sexta-feira, 18 de novembro de 2005

O Euromilhões e o Futuro do Belenenses

Um dos assuntos que tem estado na ordem do dia na net azul, é o amadorismo que ainda se pratica no dirigismo desportivo nacional e no Belenenses.

Torna-se cada vez mais difícil gerir clubes e SADs com orçamentos de milhões de Euros por pessoas amadoras, que com o seu inegável amor à camisola, fazem inúmeros sacrifícios a nível familiar, pessoal e também profissional, para poder dedicar algum do seu tempo à sua paixão, neste caso o Belenenses.

Em relação à nossa SAD, desde a primeira Assembleia Geral que tenho votado sempre contra as propostas das sucessivas direcções no sentido de não remunerar os seus administradores. São pessoas como nós, necessitam de trabalhar para viver, e têm algumas, várias, despesas no desempenho da sua missão. Por isso, gerindo uma equipa de futebol profissional, com um orçamento superior a 6 M €, em que o mínimo erro, eliminação da Taça na 1ª eliminatória, por exemplo, pode trazer prejuízos económico-financeiros incalculáveis, não faz sentido que os seus administradores não sejam, também eles, profissionais a 100%, pagos para produzir resultados. Não estão em causa os actuais, passados ou futuros administradores, nem eles seriam mais belenenses se fossem pagos, mas certamente teriam uma maior disponibilidade para a sua função e um maior grau de exigência. Numa Sociedade Anónima, os administradores têm de prestar contas aos seus investidores, têm de gerir o dinheiro investido e nada mais lógico do que serem pagos para o (bem) fazer. Se eles quiserem, ou não, aceitar o dinheiro, isso já será um problema de cada um...

Quanto ao Clube, do meu ponto de vista, o caminho tem de ser o mesmo. Diminuir o número de Vice-Presidências e profissionalizá-las, ou criar uma rede de directores profissionais a responder directamente a esses Vice-Presidentes

Tanto no Belenenses, como no dirigismo desportivo em geral, torna-se cada vez mais difícil encontrar pessoas com tempo, disponibilidade pessoal e, sobretudo, financeira, que se possa aventurar neste mundo do dirigismo do nosso Clube.

Quantos de nós já não pensámos com os nossos botões, “ah, se fosse eu que mandasse fazia isto e não fazia aquilo, se eu fosse o presidente ia buscar o treinador A e mandava embora o B, se eu fosse o responsável pelo futebol ia buscar aquele jogador, etc...”

Mas depois chegamos sempre à mesma conclusão, durante o dia eu preciso de trabalhar para viver e sustentar a família, à noite quero chegar a casa e estar com a minha mulher e brincar com os meus filhos, ao fim-de-semana gosto de ir à praia ou passear no campo. E ainda por cima para me insultarem se a bola bater no poste ou o árbitro não marcar um penalty? Eu nunca me vou meter “naquilo”.

E os dirigentes do Belenenses? São pessoas como nós. Também trabalham para viver, também têm família e filhos, também perdem o seu pouco tempo livre para estar no Restelo a trabalhar para o Belenenses. Como podem executar bem as tarefas imprescindíveis ao engrandecimento do nosso Clube? À noite, depois de um dia de trabalho? Como podem buscar as melhores soluções para Crescer, Inovar e Vencer? Ao fim-de-semana, desleixando a família, os amigos, o seu próprio tempo livre?

É necessário que se mude a mentalidade no nosso Clube por forma a perceber que um dirigente remunerado no nosso clube, não é alguém que vai para lá para “sacar” dinheiro ao Clube, mas sim alguém que necessita de tempo e de condições para poder produzir um trabalho eficaz e rentável.

Antigamente os presidentes eram os mecenas, que muitas vezes injectavam o seu próprio dinheiro nos clubes, a maioria dos quais empresários, com uma disponibilidade, sobretudo a nível de tempo, maior. Esse tempo já lá vai.

Hoje temos de mudar estas mentalidades. Podemos e devemos, temos obrigação disso, criticar e apresentar propostas e soluções, mas não nos podemos esquecer de tudo o que estes dirigentes perdem por amor ao Belenenses. De tudo o que eles, e as suas famílias, sofrem, ouvindo muitas vezes críticas e insultos gratuitos. Urge por isso mudar esta situação.

Até lá vamos esperar que saia, a mim ou a qualquer um de nós, o Euromilhões, para que possamos ter essa disponibilidade, dar 100% de nós ao Belenenses, porque o Belenenses não merece menos do que 100% do nosso tempo e do nosso esforço.

P.S.: Não, não me estou a, nem me vou, candidatar a nada. Poderia fazê-lo, como qualquer sócio na plena posse dos seus direitos, tenho 39 anos de associado e uma tradição familiar nesse sentido. Mas só se me saisse o Euromilhões, o que, como todos nós sabemos, é muito, muito difícil. Fiquem por isso tranquilos.