Introdução
Aviso Importante:
Este artigo é uma mera visão de um adepto, já agora - sócio, que aprecia ver, acima de todos os desportos, o Futebol e que o vê na bancada sempre que possível e mais algumas vezes em que é impossível.
Não pretendo com este artigo fazer cátedra.
Não pretendo tão pouco fornecer, ou aspirar a tal, indicações técnicas à SAD.
Era o que faltava.
Nunca fui futebolista profissional, nem amador federado, nem apenas amador. Quanto muito umas peladas de Futebol 11 e muitas de Futsal no tempo em que se chamava Futebol de Salão ou Futebol de 5. Tal facto não me impede porém de ter opinião e de me permitir emiti-la.
Esta é apenas uma visão particular e baseada apenas na observação in loco do conjunto de jogadores que temos actualmente disponíveis para as competições seniores profissionais.
Se os especialistas encartados ou mesmo outros adeptos como eu tiverem algo (ou mesmo tudo) a opor, isso não será encarado por mim como mais do que uma oportunidade de ver outros modos de ver e apreciar o jogo.
Análise Sectorial
Para esta época preparou-se uma “quase-revolução” no plantel. Um passo arriscado e de consequências imediatas sempre imprevisíveis. Falei nisso na altura própria.
Do anterior plantel de 33 elementos, saíram, desde a época passada, 19 jogadores a título definitivo e mais 3 em regime de empréstimo.
Entraram 11 jogadores de fora e mais um proveniente dos juniores – Carlos Alves, este a cumprir o seu primeiro ano de Júnior (17 anos).
Foi um risco calculado? Oficialmente o objectivo foi introduzir sangue novo e maior capacidade técnica. No entanto verifica-se que o Plantel se viu drasticamente reduzido para 21 elementos profissionais e 2, que o sendo também, participam na maioria (quase totalidade) das vezes no escalão de Juniores. Convenhamos: o plantel é curto.
Apesar disso, é fácil constatar que é constituído por bastantes jogadores polivalentes. O que pode ser uma vantagem em determinadas situações, não favorece, no normal decorrer de uma época, o entrosamento da equipa, pelo facto de poder ser necessário utilizar os jogadores fora da sua posição “melhor” em regime quase constante. Consequências desta opção são analisadas ao longo deste artigo.
O plantel apresenta uma média global de idades de 25,9 anos, produto de uma mistura entre jogadores muito experientes e outros muito jovens sendo que isso sucede de modo equilibrado nos vários sectores.
Sectorialmente a média de idades é a seguinte:
Guarda-Redes: 26,0
Defesa: 24,9
Meio-Campo: 27,1
Ataque: 25,4
No que respeita à altura média, ela cifra-se globalmente nos 1,81 metros, o que, relativamente a um passado recente (últimas épocas) é um acréscimo considerável.
Sectorialmente a média de alturas é a seguinte:
Guarda-Redes: 1,85m
Defesa: 1,85m
Meio-Campo: 1,80
Ataque: 1,78
A defesa tem uma média apreciável embora não seja muito alta. Destaca-se neste aspecto o central Gaspar que é o mais alto do Plantel com 1,92m, seguido de muito perto por Rolando (1,91m)
Guarda-Redes
Marco Aurélio é o titular indiscutível. Estatisticamente o seu domínio é avassalador.
Pedro Alves tem actuado nos jogos da Taça de Portugal e em alguns particulares e, há excepção de pequenos erros comuns em quem tem tanta falta de competição, tem estado em bom nível.
Duvido que venha a ser o sucessor de Marco Aurélio. Defendi que, aos 26 anos, já devia ter sido emprestado de forma a ter competição que permita avaliar melhor as suas capacidades.
Marco Pinto é um jovem Guarda-Redes, com apenas 17 anos. Foi recrutado ao Sporting e é ainda uma incógnita. Apesar de se encontrar ainda em fase crescimento físico nota-se que é um guarda-redes baixo (1,77m) o que não é necessariamente impeditivo de poder vir a ser um grande guarda-redes. É apenas uma desvantagem à partida.
A curto prazo, diria pelo menos dois ou três anos não deverá haver necessidade de grandes alterações. Marco Aurélio, tirando alguma situação conjuntural que altere o cenário actual, apresenta condições para prolongar a sua carreira durante este período.
Mesmo não sendo uma prioridade imediata, este sector deverá merecer a melhor atenção durante esta e a próxima época para garantir a continuidade sem sobressaltos de um dos sectores mais críticos de uma equipa.
Defesa
Um problema se destaca ao analisar este sector. A ausência de uma voz de comando. É o sector proporcionalmente mais curto.
Outro problema que tem causado grandes dissabores é a ausência de um lateral esquerdo de raiz. Problema decalcado da equipa do ano passado em que apenas tínhamos Cabral e Sousa para as dobras. Outras soluções (Cristiano) falharam então redondamente. Este ano voltamos a repetir a gracinha. Aposta-se em Vasco Faísca, um central (talvez de boa qualidade) mas estará já mais que provado que não se faz um lateral esquerdo apenas porque é um bom central canhoto. A insistência nesta solução leva inevitavelmente ao “queimar” de um jogador (no caso, Faísca).
Alternativas possíveis com os jogadores disponíveis actualmente:
- Prescinde-se de Djurdjevic no meio campo (e se faz falta lá!) e o mesmo é recuado para lateral esquerdo,
- Utiliza-se Sousa nessa posição que, apesar do handicap ofensivo de não ser canhoto possui todas as qualidades de um bom lateral a que são somados uma excelente entrega e empenho. No jogo com o Rio Ave, em que aliás fez a sua estreia esta época, até ser injustamente expulso viu-se a vantagem de ter um verdadeiro lateral a jogar na esquerda da defesa.
- Por último, uma hipótese que me parece remota: Carlos Alves. Embora a sua chamada aos trabalhos da equipa principal e ao estágio de pré-época fizesse prever uma maior aposta, não o tem sido.
Assim, e como o campeonato é uma longa maratona, parece-me que se impõe a contratação de um defesa esquerdo. Quanto a centrais e considerando Faísca central (e pode ser bom central recuperada a confiança e corrigido o seu posicionamento) não me parece que seja necessário contratar mais nenhum jogador para essa posição.
Meio-Campo
O meio campo mais defensivo é composto por 3 guerreiros: Rui Ferreira, Sandro e Pinheiro. Embora este último se tenha vindo a apresentar ainda muitos furos abaixo do valor que lhe é reconhecido, especialmente num dos pontos em que é considerado forte: o remate de meia distância e a alta disponibilidade física.
Quanto ao meio campo mais ofensivo, temos dois elementos, Silas e José Pedro, a que se junta (proveniente do ataque) mais um que me parece poder exercer funções mais recuadas: Fábio Januário.
Quanto a Silas diria que dos poucos jogos em que alinhou me pareceu ser um jogador com bom toque de bola e de grande capacidade técnica. No entanto o reduzido número de jogos em que actuou na sua posição - médio ofensivo – (terá jogado em algum?) não favoreceu o seu rendimento. Para mim é o único jogador que temos válido para a posição de organizador de jogo - a mais importante função no terreno no meu entender.
José Pedro é um jogador com um bom pé esquerdo, mas parece sempre muito relutante em utilizá-lo. Não é um lutador nem um criativo no verdadeiro sentido da palavra. Quando de posse de bola e sendo pressionado é praticamente incapaz de ultrapassar o adversário em drible ou corrida. Se o resto da equipa adversária pressionar os restantes elementos do nosso meio-campo o jogo pára. Não é também médio ala esquerdo. Não tem características físicas para isso. A sua verdadeira posição no campo estará por descobrir. Por mim começava a procurá-la no banco e à medida que for melhorando no empenho e nas capacidades físicas e mentais poderia ser introduzido aos poucos em função das necessidades/oportunidades. Agora deixá-lo em campo, a “organizar” jogo é meio caminho andado para não ter fio de jogo. Raramente pressiona e nunca se mostra “patrão” do meio-campo.
Médios ala no sentido clássico apenas temos um jogador: Djurdjevic. Não tem simétrico.
Em termos de necessidades, neste sector tenho algumas dúvidas. Possivelmente e dado a propensão para as lesões que Silas apresenta e a completa e repetida incapacidade de José Pedro para ser um organizador de jogo eficaz não é de descurar um jogador para essa posição. Apesar de Fábio Januário ainda não ter feito um único jogo completo nessa posição e poder ser alternativa. Será a prioridade nº 2 no meio-campo.
A prioridade nº 1 será a contratação de um verdadeiro médio direito que faça de facto a ala direita ao mesmo tempo que apoia e cobre as subidas de um lateral como é Amaral em forma. Algo que Ahamada não creio que seja e a Paulo Sérgio não lhe deve apetecer ser.
Equilibraria o que podemos ter no lado esquerdo com Djurdjevic caso este tivesse um lateral esquerdo a sério nas “costas”. Isto é algo que depende muito do que o novo técnico pretender implementar como sistema preferencial.
Ataque
É curto. Temos apenas um (1) ponta de lança clássico. A que se junta um avançado móvel – Meyong – que faz também de ponta de lança mas que não pode nesse papel ser o único em jogo.
O que sobra? Três extremos (Fábio Januário, Paulo Sérgio e Ahamada) que nunca serão avançados no sentido clássico do ponta de lança, quanto muito poderão ser o segundo avançado com um ponta de lança na frente mas mesmo assim nenhum deles apresenta características para isso, talvez à excepção de Ahamada que não foi testado ainda nessa posição em jogos oficiais. Paulo Sérgio não o é certamente e Fábio Januário apresenta muitas características de centro-campista. Aliás, pela sua entrega e capacidade de trabalhar com ambos os pés recorda-me um jogador que tivemos há cerca de 15/16 anos – Macaé. Recordam-se?
Prioridade nº 1 no ataque: contratação de um Ponta-de-lança. Necessidade agravada pelo facto da muito provável convocação de Meyong para representar a selecção camaronesa na Taça das Nações Africanas, a decorrer no Egipto de 20 de Janeiro a 10 de Fevereiro de 2006.
O conjunto
Distribuição no terreno
Como se pode observar pela figura seguinte, o plantel apresenta uma mobilidade e polivalência, pelo menos no campo teórico, bastante apreciável.
Legenda
As setas representas as posições alternativas de um determinado jogador
Os jogadores cujo nome está a branco (em fundo azul escuro) são os que considero titulares. No caso da seta mais espessa significa que estarão em posição alternativa e não na sua original.
Os jogadores com fundo a verde são juniores (no caso, de primeira época).
Claro que a imagem anterior representa apenas o preenchimento das posições no campo, numa visão estática. A movimentação da equipa nos processos de jogo não pretende aí estar representada.
No que temos observado até à 8ª jornada, esta equipa não tem sido pressionante, nem no meio campo ofensivo nem no defensivo. Não procura a posse de bola de forma insistente. Não age, reage.
No aspecto ofensivo e ao contrário do que se poderia adivinhar pelo sistema utilizado normalmente (4-3-3 ou 4-2-3-1) não é uma equipa que saiba utilizar ofensivamente as alas. Porquê? Pela esquerda, não sobe o lateral (normalmente Vasco Faísca, que não o é) e não tem tido com regularidade um extremo esquerdo que defenda. Pela direita, porque Amaral tem estado muitos furos abaixo do esperado e permanece sem auxílio consistente do respectivo extremos.
Outra das razões para a falta de coesão defensiva deve-se à distância entre sectores. Existe por norma muito espaço entre a defesa e o meio-campo quando atacamos e exactamente o contrário entre o ataque e o meio campo quando recuperamos a posse de bola (normalmente quando o adversário a perde). Aliás, o nosso meio-campo, habitualmente sem Silas na construção, além de não ser fantasista nem muito técnico (pois ou jogava como extremo ou esteve lesionado) tem sido muito lento e mostrado ser incapaz de pegar no jogo. O resultado todos conhecemos, pontapé da defesa para o ataque que normalmente está entregue a um desacompanhado Meyong.
Por estas razões parece-me que o problema não estará tanto nos jogadores e na sua qualidade mas sim no modo como a equipa, em conjunto, se comporta em campo.
A confiança
Quando vejo o próprio Marco Aurélio, muito hesitante em certas jogadas e noutras ficando muito longe do que lhe é reconhecido por todos, pergunto-me o que se passará na realidade por detrás desta aparência de normalidade.
Um jogador experiente para mais um guarda-redes tem na sua defesa o seu apoio ou o seu factor de estabilidade ou instabilidade. É frequente ouvir (melhor na TV) Marco Aurélio a orientar a defesa, fazendo uso da sua larga experiência (positivo) e da ausência de um patrão na defesa.
A instabilidade ou hesitação que por algumas vezes patenteou devem-se, quanto a mim, ao estado geral anímico da equipa (não sei se físico também) mas acima de tudo por ainda não estar totalmente identificado com todos os elementos que compõem a defesa ou, simplesmente, por não haver uma relação de confiança.
Apesar de falhas isoladas continua a ser um baluarte, um símbolo e uma referência para a equipa.
Factor psicológico
Há para mim uma época da nossa história, que vivi, que é para mim um paradigma da importância deste factor no rendimento de uma equipa: 1988/89.
Esta época iniciou-se com um treinador reputado, de uma escola irrepreensível, com títulos conquistados, inclusive em Portugal ao serviço de um rival: John Mortimore.
Os primeiros jogos apresentaram um Belenenses sólido do ponto de vista defensivo e com uma equipa a jogar bem e em entreajuda em contra-ataque puro. Naquele tempo jogavam futebol pelas alas.
Mas de repente, após a histórica eliminação do então detentor da Taça UEFA, o Bayer Leverkusen, a equipa decaiu de tal forma que não houve outra hipótese que a de despedir o treinador. Regressou então Marinho Peres que foi capaz de refazer o pote dos cacos que encontrou e levar a equipa à vitória na Taça de Portugal.
Infelizmente o nosso novo treinado não poderá alcançar feito similar. Talvez até já seja muito improvável o atingir do objectivo europeu. Mas mesmo para ter uma época tranquila terá de ser capaz de recuperar mentalmente estes jogadores e, restituindo-lhes a confiança, introduzir uma mentalidade conquistadora nos que ainda não a têm.
Para mim serão esteios da equipa, nesse aspecto, Marco Aurélio, Sousa, Rui Ferreira e, pelo exemplo que dá em campo, Meyong. Fábio Januário possivelmente também, embora o tempo de observação efectivo seja menor em virtude da sua menor utilização. Não se pode acusá-lo de falta de garra sempre que entrou em jogo (normalmente com a equipa já a perder).
Jogadores a recuperar são muitos:
Em pior estado: Pelé (displicente), Amaral (displicente e desconcentrado), José Pedro (tenho dúvidas que alguém o consiga recuperar em atitude competitiva) e Paulo Sérgio (especialmente ao nível da inteligência durante o jogo e da confiança no 1 para 1).
A seguir: Pinheiro, Rolando, Ahamada, Silas e Ruben Amorim. Talvez Ricardo Araújo também, mas sendo novo no futebol português deve ser de mais fácil recuperação.
Sandro, Gaspar e Djurdjevic não me parecem que precisem de especiais cuidados.
O novo treinador
É sempre uma incógnita. Estatisticamente, no entanto, está demonstrado que as “chicotadas psicológicas” não produzem o efeito desejado a médio prazo. Mas também é verdade que isso depende em muito da dificuldade dos objectivos das equipas e da qualidade dos plantéis.
Apesar disso acredito que a qualidade técnica dos jogadores deste plantel “obriga” a um melhor desempenho colectivo desde que os respectivos processos sejam devidamente treinados e rotinados. Parece-me que esta terá sido a grande pecha.
Na visão de adepto, mais uma vez, há uma expressão recorrente: “Fio de Jogo”. Algo que não vemos há algum tempo.
Esperemos que o novo treinador consiga não só a recuperação psicológica mas também a implementação de um modelo de jogo.
Que traga também hábitos de trabalho e de preparação de jogos e antecipação de cenários e que os treine no campo até à exaustão, para que os jogadores saibam o que fazer nas diversas situações de jogo, especialmente nas adversas como por exemplo em desvantagem numérica. Creio firmemente que o trabalho a efectuar com os jogadores não se esgota no campo. E aqui reside hoje em dia muitas das razões do sucesso ou insucesso de uma equipa.
Conclusão
A identificação de necessidades que introduzi deve ser tida em conta na pressecução dos objectivos iniciais – classificação para um lugar nas competições europeias. Há excepção do lateral esquerdo e do ponta de lança, imprescindíveis de qualquer das formas.
Infelizmente a situação actual obriga a interpor uma fase intermédia (antes que possamos voltar a falar nisso de UEFA e “rumos europeus” até porque gorada está a “via Taça”). A duração desta fase (imprevista) depende em muito da resposta a dar pela equipa sob nova orientação. Diria, sem grande preocupação de contas que três ou quatro vitórias, com um empate/derrota na Luz, nos próximos 5 jogos restaurariam a confiança e a tranquilidade classificativa.
A prioridade agora será restaurar a confiança através de pontos, pontos e mais pontos. Precisamos deles como de pão para a boca. Já! Só depois voltaremos a poder falar de outros voos.