terça-feira, 20 de setembro de 2005

A crónica do jogo

Mais uma chapa três, com a “estrelinha” desta vez

Belenenses, 3
Vitória de Guimarães, 1

O legítimo estado de graça angariado em Penafiel meteu no Restelo, numa Segunda Feira à noite com transmissão televisiva, cerca de 3200 espectadores.
Dir-se-á que não é mau face aos antecedentes e ao contexto do dia e hora.
Mas será sempre mau face às potencialidades do clube. É preciso fazer mais, rever conceitos e partir para uma actuação radicalmente diferente nesta matéria.

Quanto à prestação da bancada, a nota é positiva. O público soube viver o jogo, esteve com a equipa e conseguiu manter a crença, ressuscitando facilmente para os gritos de incentivo após intensas esfregas de mau futebol que preencheram a maior parte do jogo. Não há dúvida de que a bancada está crente e animada, esperando-se que assim continue por mais tempo.

O jogo começou bem mal para as nossas cores, resultado de uma estranha apatia e desinteresse pelo jogo que tomou conta da equipa logo no seu dealbar.

O Vitória não se fez rogado e pegou no jogo, remetendo o Belém nos minutos iniciais para detrás da linha da bola, onde se amontoava e atabalhoava, com resultados que já se imaginavam desastrosos.

Em termos ofensivos, o Belém não atacava nem contra-atacava.

Um fantástico remate de Pinheiro aos 10 minutos com a bola a percorrer mais de 40 metros e a ser defendida com dificuldade por Paiva, teve mais o ar de sacudidela desgarrada de uma equipa pressionada do que de mote para uma atitude ofensiva consistente.

Aproveitou o Vitória para crescer. Aos 13, Targino saca de Amaral uma falta quase em cima da linha de grande área. Mário Sérgio desperdiça por cima da trave. Estava feito o aviso.

Quatro minutos depois, um passe displicente de Pinheiro encontra um Pelé adormecido. Sobra a bola para Benachour que remata sem hipóteses para Marco Aurélio.

Desabava o estado de graça.

Corria agora o Belém atrás do prejuízo e o jogo não se adivinhava fácil.

Só que, escassos minutos após o reatamento, aos 20, sem sequer ainda ter gasto energias e paciência nessa busca, sem que ainda tivéssemos feito uma jogada digna desse nome, um passe perfeito de Pinheiro encontra Sérgio isolado e descaído para a direita. No frente a frente com Paiva, Sérgio cai. Lucílio demora-se, olha para o Fiscal e aponta a marca de grande penalidade. Lance discutível que divide opiniões.
Só não dividiu a concentração de Meyong que converte com superioridade.
Igualado o marcado, o Belém voltava a navegar à vista.

Suspira-se de alívio e continuou-se a suspirar, mas de aborrecimento, no resto da primeira parte. As equipas encaixaram uma na outra sem conseguirem circular a bola ofensivamente no meio campo adversário. No que toca ao Belém, os homens com responsabilidade de criar e transportar jogo não o souberam fazer – Zé Pedro, Pinheiro e, mesmo, Silas. A bola era tocada “administrativamente” entre defesas e acabava o mais das vezes em … Marco Aurélio.

Os nossos créditos ofensivos acabam reduzidos a um livre perigoso cobrado sem sucesso por Zé Pedro aos 43 minutos. Muito pouco.

Chega o intervalo e ainda se suspira de alívio pelo empate. Exige-se outro Belém na segunda.

Destaque ao intervalo para a cerimónia de entrega de prémios a várias das nossas equipas, numa demonstração, mais uma, de vitalidade eclética. Fizeram a entrega conhecidas personalidades do mundo azul – Solnado, Nicholson, Fernando Ferrão, entre outros.

Reatada a partida, cedo se percebe que o Belém que se exige não surge. Os primeiros 10 minutos são mais do mesmo.

Porém, aos 10, mais um golpe de sorte. A defesa do Guimarães atrapalha-se a si própria e, mesmo sem pressão credível da nossa parte, oferece-nos um canto.

Chamado a cobrar essa imerecida benesse, Silas equaciona o canto à maneira curta. Reconsidera e do seu pé direito sai uma bola telecomendada para a cabeça de Meyong em perfeita rotação ao primeiro poste.

Playmaker e ponta de lança no melhor da sua classe.
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Estava feito o 2-1, estava dada a volta ao resultado

O estado de graça em que a bancada sempre acreditou ressurgia no horizonte. Ficava eufórico o Restelo.

Como se esperava, o Vitória abriu. Abriram-se os espaços e desequilíbrios que não haviam existido e que o Belém não havia sabido criar. Pedia-se um Belém do melhor para aproveitar esta tendência Kamikaze Vitoriana.

E ele surgiu passados mais 10 minutos. Tudo começa num toque de cabeça de Meyong, criador de uma jogada de belo recorte que vem a acabar num Silas magistralmente servido por Zé Pedro (finalmente, a sua classe).
Silas fuzila Paiva e instala o delírio nas bancadas.
3-1. Estava sentenciado o jogo.

Os restantes 30 minutos foram de controlo. Atacou massivamente o Vitória mas sem capacidade de desequilibrar o nosso último reduto.

Se tivéssemos tido um Zé Pedro e um Silas mais “actuantes”, teríamos feito miséria naquela defesa balanceada e descompensada.

Conservadoramente, optámos por gerir com competência.

Para isso também serviram as substituições. Romeu, Ferreira e Januário, respectivamente para os lugares de Meyong (efusivamente ovacionado), Pinheiro e Sérgio.

Da busca desesperada do Vitória resultou uma excelente oportunidade aos 43 minutos num cabeceamento com o selo de golo, imperialmente defendido pelo melhor guarda- redes da Super Liga.

Chegou ao fim o jogo e na bancada festejou-se entusiasticamente uma vitória que, sabemos, teve a sua “estrelinha”.
Mas teve também a eficácia dos que souberam ter classe nos lances que ditam pontos.

Temos 9.
Por isso, Sábado iremos ao Dragão discutir o primeiro lugar.
E, sem desprimor para o Vitória, é nesses jogos, contra equipas do nosso campeonato, que não podemos entrar a dormir.

Viva o Belém

Apreciações individuais:

Marco Aurélio – Impecável no pouco que teve que fazer durante o jogo. Imperial aos 43m da 2ª parte fazendo a defesa da noite e evitando o 3-2.

Faísca – Competente a defender. Demasiado discreto na subidas.

Pelé – Começou mal o jogo. Parecia desconcentrado e não sai sem culpa no golo adversário. Na fase de controlar o jogo, esteve ao seu nível.

Gaspar – Excelente exibição. Tudo o que fez em campo, fez impecavelmente bem.

Amaral – Correu imenso e passou por ele a maior parte do nosso jogo. As iniciativas pelo seu flanco foram a única solução credível de construção de jogo da equipa. Correspondeu em disponibilidade e entrega. Está numa excelente forma física.

Sandro – Fez muito bem a função de trinco a defender. Esteve impecável e a sua clarividência ajuda imenso a equipa. Falta, porém integrar-se na manobra ofensiva na fase difícil de construir o jogo a partir de trás com o adversário fechado. Aí parece não se querer envolver.

Pinheiro – Esteve pela negativa e na pela positiva nos dois primeiros golos, redimindo-se com o excelente passe para Sérgio. No geral, fez um jogo pouco conseguido. A equipa beneficiou pouco da sua prestação, quer ofensiva, quer defensivamente.

Zé Pedro – Mostrou a sua classe no passe para o 3º golo, mas, em geral, passou ao lado do jogo.

Silas – Fez um golo e meio, sendo o meio pelo cruzamento telecomandado para a cabeça de Meyong. Tem classe e sabe mostrá-la nas oportunidades que tem, mas ontem faltou caudal à sua exibição. A equipa ressentiu-se

Sérgio – Esteve no lance do penalty, que significou o nosso regressar ao céu. Porém, não fez um jogo feliz, sendo por regra inconsequente nas suas iniciativas. Aos 17 da 2ª esqueceu-se de rematar, fez a finta adicional, caiu e levou o amarelo típico destas circunstâncias.

Meyong – Excelente. Um ponta de lança faz disto. Penalty superiormente convertido e uma cabeçada impecável para o 2-1. No restante do jogo, cumpriu, apesar de estar só no meio da defesa contrária. É também dele o 1º toque para o 3-1. Faz-nos falta um Meyong assim.

Romeu – Pouco tempo em campo. Serviu bem Januário aos 40 minutos.

Ferreira – Conseguiu dar mais consistência ao meio campo, razão da sua entrada

Januário – Entrou com grande espírito de entrega e de luta. Quase saiu premiado aos 40 com um golo. Merece mais oportunidades.