Tudo começou após algumas conversas com o meu amigo Pedro Guedes da Silva. Essas conversas, as primeiras, tiveram como suporte o meio virtual em voga na época, os newsgroups. Viemos a conhecer-nos pessoalmente depois, por ocasião de uma Assembleia Geral do Belenenses, de má memória, aliás. Foi por essa altura que o Pedro decidiu criar a Mailing List. Foi já há um bom par de anos...
A Mailing List foi o primeiro fórum público de discussão de temas relacionados com o Clube, o “local” onde os belenenses de “fora” tiveram a veleidade de ensaiar os primeiros e tímidos passos na participação na vida do Clube. Cumpriu o seu papel: permitiu a formação e crescimento de um grupo de pessoas interessadas no seu Clube e proporcionou-lhes um “espaço” para se exprimirem; deu os seus frutos: criou uma espécie de consciência colectiva e mostrou a muitos belenenses que não estavam sozinhos nas (então ainda relativamente bem povoadas) bancadas do Restelo. Hoje ainda se mantém e, pela minha parte, espero que continue de boa saúde ou, pelo menos, com a saúde possível. Mas está em decadência.
Essa queda, ou “saída de moda”, se preferirmos, aconteceu em grande parte por culpa da sua própria evolução natural. Talvez cansados, ou insatisfeitos, com a exiguidade de um espaço que lhes permitia apenas trocar breves impressões, alguns frequentadores da Mailing List, a que se vieram juntar elementos oriundos de outros quadrantes, decidiram partir para nova aventura. Nasceram os blogues.
O fenómeno bloguístico tem vindo a crescer desde há alguns anos no ciberespaço e a sua expansão à área dos adeptos do Belenenses era inevitável e, por que não, desejável. Em pouco mais de dois anos apareceram vários blogues azuis que desenvolveram a sua actividade de formas variadas. Existe hoje um punhado de blogues afectos ao Belenenses, cada um dos quais com a sua “personalidade” própria. Há blogues de responsabilidade pessoal, outros editados por grupos de entusiastas coerentes, ou nem tanto. Há blogues mais ou menos “temáticos”, outros mais generalistas. Há blogues “populares”, outros mais intimistas. Há blogues com salas de visita (também conhecidas por “haloscan”) muito concorridas, outros mais isolados. Enfim, quantidade e variedade é o que não falta.
Como “filha natural” da Mailing List, sendo um espaço maior, mais reflectido e, supostamente, mais responsável, a Blogosfera rapidamente veio consolidar as qualidades e os defeitos da sua progenitora.
É inegável que, nos primeiros tempos, a blogosfera aumentou a tal consciência colectiva de que falei, proporcionou a muitos dos seus participantes um meio de reflexão sobre o seu Clube que os levou a conhecê-lo com uma profundidade que, de outro modo, lhes seria inacessível. Teve mesmo o mérito de, sendo um meio virtual, construir a realidade em que um grande número de belenenses hoje vive. De facto, conhecemos agora muitos dos nossos companheiros de aventura que, continuariam ilustres desconhecidos, não fora a porta real que esse meio virtual nos abriu. Foi esse o grande sucesso da blogosfera azul. Infelizmente, o único.
Do ponto de vista pessoal, conservarei uma eterna gratidão por este fenómeno. Tenho hoje a felicidade de contar entre os meus Amigos algumas pessoas que conheci por esta via. Obrigado, blogosfera azul. É uma mais valia inestimável, um enriquecimento da minha vida pessoal. O Clube não poderá dizer o mesmo...
No crescimento natural e inevitável que sofreu, a blogosfera azul rapidamente se tornou numa bola de neve que tudo quis incorporar no seu caminho e acabou, ela própria, por se deixar incorporar noutras bolas de neve, sem disso se dar conta atempadamente. Embriagada por esse crescimento, adquiriu uma dimensão que não conseguiu, não consegue, nem conseguirá controlar. Abriu espaços para a criação de “lobbies”, gerou anticorpos, alimentou lutas fratricidas. Foi este o seu primeiro efeito perverso. Perdeu a inocência!
Este efeito perverso abriu caminho ao mais perverso de todos eles, que levou a blogosfera azul à perversão total: deixou-se contaminar. Na voracidade do crescimento a qualquer preço, a blogosfera não conseguiu avaliar sua própria dimensão, perdeu o auto-controlo, foi corroída pela contaminação. A partir desse momento era impossível produzir qualquer contributo válido. Tinha falhado a sua missão, ainda que nunca tenha chegado a saber exactamente qual era. A contaminação é fatal, sobretudo quando o contaminante é o mais pernicioso de todos: o poder!
É evidente que um movimento deste tipo não tem necessariamente de ser um movimento crítico, uma oposição ao poder. Terá sido essa a filosofia que presidiu à sua génese, mas não tem que ser assim. Os blogues que apoiam o poder, seja ele qual for, quando o fazem de um modo consciente, honesto e fundamentado, têm toda a legitimidade para o fazer. Como têm os que o criticam, com base nos mesmos princípios éticos. O problema da blogosfera não está na sua posição em relação ao poder. A perversão da blogosfera consiste em se misturar com o poder, em se deixar envolver na indissolúvel bola de neve que este arrasta consigo.
Um exemplo concreto e bem significativo deste fenómeno ocorreu recentemente, aquando do último acto eleitoral no nosso Clube. Foi assunto muito discutido e comentado nos meios da própria blogosfera, de que todos estarão ainda certamente recordados, pelo que não será necessário entrar aqui em grandes pormenores. Conscientes da importância e da dimensão que a blogosfera azul adquirira já nessa época, as duas “forças” (chamemos-lhes assim) candidatas ao poder tentaram usar esse “trunfo” em favor dos projectos que ambas, legitimamente, defendiam. Uma não teve arte para o conseguir, considerando até, qual raposa ante um cacho de uvas inalcançável, que o movimento praticava actos de “intimidade ambígua” com a sua rival. A outra, a que veio a alcançar o poder (provavelmente, ou não, à custa do apoio da blogosfera, o que é irrelevante para a presente análise) logrou entrar na blogosfera e deixou que esta visitasse também o seio do poder. Estava consumada a perversão da blogosfera. E o poder, este ou outro qualquer, não é disso culpado. A blogosfera é a única culpada da sua própria perversão. O poder limitou-se a aproveitar, honesta e inocentemente, um erro a que foi alheio. O que só mostra a sua inteligência.
As pessoas que actualmente estão no poder no Belenenses exercem esse poder com toda a legitimidade, na sequência de um acto eleitoral que a ele as conduziu. Isso não está, nem poderá estar, de modo algum, em causa. O problema consiste apenas em não haver uma total independência entre a blogosfera e o poder. Tenham os blogues a tendência que tiverem. Seja o poder qual for.
Esta promiscuidade com o poder é o efeito perverso que aniquila todas as virtudes potenciais da blogosfera. Um movimento deste tipo tem de ser independente do poder. Pode criticá-lo. Pode apoiá-lo. Mas não pode inclui-lo.
Por mim, que também fiz parte deste movimento e, como tal, também sou culpado por aquilo em que ele se tornou, continuarei a participar e a desempenhar o meu papel. Porquê? Por razões “literárias”, se assim lhes posso chamar ou se assim me permitirem que lhes chame. Gosto de escrever, gosto de ler o que os outros escrevem, gosto de habitar um espaço comum, ou melhor, aquela parte desse espaço onde aqueles que o frequentam sabem respeitar o lugar do vizinho do lado. Só isso. Não espero nada da blogosfera azul. A sua perversão consumou-se. A blogosfera é uma massa tremendamente inerte que se alimenta a si própria e se alimenta de si própria. É um ciclo fechado, de onde nada se espera que saia e de onde ela própria não conseguirá sair.
Por isso, não tenho a veleidade de acreditar, muito menos a imprudência de sonhar, que a blogosfera azul possa produzir qualquer contributo válido para o futuro do Belenenses. Respeito o fenómeno em si. Saúdo fraternamente todos os companheiros que, neste espaço, sabem dizer o que pensam e sabem ouvir o que os outros pensam. Reconheço e aprecio a qualidade de algumas contribuições. Aceito todas as que são feitas de boa fé. Mas não alimento ilusões.
Não é a blogosfera azul que vai criar um novo Belenenses. Nem recuperar o antigo.
Saudações azuis.
A Mailing List foi o primeiro fórum público de discussão de temas relacionados com o Clube, o “local” onde os belenenses de “fora” tiveram a veleidade de ensaiar os primeiros e tímidos passos na participação na vida do Clube. Cumpriu o seu papel: permitiu a formação e crescimento de um grupo de pessoas interessadas no seu Clube e proporcionou-lhes um “espaço” para se exprimirem; deu os seus frutos: criou uma espécie de consciência colectiva e mostrou a muitos belenenses que não estavam sozinhos nas (então ainda relativamente bem povoadas) bancadas do Restelo. Hoje ainda se mantém e, pela minha parte, espero que continue de boa saúde ou, pelo menos, com a saúde possível. Mas está em decadência.
Essa queda, ou “saída de moda”, se preferirmos, aconteceu em grande parte por culpa da sua própria evolução natural. Talvez cansados, ou insatisfeitos, com a exiguidade de um espaço que lhes permitia apenas trocar breves impressões, alguns frequentadores da Mailing List, a que se vieram juntar elementos oriundos de outros quadrantes, decidiram partir para nova aventura. Nasceram os blogues.
O fenómeno bloguístico tem vindo a crescer desde há alguns anos no ciberespaço e a sua expansão à área dos adeptos do Belenenses era inevitável e, por que não, desejável. Em pouco mais de dois anos apareceram vários blogues azuis que desenvolveram a sua actividade de formas variadas. Existe hoje um punhado de blogues afectos ao Belenenses, cada um dos quais com a sua “personalidade” própria. Há blogues de responsabilidade pessoal, outros editados por grupos de entusiastas coerentes, ou nem tanto. Há blogues mais ou menos “temáticos”, outros mais generalistas. Há blogues “populares”, outros mais intimistas. Há blogues com salas de visita (também conhecidas por “haloscan”) muito concorridas, outros mais isolados. Enfim, quantidade e variedade é o que não falta.
Como “filha natural” da Mailing List, sendo um espaço maior, mais reflectido e, supostamente, mais responsável, a Blogosfera rapidamente veio consolidar as qualidades e os defeitos da sua progenitora.
É inegável que, nos primeiros tempos, a blogosfera aumentou a tal consciência colectiva de que falei, proporcionou a muitos dos seus participantes um meio de reflexão sobre o seu Clube que os levou a conhecê-lo com uma profundidade que, de outro modo, lhes seria inacessível. Teve mesmo o mérito de, sendo um meio virtual, construir a realidade em que um grande número de belenenses hoje vive. De facto, conhecemos agora muitos dos nossos companheiros de aventura que, continuariam ilustres desconhecidos, não fora a porta real que esse meio virtual nos abriu. Foi esse o grande sucesso da blogosfera azul. Infelizmente, o único.
Do ponto de vista pessoal, conservarei uma eterna gratidão por este fenómeno. Tenho hoje a felicidade de contar entre os meus Amigos algumas pessoas que conheci por esta via. Obrigado, blogosfera azul. É uma mais valia inestimável, um enriquecimento da minha vida pessoal. O Clube não poderá dizer o mesmo...
No crescimento natural e inevitável que sofreu, a blogosfera azul rapidamente se tornou numa bola de neve que tudo quis incorporar no seu caminho e acabou, ela própria, por se deixar incorporar noutras bolas de neve, sem disso se dar conta atempadamente. Embriagada por esse crescimento, adquiriu uma dimensão que não conseguiu, não consegue, nem conseguirá controlar. Abriu espaços para a criação de “lobbies”, gerou anticorpos, alimentou lutas fratricidas. Foi este o seu primeiro efeito perverso. Perdeu a inocência!
Este efeito perverso abriu caminho ao mais perverso de todos eles, que levou a blogosfera azul à perversão total: deixou-se contaminar. Na voracidade do crescimento a qualquer preço, a blogosfera não conseguiu avaliar sua própria dimensão, perdeu o auto-controlo, foi corroída pela contaminação. A partir desse momento era impossível produzir qualquer contributo válido. Tinha falhado a sua missão, ainda que nunca tenha chegado a saber exactamente qual era. A contaminação é fatal, sobretudo quando o contaminante é o mais pernicioso de todos: o poder!
É evidente que um movimento deste tipo não tem necessariamente de ser um movimento crítico, uma oposição ao poder. Terá sido essa a filosofia que presidiu à sua génese, mas não tem que ser assim. Os blogues que apoiam o poder, seja ele qual for, quando o fazem de um modo consciente, honesto e fundamentado, têm toda a legitimidade para o fazer. Como têm os que o criticam, com base nos mesmos princípios éticos. O problema da blogosfera não está na sua posição em relação ao poder. A perversão da blogosfera consiste em se misturar com o poder, em se deixar envolver na indissolúvel bola de neve que este arrasta consigo.
Um exemplo concreto e bem significativo deste fenómeno ocorreu recentemente, aquando do último acto eleitoral no nosso Clube. Foi assunto muito discutido e comentado nos meios da própria blogosfera, de que todos estarão ainda certamente recordados, pelo que não será necessário entrar aqui em grandes pormenores. Conscientes da importância e da dimensão que a blogosfera azul adquirira já nessa época, as duas “forças” (chamemos-lhes assim) candidatas ao poder tentaram usar esse “trunfo” em favor dos projectos que ambas, legitimamente, defendiam. Uma não teve arte para o conseguir, considerando até, qual raposa ante um cacho de uvas inalcançável, que o movimento praticava actos de “intimidade ambígua” com a sua rival. A outra, a que veio a alcançar o poder (provavelmente, ou não, à custa do apoio da blogosfera, o que é irrelevante para a presente análise) logrou entrar na blogosfera e deixou que esta visitasse também o seio do poder. Estava consumada a perversão da blogosfera. E o poder, este ou outro qualquer, não é disso culpado. A blogosfera é a única culpada da sua própria perversão. O poder limitou-se a aproveitar, honesta e inocentemente, um erro a que foi alheio. O que só mostra a sua inteligência.
As pessoas que actualmente estão no poder no Belenenses exercem esse poder com toda a legitimidade, na sequência de um acto eleitoral que a ele as conduziu. Isso não está, nem poderá estar, de modo algum, em causa. O problema consiste apenas em não haver uma total independência entre a blogosfera e o poder. Tenham os blogues a tendência que tiverem. Seja o poder qual for.
Esta promiscuidade com o poder é o efeito perverso que aniquila todas as virtudes potenciais da blogosfera. Um movimento deste tipo tem de ser independente do poder. Pode criticá-lo. Pode apoiá-lo. Mas não pode inclui-lo.
Por mim, que também fiz parte deste movimento e, como tal, também sou culpado por aquilo em que ele se tornou, continuarei a participar e a desempenhar o meu papel. Porquê? Por razões “literárias”, se assim lhes posso chamar ou se assim me permitirem que lhes chame. Gosto de escrever, gosto de ler o que os outros escrevem, gosto de habitar um espaço comum, ou melhor, aquela parte desse espaço onde aqueles que o frequentam sabem respeitar o lugar do vizinho do lado. Só isso. Não espero nada da blogosfera azul. A sua perversão consumou-se. A blogosfera é uma massa tremendamente inerte que se alimenta a si própria e se alimenta de si própria. É um ciclo fechado, de onde nada se espera que saia e de onde ela própria não conseguirá sair.
Por isso, não tenho a veleidade de acreditar, muito menos a imprudência de sonhar, que a blogosfera azul possa produzir qualquer contributo válido para o futuro do Belenenses. Respeito o fenómeno em si. Saúdo fraternamente todos os companheiros que, neste espaço, sabem dizer o que pensam e sabem ouvir o que os outros pensam. Reconheço e aprecio a qualidade de algumas contribuições. Aceito todas as que são feitas de boa fé. Mas não alimento ilusões.
Não é a blogosfera azul que vai criar um novo Belenenses. Nem recuperar o antigo.
Saudações azuis.