sábado, 3 de setembro de 2005

Processo Apito Dourado

Não sou muito dado a escrever sobre arbitragem e os seus meandros. Não faz parte do meu feitio, mas especialmente discutir arbitragem neste país é como entrar numa casa fétida e pútrida (no final deste artigo terei de lavar mãos e teclado).

No entanto este processo atingiu um ponto tal, em que se prepara a dedução da acusação para muito breve, logo após as eleições autárquicas do próximo mês, culminado com as notícias vindas a público
ontem e hoje no jornal Correio da Manhã e a divulgação da lista de arguidos, alguns deles "notáveis" da política civil e da política futeboleira portuguesas.

É certo que, conforme também já referiu a Procuradoria Geral da República, nem a todos os cento e setenta e um (171!!!) arguidos será deduzida acusação própria.

Mas face ao meu argumento inicial perguntará o leitor: - o que tem o Belenenses a ver com isto?
A resposta é tão simples como aparentemente ambígua: Tudo e nada, ao mesmo tempo.

Nada, porque felizmente nesta inusitadamente longa lista de nomes não constam pessoas ligadas ao Belenenses ou que no Clube tenham exercido cargos relevantes. O que não me surpreende minimamente. Obviamente que me orgulho desse facto.
E tudo a ver porquê? Clubites exacerbadas à parte, há muito que nos habituámos a ser um dos prejudicados por sistema (e pelo).

Quem abominar qualquer forma de aldrabice e jogos de bastidores, como eu, e se recusa a aceitar que a verdade desportiva, moribunda está há muito no seu leito de morte (aguardando ela própria que lhe seja comunicada a sua morte oficial), não pode ficar indiferente à dimensão do grupo de constituídos arguidos neste processo.
No entanto, fico algo surpreso pela aparente centralização do problema apenas a norte do país. Quero dizer que me entristece que certos outros favores, públicos e notórios concedidos a Sul, aqui mesmo ao nosso lado por sucessivos governos camarários e especialmente na Região Autónoma da Madeira fiquem de fora do Processo. Apenas é feita referência, na edição de hoje do jornal, a José Veiga, cujo nome estava curiosamente truncado na lista, não o permitindo identificar facilmente, enquanto dirigente do Estoril Praia.
Concluindo o nome diz (quase) tudo. Ficamo-nos pelo apito. E é pena. Espero que pelo menos o resto continue em investigação e que rebente na próxima oportunidade de agenda.

Em termos práticos de consequências imediatas, vem o providencial presidente do Conselho de Arbitragem da Liga - Luís Guilherme, afirmar que não mexe em nada, não retira árbitros da poule de nomeações até ser deduzida acusação. Temo, no entanto, que vá mais longe do que isso. Apenas quando for impossível fisicamente (por estar preso) a algum árbitro comparecer é que se fará alguma coisa. À mulher de César não basta ser séria, tem de parecê-lo.
Quanto à notícia do Correio da Manhã, saída ontem, a Procuradoria Geral da República (em resposta) sentiu a necessidade de informar que não foi, até ao momento, deduzida qualquer acusação a nenhum elemento da lista de arguidos.
Quanto à constituição da lista ontem divulgada pelo referido jornal e sem querer ser extenso em demasia (ou este comentário ficava um autêntico "peixe-espada") queria apenas sublinhar os mais relevantes ou mais conhecidos dos vários meios em que se movimentam, além dos totais.

Árbitros
Total: 110
Destaques: Carlos Xistra, João Vilas Boas, Jacinto Paixão, Lourenço Batista, Mário Mendes, Lucílio Baptista, Paulo Paraty, Francisco Mendes, Martins dos Santos, Augusto Duarte, Artur Soares Dias, Cosme Machado, Paulo Pereira, António Perdigão, Devesa Neto e Serafim Nogueira.

Dirigentes (Liga e Federação)
Total: 28
Destaques: Valentim Loureiro, Azevedo Duarte, Ezequiel Feijão, Pinto Correia, Carlos Carvalho, Carlos Esteves

Empresários
Total: 4
Alberto Couto Alves, Sousa Cintra, Joaquim Camilo da Silva e António Araújo.

Autarcas
Total: 2
Isabel Damasceno (PCM Leiria e recandidata) e Avelino Ferreira Torres (PCM Marco de Canavezes e candidato a Amarante)

Dirigentes de Clubes
Total: 27
Destaques: Pinto da Costa (FC Porto), João Loureiro (Boavista), João Bartolomeu (União de Leiria), Hernâni Moreira (Paços de Ferreira), Rui Alves (Nacional da Madeira), Aprígio Santos e Pedro Miguel Ferreira (Naval 1º de Maio) e José Veiga (Ex-Estoril, actualmente Benfica).

Pessoalmente não tenho grandes esperanças que daqui venha a sair a moralização e erradicação dos "casos estranhos" do Futebol Português. Não querendo fazer de arguidos automaticamente acusados ou culpados, à boa moda portuguesa, penso que todos partilhamos a sensação de que tudo ou quase tudo ficará na mesma. E que, quanto muito, mudarão as moscas. A "porcaria", essa, continuará a ser a mesma.