No final do jogo com o Boavista, na passada jornada, já lá vão duas semanas, estávamos à conversa num grupo de cinco ou seis tristonhos, tristonha porque ensombrada pela perda inglória de 2 pontos a fechar o jogo (Marco Aurélio estás perdoado mas não repitas por favor), quando o nosso consócio Alexandre Trindade, que muito prezo, se sai com uma tirada fantástica, com tanta piada como acerto:
– O próximo jogo aqui é entre as nossas duas equipas...
Entreolhamo-nos, os restantes, sem perceber muito bem o que o Alexandre quereria dizer. Não esperámos muito tempo.
– Siiim! Joga a equipa que amamos, vivemos e sofremos contra aquela equipa que sustentamos com os nossos impostos.
Gargalhámos.
É verdade. Pagamo-la com os nossos impostos. Se calhar é por isso que o clube insular tem o vermelho e o verde na camisola, já que pagamos ao menos que tenhamos o selo. É como uma segunda selecção nacional mas assim mais... “internacional” que a Selecção A, embora com mais estrangeiros (apesar de tudo).
Piadas à parte e porque a nossa situação não é brilhante, diria que nas duas últimas jornada vimos uma equipa diferente que eu continuo a acreditar que devidamente trabalhada pode e deve resultar muito melhor que até agora.
Não fomos vitoriosos nestes dois jogos, aliás conseguimos apenas 1 ponto em 6 possíveis, no entanto mesmo os mais saudosos amantes de Carlos Carvalhal e do seu futebol inconsequente reconhecerão no seu íntimo alguma mudança de atitude competitiva, de capacidade anímica e de capacidade de pegar no jogo e assumi-lo.
Será até possível admitir que o estilo de jogo morno e mastigado que se praticava se devia a menor entrosamento colectivo e mesmo de forma física individual deficiente – muito deficiente nalguns casos. Espero que estas duas semanas tenham permitido à nova equipa técnica recuperar ou impor uma saudável e competitiva forma física que permita impor um também diferente tipo de jogo mais interventivo e mandão ao invés do estilo expectante (para não ser muito realista) a que estávamos habituados.
As notícias que vamos tendo, de quem mais ou menos acompanha os trabalhos, apontam nesse sentido. Mas de vitórias em jogos treino e em treinos internos não quero saber nesta fase do campeonato, muito menos na situação classificativa actual. Precisamos de pontos, dê lá por onde der.
Creio que temos um grupo (curto) de bons jogadores que devidamente treinados serão capazes de ultrapassar a situação. Poderemos ter reforços (de 2 obrigatórios a 3 de preferência) que só melhora a situação. Mas mesmo com estes 21+2 temos obrigação de fazer bem melhor do que temos feito. E acredito que estejamos no limiar de o conseguir passar a pontos, apesar do tremendo balde de água fria que levámos no final do último jogo. Aí sim, é caso para dizer: shit happens.
Estas duas semanas eram fulcrais. Uma oportunidade de ouro para a nova equipa técnica dar “tareias” de preparação física e tempo para recuperar e fazer trabalho técnico. Pelo meio, longas horas de conversa e treino específico. Assim espero eu e julgo que todos.
Para mim este é o ponto de viragem. Ou viramos para cima e encetamos uma recuperação condizente com o valor potencial da equipa e dos seus jogadores ou então estaremos em maus lençóis.
Como aludiu e muito bem o meu “camarada de armas” – Cruel Pastel Azul – na última antevisão e com uma estupenda ironia, é nestes momentos que se vê o espírito da equipa e de cada jogador individualmente. O seu modo de reagir às adversidades e aos momentos menos conseguidos.
Nós estaremos à espera. Podemos ser poucos mas comigo poderão contar. Sou um dos palermas que vai equipado de cachecol e bandeira e que às páginas tantas se levanta a "mandar vir" com as múmias que nem são capazes de se deixar levar na onda dos incentivos que vêm do Topo Norte e que são timidamente repetidos pelos que estão acordados entre as múmias dos sectores centrais (onde me encontro). Nem os tempos idos das desculpas esfarrapadas me fizeram esmorecer ao ponto de não ir ao nosso santuário.
Analisemos então o nosso adversário do jogo de segunda-feira (aliás, já terça) às 3:00 AM *1 (ver nota de rodapé).
O Marítimo iniciou muito mal o campeonato. À 4ª jornada despediu o treinador o que, apesar de tudo constituiu uma melhoria (se bem que ténue) relativamente à época passada, em que despediu Manuel Cajuda à 1ª jornada após ser derrotado sem apelo nem agravo no Restelo (por 3-0).
Esta época, após um pobre registo inicial de 2 pontos em 4 jogos, Juca saiu. Seguiu-se nova derrota, em Guimarães, frente ao Vitória, em jogo já orientado por João Abel Silva, em fase de transição.
À 6ª jornada estrear-se-ia então o novo treinador, um brasileiro de nome Paulo Bonamigo que, confesso, desconhecia de todo.
Mas não deve ser mau de todo. Desde esse momento, o Marítimo não voltou a perder. Começou por empatar em casa com o F.C. do Porto, 2-2, tendo chegado a estar em vantagem, por 1-0, permitindo a reviravolta dos forasteiros mas logrando alcançar ainda o empate mesmo no final.
À 7ª jornada, na deslocação à Amadora, novo empate 2-2 depois de estar a perder por 2-0 ao intervalo. Na 8ª jornada receberam e venceram a Naval por 2-1, com a Naval a reduzir apenas já no final do jogo.
Segue-se novo empate 2-2, desta vez no sempre difícil terreno do Rio-Ave, com o marcador a apresentar uma marcha semelhante ao jogo de estreia do novo treinador, nos Barreiros com o F.C. Porto.
Finalmente na última jornada venceram o até aí invicto líder S.C. Braga (então isolado a 5 pontos do 2º), nos Barreiros, por 1-0. O que para mim foi surpreendente. E acima de tudo indiciador de grande melhoria de uma equipa que não me recordo de ver nenhum jogo completo esta época embora tenha assistido à primeira parte contra o F.C. Porto.
Apresentam, portanto, um registo impressionante para uma equipa que nas primeiras cinco jornadas apresentava tantas dificuldades.
Exactamente o inverso do nosso percurso.
Não será já possível dizer que esta melhoria é apenas o efeito de curto prazo da chicotada psicológica. Até porque já lá vão cinco jogos e o saldo que apresentam é francamente positivo considerando os adversários defrontados neste período.
Têm como pontos fortes individualmente, o guarda-redes Marcos, o defesa Van der Gaag, o médio Wénio e no ataque o extremo esquerdo Manduca e os avançados Elias (Kanu) e Nilson Sergipano.
Teremos de voltar a ser a equipa aguerrida do último jogo mas com mais entrosamento e capacidade física.
Sinceramente tenho saudades de termos uma equipa mandona baseada numa defesa sólida e num meio campo pressionante. Uma equipa construída de trás para a frente. Mesmo que para isso necessite de 4 elementos no meio-campo e apenas dois no ataque. Um 4-4-2 à antiga - com médios-ala, por exemplo. Se Silas recuperasse e na falta de um segundo ponta de lança disponível gostaria mesmo de ver um 4-4-1-1 com Silas solto a poder recuar para buscar jogo e distribui-lo e a ter liberdade de se encostar ao Ponta-de-Lança que supomos que seja Romeu.
Por outro lado, não me admiraria que uma equipa num esquema semelhante ao da época passada pudesse resultar com um avançado móvel nas costas de Romeu a actuar solto de marcação directa. Mas teria de ter mais de 1,68 m de altura ;-)
Enfim... pouco me importa como, quero é que ganhemos. Já tenho saudades de conquistar 3 pontos no mesmo jogo. Venham eles que os receberemos de braços abertos.
*1 – Nota do Editor: Para os mais distraídos, a hora do jogo era uma piada. Isso de poder começar os jogos a essa hora só entra em vigor para a época que vem :-))