quinta-feira, 29 de dezembro de 2005

Um Estranho Campeonato

Embaixo, entre aspas, vem o artigo que, no dia 26, tinha preparado para sair hoje. No entanto, logo no dia seguinte, 27, uma inquálificável entrevista do nosso treinador José Couceiro veio invalidar totalmente o que escrevemos.

Ele não só tratou o Belenenses abaixo de cão, conforme já demonstrado pelo nosso colega CPA, falando de um passo atrás na carreira, falando dos 3 grandes (excluindo-nos pois e ofendendo dezenas e dezenas de milhares de Belenenses que continuam a reclamar o estatuto de um clube Grande), falando das tristes motivações que o trouxeram ao Belenenses (morar perto do Estádio), falando sobretudo do F.C.Porto; não só demonstrou incapacidade para suportar umas dezenas de assobios (que é o mínimo de capacidade de encaixe exigível a um treinador); não só veio insistir na vergonha dos empréstimos (com as costas quentes da SAD e da Direcção), como insultou a massa associativa do Belenenses - que dá dinheiro ao clube, em vez de receber, que será do Belenenses quando Couceiro já estiver noutro clube -, incluindo os muitos que há décadas e décadas sofrem com o clube, incluindo os sócios com dezenas e dezenas de anos de filiação - que fizeram o clube grande e permaneceram mesmo nos tempos sombrios da decadência e das despromoções - incluindo os sócios que já eram belenenses antes do Sr. Couceiro nascer - , etc., etc., etc. num desaforo total - tanto mais cobarde quanto tal só é possível porque ele sabe que, ao contrário do que se passava ainda há poucos anos atrás, ele não tem que passar por 4 ou 5 mil que ficavam depois do jogo junto à estátua do Pepe (queria ver se então ele teria sido capaz de proferir estas declarações) -, como limitou as aspirações do clube a fugir à despromoção e a mais um ano zero, afirmando: "Disseram-me que o objectivo inicial passava pelo regresso do clube às competições europeias. E, claramente, disse que a minha preocupação não era essa. Algumas equipas apostam para ir à Europa e descem de divisão. E o Belenenses tem experiências dessas. Este é um ano muito complicado, que vai decidir os Campeonatos futuros. Depois, passam a descer duas equipas e a tendência é para a qualidade do jogo aumentar. Este é um ano de transição, para preparar uma estrutura para o futuro."

Face a isto, ficou invalidado e apresenta-se apenas como curiosidade e como demonstração de uma lógica basilar que qualquer treinador com um mínimo de ambição e respeito pelo Belenenses devia ter, o que a seguir reproduzimos:

"Embora falte ainda uma jornada para terminar a primeira volta, é natural que se aproveite esta pausa para se fazer um balanço do Campeonato e do comportamento que nele tem tido a nossa equipa.

Ora, a primeira conclusão que se pode tirar é que o comportamento do Belenenses, na sequência dos resultados, se apresenta bastante estranho, tocando extremos opostos. Extrai-se facilmente esta conclusão se seccionarmos as 16 jornadas decorridas em ciclos de 4 jornadas.

Assim:

* Nas primeiras quatro jornadas, somámos 9 pontos, resultantes de 3 vitórias e 1 derrota. Com esta média, teríamos agora 36 pontos, unicamente a 1 ponto do líder F.C.Porto;
* Nas quatro jornadas seguintes, verificou-se um autêntico desastre: só derrotas, com um saldo de 0 pontos. Obviamente, se fosse sempre assim, estaríamos em último lugar. Justamente no fim deste ciclo, Carvalhal deixou o lugar de treinador.
.* O ciclo subsequente de 4 jornadas, já com José Couceiro a treinar a equipa, registou poucas melhorias pontuais: com 2 empates e 2 derrotas, acrescentámos apenas 2 pontos ao nosso pecúlio. Com esta média, estaríamos em penúltimo lugar, somente um ponto à frente do último.
* O ciclo mais recente é de subida em flecha: tal como nas 4 jornadas iniciais, obtivemos 9 pontos, com 3 vitórias e 1 derrota. Como já vimos, esta média colocar-nos-ia a um escasso ponto do 1º lugar.

Temos, pois, uma viagem do bom ou até muito bom (3 vitórias seguidas) para o mau ou até péssimo (5 derrotas seguidas e 7 jogos sem ganhar), voltando novamente ao bom.

Curiosamente, se dividirmos o campeonato em duas metades, ou seja, da 1ª à 8ª jornada (com os dois ciclos, bom e mau, de Carlos Carvalhal) e da 9ª à 16ª jornada (com os dois ciclos, mau e bom, de Couceiro), a pontuação até é algo equilibrada: 9 pontos na primeira metade e 11 pontos na 2ª jornada. De qualquer forma, embora ligeiramente, a 2ª metade é melhor e, se considerarmos que o último quarto foi positivo, poderemos imbuir-nos de algum optimismo.

Também curiosamente, o ano passado, na mesma altura, tínhamos menos 2 pontos que este ano. Registávamos então 5 vitórias, 3 empates e 7 derrotas, contra 6 vitórias, 2 empates e 8 derrotas deste ano. Note-se, porém, que devemos relativizar o significado desta comparação pois, na época passada, a 16ª jornada marcou o ponto mais baixo da nossa prestação. Seguiu-se uma vitória em Setúbal, um empate na Madeira (contra o Marítimo) e uma vitória contra o Rio Ave, que logo nos fizeram subir na tabela classificativa.

Uma outra conclusão – já por nós referida na sequência da vitória em Coimbra - é que o Campeonato está em vias de gerar uma enorme molhada de uma boa dúzia de equipas, que tanto podem estabilizar no meio da tabela, como resvalar para os lugares de descida, como saltar para os lugares europeus. Note-se que apenas 6 pontos separam o 7ºlugar do 15º lugar (o primeiros dos lugares de despromoção); que 7 equipas cabem no espaço de 3 pontos, entre os 18 e os 21; que, se não fora aquele empate azaradamente sofrido no fim do jogo com o Boavista, estaríamos agora em 7º lugar e não em 12º; note-se que, nos 6 primeiros, não é de excluir, antes pelo contrário, uma descida do V.Setúbal e até do Nacional, que o Braga somou 3 derrotas nos últimos 4 jogos e que Benfica e Sporting têm sido irregulares e pouco convincentes (aliás, o próprio F.C.Porto não tem sido muito brilhante; só que o seu score pontual é bastante confortável).

Em resumo, está tudo em aberto.

E, já que falámos em grupos de 8 jogos, olhemos para o próximo desses grupos. O cenário, para o Belenenses, é bastante promissor - assim a equipa confirme alguma melhoria e haja bastante determinação e concentração (nada de repetir jogos como o que fizemos com o Estrela da Amadora, em que a equipa pareceu estar ausente e entrou para dentro do campo em aparente dormência)!

Repare-se: temos 5 jogos em casa e apenas 3 jogos fora. Dos 5 jogos em casa, 3 são contra equipas situadas na zona de despromoção: os dois últimos classificados, Naval e Penafiel, e o próximo adversário, o Gil Vicente. Temos estrita obrigação de somar 9 pontos. A vitória sobre os gilistas é muito importante. Não se pode facilitar um segundo ou um milímetro. Os outros 2 jogos em casa são, teoricamente mais difíceis; mas nem o F.C.Porto nem, muito menos, o Sporting são nenhuns papões. Declaro desde já que quero repetir a vitória do ano passado contra o Sporting; e que espero que não se repita a arbitragem da época transacta contra os portistas, que quase certamente nos espoliou de um ponto. Nestes 2 jogos, há também que somar pontos: de preferência, 6; no mínimo, 3 ou 4. Zero é que nunca!...

Quanto aos 3 jogos fora, temos o União de Leiria, onde tradicionalmente não somos felizes mas onde é importante empatar ou ganhar, tanto mais que, com bons resultados face ao Gil Vicente e ao Sporting, poderão haver tantos adeptos nossos como leirienses no campo do adversário; esta tendência será ainda mais favorável no jogo na Amadora, onde, normalmente, jogaremos em casa em termos de público, e onde “temos” que trazer os 3 pontos. Pelo meios, temos o jogo com o Vitória de Guimarães, em que – se a distância entre as 2 equipas for, por exemplo, a mesma que agora – talvez possamos aproveitar a maior intranquilidade e ansiedade dos vimanarenses.

Face ao exposto, não é nada de mais esperar que neste 8 jogos obtenhamos, por exemplo, 16-18 pontos. Se tal acontecer, com 10 jornadas para realizar, não só teremos a tranquilidade (quase) garantida, como podemos aspirar a um lugar no topo da tabela – e falo definidamente dos lugares europeus. Ao último destes lugares, chega-se com cerca de 1,5 / 1,6 pontos por jogo. Cumpriríamos essa média com os tais 36/38 pontos à 24ª jornada. Depois, era olhar para cima, sem conformismos com lugares de penumbra.
Obviamente, vamos passo a passo, jogo a jogo, cada coisa de sua vez; mas não quero nem ouvir falar em ambições medíocres!"