terça-feira, 29 de novembro de 2005

Sociedade Filarmónica e Recreativa do Restelo

Aquilo que todos nós conhecemos até hoje, ou talvez até há algum tempo atrás, já não existe. O Clube de Futebol “Os Belenenses”. Deu lugar à Sociedade Filarmónica e Recreativa do Restelo.

Pode parecer chocante aquilo que eu estou a escrever, mas a que outra conclusão posso chegar? Vejamos porquê:

O número de sócios tem vindo a diminuir dramaticamente de ano para ano e nada é feito para combater esse mal. Durante as campanhas eleitorais somos inundados em casa com mailings das listas candidatas, mas chegados ao poder os nossos dirigentes são incapazes de enviar uma única carta para casa de associados e ex-associados, a questionar o porquê do seu abandono, seja o de pagamento de quotas, seja o de participação activa nas diversas actividades do Belenenses. O argumento é que é... muito caro. Claro que o pagamento de uma só quota chegaria para enviar cerca de 40 cartas, mas isso é pormenor. Com a agravante de uma grande maioria actualmente desses sócios o serem apenas e só para a utilização das piscinas.

A assistência aos jogos do Belenenses no Restelo é aquilo que todos nós vemos, ao nível duma 3ª Divisão, ou mesmo distrital. Em vez de se tomarem medidas nesse sentido, e de divulgar as que foram tomadas, como por exemplo a QSU, ou a redução do preço dos bilhetes (lá está, a tal carta aos sócios e ex-sócios), achamos que está tudo bem, que o facto de os jogos serem todos transmitidos na Tv, no Inverno, a chover, com bastante frio, e a horas impróprias (horas estas derivadas à transmissão televisiva), não tem influência nenhuma, se o Belenenses fosse em primeiro lugar tínhamos o Estádio cheio. Como se isso fosse possível. O quê? As duas coisas, o Belenenses ir em primeiro lugar e termos o Estádio cheio. Um Clube de Futebol não vive de ses, vive de realidades. E a realidade é que estamos em 15º lugar do Campeonato e no último jogo estariam cerca de 500 pessoas a assistir, 50 das quais da claque adversária, vinda da Madeira. Mas para os nossos dirigentes, não há problema. Estádio vazio é uma questão secundária, o importante é o dinheiro da SportTv. Porque, meus amigos, se fôssemos em primeiro lugar, tínhamos o Estádio cheio...

O jantar Anual de Gala do Clube consegue ter muito mais gente do que os jogos da equipa de futebol no Restelo. A que conclusão chegamos? As pessoas estão muito mais motivadas para irem a jantares, socializarem, verem um espectáculo de variedades do que em assistir a uma partida de futebol do seu Clube no seu Estádio.

O jornal do Belenenses é entregue aos adeptos (300 a 400) da Bancada Central Poente, aqueles, únicos, que já sabem de cor e salteado o que lá vem escrito, os resultados passados, etc. Aos outros, que moram longe, que não têm hipótese de ir ao Restelo, que trabalham, e muitas vezes não conseguem lá estar aquelas horas ridículas de jogo, a esses o jornal não chega. Pelos vistos, também não é preciso.

Neste momento vão ao Restelo assistir aos jogos, 400 a 500 sócios do Belenenses, 200 a 250 interessam-se e participam na Net Azul, os restantes são “velhotes” que não têm acesso a estes novos meios de comunicação. Ou seja, praticamente metade da assistência de um jogo no Restelo comunica regularmente entre si. É um clube de amigos, ou conhecidos.

Durante os “espectáculos” de futebol no Restelo, ao frio, à chuva, a horas absurdas, a dias ridículos, ouvimos um “animador”, qual feira de província com os últimos hits da música pimba, que não conhece os gritos da equipa, frequentemente se engana nos jogadores, quando deveria estar ali para animar as hostes. E ganha dinheiro para isso.

A Fúria Azul, claque de apoio à equipa de Futebol em todos os momentos, está agora bem mais afastada do relvado e dos restantes sócios, talvez para aproveitar melhor o eco que faz aquele Estádio vazio.

Impingem-nos agora, um equipamento “retro-moderno”, que faz parecer que todos os jogadores tenham mais 10 quilos, com uma cor absolutamente deslavada, ao qual se comete a ofensa a José Manuel Soares de se chamar Pepe, que dificilmente valeria mais de 5 Euros na Feira de Carcavelos.

O Presidente da Assembleia Geral do Clube de Futebol “Os Belenenses”, figura hierárquica nº 1 do Clube, desde que tomou posse, eu ainda não o vi num único jogo da equipa principal de futebol do Clube. E conheço-o bastante bem, visto ter trabalhado com ele durante três anos.

O Presidente da Direcção conhece e cumprimenta, acto salutar, todos os espectadores que assistem aos jogos no Restelo, o que só reflete as fraquíssimas assistências que temos nos jogos.

Os Administradores da SAD, que gerem um orçamento de 6,5 M€, e têm ao seu serviço entre 40 a 50 profissionais, são amadores, reformados, ou alguém com um pouco de disponibilidade para estar no Restelo. Não são remunerados, porque têm de lá estar por amor à camisola. O Director-Geral, figura de proa entre os profissionais, não abre a boca, ninguém sabe o que pensa ou o que faz. Entra mudo e sai calado, como se todas as crises, desportivas, de resultados, de exibições, de bilheteira, etc, lhe passassem ao lado. Não deve ser nada com ele, isso de gerir o futebol é para os Administradores, amadores, que lá estão.

No meio de tudo isto, temos umas modalidades ditas “amadoras”, que lá vão dando umas alegrias e que justificam o grande ecletismo do Clube.

Temos também um Conselho Geral, composto por homens que serviram o Belenenses no passado e por outros que tendo um cartão do Belenenses, têm como maior cartão de visita uma actividade partidária, no espectro da Assembleia da República, da esquerda à direita. Conselho Geral este que não se ouve quando se fala do decréscimo do número de sócios, das assistências no Restelo, das quebras das receitas do Bingo, do tão prometido projecto imobiliário ou do afundamento da equipa na tabela classificativa. Enfim, pormenores de somenos importância, para gente tão atarefada.

Depois temos os blogs, que com a sua actividade diária, têm mais visitas do que os jogos no Restelo. Os almoços organizados por estes blogs são uma extensão do convívio em dias de jogo. Meia-dúzia de fanáticos, todos nós, que lá nos vamos vendo de 15 em 15 dias. Conhecemo-nos todos uns aos outros e rara é a vez em que aparece lá um “estranho”.

Por tudo isto dificilmente podemos continuar a considerar o Belenenses como um clube de futebol. Uma Sociedade Filarmónica, basta ouvir a música e o “speaker” em dias de jogos, e Recreativa, tantas são as actividades desenvolvidas pela Sociedade, os convívios, almoços e jantares, organizados, agora Futebol, muito pouco ou nada.

Até quando?

Cabe-nos a nós decidir.