Poucos dias antes de completar 19 anos (muito mais jovem, pois, que o seu irmão Matateu), Vicente estreou-se no Belenenses, e da melhor maneira, marcando logo um golo ao F.C.Porto.
Dentro em breve, no próximo dia 24 de Setembro, ele completará 70 anos. E, então, prestar-lhe-emos uma homenagem com um bosquejo mais integral da sua carreira, que bem merece um enorme destaque. Pensamos mesmo que a Direcção do clube deveria fazer algo para assinalar essa data, visto que Vicente será, possivelmente, a maior figura viva entre todos os futebolistas que envergaram a nossa camisola.
Pelo Belenenses, único clube que representou em Portugal, Vicente conquistou uma Taça de Portugal (1960) e duas Taças de Honra (1959 e 1960). Como se sabe, esteve a 4 minutos de ganhar um Campeonato Nacional – e logo na sua primeira época. Foi capitão de equipa durante vários anos; e mais anos teria sido, se um acidente de viação não tivesse interrompido a sua carreira em 1966, no auge do seu prestígio, logo após o Campeonato do Mundo, em que, juntamente com José Pereira, constitui o par de representantes na Selecção nacional que obteve o 3º lugar em Inglaterra. Mais uma vez, o drama se abateu sobre figuras de grande valor futebolístico no Belenenses, interrompendo as suas carreiras: antes de Vicente, os incomparáveis Pepe e Amaro; mais tarde, Carlos Serafim ou Seba.
E a propósito de Selecção Nacional, refira-se que Vicente foi o 3º Belenenses com mais internacionalizações A. À sua frente, só está o lendário Augusto Silva, com 21, e o seu irmão – o grande rei – Matateu, com 27. Não há, na história do futebol português, nenhuma dupla de irmãos que se compare a este duo Belenenses Matateu + Vicente. A representar Portugal, Vicente celebrizou-se pela maneira única – no mundo – como anulava Pelé (com a inexcedível correcção que sempre caracterizou Vicente, tanto como jogador quanto como homem). Assim, em plenos anos 60, só Eusébio, e talvez Coluna, entre todos os jogadores portugueses, disfrutavam de mais prestígio mundial do que Vicente. De resto, também ao serviço do Belenenses, Vicente foi a sombra do Rei Pelé: com efeito, a estreia do maior jogador mundial de todos os tempos no futebol sénior foi, justamente, num jogo com o Belenenses! Como é grande o nosso clube! Pelé sempre se referiu a Vicente e ao Belenenses com o maior respeito e admiração.
Vicente, de que acabámos de falar, estreou-se justamente no dia da Festa de despedida de Feliciano. E, sem que na altura se suspeitasse, tal constituiu de certa forma uma passagem de testemunho, pois, começando a sua carreira a médio, Vicente acabaria por derivar para funções mais defensivas, semelhantes às de Feliciano.
Campeão de Lisboa em 1943 e 1945, Campeão Nacional em 1946, e, no ano seguinte, considerado, em França, como o melhor defesa central da Europa, jogador elegante e eficientíssimo, Feliciano tem um lugar proeminente na galeria de notáveis do Belenenses, que representou de 1939 a 1954. Foi descoberto por outro grande vulto da nossa história, Alejandro Scopelli.
Juntamente com Capela e Vasco – e, noutras versões, com Serafim das Neves – integrava as celebérrimas Torres de Belém, que garantiam a solidez defensiva do Belenenses. Por alguma razão a defesa do Belenenses foi a melhor nos Campeonatos de 40/41, 42/43, 45/46, 46/47 e 47/48 e a 2ª melhor em 41/42, 44/45 e 51/52... Ficaram famosos, e marcaram época no futebol Português, os duelos entre as Torres de Belém e os Cinco Violinos do Sporting.
Feliciano foi 14 vezes internacional – num tempo em que os confrontos internacionais ainda rareavam, isso corresponderia a 70 ou 80 nos nossos dias... Numa dessas ocasiões, no onze nacional, cinco jogadores eram do Belenenses!
É pena que, como aconteceu com mais algumas outras grandes figuras, o Belenenses não tenha sempre sabido reservar a Feliciano o lugar que merecia, depois de este ter acabado a sua carreira como jogador. E, assim, veio Feliciano a radicar-se no Porto, e, como treinador de camadas jovens do F.C.Porto, a descobrir e a formar verdadeiros carregamentos de craques.... Se fez isto no Porto, porque não lhe foi permitido fazê-lo no Belenenses?
Seja com for, estamos certo que o Belenenses continua no coração de Feliciano, como Feliciano está no coração de todos os belenenses que o viram envergar a nossa camisola ou que, de qualquer maneira, conhecem a nossa história.
1988 – Vitória na Alemanha por 1-0, para a Taça UEFA, sobre o Bayer Leverkusen, detentor do troféu
Esta foi uma das maiores vitórias obtidas pelo Belenenses no estrangeiro, e a mais significativa em competições europeias. O sorteio fora-nos aziago, reservando-nos logo na 1ª eliminatória o vencedor da Taça UEFA na edição anterior, os poderosos alemães do Bayer Leverkusen. No entanto, o Belenenses tinha uma grande equipa (que, de resto, no fim dessa época conquistou a Taça de Portugal) e estava em grande forma (liderou o Campeonato Nacional nas 1ªs jornadas). Na nossa equipa, pontificavam jogadores como Jorge Martins, José António, Sobrinho, Juanico, Jaime, Paulo Monteiro, Chico Faria e uma asa esquerda que faria inveja a (praticamente) qualquer equipa mundial: Zé Mário, Adão e Mladenov.
E foi precisamente numa jogada pelo lado esquerdo que surgiu o nosso golo, logo aos 7 minutos: arrancada de Adão, cruzamento perfeito e magnífico cabeceamento de Mladenov. Um grande golo! E ainda outro golo poderíamos ter feita na 1ª parte, em que fomos brilhantíssimos, quando uma autêntica “bomba” de Paulo Monteiro, desferida a cerca de 30 metros da baliza, esbarrou violentamente na trave.
Mladenov