1973 – Belenenses vence F.C.Porto por 2-0 e consolida a 2ª posição com 4 pontos de avanço sobre o 3º
Parece que foi ontem... e, no entanto, já passaram quase 33 anos desde a última vez que ficámos em 2º lugar.
Foi um tempo feliz. O Belenenses tinha uma grande equipa. Ao contrário da incapacidade a que hoje assistimos – de mão estendida para o que os nossos 3 velhos rivais lhes convenha emprestar-nos – éramos um clube capaz de ir à Argentina buscar um treinador como Alejandro Scopelli, nosso antigo jogador, homem pouco dado a exibicionismos mas sabedor e eficaz. Éramos capazes de ir buscar ao Brasil um goleador como Luís Carlos. Éramos capazes de trazer um jogador com a categoria de Gonzalez, graças a um protocolo com o Real Madrid. Éramos capazes de, em Portugal (aonde, porém, não nos restringíamos, como hoje), contratar jogadores como Mourinho ou Calado; de ir descobrir Freitas e Laurindo em África; de aproveitar a nossa formação, que produzia jogadores com o talento de Quaresma, Godinho, Murça e Pietra...
Durante esse campeonato, o Belenenses só conheceu 2 posições: o 1º lugar (duas primeiras jornadas) e o 2º (todas as restantes).
Este jogo com o F.C. Porto era bastante importante dado que, à rivalidade entre as duas equipas, acrescia o facto de o F.C.Porto, após um mau início de campeonato, estar a subir de rendimento, na sequência aliás de forte investimento em reforços. Por isso, apesar da chuva, havia o ambiente e a presença de público dos grandes jogos.
Forte e moralizado, o Belenenses – que tinha empatado por 1-1 em casa do adversário, na 1ª volta – obteve uma vitória convincente por 2-0, num jogo de grande qualidade.
A edição de A Bola de 15 de Janeiro de 1973, classificava assim o nosso triunfo: “Vitória empolgante à chuva e na lama” (ver imagem). Aurélio Março escrevia que tinha sido o melhor jogo de todo o campeonato, dada a exibição efectuada por ambas as equipas
O Belenenses alinhou com:
Mourinho; Murça, Calado, Freitas e Pietra; Quinito, Quaresma e Godinho (depois substituído por Parreira); Laurindo, Luís Carlos e Gonzalez.
Destes jogadores, 8 eram ou viriam a ser Internacionais A.
Os golos foram marcados aos 48m e aos 69m, ambos por Quaresma, e ambos de cabeça. Lembremos que Alfredo Quaresma tinha sido durante anos defesa central. Por sua vez, Calado era médio. Scopelli, num rasgo de génio, desde o início da época que trocou os dois. Os resultados foram excelentes: Calado, com a sua altura, limpava o jogo de cabeça na nossa área. Quaresma conseguiu como médio um destaque que nunca tivera como central. Marcou, inclusivamente, bastantes golos – nesta e na época seguinte, uns bons vinte – e chegou à selecção A.
Após esta vitória, à 18ª do total de 30 jornadas, o Belenenses estava em 2º lugar, só com uma derrota e com 4 pontos de vantagem sobre Sporting, então 3º classificado (ver tabela da já referida edição do jornal “A Bola”). O Benfica, em primeiro lugar, é que já estava longe, a 9 pontos.
De facto, o Benfica tinha então uma equipa fortíssima. Em Portugal dava-se ao luxo de comprar jogadores de que não necessitava, só para não jogarem nos seus rivais. Assim, acabou o campeonato com um grande avanço (ver imagem).
Não obstante, este 2º lugar do Belenenses deve ter assustado. Na época seguinte, alguma imprensa fez uma campanha incrível para nos desmoralizar. Na 1ª jornada, no Restelo, voltámos a vencer o F.C.Porto, no Restelo, por 1-0. A seguir, empatámos 1-1 em Guimarães. Espantosamente, começou a gritaria, matraqueada até à exaustão de que estávamos em crise... Crise, só por causa de um empate em Guimarães, a seguir a uma vitória sobre o Porto?! Há décadas que a máquina jornaleira de propaganda e de servilismo ao Benfica funciona em grande estilo, mesmo sendo verdade que o que se passa hoje é muito mais descarado e aviltante.