domingo, 4 de dezembro de 2005

BELENENSES, 1 - Nacional, 0: Crónica e Comentário

Contra tudo e contra todos. Uma vitória de raiva

Vou honestamente tentar que daqui saia uma crónica com pés e cabeça. Mas é difícil.

Vamos por partes.

Primeiro a vergonha de arbitragem a que assistimos.
A revolta que me vai na Alma é tão grande em relação à arbitragem que, se esta crónica fosse falada em vez de escrita ninguém me conseguiria ouvir. Fiquei praticamente sem voz a seguir ao nosso golo.

É possível isto? É, dirão. E com razão. Um árbitro assim se não está comprado então é muito amigo e solidário com a causa insular. Como é possível uma tal dualidade de critérios. Como é possível que tenhamos sofrido tantas faltas da mesma forma que o Pelé levou um amarelo e nenhum dos nacionalistas tenha sido admoestado igualmente?

Como é possível marcar faltas beneficiando o infractor e em situações em que de posse de bola estamos em boa posição de perigar as redes adversárias? Como é possível que um energúmeno destes consiga sair do Restelo pelo seu pé e sem assistência médica ou escolta policial?.

Se a generosidade se estendesse aos árbitros assistentes, que em contraste me pareceram sérios, nem o Meyong e o seu golo milagreiro nos salvaria, tal foi a vontade de Paulo Costa em que o Nacional não perdesse.

A este propósito transcrevo as palavras de Barros Rodrigues, presidente da SAD, em conferência de imprensa após o jogo:

Já me viram aqui protestar contra as arbitragens depois de perdermos, mas penso que as arbitragens devem ser analisadas nos bons e nos maus momentos. O que se viu aqui esta noite foi uma verdadeira vergonha. Vimos uma arbitragem tendenciosa. O critério dos cartões amarelos foi absurdo e penalizou os dois jogadores do Belenenses que estavam em risco de não jogar em Setúbal. Coincidência? O Belenenses quer deixar aqui o seu profundo desagrado com a arbitragem de Paulo Costa. Já ouvi falar em jarras e acho que o Paulo Costa devia ser metido numa jarra, mas com uma tampa selada, para sempre. Assim, a arbitragem em Portugal não vai a lado nenhum, é um verdadeiro escândalo”. Escândalo é o mínimo que se pode dizer. Desde já me prontifico a colaborar na criação de um fundo de suporte a este tipo de multas.

Só que desta vez a habilidade do árbitro não serviu de nada. Porquê? Porque fomos equipa. Não fomos brilhantes, nem sequer estivemos bem. Mas notou-se que a solidez defensiva a retoma no meio-campo defensivo é de facto uma realidade.

Tivemos no entanto grandes dificuldades na criação de jogadas com pés e cabeça que pudessem levar mais vezes perigo à baliza do Nacional.

Sejamos honestos. O Nacional veio jogar para o ponteco. Estacionou o autocarro. Não em cima da baliza, mas um pouco mais frente. Dominou o jogo no seu meio-campo. Confesso que esperava um Nacional mais afoito na busca do golo, a fazer jus ao lugar que ocupam na tabela classificativa.

A táctica era inteligente. Manuel Machado (da mula para os amigos – não sou um ingrato que me lembre o favor que nos prestou a 8/5/2004) é um treinador inteligente. Viu o jogo da Luz. E, com a preciosa e inesperada (?) ajuda do amigo Paulo Costa lá foi empastelando o jogo. É verdade que sofremos em algumas ocasiões. Mas ainda na primeira parte a grande ocasião é nossa com o remate de Meyong em resposta a cruzamento da esquerda de Ruben Amorim a passar ligeiramente sobre a barra e todos os presentes a gritar já golo.

O ataque do Nacional resumiu-se às iniciativas de Miguelito pelo flanco esquerdo. Poucas.
Couceiro mexeu na equipa trocando o infeliz e pouco inteligente Paulo Sérgio por Romeu e 8 minutos mais tarde refrescando o meio-campo com Pinheiro no lugar do esgotadíssimo Fábio Januário. Este homem sai seco de tanto suar em campo. Mas sinceramente nada se alterou apesar destas mudanças.
Quando já ninguém acreditava eis que surge o milagre dos Camarões. Cruzamento da esquerda para o primeiro poste, onde surgiu Meyong a rematar para golo salvo por Emerson. Só que Meyong não desiste da jogada e mesmo no chão põe os pés à frente do alívio de Ávalos (julgo que tenha sido este caceteiro), e a bola anichou-se nas redes para gáudio dos Belenenses. Foi um grito de raiva. Raiva contra a máfia do futebol português, raiva contra a malapata que nos perseguia desde 19 de Setembro e raiva para tanta inépcia que tivemos noutras ocasiões.
O Manel bem podia pôr as mãos na cabeça.

A partir daí só deu Belém, Belém, Belém, nos 5 + 3 minutos finais. Com toda a assistência a gritar e apoiar a equipa e a exorcizar os males de jornadas anteriores.

Estamos de volta às vitórias. Oxalá que seja para continuar.


Ficha de Jogo


Assistência: Cerca de 2000 espectadores.

Belenenses:
Marco Aurélio; Amaral, Pelé, Rolando e Vasco Faísca; Ruben Amorim (José Pedro, 82’) e Rui Ferreira; Paulo Sérgio (Romeu, 60’), Silas e Fábio Januário (Pinheiro, 68’); Meyong.
Suplentes não utilizados: Marco Pinto, Sousa, Gaspar e Djurdjevic.

Nacional:
Diego; Emerson, Ricardo Fernandes e Ávalos; Patacas, Cléber, Chainho, Bruno (Chilikov, 85’) e Miguelito; Goulart (Serginho Baiano, 80’) e André Pinto (Nuno Viveiros, 74’).
Suplentes não utilizados: Hilário, Emerson, Alonso e Anic.

Disciplina:
Cartões amarelos para Paulo Sérgio (43’), Rolando (65’), Pelé (67’), Meyong (71’) e Marco Aurélio (84’).

Marcadores:
Meyong (86’).


Análise individual aos jogadores

Marco Aurélio (3): Inseguro e menos mandão na pequena área do que é costume. Há bolas que têm de ser dele e ele não sai de entre os postes. Na área tem de mandar ele. Mas não comprometeu.

Amaral(3): Fisicamente alinda longe das prestações da época passada. Miguelito passou por ele algumas vezes. Tentou apoiar o ataque tendo-o conseguido algumas vezes com sucesso. Tem de melhorar. O Belenenses precisa do Amaral da época passada: Na máxima força.

Pelé (4): Bem no jogo aéreo e já com confiança para sair com a bola nos pés em direcção ao adversário, bem suportado por Rui Ferreira.

Rolando (4): Assim como Pelé, nota-se um acréscimo de confiança. Já saem com a bola controlada investindo sobre o meio-campo e causando desequilíbrios. A subir

Vasco Faísca (2): O costume. Mais uma vez fora do lugar e inépcia ofensiva total. A nota não é mais baixa pois entregou-se ao jogo e defendeu quase sempre bem. De um lateral (que não este) pede-se muito mais em termos ofensivos.

Rui Ferreira (4): A garra que nos faltava no meio campo. A encostar aos centrais quando um deles investe sobre o meio-campo adversário, excelente a cortar linhas de passe e a recuperar a bola. Bem na entrega. Parece outro meio-campo, embora ainda longe do que se pretende. Rui Ferreira é só um.

Ruben Amorim (2): Não teve grande influência no jogo ofensivo, mas lutou o que pôde. Nota negativa pois parece-me que ainda está abaixo do nível requerido, embora com tendência (parece-me) que para subir de rendimento.

Fábio Januário (3): O esforço e entrega habituais mas sem conseguir pegar no jogo com a frequência necessária a quem tentou fazer de Médio Organizador. Faz um trabalho de vai-vém perfeitamente desgastante. Chega a ser brutal. Quando sai substituido é por exaustão.

Silas (3): Que faz este homem encostado a uma ala, ainda por cima uma ala sem lateral que apoie? Que ganhe confiança de forma a poder ser o nº 10 definitivamente. Desequilibrou com os seus dribles a equipa adversária algumas vezes e nota-se que fisicamente está muito melhor. Oxalá que não se lesione de novo. Parece em franco crescimento.

Meyong (4): Muito lutador e interveniente, mas nem sempre bem servido ou acompanhado. Melhorou com a entrada de Romeu. O golo da vitória nasce da sua insistência e teimosia profundas. Emerson trava-lhe uma bola com selo de golo e ele não baixa os braços “cai” sobre Ávalos bloqueando a tentativa de alívio e levando a bola para dentro da baliza nacionalista.

Paulo Sérgio (2): Outro esforçado, mas claramente abaixo do que se tem visto até ao jogo da Luz. Espero que apanhe a boleia da equipa no caminho ascendente e retome a confiança e garra que vinha demonstrando. Uma nota mais apenas. O futebol também precisa de inteligência para ser bem jogado. Não precisa de um curso superior, mas um bocadinho de inteligência (na falta da intuição e esperteza) dá um jeitão. Em vez de dar uma biqueirada, enquanto podia na direcção da baliza escolhe atirar-se para o chão recebendo o amarelo que o deixa de fora no próximo jogo. Se calhar até é melhor assim.

Romeu (3): Haja a coragem de pôr este homem de início mais vezes ao lado de Meyong. Um lutador nato! Ganha quase sempre as bolas de cabeça e entrega-as frequentemente em condições a quem estiver próximo. Merece mais tempo em campo.

Pinheiro (1): Entrou a substituir Fábio Januário (esgotado) e cumpriu na cobertura de espaços. Tentou empurrar a equipa mas não é de facto um jogador de características adequadas à organização de jogo. Parece, apesar de tudo que estará melhor ao nível de confiança que lhe permite meter o físico e disputar as bolas com um muito maior à vontade. O curto período de 22 + 3 minutos que cumpriu não é suficiente para avaliar melhorias de índices físicos que noutras ocasiões nos pareceram bastante débeis.

José Pedro (1): Pouco tempo em campo. Em 11 minutos (8 + 3) não deu para avaliar o jogador. Espero no entanto que a cura de banco lhe faça bem.

José Couceiro (3): Bem no refrescar do meio campo se bem que algo tardio na substituição de Paulo Sérgio. Romeu deveria ter entrado mais cedo. Liberta Meyong e de que maneira. Uma lição para Setúbal.


Comentário

Não posso deixar passar sem referência a excelente ideia (não sei quem teve mas merece um abraço) da faixa “Belém até morrer” que os jogadores seguraram mesmo antes do jogo começar virados para a bancada dos sócios. São ideias excelentes desta que aproximam os jogadores do público e que fazem com que nos sintamos parte do esforço colectivo. Os meus parabéns.

Uma nota para o futuro. Mantenha-se a coesão defensiva e o Rui Ferreira no meio-campo. Funciona bem e dá estabilidade ao resto da equipa. Mas é tempo de Silas se assumir como patrão do meio-campo e chegar-se ao centro. Djurdjevic na esquerda e Fábio pela direita e Romeu e Meyong na frente e temos equipa para marcar golos.

Agora segue-se o Setúbal num jogo cheio de tradição. Continuem a partir os recordes alheios é o que lhes desejo. Desta vez foi o Nacional que nunca tinha perdido fora de casa, nem sequer sofrera golos. Para a próxima que seja o esboroar da defesa menos batida da Europa nesta altura.

Desculpem mas hoje não consigo terminar sem gritar:

BELÉM, BELÉM, BELÉM !!!