quarta-feira, 2 de agosto de 2006

Neste dia, em . . .

1942 – Américo Tomás é distinguido como sócio Honorário

Nesta data, Américo Tomás foi tornado Sócio Honorário do Belenenses (no mesmo dia que Acácio Rosa, Armando Filipe da Silva e Henrique Costa, este um dos 3 ou 4 principais Fundadores do clube). Desde 1935, era sócio de mérito. Mais tarde, em 1953, viria a receber o galardão máximo do clube, a Cruz de Ouro.

Américo Tomás foi, como é do conhecimento generalizado, uma figura relevante do Regime deposto com a Revolução do 25 de Abril: foi Presidente da República entre 1958 e 1974 e, antes disso, desde 1944, fora Ministro da Marinha. (Na verdade, só entre 1969 e 1974 teve realmente muita importância pois, até aí, Salazar sobrepunha-se a todos, incluindo os Presidentes da República).

Não discutimos aqui as opções ideológicas, políticas ou quaisquer outras, dos sócios e adeptos do Belenenses. No Artigo 6º dos nossos Estatutos dispõe-se que “O C.F.B. é alheio a todas as doutrinas políticas e a todos os credos religiosos”. Convém não esquecer.

Não vamos, pois, pronunciar-nos sobre as ideias e acções políticas do Almirante Américo Tomás, como não discutimos as de outras que se posicionaram ou situam em áreas bem diferentes. Falamos dele aqui, somente, como alguém que serviu o Belenenses e que lhe era dedicado. No entanto, a referência que fizemos era necessária para responder a “piadas” recorrentes segundo as quais o Belenenses teria beneficiado do facto de Américo Tomás ter sido seu sócio durante o Regime anterior a 1974. Sobre isto, cumpre esclarecer:

1. No Belenenses, clube plural, de implantação nacional, de que, ao longo de quase nove décadas, terão sido adeptos cerca de um milhão de pessoas, há gente de todas as proveniências e condições geográficas, culturais, sociais e económicas e de todas as ideologias políticas, filosóficas ou religiosas. Basta lembrar Américo Tomás e Mariano Amaro, para ver quão diferentes posicionamentos sempre existiram.

2. Desde que em Portugal existe uma República, diferentes Presidentes da República foram simpatizantes de diferentes clubes; o mesmo acontece, naturalmente, com Primeiros-Ministros, Ministros, Presidentes de Câmara, etc. De acordo com a sua dimensão e popularidade relativas, o Belenenses tem, naturalmente, a sua própria parte.

3. Américo Tomás não foi o único Presidente da República simpatizante do Belenenses; Teixeira Gomes, Presidente em 1924 – no tempo, pois, da Primeira República –, foi-o igualmente.

4. Obviamente, no Estado Novo, havia em todos os clubes, à escala, simpatizantes desse regime, incluindo pessoas com cargos governativos.

5. Américo Tomás foi Sócio de Mérito, Sócio Honorário e Presidente da Direcção do Belenenses e recebeu a Cruz de Ouro antes de ser Presidente da República. Aliás, foi Presidente da Direcção num breve período, em 1944, e deixou essa função ao ser convidado para Ministro da Marinha. Foi distinguido não por ser Presidente da República, ou sequer Ministro (e para, assim, o Belenenses beneficiar-se dessa condição) mas pela dedicação ao clube anteriormente demonstrada. Note-se que se tornou sócio do Belenenses em 1924, antes do Estado Novo, antes de Salazar, antes de algum dia poder imaginar que seria Presidente da República.

6. Ninguém, com conhecimento de causa, pode afirmar que o Belenenses foi beneficiado durante o regime que foi derrubado em 1974. Pelo contrário, todo o processo referente às Salésias e ao Restelo, conforme já aqui demonstrado inúmeras vezes, mostra que, pela Câmara Municipal de Lisboa, o Belenenses foi clara e brutalmente discriminado relativamente ao Benfica e Sporting, impedindo-o de com eles rivalizar em igualdade de condições.

7. Quando, no fim da década de 60, o Belenenses lutava para reaver a posse do Estádio do Restelo, Américo Tomás, como sócio e adepto do clube, empenhou-se, naturalmente, não em que o Belenenses fosse beneficiado, mas em que se pusesse termo aos vexames e ao tratamento discriminatório que a Câmara Municipal de Lisboa nos impusera. Em parte por esse motivo, numa opção seguramente discutível, o Estádio do Restelo teve o seu nome entre 1970 e 1974. (Nada de especial: o estádio utilizado pelo Braga, era o 28 de Maio...).

8. Em pleno Regime Democrático, nós assistimos a que três clubes do Estado (Benfica, Sporting e Porto) recebem todo o tipo de benefícios e privilégios, tanto da Administração central, como das respectivas Câmaras Municipais. Autarquias, incluindo as Regiões Autónomas, sustentam grande parte dos encargos e projectos do clube da sua terra (exemplo recente: quem construiu e pagou o Estádio que o Gil Vicente utiliza?). Nisto, o Belenenses continua a ser o parente pobre, lutando em desigualdade de condições.

9. Até jornalistas assumidamente opositores do Regime político em que Américo Tomás foi Presidente da República reconheceram: 1) A sua afabilidade desportiva; 2) Que o Belenenses não foi beneficiado pelas funções ministeriais ou presidenciais por ele exercidas.

10. Américo Tomás foi um sócio e adepto dedicado do Belenenses, que do seu bolso – não do Estado – contribuiu abundantemente (como muitos outros) para minorar as dificuldades económicas do Belenenses.

11. Nunca o Belenenses beneficiou de escândalos e manobras vergonhosas, como outros clubes têm beneficiado – veja-se, entre outros exemplos, a arbitragem tendenciosa que nos impediu de ser Campeões em 1955, para não aludir ainda a outros Campeonatos; o caso Inocêncio Calabote; a arbitragem de 1982 no Sporting-Belenenses, por um árbitro que acompanhava o Sporting em digressões; o caso Mapuata; o caso N´Dinga; os casos Francisco Silva, José Guímaro, Carlos Calheiros, etc; os “Pedros Henriques” que nos sonegam três penalties ou que assinalam contra nós golos que não entraram na baliza; o processo Apito Dourado; as incríveis trapaças com que, no «Caso Mateus», se tenta fazer prevalecer quem prevaricou (os dirigentes do Gil Vicente), à custa, mais uma vez do Belenenses... enfim, um nunca acabar!



1975 – Conquista da Taça Intertoto (Série IX)

Em rigor, o Belenenses já conquistou uma competição europeia de futebol. Desse modo, é um dos 5 clubes portugueses com vitórias em taças europeias de futebol: F.C.Porto, Benfica, Sporting, Belenenses e CUF.

Na verdade, nesta data, o Belenenses concluía a sua participação, na disputadíssima nona das dez séries da Taça Intertoto, em primeiro lugar. E, assim, como os outros primeiros classificados nas restantes séries, foi considerado vencedor da Taça Intertoto (tal como actualmente, todos os que ganham qualquer uma das três finais da mesma prova são considerados vencedores).

Poder-se-á objectar que então as regras de participação e de declaração dos vencedores eram diferentes das actuais. E daí? Também a Taça das Cidades com Feira começou por ter regras de participação diferentes da sua sucessora Taça UEFA, e nem por isso deixam de ser listados todos os vencedores, desde a primeira edição. Também ninguém põe em causa que o Sporting ganhou uma Taça das Taças só porque esta se extinguiu.

Portanto, o “seu a seu dono”: o Belenenses integra o lote restrito dos clubes portugueses que já venceram taças europeias – mesmo se sabemos que a Taça Intertoto não tem o mesmo relevo que as restantes Taças Europeias! E quase que bisou esse triunfo na Taça Intertoto, no ano seguinte, ficando em segundo lugar no seu, mais uma vez, disputadíssimo grupo.

Em 1975, o Belenenses teve como adversários o F.C. Amsterdão (Amsterdamsche FC), da Holanda, o Spartak Tranava, da Checoslováquia, e o KB Copenhaga, da Dinamarca.

Destas equipas, a mais poderosa era o Spartak Tranava. Como se sabe, é uma equipa da Eslováquia, que integrava então a Checoslováquia (na altura, uma grande potência futebolística; foi Campeã Europeia em 1976). Do seu palmarés, constam cinco Campeonatos e cinco Taças da Checoslováquia (uma das Taças tendo sido conquistada, precisamente, nesse ano de 1975), cinco Taças da Eslováquia e uma Supertaça da Eslováquia. Em 1968/69, foi semifinalista da Taça dos Campeões Europeus (prova em que tem o excelente score de 13 vitórias, 7 empates e 4 derrotas, com 42-20 em golos), baqueando ante o Real Madrid.

Quanto ao KB, embora na altura o futebol dinamarquês tivesse pouca expressão, o seu palmarés é de grande qualidade. Na verdade, este clube, que desde 1992, como resultado de uma fusão com o B1903 Copenhaga, passou a designar-se por FC Copenhaga, ganhou 28 Campeonatos e 5 Taças da Dinamarca.

Face a estes adversários, o Belenenses registou os seguintes resultados:

28 de Junho de 1975: Belenenses, 1 – F.C. Amsterdão, 0 (um grande golo de Gonzalez, de livre directo)
5 de Julho de 1975 – Spartak Tranava, 2 – Belenenses – 2
12 de Julho de 1975 – Belenenses, 1 – KB, 0
19 de Julho de 1975 – Belenenses, 2 – Spartak Tranava, 1
26 de Julho de 1975 – F.C. Amsterdão, 1 – Belenenses, 0
2 de Agosto de 1975 – KB, 1 – Belenenses, 0

(Nota: nos livros de Acácio Rosa há alguma confusão quanto a estes jogos e seus resultados. Acontece – e em nada essa, ou outras imprecisões, tira o enorme mérito do Autor. Os dados aqui apresentados foram objectos de confirmação).

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Como já dissemos, o grupo foi muito, muito equilibrado; mas, com três vitórias, um empate e duas derrotas, o Belenenses, sagrou-se vencedor, igualando assim os feitos já anteriormente conseguidos por duas outras equipas portuguesas, o Sporting e a CUF (hoje denominada Fabril e bem longe dos seus tempos áureos até metade da década de 70).

De resto, o Belenenses, treinado por Peres Bandeira, estava assim embalado para uma época bastante positiva, tendo terminado o Campeonato Nacional em terceiro lugar.

No Verão seguinte, o Belenenses voltou àquela mesma competição, nesse ano, pontualmente, denominada Taça Internacional. O comportamento foi novamente bastante positivo mas, dessa vez, ficámos em segundo lugar na nossa série.