quarta-feira, 28 de setembro de 2005

Neste dia, em . . .

1984 – Fundação da Fúria Azul

Em momento de júbilo por estarmos de regresso ao nosso lugar na 1ª divisão, depois da tão inesperada quão terrível passagem pela divisão secundária (algo que imaginávamos não mais se repetir, por uma vez já ter sido “impensável”), reforçado por um bom campeonato, deu-se criação da Fúria Azul. Em boa hora surgiu, porque tudo quanto dê vida e alegria ao nosso clube, é motivo de satisfação. Na altura, o clube tinha uma pujança popular que não fazia supor que, anos depois, a(s) claques fosse(m) tão importante(s) para, ao menos, haver sempre um incentivo audível e visível.

Nem sempre a Fúria foi bem vista por alguns sócios seja pelo motivo de ter alguns excessos (e aí, compreende-se a reprovação), seja pela falta de cultura de massas e pelo comodismo silencioso de alguns (coisa que já não entendemos). Supomos que as claques devem ser incentivadas e apoiadas, a troco da exigência de um comportamento que dignifique o Belenenses e, em última instância, o ser humano. A Direcção precisa de lhe dar carinho e ajudas razoáveis (nomeadamente, para captarem mais membros), em troco da exigência de um comportamento irrepreensível.

Ao longo dos anos, aqui e acolá, outras claques surgiram no nosso clube. Também elas foram e são bem vindas se respeitarem princípios que não devem ser violados. No entanto, nenhuma outra jamais teve a continuidade e a implantação da Fúria Azul. Lembramos, com saudade, os seus tempos de pujança, em que juntaria um meio milhar de jovens. Hoje, em concomitância com a diminuição das nossas assistências, são bem menos; mas continuam a ser uma presença que já não poderíamos dispensar. Por isso, só desejamos que voltem a crescer em número, que continuem a apoiar o Belenenses, e que estejam sempre à altura dos mais nobres princípios do nosso clube.

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Belém até morrer
Belém até morrer
Tenho todo o orgulho
Sou Belém até morrer


1986 – Belenenses vence o Sporting por 2-0, no Restelo, perante 45.000 pessoas, e assume liderança do Campeonato Nacional

No final da época de 1985/86, após 26 longos anos de ausência, voltámos a uma final da Taça de Portugal. Perdemos 2-0 com o Benfica (depois de desperdiçarmos várias oportunidades nos primeiros minutos) mas a esperança de renovar altos voos ficou connosco. A acrescer a isto, entre os 22 convocados para o Mundial do México, estavam 3 jogadores do Belenenses: José António, Sobrinho e Jorge Martins.Sentia-se que o Belenenses voltava a estar na onda...

Por isso, a época de 1986/87, de novo com Henry Depireux a treinador, iniciou-se com grande entusiasmo e excelente futebol; e, após muitas peripécias, culminou, enfim, no regresso às competições europeias. Chegaram jogadores que se tornaram referências, como Mapuata e, sobretudo, o internacional búlgaro Mladenov. Ao mesmo tempo, deu lugar a algumas grandes, enormes assistências no Estádio do Restelo, nomeadamente contra o F.C.Porto, o Benfica e o Sporting.

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Andámos várias jornadas em 1º lugar. À 8ª jornada, quando recebemos o F.C. Porto, tínhamos 6 vitórias e só 1 derrota, com 17 golos marcados e 5 sofridos.

Nas 4 primeiras jornadas, só tinha havido vitórias, que nos deram a liderança: vencemos o Rio Ave por 3-1 no Restelo; fomos ganhar 2-0 ao Porto, face ao Salgueiros; ganhámos 3-0 à Académica em casa; fomos vencer o Portimonense ao Algarve por 5-1 (com milhares de Belenenses a deslocarem-se para apoiar a equipa). Á 5º jornada, perdemos 3-1 no Bessa, num jogo em que muito se estranhou e comentou o surpreendente “speed” com que os boavisteiros (treinados por Alves...) vieram do intervalo.

À 6ª jornada, recebemos o Sporting. Se ganhássemos, voltámos a passar para 1º, e foi isso mesmo que aconteceu. O Restelo abarrotou com um mar de gente: perto de 45.000 pessoas! (Descontando os sócios – cerca de 7.000 entradas - , acompanhantes de sócios, crianças não pagantes, convidados e borlistas, venderam-se 25.144 bilhetes, segundo um registo da época, que conservei). Foi talvez uma das 5 maiores assistência que já vi no Restelo (embora, infelizmente, mais de metade fossem lagartos).

O Sporting entrou em força e andámos 20 minutos "aos papéis”, como se costuma dizer. Mas, de repente, há um passe longo de Mladenov, e Mapuata, como um touro, arrasa o centro da defesa do Sporting e faz 1-0! Ainda sofremos até ao intervalo e nos primeiros 5 minutos da 2ª (altura em que se verificou uma incrível defesa de Jorge Martins). A partir daí, o jogo foi todo nosso. Por volta dos 15/20minutos, Mladenov, a 30 metros da baliza, depois de bela combinação com Jaime, faz duas belas fintas, arranca um remate espantoso e faz um golo monumental, daqueles que não se esquecem: 2-0! Um dos maiores e mais entusiasmantes golos do Belenenses a que tivemos oportunidade de assistir. Até ao final do jogo, dominámos à vontade e ainda perdemos várias oportunidades. Uma imensa alegria azul tomava conta do Restelo. Era a primeira vitória sobre os nossos velhos rivais desde o regresso à 1ª Divisão, e isso deu-nos uma grande alegria. Mladenov foi sublime e, no dia seguinte, um jornal desportivo, em apreciação aos nossos jogadores, titulava: “Mladenov: O Restelo a seus pés”!

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(Para não nos iludirmos, gostávamos de relatar o seguinte: ao sair do estádio, cruzámo-nos com 2 adeptos, um com cachecol do Sporting, outro do Benfica. O do Benfica também ia bastante insatisfeito. Dizia: "Espero que este ano não tenhamos os pastéis de nata a chatear” )...

Uma saudade imensa invade-nos ao recordar essa tarde: pela vitória, sim; mas também, e muito, por aquela imensa multidão que invadiu o Restelo. Quando voltaremos a assistir a tardes dessas?...