Antes de mais, sendo esta a minha estreia a postar no BS, queria devolver todas as amáveis palavras que dirigiram ao blog, as quais, na minha proporção de 1/6, sentidamente agradeço.
Permitam-me um abraço muito especial ao Pastelinho, esse ser ímpar da blogosfera azul.
Estou de férias, longe da net.
Afora o conforto das conversas telefónicas com os meus companheiros de blog, posso dizer que estou, em grande medida, reduzido à condição real de um pastel abandonado, perto da condição que imagino ser a da maior parte do nosso Povo.
Com este mote, mesmo sem procuração, atrevo-me pois a falar um pouco em nome desse Povo e dedico-lhe este post de estreia.
No local de veraneio onde estou abundam os sinais do Povo da Cruz – cachecóis nos cafés, emblemas nos carros, barcos de pesca pintados com a cruz e com nomes sugestivos como “a Invejada” ou “o Meu Neto” e uma loja que acabei ora mesmo de cruzar, a qual, pasme-se, faz algo que a Loja Azul na maior parte das vezes não sabe fazer - tem camisolas nossas à venda!!
Sinais de que o Povo ainda existe e mantém a sua fé.
Mas, se o Povo não perdeu a sua fé, está a tornar-se, com uma rapidez mortífera, “não praticante”, sendo essa, afinal, a causa simples do Restelo vazio.
Esqueçam as complexidades e as teorias de marketing.
Trata-se de um problema de fé.
Além da falta recente de milagres e de actos transcendentes, aliada à duvidosa qualidade dos Cruzados e seus comandantes, o Povo deixou de crer no seu Clero, deixou de se rever nas liturgias que lhe oferecem e deixou de se interessar pela expressão ritual da sua religião.
De certo modo, lá no fundo, algum Povo duvidará da fé futebolística de algum do seu Clero.
Acto contínuo, deixou de ir à missa. Só isso!
Também, pudera! ao Povo fizeram-se coisas muito más. Só para dar um exemplo dos mais recentes, impingiram-lhe a “bula do ano 0”, através da qual o Povo ficou a saber que durante um ano não perderia nada em ir não ir à missa, antes pelo contrário.
Em vez de perceber as suas raízes profundas, o nosso Clero dos últimos anos optou por achar que o problema da Catedral vazia era dela, da Catedral, e não do Povo e do que lhe vai na alma.
Vai daí, proclamando a “borla” e o “convite”, escancarou-lhe as portas.
Feita a coisa dessa forma, o Povo não apareceu.
Em vez de se encher de fiéis, a Catedral encheu-se de basbaques pagãos e de insípidos ateus inconvertíveis.
Essas e outras asneiras amplificaram o problema, em vez de o resolver.
O Povo não é rico e precisa de preços populares para si e para a sua família.
O Povo não pode ser impedido pelo dinheiro de ir à missa. Mas não é "à borla" que o motivam.
O Povo despreza portas escancaradas e está pouco interessado em partilhar o seu mais importante acto de fé com infiéis não pagantes.
Este ano teve como missa inaugural aquela coisa insonsa contra o Standard de Liége, tornada em mais um eloquente aviso.
Restou esperar que de Alvalade viesse o milagre da matança do borrego verde, ou, mais que não fosse, um qualquer sinal no firmamento a partir do qual o Povo se pudesse entusiasmar.
Mas não veio. Pese não ter sido mau, ter havido personalidade, etc., etc., nada de excepcional se produziu em prol de um verdadeiro reavivar da fé.
É certo que se fez a mudança do discurso.
Sucedeu à “bula do ano 0” uma outra que, até ora, proclama a vinda de uma Cruzada Europeia, coisa que, sem dúvida, animaria o Povo.
Mas isso é quando e se vier.
O Povo mantém-se expectante e desconfiado.
Aliás, afora essa nova Bula, nada mudou no dia a dia do Povo.
Coisa que só não é desesperante porque o Povo já não espera por ver o seu jornal nas bancas e feito de uma forma que o cative para o futebol e o encha de orgulho ao abeirar da banca, por ver o seu clube modernizar os seus meios e o seu discurso futebolístico, por ver o seu Clero dirigir-se-lhe e partilhar a sua fé, por receber uma carta a explicar-lhe como é que recupera o seu número de sócio e onde e por quanto se vai sentar no Restelo com a sua família na próxima época.
O Povo já se esqueceu que tem uma equipa de futebol.
Aquele que não esqueceu, faz por isso, como defesa instintiva.
A maior parte do Povo não bloga ou nem sequer interneta.
Por isso, a fé desse Povo, que nunca irá ler este post, precisaria de ser alimentada pelos meios de comunicação regulares, ou, constatada sua insuficiência, por outros que o seu Clero inteligentemente criasse para o efeito.
Está aí a raiz do mal.
O Povo não é alimentado pela sua Religião.
Os pagãos regozijam à sua volta.
O Povo come e cala.
É certo que o Povo sabe que o seu Clero pagou as dívidas da paróquia, a tornou respeitada e até mantém um pé-de-meia fundiário que garante a posteridade do local de culto.
Mas afora tais temas (sem dúvida importantes), o Povo não se lembra de ter ouvido ou lido o seu Clero sobre futebol.
O Povo tira as suas conclusões.
Por isso, no próximo sábado, a Catedral estará como tem estado nos últimos tempos - mais vazia do que ontem, mais cheia do que amanhã.
A persistência em não se regenerar começa a tornar-se preocupante para o futuro desta fé, numa altura em que as três religiões oficiais estão pujantes (nem precisando de o estar dentro de campo) e em que despontam pequenos paganismos locais, cujas celebrações já congregam assistências em número na casa dos cinco dígitos.
O estado do Povo é tal que a coisa já não vai lá sem ser a rebate. Por isso,
Toquem os sinos.
Toquem-nos a rebate, antes que seja (ainda mais) tarde demais.
CPA
Permitam-me um abraço muito especial ao Pastelinho, esse ser ímpar da blogosfera azul.
Estou de férias, longe da net.
Afora o conforto das conversas telefónicas com os meus companheiros de blog, posso dizer que estou, em grande medida, reduzido à condição real de um pastel abandonado, perto da condição que imagino ser a da maior parte do nosso Povo.
Com este mote, mesmo sem procuração, atrevo-me pois a falar um pouco em nome desse Povo e dedico-lhe este post de estreia.
No local de veraneio onde estou abundam os sinais do Povo da Cruz – cachecóis nos cafés, emblemas nos carros, barcos de pesca pintados com a cruz e com nomes sugestivos como “a Invejada” ou “o Meu Neto” e uma loja que acabei ora mesmo de cruzar, a qual, pasme-se, faz algo que a Loja Azul na maior parte das vezes não sabe fazer - tem camisolas nossas à venda!!
Sinais de que o Povo ainda existe e mantém a sua fé.
Mas, se o Povo não perdeu a sua fé, está a tornar-se, com uma rapidez mortífera, “não praticante”, sendo essa, afinal, a causa simples do Restelo vazio.
Esqueçam as complexidades e as teorias de marketing.
Trata-se de um problema de fé.
Além da falta recente de milagres e de actos transcendentes, aliada à duvidosa qualidade dos Cruzados e seus comandantes, o Povo deixou de crer no seu Clero, deixou de se rever nas liturgias que lhe oferecem e deixou de se interessar pela expressão ritual da sua religião.
De certo modo, lá no fundo, algum Povo duvidará da fé futebolística de algum do seu Clero.
Acto contínuo, deixou de ir à missa. Só isso!
Também, pudera! ao Povo fizeram-se coisas muito más. Só para dar um exemplo dos mais recentes, impingiram-lhe a “bula do ano 0”, através da qual o Povo ficou a saber que durante um ano não perderia nada em ir não ir à missa, antes pelo contrário.
Em vez de perceber as suas raízes profundas, o nosso Clero dos últimos anos optou por achar que o problema da Catedral vazia era dela, da Catedral, e não do Povo e do que lhe vai na alma.
Vai daí, proclamando a “borla” e o “convite”, escancarou-lhe as portas.
Feita a coisa dessa forma, o Povo não apareceu.
Em vez de se encher de fiéis, a Catedral encheu-se de basbaques pagãos e de insípidos ateus inconvertíveis.
Essas e outras asneiras amplificaram o problema, em vez de o resolver.
O Povo não é rico e precisa de preços populares para si e para a sua família.
O Povo não pode ser impedido pelo dinheiro de ir à missa. Mas não é "à borla" que o motivam.
O Povo despreza portas escancaradas e está pouco interessado em partilhar o seu mais importante acto de fé com infiéis não pagantes.
Este ano teve como missa inaugural aquela coisa insonsa contra o Standard de Liége, tornada em mais um eloquente aviso.
Restou esperar que de Alvalade viesse o milagre da matança do borrego verde, ou, mais que não fosse, um qualquer sinal no firmamento a partir do qual o Povo se pudesse entusiasmar.
Mas não veio. Pese não ter sido mau, ter havido personalidade, etc., etc., nada de excepcional se produziu em prol de um verdadeiro reavivar da fé.
É certo que se fez a mudança do discurso.
Sucedeu à “bula do ano 0” uma outra que, até ora, proclama a vinda de uma Cruzada Europeia, coisa que, sem dúvida, animaria o Povo.
Mas isso é quando e se vier.
O Povo mantém-se expectante e desconfiado.
Aliás, afora essa nova Bula, nada mudou no dia a dia do Povo.
Coisa que só não é desesperante porque o Povo já não espera por ver o seu jornal nas bancas e feito de uma forma que o cative para o futebol e o encha de orgulho ao abeirar da banca, por ver o seu clube modernizar os seus meios e o seu discurso futebolístico, por ver o seu Clero dirigir-se-lhe e partilhar a sua fé, por receber uma carta a explicar-lhe como é que recupera o seu número de sócio e onde e por quanto se vai sentar no Restelo com a sua família na próxima época.
O Povo já se esqueceu que tem uma equipa de futebol.
Aquele que não esqueceu, faz por isso, como defesa instintiva.
A maior parte do Povo não bloga ou nem sequer interneta.
Por isso, a fé desse Povo, que nunca irá ler este post, precisaria de ser alimentada pelos meios de comunicação regulares, ou, constatada sua insuficiência, por outros que o seu Clero inteligentemente criasse para o efeito.
Está aí a raiz do mal.
O Povo não é alimentado pela sua Religião.
Os pagãos regozijam à sua volta.
O Povo come e cala.
É certo que o Povo sabe que o seu Clero pagou as dívidas da paróquia, a tornou respeitada e até mantém um pé-de-meia fundiário que garante a posteridade do local de culto.
Mas afora tais temas (sem dúvida importantes), o Povo não se lembra de ter ouvido ou lido o seu Clero sobre futebol.
O Povo tira as suas conclusões.
Por isso, no próximo sábado, a Catedral estará como tem estado nos últimos tempos - mais vazia do que ontem, mais cheia do que amanhã.
A persistência em não se regenerar começa a tornar-se preocupante para o futuro desta fé, numa altura em que as três religiões oficiais estão pujantes (nem precisando de o estar dentro de campo) e em que despontam pequenos paganismos locais, cujas celebrações já congregam assistências em número na casa dos cinco dígitos.
O estado do Povo é tal que a coisa já não vai lá sem ser a rebate. Por isso,
Toquem os sinos.
Toquem-nos a rebate, antes que seja (ainda mais) tarde demais.
CPA