terça-feira, 21 de março de 2006

Aprender enquanto é tempo

Nos últimos dois jogos, o Belém regressou ao seu estado natural – o de uma equipa forte, personalizada, que não perde, antes orgulha, os adeptos que tem e, quem sabe, ganha outros.

Uma equipa bem apoiada em casa e fora dela.

Os adeptos, por sua vez, passaram de bestas a bestiais.

Os que antes deixavam a sua equipa jogar ao abandono, num estádio gélido e sem emoções, são agora aqueles que o enchem e que viajam centenas de quilómetros para apoiar a equipa fora, sobrepondo-se, em apoio, ao público da casa.

Vejamos as coisas como elas, de facto, são: os adeptos do Belém estão numa alta, mas sempre apoiaram a equipa, mesmo quando as ondas de euforia foram escassas ou mesmo inexistentes.

Ainda este ano, em Setúbal, numa noite gélida, os adeptos lá compareceram em número bastante razoável, tendo puxado o mais que puderam, tendo agarrado em cada nesga para cantar “Belém, Belém, Belém”.

Até a conquista de um simples cantos servia! (na verdade, também pouco mais houve).
Há uma diferença abissal entre esse apoio residual-fanático e o apoio sólido que a equipa começou agora a receber. Mas o que interessa é pereceber como é que se chega a este estado, como é que ele se consegue e não largar as culpas para cima daqueles que sempre lá estiveram. As injustiças não motivam ninguém!
Daí que a crítica ao adepto de antes do jogo com o Braga (reverso do elogio ao adepto “actual”), seja manifestamente injusta. O seu exagero também não nos é positivo, pois visa destruir (injustamente) uma base adepta que tem mantido, contra tudo e contra todos, ainda que residualmente, a chama da paixão pelo futebol do clube.

Mas, as coisas são assim mesmo. Quando se cria uma “onda”, uma “tendência”, um “estado de graça”, as mesmas coisas têm valores diferentes.
A comunicação social, sobretudo, trata de amplificar os factos e os significados quando eles vão num sentido inequívoco. É normal que assim seja.

Todos nós sabemos como, no Restelo, assistências de 4, 5 mil, são “marteladas” nos jornais de referência até aos 2 mil, mil e quinhentos, quando não mesmo mil apenas.
Como se pode constatar, o inverso também é verdadeiro. Contra o Braga estavam no Restelo, no máximo, 12.000 pelas minhas contas. Na comunicação social, a coisa passou, primeiro para os 16.000 e, ao fim de dois dias, já se falava de “estádio cheio”!
A vida é assim mesmo.

E é por ser assim mesmo que temos de compreender bem as coisas, aprendendo o que já devíamos ter sabido há décadas.

O Belenenses “aprendeu” nestas duas semanas, o quão importante é, no “mercado psicológico” do futebol Português, tratar bem da sua imagem. Tratar dela efectivamente, com interesse real, actuante e com objectivos claros e determinados.

O Belenenses aprendeu que esse mercado vive de emoções, de exageros para cima ou para baixo conforme for a tendência, vive de FACTOS (que, se não existem, têm de ser criados).

Esse mercado não se alimenta de “silêncios galantes e lowprofilianos”, “discursos de prudência”, “imparcialidades ecléticas” e outras melindrisses do género, nas quais, infelizmente, os dirigentes do clube dos últimos anos dariam mestrados ou doutoramentos.

No fundo, o mercado da paixão pelo futebol não se alimenta daquilo que o nosso clube se alimentou durante as últimas décadas, as décadas do seu declínio.

Deixando agora a teoria, e passando a coisas mais concretas, o Belenenses aprendeu, entre outras coisas, que os adeptos de clubes de futebol são para se motivarem durante a semana para comparecerem no estádio, apoiando a sua equipa; que as equipas de futebol são para jogar com garra e ambição máximas; que os presidentes de clubes de futebol são para aparecerem nos jornais a darem entrevistas sobre o futebol do seu clube e para se sentarem no banco no dia dos jogos. Está tudo inventado há muito tempo e não há lugar para "diferenças"!

O Belenenses, se foi esperto, aprendeu que a ordem pela qual se alinharam as “responsabilidades” no parágrafo anterior não é arbitrária. Ela tem um significado hierárquico muito claro, no sentido de quem é que está em condições de fazer o quê por quem.

O Belenenses, creio, aprendeu isto tudo.

Ou será que não aprendeu?!

Ou será que se prepara, simplesmente, para chegar aos 39, 40 pontos?

Se assim for, ganhámos uma permanência hoje, mas mais umas quantas lutas pela permanência nos próximos anos.

Repito: o Belenenses tem que aproveitar para não parar.

Os cartazes anunciando o novo Casino de Lisboa estão colocados. Começou a contagem decrescente. Mais uma.
Desta vez é a sério!