Nas últimas semanas, a minha colaboração neste espaço a que os meus amigos me continuam a dar o privilégio de pertencer, tem tido um carácter mais regular, em particular no que respeita à periodicidade, com “dia certo” e tudo. Isto tem as suas vantagens e inconvenientes, como tudo na vida. Dos inconvenientes não vou falar, ou talvez sim. Uma das vantagens é que, para não ter que escrever à pressa no domingo à noite (isso seria um inconveniente, afinal) e não dizer mais disparates do que habitualmente já digo (outro inconveniente), me vejo “obrigado” a escrever com antecedência, em regime, digamos programado. Fazendo uma comparação em termos culinários, pode-se dizer que é o equivalente à confecção daqueles pratos que se podem preparar com uns dias de antecedência, porque se destinam a ser servidos frios. O grande “mérito” desta técnica assenta essencialmente na eliminação dos enzimas do imediatismo, que normalmente trabalham “a quente” e que são especialistas em degradar a qualidade da refeição. Aí vai o primeiro prato.
Comecemos então por um aperitivo. Aqui há um bom par de anos atrás, eram ainda as piscinas do Complexo Desportivo do Restelo uma novidade, decidi ir até lá acompanhado de um amigo, que não é sócio do Belenenses (nem tem, aliás, qualquer outra simpatia ou filiação clubística). A intenção era darmos umas braçadas (ele é um adepto entusiasta da natação) na “melhor piscina olímpica do país” (foi assim que eu lhe impingi a nossa piscina), conviver um bocado, tomar um copo depois. Ficámos pela intenção. Um zeloso funcionário, a quem tentei pagar a minha entrada e a do meu amigo, informou-me que o uso das piscinas era estritamente reservado aos sócios do Clube e não eram permitidos acompanhantes. Ainda tentei contestar, apresentar alguns argumentos (sempre era uma recita extra para o Clube e por aí adiante...), estava até disposto a jurar por minha honra que o meu amigo não mijava na água, mas desisti. Compreendi nesse momento que a piscina era um local de culto, o local sagrado dos sócios do Clube de Natação “Os Belenenses”. Pedi desculpa ao meu amigo e viemos embora. Fomos beber o copo a outro lado, sem banho prévio.
Esta experiência, ainda que desagradável, contribuiu para consolidar uma ideia que já tinha e se continuou a desenvolver depois, por diversas razões, obviamente. O Restelo é a nossa casa e nela há lugares que são só nossos. São os nossos lugares de culto, são sagrados.
Sendo o futebol a modalidade maior – e razão de ser – do Clube, o mais sagrado desses lugares de culto é a bancada de sócios do Clube de Futebol “Os Belenenses” no Estádio do Restelo. Foi nesse “altar” que a coloquei durante muitos anos, até acontecimentos recentes me virem demonstrar que, afinal, assim não é...
Nos últimos tempos, os detentores do poder no Belenenses, numa operação cosmética para “retocar” uma coisa com que nunca se preocuparam – A IMAGEM DO CLUBE – vieram a ocupar essa bancada com “figurantes”, mais conhecidos por acompanhantes, para disfarçar o despovoamento crescente que se tem verificado, por culpa desse mesmo poder. E lá se foi o lugar de culto por água abaixo, mesmo sem ser na piscina...
O “acompanhantismo” é a medida mais absurda, o erro mais crasso, a teoria mais inconsequente postos em prática pela governação pós-sequeirista. É a tentativa mesquinha de substituir o Belenenses real por um “Belenenses” fictício, adoptando uma solução fácil, preguiçosa e cobarde. Só quem não gosta do Belenenses prefere a imagem balofa de um Belenenses que não existe para esconder a verdadeira, por muito modesta que esta seja.
Todos estamos conscientes da doença de “perda de adeptos” de que o nosso Clube padece há longos anos, e que se tem agravado mais recentemente. Muitas opiniões, algumas expressas em textos de excelente qualidade de forma e de conteúdo, têm vindo a público sobre esse assunto. Este é um problema que, naturalmente e com toda a legitimidade, nos preocupa. Aparentemente também preocupa quem dirige (?) o Clube, mas só aparentemente. Porque, de facto, em vez de se tentar atacar as causas do problema e actuar com medidas terapêuticas eficazes, decide-se disfarçá-lo ou mesmo escondê-lo. O Belenenses, como Clube congregador de paixões e arrebatador de massas não existe, mas finge-se que existe. E pronto, está o problema resolvido, para quem dirige o Clube. Que maior prova de desamor pelo Belenenses se pode dar?
A rarefacção da massa adepta azul é um ciclo vicioso. Os ciclos são sempre difíceis de quebrar, porque são coisas que, como muita gente, não têm ponta por onde se lhes pegue. Quando são viciosos, pior ainda. A interrupção de um ciclo vicioso só se consegue com uma abordagem agressiva, com uma atitude de ruptura que deite por terra tudo aquilo que contribuiu para ele se fechar. No que à recuperação da massa adepta do Belenenses diz respeito, tal consegue-se com um conjunto de medidas que têm vindo a ser preconizadas pelos verdadeiros belenenses, tais como, entre outras, uma gestão profissional dos recursos materiais, financeiros e humanos do Clube, uma política desportiva clara em favor do futebol sem contemplações com falsos amadorismos em outras modalidades, a obtenção de resultados que voltem a encher de orgulho os adeptos, a afirmação de uma independência alicerçada no passado do Clube, atenta ao seu presente e que projecte o futuro com base em projectos sólidos, credíveis e sem vassalagens a terceiros. É isto que está a ser feito? Não, isso dá uma trabalheira do caraças!
Como recuperar a massa adepta do Belenenses e, pior ainda, atrair novos adeptos, dá muito trabalho, a actual “gerência” adoptou a tal solução fácil, preguiçosa e cobarde acima referida – o recurso aos acompanhantes! Já que não há (ou não aparecem, que haver, há) belenenses que cheguem para encher as bancadas do Restelo, vá de apanhar (ou tentar apanhar) todos os caçadores de borlas que se disponham a ir a Belém sem ser para comer pastéis. Finge-se que são belenenses e pronto, está o problema resolvido.
Se esta medida, verdadeiro ovo de Colombo do ferreirismo do período “cumulativo”, foi pacífica e, aparentemente, até teve alguns efeitos benéficos (?) no jogo com o Braga, no jogo contra o benfica foi um desastre absoluto. Não vale a pena estar a dizer porquê, já foi tudo dito. Nos últimos dias muito se escreveu sobre o assunto e cada um de nós tem certamente a sua opinião formada a esse respeito. Pela minha parte, estou demasiado triste para entrar em pormenores acerca de tão vergonhoso acontecimento. Faço apenas um desabafo.
Ao pintalgarem a bancada de sócios do Belenenses com porcos vermelhos (alguns, infelizmente, também sócios do Belenenses), os iluminados gestores do Clube não só deram a imagem contrária àquela que a milagrosa teoria do “acompanhantismo” pretendia difundir, como demonstraram um total desprezo pelo Clube e fizeram uma grave ofensa aos seus verdadeiros adeptos.
Não se trata do facto de a “onda azul” ter aparecido pintada do vermelho dos cachecóis, das bandeiras, talvez até das cuecas dos acompanhantes. A cor de um belenense não se vê apenas na roupa, vê-se sobretudo na alma. Trata-se da promiscuidade forçada em que se viram envolvidos aqueles cuja cor transcende o azul de qualquer bandeira ou cachecol. Trata-se da humilhação perante inimigos que, na nossa casa, são tratados – por quem governa – como se dela fizessem também parte. Trata-se das cicatrizes que ficaram na nossa alma, das manchas de uma cor que não é a nossa.
Não se trata também do já estafado “orgulhosamente sós”. Trata-se do “orgulhosamente nós”, que inclui estarmos orgulhosamente acompanhados... por belenenses como nós.
Não me apetece dizer mais nada. Mas talvez diga, uma última coisa, àqueles que governam (?) o Belenenses.
Querem um conselho? Mesmo que vos pareça que não precisam, aqui fica ele, caso venham a reflectir melhor. A custo zero e de boa vontade...
Saiam do Restelo. Se tiverem medo de sair sozinhos levem um acompanhante, ou mais, de preferência todos os vossos compadres. Pode ser do Belenenses ou de outro clube qualquer, tanto vos faz. Mas saiam.
Arrumem os vossos tarecos e saiam. Qualquer portão do estádio do Restelo é adequado para esse fim, desde que transposto no sentido correcto. Se quiserem ser mais discretos, finjam que vos convidaram para um lanchezinho e que vão ali à segunda circular, ver a bola ao galinheiro. Ou não finjam, vão mesmo.
MAS NÃO VOLTEM!
Saudações azuis.
Comecemos então por um aperitivo. Aqui há um bom par de anos atrás, eram ainda as piscinas do Complexo Desportivo do Restelo uma novidade, decidi ir até lá acompanhado de um amigo, que não é sócio do Belenenses (nem tem, aliás, qualquer outra simpatia ou filiação clubística). A intenção era darmos umas braçadas (ele é um adepto entusiasta da natação) na “melhor piscina olímpica do país” (foi assim que eu lhe impingi a nossa piscina), conviver um bocado, tomar um copo depois. Ficámos pela intenção. Um zeloso funcionário, a quem tentei pagar a minha entrada e a do meu amigo, informou-me que o uso das piscinas era estritamente reservado aos sócios do Clube e não eram permitidos acompanhantes. Ainda tentei contestar, apresentar alguns argumentos (sempre era uma recita extra para o Clube e por aí adiante...), estava até disposto a jurar por minha honra que o meu amigo não mijava na água, mas desisti. Compreendi nesse momento que a piscina era um local de culto, o local sagrado dos sócios do Clube de Natação “Os Belenenses”. Pedi desculpa ao meu amigo e viemos embora. Fomos beber o copo a outro lado, sem banho prévio.
Esta experiência, ainda que desagradável, contribuiu para consolidar uma ideia que já tinha e se continuou a desenvolver depois, por diversas razões, obviamente. O Restelo é a nossa casa e nela há lugares que são só nossos. São os nossos lugares de culto, são sagrados.
Sendo o futebol a modalidade maior – e razão de ser – do Clube, o mais sagrado desses lugares de culto é a bancada de sócios do Clube de Futebol “Os Belenenses” no Estádio do Restelo. Foi nesse “altar” que a coloquei durante muitos anos, até acontecimentos recentes me virem demonstrar que, afinal, assim não é...
Nos últimos tempos, os detentores do poder no Belenenses, numa operação cosmética para “retocar” uma coisa com que nunca se preocuparam – A IMAGEM DO CLUBE – vieram a ocupar essa bancada com “figurantes”, mais conhecidos por acompanhantes, para disfarçar o despovoamento crescente que se tem verificado, por culpa desse mesmo poder. E lá se foi o lugar de culto por água abaixo, mesmo sem ser na piscina...
O “acompanhantismo” é a medida mais absurda, o erro mais crasso, a teoria mais inconsequente postos em prática pela governação pós-sequeirista. É a tentativa mesquinha de substituir o Belenenses real por um “Belenenses” fictício, adoptando uma solução fácil, preguiçosa e cobarde. Só quem não gosta do Belenenses prefere a imagem balofa de um Belenenses que não existe para esconder a verdadeira, por muito modesta que esta seja.
Todos estamos conscientes da doença de “perda de adeptos” de que o nosso Clube padece há longos anos, e que se tem agravado mais recentemente. Muitas opiniões, algumas expressas em textos de excelente qualidade de forma e de conteúdo, têm vindo a público sobre esse assunto. Este é um problema que, naturalmente e com toda a legitimidade, nos preocupa. Aparentemente também preocupa quem dirige (?) o Clube, mas só aparentemente. Porque, de facto, em vez de se tentar atacar as causas do problema e actuar com medidas terapêuticas eficazes, decide-se disfarçá-lo ou mesmo escondê-lo. O Belenenses, como Clube congregador de paixões e arrebatador de massas não existe, mas finge-se que existe. E pronto, está o problema resolvido, para quem dirige o Clube. Que maior prova de desamor pelo Belenenses se pode dar?
A rarefacção da massa adepta azul é um ciclo vicioso. Os ciclos são sempre difíceis de quebrar, porque são coisas que, como muita gente, não têm ponta por onde se lhes pegue. Quando são viciosos, pior ainda. A interrupção de um ciclo vicioso só se consegue com uma abordagem agressiva, com uma atitude de ruptura que deite por terra tudo aquilo que contribuiu para ele se fechar. No que à recuperação da massa adepta do Belenenses diz respeito, tal consegue-se com um conjunto de medidas que têm vindo a ser preconizadas pelos verdadeiros belenenses, tais como, entre outras, uma gestão profissional dos recursos materiais, financeiros e humanos do Clube, uma política desportiva clara em favor do futebol sem contemplações com falsos amadorismos em outras modalidades, a obtenção de resultados que voltem a encher de orgulho os adeptos, a afirmação de uma independência alicerçada no passado do Clube, atenta ao seu presente e que projecte o futuro com base em projectos sólidos, credíveis e sem vassalagens a terceiros. É isto que está a ser feito? Não, isso dá uma trabalheira do caraças!
Como recuperar a massa adepta do Belenenses e, pior ainda, atrair novos adeptos, dá muito trabalho, a actual “gerência” adoptou a tal solução fácil, preguiçosa e cobarde acima referida – o recurso aos acompanhantes! Já que não há (ou não aparecem, que haver, há) belenenses que cheguem para encher as bancadas do Restelo, vá de apanhar (ou tentar apanhar) todos os caçadores de borlas que se disponham a ir a Belém sem ser para comer pastéis. Finge-se que são belenenses e pronto, está o problema resolvido.
Se esta medida, verdadeiro ovo de Colombo do ferreirismo do período “cumulativo”, foi pacífica e, aparentemente, até teve alguns efeitos benéficos (?) no jogo com o Braga, no jogo contra o benfica foi um desastre absoluto. Não vale a pena estar a dizer porquê, já foi tudo dito. Nos últimos dias muito se escreveu sobre o assunto e cada um de nós tem certamente a sua opinião formada a esse respeito. Pela minha parte, estou demasiado triste para entrar em pormenores acerca de tão vergonhoso acontecimento. Faço apenas um desabafo.
Ao pintalgarem a bancada de sócios do Belenenses com porcos vermelhos (alguns, infelizmente, também sócios do Belenenses), os iluminados gestores do Clube não só deram a imagem contrária àquela que a milagrosa teoria do “acompanhantismo” pretendia difundir, como demonstraram um total desprezo pelo Clube e fizeram uma grave ofensa aos seus verdadeiros adeptos.
Não se trata do facto de a “onda azul” ter aparecido pintada do vermelho dos cachecóis, das bandeiras, talvez até das cuecas dos acompanhantes. A cor de um belenense não se vê apenas na roupa, vê-se sobretudo na alma. Trata-se da promiscuidade forçada em que se viram envolvidos aqueles cuja cor transcende o azul de qualquer bandeira ou cachecol. Trata-se da humilhação perante inimigos que, na nossa casa, são tratados – por quem governa – como se dela fizessem também parte. Trata-se das cicatrizes que ficaram na nossa alma, das manchas de uma cor que não é a nossa.
Não se trata também do já estafado “orgulhosamente sós”. Trata-se do “orgulhosamente nós”, que inclui estarmos orgulhosamente acompanhados... por belenenses como nós.
Não me apetece dizer mais nada. Mas talvez diga, uma última coisa, àqueles que governam (?) o Belenenses.
Querem um conselho? Mesmo que vos pareça que não precisam, aqui fica ele, caso venham a reflectir melhor. A custo zero e de boa vontade...
Saiam do Restelo. Se tiverem medo de sair sozinhos levem um acompanhante, ou mais, de preferência todos os vossos compadres. Pode ser do Belenenses ou de outro clube qualquer, tanto vos faz. Mas saiam.
Arrumem os vossos tarecos e saiam. Qualquer portão do estádio do Restelo é adequado para esse fim, desde que transposto no sentido correcto. Se quiserem ser mais discretos, finjam que vos convidaram para um lanchezinho e que vão ali à segunda circular, ver a bola ao galinheiro. Ou não finjam, vão mesmo.
MAS NÃO VOLTEM!
Saudações azuis.