terça-feira, 6 de setembro de 2005

Neste dia, em . . .

1943 – Morte de Artur José Pereira

É o Dia da Saudade. Foi nesta data que morreu o nosso principal fundador, aquele a quem, nas palavras de Acácio Rosa, devemos “o ideal que tão apaixonadamente vive nos nossos corações”. Morreu jovem, aos 53 anos, com uma doença pulmonar.

Apaixonado por Belém e pelo futebol, Artur José Pereira, um dos rapazes da praia, começou por jogar no Sport Lisboa e Benfica, pois este clube resultara da fusão do Sport Lisboa, nascido e crescido em Belém, e do Grupo Sport Benfica. Mais tarde, no meio de umas desavenças, transferiu-se para o clube que o Visconde de Alvalade criara, com o seu dinheiro, para os meninos “bem”, o Sporting Clube de Portugal. Mas, à medida que se ia aproximando o fim da sua carreira futebolística, Artur José sentia crescer mais e mais o desgosto de não haver um clube genuinamente belenense. Até que...saiu do Sporting, para fundar um clube em Belém e de Belém, e o sonho de uma noite de Verão, num jardim da Praça Afonso de Albuquerque, deu origem, finalmente, ao nosso querido Clube de Futebol Os Belenenses.
É a Artur José Pereira e aos seus pares Fundadores que devemos esta ventura, esta lição de vida e de dignidade que é ser do Belenenses; que devemos a alternativa, tão bela e tão nossa, de não ser nem do Benfica nem do Sporting mas, sim, de algo de muito mais imenso e corajoso – e essa alternativa, essa ousadia rebelde de ser diferente, é algo que o Belenenses precisa, urgentemente, de explorar em termos de imagem e projecção.

Artur José era um senhor; mas, ao mesmo tempo, era um homem rebelde, ousado, livre e independente. Por vezes, pensamos como o gostaríamos de o ver, novamente, entre nós, empunhando essa bandeira de independência e de espírito de conquista, libertando o Belenenses de contra natura pancadinhas nas costas dos nossos rivais, e reavivando-o forte, desafiador e altaneiro!
Um quarto de século depois de ter terminado a sua carreira (já no seu Belenenses), Artur José Pereira era ainda considerando o melhor futebolista português de todos os tempos. Depois, como treinador, ao serviço do Belenenses, lançou inúmeros jogadores para a ribalta do futebol português.
Durante a sua carreira, a selecção nacional só disputou um jogo (justamente o seu primeiro). Artur José, juntamente com o seu irmão Francisco e outro jogador do Belenenses (salvo erro, Alberto Rio: escrevemos de memória), foi convocado. Mas foi tal a campanha que os nossos adversários do Benfica e do Sporting lançaram, com repercussões na imprensa (já naqueles tempos tínhamos esses “amigos”; mas, ao menos, esses não disfarçavam o azedume que nos tinham), que os três acabaram por renunciar a participar no jogo.

Na verdade, o Belenenses nasceu e fez-se forte contra muitas oposições – por exemplo, contra o desdém do Presidente do Benfica. A alma grandiosa que nos fez resistir e tudo superar, precisa de ressurgir, e Artur José Pereira simboliza-a mais do que ninguém.


1960 – O Belenenses é reconhecido como Instituição de Utilidade Pública, ...

...juntamente com Benfica, Sporting, Ginásio Clube Português e Lisboa Ginásio.
Esta condecoração, com que foram distinguidas 5 grandes entidades desportivas de Portugal – repare-se que, na altura, nem o F.C. Porto a recebeu -, é o reconhecimento do mérito e da importância do Belenenses na sociedade portuguesa. Recordemos que o nosso clube detém ainda estas outras condecorações: Medalha de Mérito Desportivo; Benemérito da Cruz de Malta; Comendador da Ordem de Cristo; Medalha de Ouro da Cidade de Lisboa; Ordem de Benemerência da Cruz Vermelha.

Justificam-se algumas notas com referência às quatro outras colectividades distinguidas. O Ginásio Clube Português e o Lisboa Ginásio merecem todo o nosso respeito e até admiração. No entanto, rogamos aos nossos responsáveis que fujam à tentação – que em algumas cabeças existe – de fazer um Belenenses à imagem dessas 2 outras entidades, isto é, sem espírito competitivo, sem ambição de conquistar campeonatos (considerando que basta participar) e, até, olhando o futebol como uma maçada que seria bom dispensar, como desporto (que horror!) da populaça.

Hoje em dia, sabemos que, por cada adepto do Belenenses, haverá 8 ou 10 do Sporting e 15 ou 20 do Benfica. Como seria naqueles tempos, em 1960, justamente antes de começarem os dias de crise do Belenenses?
Temos indicadores muito significativos. Nesse ano (1960), o Benfica tinha 30.000 sócios; o Sporting, 17.000; o Belenenses, 10.300. Conclusão aproximada: havia 1 adepto do Belenenses por cada 3 do Benfica; e 3 adeptos do Belenenses, por cada 5 do Sporting. Eram proporções muitíssimo mais favoráveis do que as actuais, mostrando simultaneamente a força e a popularidade que o Belenenses então detinha, e a erosão provocada pelas últimas décadas de resultados menos felizes...
Uns anos antes, a proporção ainda nos era mais favorável: no fim de 1954, o Benfica (embalado pela inauguração do seu estádio) tinha 18.800 sócios. Ora, em 1955, o Belenenses contava com 11.000 sócios; e, no ano seguinte, o da inauguração do Estádio do Restelo, atingíamos os 14.500. Se as coisas tivessem seguido o mesmo curso que até então, nós hoje deveríamos ter uns 70.000 sócios... e 5, 6, 7 vezes mais adeptos do que temos.