quarta-feira, 16 de novembro de 2005

Neste dia, em . . .

1889 – Nascimento de Artur José Pereira

Nota Introdutória

Lembrar a vida de Artur José Pereira não significa apenas recordar a vida do principal fundador do Belenenses.

Significa também, e principalmente, recordar a alma e a mística dos que souberam materializar o sonho dos “rapazes da praia”: fundar um grande clube de futebol em Belém, local onde tinham nascido e viviam grandes futebolistas que as circunstâncias da vida tinham levado a jogar por outros clubes.

Artur José Pereira resumiria este sentimento de orgulho e de independência, partilhado por todos os que o seguiram na aventura da fundação de um novo clube desportivo, através duma pergunta lapidar:
Somos todos de Belém, porque havemos de jogar pelos outros?



O Nascimento de uma Estrela

Artur José Pereira nasceu em Lisboa, na zona de Belém, em 16 de Novembro de 1889, faz hoje precisamente 116 anos. Oriundo de uma família humilde, Artur José Pereira assistiu desde criança aos primeiros passos do futebol em Portugal, visto que não muito longe da casa onde vivia com a família (Rua do Embaixador) era frequente a realização de animados encontros de futebol, envolvendo as mais destacadas equipas e os mais conhecidos praticantes daquele tempo.

Com efeito, a partir de 1892, data da conclusão das obras da Praça de Touros do Campo Pequeno – até então, o local privilegiado para a prática de futebol na cidade de Lisboa – o terreiro em frente ao Palácio de Belém (futura Praça Afonso de Albuquerque), a praia de Belém (em frente ao Mosteiro dos Jerónimos) e as Terras do Desembargador (próximo das Salésias) eram locais onde se disputavam jogos de futebol entre várias equipas daquela zona, entre as quais se distinguiam a dos alunos da Casa Pia e a dos ingleses da Companhia do Cabo Submarino (Carcavelos Football Club). Assim, é natural que o futebol tenha passado a ser rapidamente o desporto favorito de muitos jovens da zona de Belém, entre os quais se encontrava certamente aquele que viria a ser o principal fundador do Belenenses.

Os dados existentes permitem afirmar que, durante os seus tempos de criança e adolescente, Artur José Pereira terá dedicado muito mais tempo e atenção ao futebol do que aos estudos. É sabido que ele possuía poucos anos de instrução escolar – supõe-se que terá completado o equivalente ao actual 5º ano de escolaridade obrigatória.

Não se sabe exactamente com que idade o jovem Artur começou “oficialmente” a jogar futebol, mas é certo que desde cedo revelou arte e talento para a modalidade, tendo muito provavelmente integrado várias equipas da zona de Belém antes de atingir os 18 anos.
Entre estas equipas destacava-se a do Sport Lisboa, fundado em Fevereiro de 1904, na Farmácia Franco, situada na Rua de Belém. Segundo rezam as crónicas, Artur José Pereira fez parte da equipa de futebol do Sport Lisboa, na qual se estreou em 22 em Março de 1908 (com 18 anos apenas).
No entanto, o Sport Lisboa iria durar pouco tempo como clube autónomo, dado que, ainda em 1908, a maior parte dos seus jogadores passaram a integrar um novo clube chamado Sport Lisboa e Benfica, resultante da fusão do Sport Lisboa com um clube da zona de Benfica (Grupo Sport de Benfica).



A Confirmação de um Grande Jogador

Artur José Pereira acompanhou essa “emigração” dos jogadores de Belém para Benfica e, em Setembro de 1908, já pertencia à equipa principal do Sport Lisboa e Benfica, a qual viria a disputar o seu primeiro Campeonato de Lisboa na época de 1908/1909. Desta equipa faziam parte alguns vizinhos e amigos do jovem Artur, entre eles Henrique Costa e Alberto Rio, que onze anos mais tarde viriam a integrar o Clube de Futebol “Os Belenenses”.

Artur José Pereira destacou-se, desde logo, como um jogador de grande categoria e a ele o Benfica ficou a dever, em larga medida, a conquista (na época de 1909/1910) do primeiro Campeonato de Lisboa que, na altura, era a principal competição nacional de futebol.

Em 1911, Artur José Pereira foi escolhido para integrar uma selecção da Associação de Futebol de Lisboa que se pode considerar a precursora da Selecção Nacional de Futebol, visto que nela participavam os melhores futebolistas portugueses (os quais jogavam em clubes de Lisboa). A referida selecção efectuou em 1913 uma digressão pelo Brasil, tendo Artur José Pereira causado uma excelente impressão como grande jogador de futebol e como homem de comportamento cívico exemplar, o que lhe mereceu vários convites para jogar no Brasil.

Ao serviço do Benfica, Artur José Pereira conquistou 4 Campeonatos de Lisboa (nas épocas de 1909/1910, 1911/1912, 1912/1913 e 1913/1914), possuindo já nesta altura o estatuto de verdadeiro ídolo, não só em Lisboa como também no resto do país.

No entanto, tornava-se notório que Artur José Pereira não manifestava grande satisfação por jogar no Benfica, mostrando descontentamento pelo facto deste clube se afastar progressivamente da ligação original a Belém. Sabe-se que Cosme Damião, fundador e figura máxima do Sport Lisboa e Benfica, não privilegiava essa ligação a Belém (embora ele próprio fosse antigo jogador do Sport Lisboa). Esta circunstância terá ocasionado algum atrito entre os dois homens e terá sido a causa principal da transferência de Artur José Pereira para o rival Sporting, que entretanto o convidara a ingressar nas suas fileiras.

Na qualidade de jogador do Sporting, mais uma vez se tornou evidente a classe extraordinária de Artur José Pereira. Com efeito, logo na primeira época (1914/1915) ao serviço do seu novo clube, Artur José Pereira sagrou-se outra vez campeão de Lisboa, título que o Sporting nunca antes tinha conquistado. Na época de 1918/1919, o Sporting volta a ganhar o Campeonato de Lisboa e Artur José Pereira junta mais um título ao seu brilhante palmarés (6 vezes campeão de Lisboa).

Nesta altura, com 29 anos, ainda na plena posse das suas faculdades como jogador, Artur José Pereira terá decidido que não abandonaria a sua carreira de futebolista sem antes cumprir um desígnio que o acompanhava há vários anos...



A Realização de um Desígnio

Decorria o Verão de 1919. Meses antes terminara a 1ª Grande Guerra Mundial, que trouxera terríveis perdas humanas e materiais para a humanidade. A paz voltava a tornar possível a esperança e o sonho. Em Belém, na Praça Afonso de Albuquerque, num banco de jardim, Artur José Pereira reuniu um conjunto de amigos, jogadores de futebol como ele, residentes na zona de Belém como ele, propondo-lhes a realização de uma ideia simples: fundar um clube de futebol, ali em Belém, onde eles tinham dado os primeiros passos como jogadores de futebol, onde eles tinham aprendido a amar a modalidade em contacto com aquelas gentes belenenses, pioneiras do futebol do povo.

Após a realização de outras reuniões com mais participantes e após ter sido obtido o apoio de algumas individualidades consideradas bastiões da tradição futebolística da zona de Belém, cerca de um mês depois daquela histórica reunião num banco de jardim, em 23 de Setembro de 1919, foi oficialmente fundado um novo clube desportivo denominado Clube de Futebol “Os Belenenses”.

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É interessante assinalar que, ao contrário de muitos outros clubes da época, o Belenenses adoptou, desde o início, palavras portuguesas na sua designação, evitando os termos ingleses que então eram comuns nas actividades ligadas ao fenómeno desportivo (como, por exemplo, Sport, Club ou Football). Até neste pormenor o Belenenses marcou desde logo a diferença...

Por outro lado, não restam dúvidas de que, na concepção de Artur José Pereira, o Belenenses devia ser acima de tudo um clube de futebol, embora aberto à prática de outras modalidades. Mais ainda, um grande clube de futebol que pudesse lutar, de igual para igual, com os grandes rivais de Lisboa: o Benfica e o Sporting. Foi este o desígnio do principal fundador do Clube de Futebol “Os Belenenses”.



O Jogador e o Treinador do Belenenses

A primeira Assembleia Geral do Clube realizou-se em 2 de Outubro de 1919. Artur José Pereira, homem avesso a protagonismos, teve nela um papel discreto, contribuindo para as decisões como um simples participante da reunião. Sucedeu, contudo, um facto em que ele desempenhou um papel decisivo. Os presentes na Assembleia pretendiam atribuir-lhe o número 1 de sócio do Belenenses, o que seria perfeitamente lógico e natural em face de todas as iniciativas que tinha desenvolvido para fundar o Clube. Artur José Pereira recusou essa distinção e fez questão que tal honra coubesse ao seu amigo Henrique Costa (também fundador do Belenenses), argumentando que a qualidade de sócio nº 1 devia ser atribuída ao mais velho. Ele, Artur José Pereira, ficaria como sócio nº 2. Este episódio, revela bem o perfil humano do principal fundador do Belenenses: à coragem, à determinação, à nobreza de carácter dos grandes homens, Artur José Pereira adicionava a modéstia e a simplicidade...

O primeiro jogo oficial do Belenenses realizou-se a 8 de Novembro de 1919, contra o Vitória de Setúbal (Taça Associação). A equipa azul foi constituída nesse jogo pelos seguintes jogadores: Mário Duarte (guarda-redes), Romualdo Bogalho, Carlos Sobral, Francisco Pereira, Artur José Pereira, Arnaldo Cruz, Aníbal dos Santos, Edmundo Campos, Manuel Veloso, Alberto Rio e Joaquim Rio. O orientador da equipa era, naturalmente, Artur José Pereira (naquele tempo não existia a figura de treinador propriamente dito, verificando-se a existência de jogadores-treinadores em quase todas as equipas). De notar que, para além da amizade que unia todos estes homens, as ligações familiares nesta primeira equipa do Clube eram bem evidentes: Francisco Pereira era irmão de Artur José Pereira e Joaquim Rio era irmão de Alberto Rio...

Foi só em 1920 que o Belenenses defrontou, pela primeira vez, os seus grandes rivais lisboetas, em partidas a contar para o Campeonato de Lisboa. Assim, em 21 de Janeiro, os azuis jogaram contra o Benfica no campo do Stadium (no Lumiar), tendo o Belenenses vencido por 2-1. Em 18 de Abril, o Belenenses defrontou o Sporting no Campo Grande (campo do Sporting), tendo a equipa de Belém vencido o jogo por 1-0 (com um golo de Artur José Pereira). Para um clube que tinha sido fundado poucos meses antes, foi aquilo que se pode considerar um começo auspicioso. O sonho de Artur José Pereira tinha pernas para andar...

Durante os primeiros tempos de vida do Clube havia um curioso hábito entre os adeptos do Belenenses, referido num artigo escrito por um grande belenense chamado Homero Serpa (felizmente ainda vivo). Com a devida vénia, transcrevemos a seguir uma parte desse artigo.

Nos anos vinte o telefone era um objecto raro. Morava em poucas residências e era sinal de bom nível de vida. Os trabalhadores só sabiam que ele existia. O que é certo é que quando o Belenenses ia jogar fora de portas, os adeptos juntavam-se à porta da casa do defesa Azevedo à espera dos resultados. Aos domingos, depois das cinco, lá estavam eles, formando um grupo de expectantes cidadãos de cruz ao peito, aguardando as novidades. Por fim, lá chegava o mensageiro alado, um pombo correio que trazia o desfecho do jogo encerrado na anilha.

A propósito deste mesmo tema, o jornal “Eco dos Sports” escrevia, em Maio de 1927, um interessante artigo, do qual apresentamos seguidamente algumas passagens.
Já nos referimos aos pombos que a rapaziada de Belém larga em pleno azul, após as suas vitórias. Hoje fazemos mais. Apresentamos o pitoresco duma fotografia em que se vê o popular Azevedo, findo o jogo com o Benfica, abrir as mãos e atirar para a imensidade a boa nova num pombo correio que levava o amável segredo da vitória. Bilhete curto, de caligrafia comovida e nervosa, ele aí vai pelos ares fora, sobre o coração da ave, pronto a tornar-se em foguetes e vivas... Ganhámos! Uma palavra apenas, a saber a risos e lágrimas. A gente de Belém, à maneira antiga e desprezando os telefones, contenta-se assim, lá de longe, a olhar o céu atenciosamente...
Lá vem! Lá vem! Não, não é ainda... Às vezes são gaivotas vadias que vêm em raids por terra e iludem os que esperam...

Entardecera já. Ficara combinado largar um pombo ao primeiro golo e quando acabassem os noventa minutos, mas o céu ainda estava virgem das asas brancas da boa nova. Belém desesperava. O desafio estava dado como perdido. Todos se olhavam com tristeza. E quando, finalmente, com a sua fidelidade generosa, o pombo surgiu, ninguém queria acreditar.

Ganhámos! Ganhámos! Ganhámos!...

São assim os entusiastas do grupo da praia. Querem ao seu clube como se quer a uma pessoa de família. Amam-no e comovem-se com os seus triunfos. Choram e afligem-se com as suas derrotas. Quando acaba um jogo, em Belém há sempre lágrimas.
O Belenenses é um clube popular por excelência. O seu entusiasmo, sincero e comovedor – cheio de ingenuidade, talvez – é assim, enorme, parecendo um gigante de alma primitiva que envia pombos para os céus com a intenção de oferecer ao mundo inteiro as notícias das vitórias...


No entanto, a rápida ascensão do Belenenses para a ribalta do futebol não agradou a muitos. Começaram a aparecer na imprensa ataques aos jogadores e ao Clube, como aconteceu, por exemplo, num artigo publicado em Novembro de 1920, na revista “Football”, no qual os jogadores do Belenenses eram tratados de modo depreciativo devido às suas origens humildes e à sua pouca instrução – Artur José Pereira, o principal fundador do Clube e o seu jogador mais famoso, era disso a prova viva. Os dirigentes e alguns ilustres apoiantes do Belenenses reagiram de modo firme e categórico ao conteúdo de tais artigos e, pouco tempo depois, os editores das publicações em causa mudaram o tom das suas intervenções sobre o Clube de Belém, passando a considerá-lo um clube “popular” e não de gente arruaceira e delinquente como até então. Esta é uma boa lição que a história do Belenenses oferece aos dirigentes e adeptos do nosso tempo...

Em Novembro de 1921 surgiu um novo conflito, que envolveu directamente Artur José Pereira. A União Portuguesa de Futebol – antecessora da Federação Portuguesa de Futebol – divulgou a lista de jogadores convocados para aquele que viria a ser o primeiro jogo oficial da Selecção Nacional. Nessa lista estavam incluídos três jogadores do Belenenses: Artur José Pereira, o seu irmão Francisco Pereira e Alberto Rio. Surgiram então algumas vozes – envolvendo, ao que parece, “ilustres” figuras ligadas ao Benfica e ao Sporting – que constestaram a justiça da convocatória dos jogadores azuis, insinuando que se tratava de jogadores em final de carreira, sem condições para representar dignamente a Selecção Nacional. Os principais meios de comunicação social deram grande eco a tais declarações (já naquele tempo era assim!), reforçando a ideia defendida pelos senhores do “sistema”... A reacção do Clube e, em particular, dos três jogadores visados, não se fez esperar. Sob proposta de Artur José Pereira, a Direcção do Belenenses enviou uma carta à Associação de Futebol de Lisboa, assinada pelos três elementos convocados, na qual estes pediam, de modo irónico mas extremamente correcto, escusa da nomeação para o jogo da Selecção Nacional. E foi assim que um dos mais notáveis jogadores portugueses de todos os tempos não representou a Selecção Nacional uma única vez... De referir que, nesse primeiro jogo internacional, a Selecção Portuguesa, “reforçada” com a ausência dos jogadores do Belenenses, perderia com a congénere espanhola por 3-1...

No final da época de 1921/1922, Artur José Pereira, então com 32 anos, considerou que estava concluído o seu papel como jogador de futebol. Disputou o último jogo oficial em 26 de Março de 1922, curiosamente contra o Sporting, clube donde saíra três anos antes para dar corpo ao sonho da sua vida...

No entanto, o talento de Artur José Pereira iria continuar a manifestar-se, agora como treinador de futebol. Nos 15 anos seguintes (até 1937), ele foi o treinador de todas as equipas de futebol do Belenenses e foi o grande responsável por uma série impressionante de êxitos desportivos que o Clube teve nesse período. Efectivamente, com Artur José Pereira nas funções de treinador, o Belenenses conquistou 4 Campeonatos de Lisboa (em 1925/1926, 1928/1929, 1929/1930 e 1931/1932) e 3 Campeonatos de Portugal (em 1926/1927, 1928/1929 e 1932/1933).

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Além disso, Artur José Pereira teve a responsabilidade de descobrir e formar muitos jovens talentosos que viriam mais tarde a ser jogadores de grande craveira, de tal modo que o Belenenses era considerado, naqueles tempos, uma verdadeira “fábrica de jogadores de futebol”. Quando aparecia em Belém um jovem que mostrava potencialidades para o futebol, era comum afirmar-se que “este tem o dedo do Artur”. Este sentimento generalizou-se de tal forma que, nos meandros do futebol português, Artur José Pereira passou a ser tratado por “Mestre Artur”. Entre os talentos descobertos pelo Mestre Artur destacou-se um jovem franzino que, tal como ele, tinha nascido e crescido em Belém, chamado José Manuel Soares (Pepe)...

Em 1937 Artur José Pereira adoeceu e, por recomendação médica, deixou as funções de treinador, retirando-se para uma recatada vida doméstica. Terminava, assim, a carreira desportiva de um homem ímpar, como jogador e treinador da modalidade a que se dedicou com paixão durante uma vida inteira: o futebol.

Ao percorrer a vida de Artur José Pereira, não se pode deixar de constatar a tremenda força do seu palmarés desportivo. Com efeito, na qualidade de jogador, conquistou 6 vezes o título de campeão de Lisboa (recorde-se que, naquele tempo, o Campeonato de Lisboa era a mais importante competição de futebol existente em Portugal); na qualidade de treinador do Belenenses, conquistou 4 Campeonatos de Lisboa e 3 Campeonatos de Portugal. Nunca mais existiu na história do Belenenses alguém cujo palmarés se aproximasse sequer deste, mesmo sem considerar os 15 anos (!) consecutivos de treinador...

E, já agora, fica a pergunta: em toda a história do futebol nacional, quantos jogadores e treinadores portugueses conseguem apresentar currículo semelhante?

Muitos jornalistas e pessoas ligadas ao futebol referiram-se mais tarde a Artur José Pereira de modo particularmente elogioso, realçando as suas virtudes como jogador notável e como grande conhecedor de futebol. Tavares da Silva, jornalista e seleccionador nacional, disse dele:
Artur José Pereira nunca estudou o jogo pelos livros ou pelo ensino do treinador, mas conhecia o futebol como ninguém. Foi precursor do jogo moderno, adivinhando por intuição e por instinto tudo o que dizia respeito à táctica e execução.

Cândido de Oliveira, responsável pela fundação do Casa Pia Atlético Clube, seleccionador nacional, fundador do jornal “A Bola” e sucessor do Mestre Artur como treinador do Belenenses (durante a época de 1937/1938), escreveu sobre Artur José Pereira:
Possuía qualidades em que nenhum outro jogador o igualou, a maior de todas definida pela atitude artística. Era completíssimo, perfeitamente ambidextro e com potente remate com os dois pés; jogava primorosamente de cabeça, era um driblador estupendo, tudo isto valorizado por uma combatividade e uma coragem sem limites. Foi um autêntico revolucionário do jogo, imaginando soluções, criando conceitos e sistemas tácticos que mais tarde haveriam de chegar até nós trazidos por técnicos e livros estrangeiros.

Perante tudo o que atrás ficou dito, apetece-nos repetir a pergunta de Mário Duarte (o primeiro guarda-redes do Belenenses): “Que maior e melhor fundador poderia ter o nosso Clube?



Um Pedido em Epílogo

Artur José Pereira faleceu em 6 de Setembro de 1943, pouco antes de completar 54 anos, vítima da doença que o atacava há vários anos (tuberculose).

Em Agosto de 1927, o Clube atribuiu a Artur José Pereira a distinção de “Sócio de Mérito” (foi o Sócio de Mérito nº 2, já que o Sócio de Mérito nº 1 foi o seu amigo Henrique Costa – sócio nº 1 do Clube por “imposição” de Artur José Pereira).

Em Agosto de 1940, Artur José Pereira foi distinguido como “Sócio Honorário”.

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Em Dezembro de 1942, o Belenenses realizou uma grande homenagem a Artur José Pereira.

Em Março de 1945, foi decidido instituir o dia 6 de Setembro como o “Dia da Saudade Belenense”, no qual passou a ser feita, todos os anos, uma romagem ao túmulo de Artur José Pereira.

No ano 2000, foi construído um Mausoléu, no cemitério da Ajuda, onde passaram a repousar os restos mortais de Artur José Pereira (juntamente com os de Pepe e Matateu).

Estamos no final de 2005. Durante 2006 irão ser comemoradas diversas efemérides, entre as quais os 50 anos do Estádio do Restelo. Não seria então uma excelente altura para finalmente satisfazer o pedido feito por Acácio Rosa aos dirigentes do Clube, em Maio de 1991, relativo ao fundador do Belenenses? (passamos a citar):
Artur José Pereira é a figura que encarna a mística do Clube durante várias décadas. Os beléns, a juventude de hoje, a família dos velhos e dos novos que se orgulham de pertencer, de lutar e de sofrer pelo Belenenses, têm a obrigação moral de prestar culto de amor e gratidão a este Homem. Que à entrada do nosso Estádio se coloque a figura, o busto de Artur José Pereira, que diga aos beléns de hoje e de amanhã: Foi este o belenense que deu a todos nós o ideal que apaixonadamente vive nos nossos corações



Nota dos Editores:
Este artigo sobre Artur José Pereira teve o contributo de um amigo cujo nome não foi mencionado, a seu pedido. Para ele o nosso muito obrigado.