segunda-feira, 27 de março de 2006

A Espera

Ou as atribulações de uma quota azul que se viu negra para chegar às mãos do destinatário

Há muitos anos que tenho o hábito de pagar as quotas ao meu Clube no início de cada ano, de uma vez só, até ao fim do mesmo. Não, não sou capitalista, sou comodista, talvez. Não tenho paciência para bichas todos os meses e, embora não seja capitalista (com muita pena minha), como não deixo de almoçar nem jantar por pagar as quotas de um ano de uma só vez, faço-o por ser uma maneira de ajudar o Clube, penso eu.

Foi assim que, na sequência desta simples linha de raciocínio, no início do ano da graça de 2006, me dirigi à Secretaria do Clube de Futebol “Os Belenenses” para pagar as quotas respeitantes ao mesmo. Com uma diferença: resolvi pagar a Quota Azul! Esta nova modalidade de contribuição foi criada ainda em 2005 e anunciada aos Sócios na Assembleia Geral realizada em finais desse mesmo ano. Que razões me levaram a aderir a esta “novidade”, nem eu próprio sei, nem vêm de modo algum alterar a história que quero contar. É mais cara, eu sei, tem umas quantas “regalias” de que também não sei se me interessa usufruir, mas como continuo a poder almoçar e jantar se a pagar, resolvi aderir. É mais uma ajuda ao Belém. Aí está a razão. E chega, penso eu.

No dia 6 de Janeiro de 2006 (ver documento comprovativo abaixo) lá estava eu na Secretaria a (tentar) cumprir o meu dever de associado (ver Estatutos, Cap. V).

- O senhor quer pagar a quota azul?
- Quero, e para o ano todo!
- Mas não pode ser.
- Como assim? A quota azul foi criada o ano passado e entra em vigor este ano.
- Pois, também já ouvimos falar disso, mas não temos quaisquer instruções. Ainda não existem essas quotas nem sabemos quando virão a estar disponíveis.
- Ah! E como é que eu entro nos jogos sem a quota em dia?
- O máximo que lhe posso fazer é passar um palelinho (ver primeira figura) a dizer que o senhor quer pagar a quota azul. Ficamos com cópia desse documento e, se tiver os seus dados actualizados (a senhora que me atendeu teve a amabilidade de confirmar que sim), enviamos-lhe uma carta para casa a dizer quando pode vir pagar as quotas.


Agradeci à senhora e guardei o papelinho. Durante os dois meses seguintes lá fui entrando no Restelo com a quota de Dezembro de 2005 e um documento que atestava que eu tinha a intenção séria de não ser caloteiro.

Já o mês de Março tinha entrado quando me lembrei que ainda não tinha recebido a prometida carta para ir pagar as quotas. Como quem quer vai, quem não quer manda (ou espera, neste caso), no dia 11 (ver segundo documento anexo) dirigi-me de novo à Secretaria.

- Venho pagar as minhas quotas. Estive à espera que me mandassem uma carta, mas como passei por aqui hoje resolvi vir saber se já as posso pagar.
- Ah, lembro-me do senhor! Pois, desculpe lá, esquecemo-nos de lhe mandar a carta.
- Então já posso pagar?
- Pode sim senhor!

Cartão multibanco na mão da senhora, código certo e pimba! 300 Euros fora da conta!

- Pode então dar-me as quotas para colar a última no cartão?
- Isso é que não pode ser!
- Não pode ser? Mas acabei de as pagar...
- Pois, mas não está cá a senhora das quotas!
- E agora como é que eu entro?
- Não tem problema, guarda o talãozinho do multibanco (o tal segundo documento anexo) e mostra-o como prova de que já pagou as quotas. Depois nós mandamo-las pelo correio.


Não contestei, não havia nada a fazer. Restava-me a consolação de, desta vez, não ter apenas um documento que atestava as minhas boas intenções, mas um outro que comprovava mesmo que as tinha posto em prática. Que bom é ter a consciência tranquila e poder demonstrá-lo!

Felizmente, o cenário não foi tão negro até ao fim, como o seu início poderia fazer suspeitar. Há dois ou três dias, ao abrir a caixa do correio, tive uma agradável surpresa. Estava lá uma carta do CFB e... adivinhem o que vinha lá dentro. Isso mesmo, acertaram. A quota azul!!! Com que alegria e orgulho a colei no meu cartão de sócio (ver terceiro e último documento anexo)!


Esta é uma história banal, como muitas outras que terão acontecido a outros consócios nossos e que, por sorte ou por azar, não vieram à luz do dia, porque nem toda a gente gosta (ou tem a paciência) de contar histórias. Tem a importância que tem e não mais do que isso. Não há a intenção, pelo menos da minha parte, que alguém a partir dela faça quaisquer extrapolações. Mas não deixa, contudo, de mostrar alguns aspectos preocupantes do nosso Clube. Um Clube cujos serviços e organização logística funcionam ainda como no século passado.

Mas o que nos preocupa mais é que, no nosso Clube, há muitas outras outras coisas, e bem mais importantes, que funcionam ainda como no século passado.

Saudações azuis.