quarta-feira, 12 de abril de 2006

Neste dia, em . . .

1989 – Belenenses vence Sporting por 3-1 e qualifica-se para a final da Taça de Portugal, pela sétima vez

Foi certamente uma das maiores alegrias que o Belenenses deu a boa parte de nós, a todos aqueles que não assistiram aos grandes, grandes tempos do grande, grande Belenenses.

Nesta data, ao final de um jogo emocionante e extraordinário, o Belenenses assegurou pela sétima vez a sua presença na Taça de Portugal, que, mês e meio depois, ganharia pela terceira vez.

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Sete presenças e três vitórias – ou será que devíamos dizer treze presenças e seis vitórias? Aos donos do Futebol Português interessa esconder debaixo do tapete as 17 edições do Campeonato de Portugal, que tiveram como vencedores o F.C.Porto e o Sporting, por quatro vezes, o Belenenses e o Benfica, por três vezes, e o Olhanense, o Marítimo e o Carcavelinhos, por uma vez.
Esse desígnio de esconder a existência de tal prova parece convir a certos clubes – os três que sabemos –, talvez por lhes ser difícil aceitar a percentagem de Campeonatos que lhes escaparam.

A realidade é que o Campeonato de Portugal, apesar de ser disputado a eliminar, era a prova que apurava o melhor do nosso país. Assim, entendemos que aos seus vencedores devia ser creditado, no respectivo palmarés, os Campeonatos conquistados. Consequentemente, o Belenenses foi quatro vezes Campeão do nosso país (coisa muito diferente da deturpação que nos querem impingir os falsificadores da história: “ganharam [os Belenenses] uma vez, por acaso...”).

Espanta-nos que os senhores jornalistas, que nos sonegam essas vitórias, considerem que o Benfica foi duas vezes campeão europeu. Pela mesma lógica, dever-se-ia considerar que nunca o foi, porque a Liga dos Campeões se chamava então Taça dos Campeões e não tinha fase de grupos...

Ainda, porém, que não se considerasse o Campeonato de Portugal como a prova antecessora do Campeonato Nacional e da Liga, deveria no mínimo ser computada juntamente com as Taças de Portugal.
Repare-se, aliás, que os troféus das primeiras Taças de Portugal têm inscrita uma referência a Campeonato (e não Taça) de Portugal. E, nesta lógica, o Belenenses teve seis vitórias (é, também aqui, o quarto clube com mais triunfos), tendo sido treze vezes finalista.

Bem, mas voltemos a 12 de Abril de 1989. O Belenenses, que tinha iniciado excelentemente a época, liderando o Campeonato algumas jornadas e eliminando da Taça UEFA o seu detentor (Bayer Leverkusen), teve depois um abaixamento de forma. Com o regresso de Marinho Peres (que no ano anterior nos conduzira ao terceiro lugar), a nossa equipa voltou a subir de forma.

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Na Taça de Portugal, elimináramos o Sintrense por 3-0 (Fora) e o Estrela de Portalegre (Casa) por 7-2, ainda com John Mortimore a treinador. Depois, já com Marinho Peres, nos oitavos de final, vencemos o F.C.Porto, no Restelo, por 1-0, com um golo de canto directo, apontado por Mladenov, já no prolongamento. Com alguma displicência e sorte, ultrapassámos o Espinho por 2-1, também no Restelo, nos quartos de final. O sorteio ditou um Belenenses-Sporting e um Benfica-Braga para as meias-finais.

Estiveram mais de 30.000 pessoas no Restelo. Numa 4ª feira à tarde, era favorecida a presença de público mais jovem, no que o Sporting tinha maior proporção de vantagem.
Adolescentes vestidos de verde pareciam surgir como cogumelos, vinham de todos os lados, autocarros e autocarros, uma massa impressionante. Até alguns minutos do jogo, sentíamo-nos tão poucos...embora quando se iniciou a partida a bancada dos sócios se tivesse composto muitíssimo mais e, ao mesmo tempo, fosse possível descortinar algumas “bolsas” azuis no meio da massa verde. O certo, de qualquer modo, é que tínhamos a noção que precisávamos de defender a nossa casa, erguer barricadas, resistir!

Espero fazer-me entender com estas palavras, que a alguns parecerão demasiado “bélicas”. Valem como imagens.

Num primeiro tempo equilibrado, intenso e quezilento (com um jogo muito disputado mas sem grande beleza futebolística), o Sporting foi mais objectivo e, mesmo em cima do intervalo, aos 42 minutos, pôs-se em vantagem! Que facada sentimos no peito!
E que eternidade foi aquele intervalo! Parece, contudo, que ele foi fundamental para o Belenenses: os nossos jogadores vieram a declarar que o treinador os incentivou dizendo que estavam a jogar bem e, num golpe de mestre em termos psicológicos, disse-lhes que só precisavam de fazer dois golos – pois não queria levar a decisão para Alvalade!

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Na segunda parte, embora pressionando o adversário, não conseguimos assentar jogo durante uns minutos; mas, depois, foram vagas sucessivas de assalto à baliza do Sporting, numa cavalgada portentosa e empolgante.

O querer e a garra da nossa equipa foram verdadeiramente impressionantes e exemplares. Sentíamos o golo eminente e, por volta dos 20 minutos, acabou em frustração a nossa explosão de alegria, quando foi anulado o golo do empate, por Baidek.

Mas não haveria que esperar muito (embora o tempo já nos parecesse voar e fugir). O domínio era agora nosso, dentro do campo e no clamor que vinha das bancadas. A bola tinha que entrar! Tinha que entrar!!!

E entrou mesmo, aos 24 minutos, outra vez com a cabeça de Baidek, que se elevou pujante e, correspondendo a um canto apontado, do lado direito, por Mladenov, fez o empate!
Foi o alívio e a galvanização: “agora vamos continuar em cima deles, vamos para a vitória” – pensávamos, pedíamos, incentivávamos. E fomos! Quatro minutos depois, houve um livre marcado por Mladenov, agora na esquerda, e surgiu uma cabeçada magnífica do angolano Saavedra, à altura do estômago, fazendo a bolar descrever um arco magnífico! Um grande golo, os belenenses em delírio, o sofrimento volvido em alegria! “Está ao nosso alcance! Não vamos deixar escapar!”... Chorámos de comoção, de alegria e de determinação de vencer!

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O Sporting reagiu desconjuntadamente, sentindo-se perdido (também para eles a Taça de Portugal era uma tábua de salvação da época, no tempo das célebres unhas de Jorge Gonçalves). O jogo era nosso.

A sete minutos do fim, foi posta a cereja no cimo do bolo: Saavedra lança Mladenov, este foi mais rápido do que Venâncio, ficou só com o Guarda-Redes leonino e, quando este saiu fora da área, picou-lhe a bola por cima, a uns 25 metros da baliza: era o 3-1! E era a vitória certa! Era a euforia, o regresso ao Jamor, a Cruz de Cristo novamente forte e altaneira, o triunfo sobre os rivais, o cheiro de vitória, Belém de novo a chegar-se ao topo!

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A equipa, nesse fantástico dia 12 de Abril de 1989, foi esta:
Jorge Martins; Teixeira, Baidek, Sobrinho e Zé Mário; Juanico e Carlos Ribeiro (ao intervalo, Saavedra); Chiquinho, Macaé e Mladenov; Chico Faria (aos 88m, José António).

Entretanto, o Benfica, já campeão, venceu o Braga, pelo que garantimos nesse dia a participação na Taça das Taças da época seguinte.
Foi a nossa estreia nessa prova que – mais outra ironia! – se tinha iniciado justamente em 1961, ou seja, no ano a seguir à nossa vitória na Taça de Portugal de 1960.

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Na edição de 16 de Abril de 1989 do Século Desportivo, com o título “Belém, à Conquista da Taça 29 Anos Depois”, podia ler-se:
Na memória de todos, uma segunda parte de grande nível – feita de arreganho e vontade de vencer – que permitiu aos ‘azuis de Belém’ passarem de vencidos a vencedores folgados (...) ‘Belém! Belém! Belém!’ – um urro uníssono, impressionante de pujança e vitalidade, ecoou pelo estádio inteiro assim que Vítor Coreia deu o encontro por terminado. O ‘velhinho’ e prestigiado Belenenses tinha acabado de ‘salvar’ a época. Uma festa”.


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