVDDEEDEED
Ora, esta capacidade de nos criar extremas dificuldades faz do Boavista o adversário mais do que ideal para aquilo que a nossa equipa quer e vai mostrar em campo no próximo Sábado. Diria mesmo que se trata de um adversário “caído do céu”.
O sucesso recente do Boavista no Restelo, na minha opinião, deve-se ao facto de possuir o mais variado e completo leque de argumentos, defensivos e ofensivos, de todas as equipas que nos visitam.
Sem prejuízo de outros valiosos méritos, realço a utilização de três trincos, significativamente equipados de preto, mas sem quadrados brancos.
Quando, a muito custo nosso, os restantes argumentos são ultrapassados, são estes trincos que vão à dobra e asseguram que não há consequências de maior. Uma grande parte dos resultados acima referidos deve-se à tenacidade e entrega desses homens.
Tendo tudo isto em conta, mais do que um adversário difícil, o Boavista, no Restelo, é uma sofisticada máquina de nos criar problemas.
Ora, são precisamente coisas dessas que as equipas fortes, de clubes fortes, anseiam por defrontar.
Entre as pequenas e as grandes equipas há a seguinte diferença: as pequenas entram em campo cheias de ansiedade, cheias de medo de que o jogo não corra de feição, de que as vicissitudes da partida lhes sejam adversas e de que o azar lhes bata à porta. Para essas fracas equipas quase tudo é incontrolável, incluindo a não fluidez, ligação e eficácia do seu próprio jogo, quase todas as dificuldades são fatalidades, são imerecidos azares, sem os quais, a coisa, enfim, até poderia ter corrido bem se isto, aquilo ou aqueloutro não tivesse acontecido. Essas equipas temem a incerteza do jogo e são extremamente vulneráveis a cenários classificativos adversos, verificados os quais entram numa verdadeira espiral de frustração, descrédito e falta de confiança. Nada lhes corre bem.
Ao contrário, as grandes equipas não só não temem essas dificuldades, como subconscientemente as desejam, para terem o supremo gozo de as poderem superar. Os grandes jogadores, que formam as grandes equipas, reagem optimamente às adversidades porque sabem que são estas que realçam a sua capacidade futebolística. Para estes, não há fatalidades, não há medos, e os 90 minutos são simplesmente o período mais feliz da semana, a hora e meia em que podem explanar em campo toda a sua vontade e todo o seu gosto em jogar bem à bola.
O futebol recente do nosso clube, atingida que foi a estabilidade financeira, é precisamente um exemplo (raro no futebol Português) de uma equipa “forte”. A “mística” está pujante como no passado. Para além disso, temos jogadores com curriculum, vários dos quais internacionais pelas suas nacionalidades, o nosso novo treinador é um jovem em ascensão, mas já respeitado por vários quadrantes do futebol Português, o nosso anterior treinador, que construiu e moldou psicologicamente esta grande equipa, idem e, sobretudo, a nossa massa dirigente é uma das mais fortes do país em termos futebolísticos.
Toda esta malta está desejosa pelas vinte e uma e trinta de Sábado para mostrar o que vale.
Noutros clubes, com um futebol composto por um outro tipo de gente, a sucessão de seis derrotas seguidas, a proximidade da linha de água, a trajectória exibicional descendente, a ausência de fio de jogo, de garra, de motivação, a apatia, a descrença na capacidade de ganhar, entre outras coisas que inexplicavelmente nos têm acontecido, poderiam provocar uma depressão profunda entre toda a gente do futebol, transmissível aos adeptos.
Nesses clubes fracos, em circunstâncias como a que vivemos, as mentes estariam perturbadas o suficiente para, sob a capa da “prudência”, “ponderação” ou “realismo”, produzirem discursos desmoralizadores, desmotivadores e justificadores de desaires por antecipação.
Esses são os clubes do “ponteco”, os clubes da “linha de água”, os clubes da treta!
Mas, aqui não. Aqui, há valores que emanam da gente que manda no nosso futebol, que passam para baixo e acabam espelhados em campo. Eles são a nossa garantia de que “filmes” desses não acontecem.
Nós, neste clube Grande, podemos ir ao Restelo descansados, cientes de que vamos ver futebol bem jogado por uma equipa com “E” grande, que nos dará uma indiscutível vitória.
Poder-se-á pensar ao ler este texto que há excesso de confiança e até menosprezo pelo adversário. Mas, não há.
Há só consciência e confiança em trabalho feito. Em trabalho diário, aturado e dedicado, feito por quem sabe, quer e pode.
Consciência de que temos uma equipa a trabalhar diariamente para atingir patamares de excelência e de superação, uma equipa que respira os valores que lhe são transmitidos também diariamente por uma estrutura futebolística de excelência, sempre presente, sempre actuante e sempre dedicada, vinte e quatro sobre vinte e quatro horas. Uma estrutura que faz, no fundo, aquilo com que os outros sonham: rentabilizar ao máximo o valor dos jogadores que contrata, passar-lhes a “mística”, fazer deles, e com eles, uma grande equipa.
Este optimismo é só a consciência e a confiança nisso tudo.
Prevejo, pois, um grande jogo. Uma grande exibição. Uma exibição “à Belém”.
Vamos ganhar.
E vamos jogar bem.
As bancadas, seguramente bem preenchidas, estarão em gáudio naqueles noventa minutos. Serão, no fundo, a extensão adepta da excelência dos profissionais que subirão ao relvado, que são por sua vez a extensão em campo da excelente massa técnica e dirigente que os comanda.
Esfacelaremos o Boavista.
É isto que antevejo.
Que outra coisa poderia eu antever?