quinta-feira, 24 de novembro de 2005

Sobreviver

Há um mês atrás, mais precisamente a 26 de Outubro, logo depois da eliminação frente ao Desportivo de Aves, escrevi o que se segue:

“Meu Deus...

O Belenenses não é isto!

Isto não é o Belenenses que eu conheci!

Isto é ‘uma apagada e vil tristeza’. A caricatura, a macaqueação patética do grande, enorme, digno, nobílissimo, heróico e épico clube que fomos.
O Belenenses não é isto! A Cruz de Cristo está vergada...

Quando a prudência se tornou impotência, transforma-se numa enorme imprudência, numa irresponsável negligência.

Se não sabem, perguntem a quem sabe.

Se não querem perguntar a quem sabe, vão-se embora.

Se não querem ir-se embora, se não querem mandá-los embora, declarem que querem acabar com o futebol.

Se não querem declarar que querem acabar com o futebol, acabem-no ao menos com uma réstea de nobreza. Não deixem para as brumas da memória a imagem desta agonia patética.

O Belenenses não é isto! Se tiver que acabar, que conservemos ao menos uma memória digna.

Que, ao menos, o que resta do que foi o clube de Artur José Pereira e Augusto Siva, Pepe e Amaro, seja capaz de travar a última batalha. Que, ao menos, reunamos força para, se caso for, morrermos com dignidade’.


No dia seguinte, escrevemos também isto:

“À hora a que escrevemos estas linhas, 12 horas de quinta-feira, 27 de Outubro, não sei o que vai decidir a Direcção. Para nós, já devia estar determinado na cabeça de todos. Carvalhal deve sair, com dignidade e respeito, e há bastante que deve haver um treinador definido para o substituir. (...) Mas, por favor – e ao contrário de algumas sugestões – não tragam um Carvalhal II, mesmo que aureoleado por doutorices ou supostas semelhanças com Mourinho. Porque diabo é que há-de ser um treinador português? Para vir com o vício ‘O Belenenses é um clube que paga bem, certo e a horas, dá prestígio e ao mesmo tempo aqueles bananas até com um 10º lugar se contentam’? Não, muito obrigado. Não quero nenhum português, neste momento. Vamos buscar um estrangeiro de garra, que não contemporize nem tenha atitude de subserviências e que, se houver tentativa de revolta de jogadores que não querem trabalhar, tenha todo o apoio dos dirigentes (ao contrário do que aconteceu com o muito digno Bogicevic, já agora). (...) De acordo com novos desenvolvimentos, parece que, tal como eu temia, vem aí José Couceiro. Considero asneira da grossa. Pessoalmente, acho-o igual a Carvalhal e pior do que Inácio. É o perfeito perfil para um Belenenses amorfo e cinzento. Espero estar enganado. Espero muito estar enganado. Mas acho que isto vai acabar de uma maneira muito triste...”.

Ao reler isto, parece-me bastante actual e certeiro. Terrivelmente certeiro! Tristemente certeiro! E repito, espero e desejo estar muito enganado, totalmente enganado.

O que está em causa, não parece já ser uma época feliz.

O que está em causa, não é já só evitar uma nova e sempre dolorosa descida de divisão.

O que está em causa é a sobrevivência do Belenenses, enquanto clube de futebol, tal como (alguns de nós) o conhecemos. É um clube terrivelmente debilitado, como nunca esteve, que vai travar esta batalha desesperada e quiçá derradeira, com uma hoste esfrangalhada, desmoralizada, desorientada, buscando em vão generais de pulso forte e voz de comando. Basta olhar para o terreno de jogo, para as bancadas, para os camarotes...

Convençamo-nos disso, todos, para que, mais tarde, a consciência nos não acuse de não termos estado presentes, de termos sido omissos, tíbios e cobardes no momento da verdade. Se morrermos, que seja em combate! Se morrermos, que seja com dignidade! Se morrermos, que seja vestidos de azul!

E se sobrevivermos, que se renasça para uma nova vida! Mais do mesmo, não, por favor!