sexta-feira, 6 de janeiro de 2006

Neste dia, em . . .

1927 – Nasce Homero Serpa

Homero Serpa, jornalista, cronista, escritor. Nadador do Clube.

É uma figura conhecida e reconhecida do mundo do futebol, do desporto em geral e do jornalismo desportivo português em particular.

Belenense de sempre, a sua presença está indelevelmente marcada em dois momentos capitais da História do Belenenses.


A luta pela posse do Estádio do Restelo
Homero Serpa desempenhou uma parte muito importante, fundamental mesmo na campanha de imprensa desportiva (ao tempo esta ainda prestava de facto um serviço ao desporto) que levou à sensibilização do poder de então.
Não confundir esta questão, como o pretendem actualmente certos escribas da “praça” quando se referem ao Belenenses como o «clube do antigo regime», por ignorância ou por pretenderem criar uma cortina de fumo face ao escândalo a que assistimos actualmente. Nessa época o Belenenses era fortemente penalizado pelas entidades oficiais, como temos vindo a denunciar e demonstrar repetidamente, enquanto favorecia regiamente Sporting e Benfica. É ver a questão da saída forçada dos terrenos das Salésias em relação aos investimentos social e desportivo enormes que o Belenenses aí efectuou, sacrificando tantas vezes a sua própria capacidade competitiva por assim não poder dispor de meios financeiros suficientes, quando comparado com os ressarcimentos, subsídios e outras ajudas encapotadas que nessa mesma altura (e hoje ainda mais) foram dados a esses clubes que não deixaram obra feita nem nesse mesmo campo prestaram nenhum serviço à comunidade. Não é fanatismo, são factos provados.

Aliás a própria localização do Estádio do Restelo e os meios que consumiu que exauriu o Clube até à beira da falência é dessa postura hostil para com o Belenenses outro dos melhores exemplos.

Utilizando os meios ao seu dispor, Homero Serpa moveu ao longo de anos fortíssima campanha na imprensa denunciando toda a injustiça e diferença de tratamento aplicados ao Belenenses.

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Em finais de Novembro de 1968 Benfica e Sporting vêem os seus problemas resolvidos. Homero Serpa retrata assim a reunião camarária a que assistira (transcrita no “Factos Nomes e Números” 1960-84, 2º Volume 1ª parte, de Acácio Rosa):

O Município lisboeta quis que os colossos lisboetas do desporto ainda tivesses maiores probabilidades de o ser. O Benfica e o Sporting merecem essa atenção e merecem as palavras de confiança que lhes foram dirigidas.
Tudo isto está absolutamente certo. Mérito ao mérito. Entregar a quem merece receber. O Benfica e o Sporting, além do mais, têm uma população desportiva que representa alguns milhares de munícipes.
Mas existe qualquer coisa, no meio desta transacção, que soa a falso. E a pergunta torna-se inevitável: Então e os outros clubes? Nada fizeram pelo desporto? Foram sempre zero atrás de zero? A tal equipa dos “Magriços” só tinha jogadores do Sporting e do Benfica? As representações lisboetas têm estado sempre a cargo daqueles dois grandes clubes? Nenhuma outra colectividade de Lisboa, das mais conceituadas, trabalhou pelo futebol, pelo andebol, pelo atletismo, pela natação, pela ginástica? Ninguém é alguém nesta cidade sem ser os clubes que, muito justamente, foram distinguidos pelo «Totobola» municipal?
E o Belenenses, com 50 anos de anos de serviços prestados ao desporto, que ainda no mesmo dia em que a Câmara anunciava regalias aos seus adversários, chorava a possibilidade de dissolução? Esse clube formidável que pratica todas as modalidades, que ensina, por época, dezenas de crianças a nadar, utilizando um anacrónico tanque de regas, que apela constantemente para os seus atletas amadores ao ponto de lhes exigir a compra do seu próprio equipamento, que representa ele nesta cidade?
( . . . )
Justiça muito incompleta como incompleta é a estrutura desportiva, que assenta sobre areia, onde a obra grandiosa para «inglês ver» sempre se sobrepôs a um plano coerente de fomento desportivo.
Por isso, o »aprovo dos senhores vereadores escalou as diversas cadeiras da sala, senti que algo tinha ficado por dizer. Quanto mais não fosse uma piedosa mentira.

De «A Bola»


Este é apenas um pequeno exemplo da campanha que Homero Serpa levou a cabo e a que muitos outros jornais e jornalistas, incluindo do Norte do País, Brasil, etc., se juntaram engrossando o volume de um movimento inédito tendente à devolução do Estádio do Restelo ao Belenenses de modo a repor a justiça de tratamento face aos que tanto Sporting como Benfica (e F.C. Porto mais tarde) beneficiaram.

Eram, como já referimos, outros tempos em que os meios de comunicação social de facto pugnavam por valores do desporto e do desportivismo sem meramente servir os mais poderosos como actualmente se limitam a fazer.

Treinador da equipa de futebol na época de 1970/71
Com a saída de Joaquim Meirim, afastado que fora do comando técnico do Belenenses, o Clube encontrava-se em situação complicada na tabela classificativa.
Homero Serpa foi então convidado pela Direcção para o cargo de Director Técnico ao mesmo tempo que o guarda-redes Mourinho, ainda jogador, passaria a treinar também a equipa.

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O facto é que uma aposta de risco em momento complicado consegue livrar o Belenenses da má classificação que tinha e terminar em 7º lugar. Em reconhecimento, e sob proposta da direcção aprovada em Assembleia Geral, foi lavrado um louvor a esta dupla que nunca poupou esforços para levar a nau Belenense a bom porto.



1954 – Publica-se pela primeira vez o Jornal do Belenenses (anteriormente, Boletim)

Depois de quase 20 anos de publicação de um boletim, o Belenenses iniciou nesta data a publicação do seu jornal.

Era semanal, tinha 16 páginas, era distribuído aos sócios e vendido nas bancas. E era mesmo do Belenenses, sem nenhuma inusitada tendência para ser neutro e asséptico.

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Quarenta e cinco anos depois, não tínhamos jornal. Cinquenta e dois anos depois, temos um jornal com as mesmas 16 páginas mas que sai 9 ou 10 vezes por ano (em vez das 52 daqueles tempos) e que vai para as mãos de umas escassas centenas de pessoas (em vez dos muitos milhares daqueles tempos).

Quem são os velhos e os “novos” do Restelo?! Estranho: parece que os “velhos” estavam muito à frente no tempo – ou serão os “novos” que estão atrás?