Não se pense pelo título que vou ser extremamente crítico. Não vou. Não porque tenha gostado do jogo.
Houve uma equipa desesperadamente em busca da vitória… e mal. E outra, absolutamente na expectativa, pressionando a partir do meio-campo recuado e não a todo o terreno, coisa reservada a quem tem outro andamento em termos de preparação física. Falta trabalho, embora em jogos passados me tenham parecido bem pior.
Táctica utilizada e equipa titular
Tal como mencionara ontem no “Estatística, Convocatória, Nomeações”, previa a continuação do 4-4-2. O que se veio a verificar. Não só isso como, inclusive, acertei na constituição inicial:
Marco Aurélio;
Sousa, Rolando, Pelé e Rui Jorge;
Rui Ferreira;
Fábio Januário, Ruben Amorim, Silas;
Ahamada;
Romeu
Sousa, Rolando, Pelé e Rui Jorge;
Rui Ferreira;
Fábio Januário, Ruben Amorim, Silas;
Ahamada;
Romeu
Actuámos num esquema conservador mas que pessoalmente me agrada em certas circunstâncias. O que não resultou foi a abordagem ao jogo e o tipo de (não) movimentação. Num momento particularmente complicado para o Vitória de Guimarães impunha-se uma outra postura, mais atrevida.
Em termos de organização ofensiva, falhámos a toda a prova. O meio-campo mais ocupado em tarefas defensivas, em que se destacou Rui Ferreira, ao seu habitual nível, não soube tirar partido dos espaços abertos nas alas. Aqui, tanto Silas como Fábio Januário, mas mais o primeiro, não souberam subir de modo profícuo.
Silas não é um extremo ou médio esquerdo e nunca vai ser. Mas parece ser algo que tarda em entrar na cabeça deste tipo de “treinadores” da “nova vaga”. A sua tendência em convergir ao centro tira a velocidade ao jogo.
Por isso com um meio-campo muito preso pouco mais restava a Romeu (a luta de sempre mas muito menos bolas a solicitá-lo) e a Ahamada (sempre irrequieto mas mal servido) do que correr em busca dos balões. O meio-campo, excessivamente recuado, deixava uma grande distância para os atacantes.
Por outro lado, o Guimarães fazia o seu jogo com dificuldade e muito nervosamente o que ia permitindo alguns contra-ataques que, regra geral, morriam à nascença por falta de fluidez.
Rubém amorim foi amarelado logo aos 16 minutos o que também terá contribuido para um certo receio de meter o pé. O que se verificaria especialmente a partir dos 25 minutos, momento em que o árbitro (talvez por entender o excesso que teve no primeiro amarelo) não lhe quis mostrar o segundo, numa falta por trás que, essa sim era merecedora de amarelo.
O Guimarães procurou sempre o jogo aéreo com longos lançamentos a partir dos flancos, cruzamentos mais recuados em função da boa posição dos laterais do Belenenses que não lhes davam hipótese de cruzar da linha de fundo.
Mais uma vez, embora sem falta, Ruben Amorim esteve de novo em risco de expulsão em nova jogada “apertada” perto da nossa área em que o centro campista auxiliou. Não foi falta, mas o risco foi enorme. Era só Xistra querer.
E assim se viveu praticamente durante toda a primeira parte. Guimarães sem acerto mas a procurar a baliza e Belenenses a defender espreitando o contra-ataque com excessiva lentidão de processos. E é precisamente de um contra-ataque rápido, no final da primeira parte, que nasce o primeiro golo para o Belenenses. Jogada de Fábio Januário pelo lado direito, passe a solicitar Ahamada que chega tarde mas não desarma e faz pressão sobre o guarda-redes. Pressão compensada com a perda de bola pelo guarda-redes muito bem aproveitada por Romeu que, vindo de trás, não hesita em meter o pé na molhada de defesas e guarda-redes vimaranenses conseguindo um golo precioso.
Quando se pensava atingir o intervalo com o Belenenses em vantagem, cerca de dois minutos depois, o Guimarães chegaria à igualdade, novamente num cruzamento a meio do meio-campo, da esquerda para o centro da área e Rolando a não conseguir melhor do que desviar para os pés de Dário, deixando Pelé fora da jogada. O moçambicano não se fez rogado e empatou a partida.
Na segunda parte, nada mudou nos primeiros minutos, fruto do facto de nenhum dos treinadores ter mexido na equipa ou no esquema táctico/posicional. Guimarães em lançamentos para a área e o Belenenses a tentar controlar a posse de bola.
Aos 58 minutos, Couceiro tira Silas para o lugar de Djurdjevic. A coisa acabou por resultar, mas diria que quem deveria ter saido era Ruben pelo amarelo que tinha e pelos dois lances já referidos em que esteve em risco de expulsão.
Aos 60 minutos, o Guimarães marca num lance típico do futebol inglês. Guarda-redes lança a pontapé para a frente e ninguém do Belenenses consegue impedir que Saganowsky desfizesse a igualdade, colocado em jogo por um desatento Sousa que não subiu o suficiente no terreno. O resultado desfavorável para o Belenenses era de alguma forma injusto para o Belenenses.
Assistimos a algumas combinações interessantes entre os dois canhotos da equipa, a demonstrarem que o futebol tem lado esquerdo por alguma razão. O Belenenses otmou imediatamente conta do jogo (é pana que continue a fazê-lo apenas quando está em desvantagem) e acabaria rapidamente por chegar ao empate num grande golo de Ruben Amorim em pontapé de ressaca. Foi um grande risco mantê-lo em campo, mas valeu a pena, feitas as contas. Justiça de volta ao marcador.
Daqui até ao final foi assistir ao bombear constante de bolas para a área do Belenenses. Aos 76 minutos Couceiro resolve começar a queimar tempo, fazendo entrar Paulo Sérgio – a nulidade do costume – e mais tarde, aos 82’ faz entrar Pinheiro para o lugar de Ahamada, tentado com isso segurar o meio-campo, que acusava orfandade do esforçado Fábio.
A partir daqui, foi tempo de chuveiro constante para a nossa área. No entanto, o resultado não veio a alterar-se apesar dos 5 minutos (!!) de tempo extra concedido por Xistra.
Jogadores: Análise Individual
Perdoem-me se a justeza da pontuação não for a melhor. É que assisti ao Chelsea – Liverpool imediatamente antes do nosso jogo e quis compensar pouco as notas pela tentação de comparações entre a qualidade de intervenientes de um jogo e de outro.
Marco Aurélio:Defendeu algumas bolas muito complicadas. Não me parece que tenha tido culpas no golo apesar de tal me ter parecido à primeira vista. Mesmo assim quase defendeu um remate em grande velocidade e com a bola a bater no chão pouco antes do ponto em que se encontrava. NOTA 3.
Sousa: Esteve muito bem no jogo defensivo obrigando ao chuveiro muito antes da área da sua influência. Menos bem no aspecto ofensivo. Falhou ao não subir no lance do segundo golo, colocando Saganowsky em jogo. Todo o seu empenho vale-lhe a positiva, NOTA 3.
Pelé: Acaba por ter nota positiva pelo aturado trabalho no jogo aéreo. Voltou a ter aqueles lances em que atira para a bancada, sinal de displicência ou falta de confiança que, para mim são incompreensíveis. Precisava de levar uns calduços NOTA 3.
Rolando: Esteve muito bem na luta pelos ares, excepção feita no lance do primeiro golo do Guimarães, em que foi infeliz no corte, colocando a bola nos pés de Dário. Apesar disso, leva NOTA 3.
Rui Jorge: Para quem admite estar sem ritmo, Rui Jorge disfarça muito bem, com a classe que se lhe reconhece. Muito bem a reter a bola e a colocar-se no terreno, vimo-lo muitas vezes em apoio ao médio que evoluía pelo seu flanco. Se calhar é por ter finalmente um verdadeiro defesa-esquerdo que sinto este deslumbramento de calma e segurança quando o vejo jogar. NOTA 3.
Rui Ferreira: O sapador. Raçudo e lutador, foi dono do meio-campo defensivo e auxiliou muiro os centrais na marcação do “avançado que sobra” NOTA 3.
Fábio Januário: Mais um raçudo que alinha pelo lema: antes querar que torcer. Muitas vezes não é esclarecido no passe. No entanto hoje foi dos dias em que o vi melhor neste aspecto. É dele a desmarcação para Ahamada no lance do primeiro golo. NOTA 3.
Ruben Amorim: Não fosse o excelente golo marcado e teria uma nota mínima. Não gostei do jogo ofensivo e foi um dos grandes responsáveis pela fraca produção ofensiva. Mostrou-se incapaz de empurrar a equipa e pautar o jogo. É precisamente isso que se espera de quem actua nessa posição.NOTA 2.
Silas: O homem não é médio-esquerdo nem extremo. E isso penaliza-o muito. Já mostrou que rende bem mais a médio-centro (organizador). Colocado na esquerda perde sempre décadas a puxar a bola para o seu pé direito, perdendo também a espontaneidade dos lances. A rapidez é diminuta o que ajuda as defesas contrárias. Naquele lugar não rende. Saíu aos 58 minutos sem honra nem glória. NOTA 2.
Ahamada: Pela influência no lance do primeiro golo e pelo esforço no resto da partida merece nota positiva. Nunca foi bem solicitado e esteve sempre muito desacompanhado assim como Romeu. Sofreram ambos muito com o recuo do meio-campo.NOTA 3.
Romeu: A luta habitual mas muito pouco solicitado em boas condições. Nota positiva pelo golo marcado. Ganha confiança e ritmo a cada jogo que passa. Espero que não desapareça de titular pelo regresso de Meyong. Cabem os dois na equipa.NOTA 3.
Djurdjevic:Evoluiu bem pelo seu flanco com algumas boas combinações com Rui Jorge. Como tenho vido a referir nos artigos que referem a convocatória e as equipas preferidas e prováveis, este jogador para mim seria titular, pelo apoio que presta ao seu lateral e à capacidade de luta que tem.NOTA 2.
Paulo Sérgio:Esteve 19 minutos (14 + 5) em campo sem que tenha feito nada digno de ser assinalado.NOTA 0.
Pinheiro:Pouco tempo em campo. Contribuiu para recompôr o meio-campo após a saída de Fábio Januário.NOTA 1.
Conclusão
Jogámos para o ponteco e trouxemo-lo. Resultado justo num jogo sem grande qualidade. A arbitragem não influiu no resultado. Não fomos ambiciosos nem soubemos explorar os nervos do Guimarães. E a porta estava aberta com o erro infantil do seu guarda-redes no lance do nosso primeiro golo.
Algo para reflectir, sofremos dois golos muito semelhantes, resultantes de lançamentos longos a que corresponderam uma falha de um central e a falha do meio campo ao deixar a bola bater no chão.
Mantivemos a distância à linha de água (em 3 pontos) apesar de termos visto aproximar o Gil Vicente, agora a apenas um ponto e a Académica ultrapassar-nos ficando agora um ponto acima, com os mesmos pontos de Estrela da Amadora e Rio-Ave. O jogo em falta esta jornada já em nada influi na nossa zona de classificação:
A capacidade de pontuar, na semana que vem contra o líder F.C.Porto, ditará muito da nossa possibilidade de permanência acima da linha de água. Relembro apenas que já recebemos esta época um líder (o Nacional) e vencemos por 1-0, o tal jogo do golo feito por Meyong, deitado no chão.
Ainda relativamente ao proximo jogo: se há algo que já foi demonstrado nesta ausência de Meyong é que a equipa ganha com a presença de Romeu. Após o que vimos da sua prestação na CAN, Meyong terá de disputar o lugar com Ahamada. Mas parece-me que o “treinador” pensa de forma diferente. Acredito que Romeu e Meyong fariam uma dupla temível. Espero que não venha aí novo 4-6-0.