quinta-feira, 2 de fevereiro de 2006

Neste dia, em . . .

1967 – Eleição da Junta Directiva: Gouveia da Veiga, Acácio Rosa e Coelho da Fonseca

Em 1967 chegou-se à necessidade de eleger uma Junta Directiva e abandonar o sistema estatutário do Clube. Porquê?

Os Presidentes da Assembleia Geral, Juíz Gouveia da Veiga, da Direcção, Joaquim Mota da Silva e do Conselho Fiscal, Albano de Oliveira, estavam demissionários.

O Clube de Futebol “Os Belenenses” debatia-se com tremendas dificuldades financeiras e de dia para dia com menor número de associados.

A crise do Clube, que levou ao resgate do Estádio em 1961, que parecia ter solucionado a asfixiante situação económica, decorridos 5 anos, revelou novas e angustiantes preocupações.

O desiquilíbrio entre as receitas e as despesas das diversas Direcções, só atenuado com a cedência e venda dos seus melhores jogadores de futebol, Yaúca, Peres, Estevão, Palico, Abdul, etc., conduziria o Clube a tremendas dificuldades, a situação era terrivelmente deficitária e os sócios não chegavam a oito milhares.

Após o resgate de 1961, a dívida do Clube, de 2.550 contos, fora acrescida de 4.920 contos, sendo um total de quase 8.000 contos, se incluírmos a dívida à C. M. L. das taxas de aluguer do estádio. A reunião do Conselho de Presidentes propôs, como único meio de tentar solucionar a crise ou atenuar consequências mais nefastas, que o clube se subordinasse à orientação e administração de uma Junta Directiva.

Indicou para assumir a presidência dessa Junta ou a faculdade da sua constituição, o seu antigo presidente, Acácio Rosa.

A 2 de Fevereiro de 1967, na Assembleia Geral Extraordinária realizada no Pavilhão dos Desportos Náuticos, em Belém, é aprovada a “Junta Directiva” constituída pelo Juíz Gouveia da Veiga, como Presidente, e pelo Dr. Coelho da Fonseca e Acácio Rosa, como Vice-Presidentes, bem como a suspensão dos Estatutos. A Junta Directiva é aprovada por aclamação.

Do relatório final do trabalho da Junta, apresentado em Dezembro de 1969 à Assembleia Geral do clube pelo seu Presidente, realçamos os seguintes pontos:

Reequilíbrio Financeiro
Só foi positivo o último ano do exercício (1969), pois fechou com um lucro contabilístico de 1.814.079$50.

Passou-se do déficit ao superavit, o que nos valeu para a liquidação de obrigações e consequente redução do passivo do Clube e liquidaram-se 523.218$90 de dívidas à C. M. L. que se não encontravam contabilizadas, além de outras (Fundo de Desemprego, Caixa de Previdência e Imposto Profissional).

Mas como a Junta exerceu uma actividade global nos seus 3 anos de exercício, podemos dizer que nesse decurso de tempo a Junta teve um saldo de 960.978$04, que seria de 1.484.196$94, se não fora o caso acima apontado.


Recuperação do Património
Directamente coincidente com as comemorações dos primeiros cinquenta anos de vida do Clube, foi-nos devolvido, pela Câmara Municipal de Lisboa, o Estádio do Restelo, tendo-se lavrado a respectiva escritura em 31 de Dezembro de 1969. Mas a entrega já se efectivara em 18 de Setembro desse mesmo ano, enriquecendo-se o património do Clube com a sua mais preciosa jóia.

Aumento Associativo
"Pode afirmar-se que, neste campo, se travou a grande luta pela sobrevivência do Clube. Quando a Junta iniciou a sua actividade – como se acentuou já, em Janeiro de 1967 – o Clube tinha a sua massa associativa reduzida a 7.932 sócios.

Ao deixar o Clube – em Dezembro de 1969 -, e após os seus 3 anos de exercício, a massa associativa atingia o número recorde de 16.919 sócios.

Foi uma luta tenaz, dia a dia, em que se foi de casa em casa em Belém, se pediu aos sócios que alargassem o seu esforço aos filhos, mulheres e netos e, sobretudo, se tentou uma firme campanha de “readmissão” de todos os associados que, desiludidos ou maltratados, haviam abandonado o Clube.

E deu-se o “milagre” do afluxo, quase diário, de associados e de tal sorte que foi nessa “batalha de esperança” – como, então, se lhe chamou – que o Clube, efectivamente, se engrandeceu. E se não se foi mais além, deve-se em grande parte às dificuldades financeiras, que nos inibiram do lançamento de uma campanha em moldes mais vastos e pelos mais modernos meios de contacto com o público desportivo, aqui o especialmente visado.

Mas cresceu-se e de tal sorte que, estamos convictos, o Clube ultrapassará em breve os 20.000 associados e aproximar-se-á da sua verdadeira dimensão.
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Que rija têmpera a destes homens, que souberam tornar as dificuldades um desafio, que souberam transformar, em tempo de crise, um déficit crónico em superavit, resgatar o Estádio do Restelo de novo para a nossa posse e, mais importante do que tudo, já nessa altura tiveram a visão que só o crescimento da massa associativa podia alavancar o crescimento do Clube para a sua verdadeira grandeza.

Grande lição do passado, que bem podíamos utilizar no presente.

Obrigado Gouveia da Veiga, Acácio Rosa e Coelho da Fonseca.