1945 – Em Assembleia-Geral, é instituído o 6 de Setembro como “Dia da Saudade”, em homenagem a Artur José Pereira
Em 1937 chegou ao fim a carreira de treinador de Artur José Pereira. A doença fatal que o acometera – a tuberculose – tomara conta do seu corpo para não mais o deixar.
Assim permaneceu, na companhia da sua família, mulher e sobrinha, até ao dia da sua morte, afastado do Clube, na sua simples casa, no campo, numa Linda-a-Velha então muito longe do desenvolvimento que hoje apresenta.
Em 25 de Dezembro de 1942 o Clube prestou-lhe uma grande homenagem, num momento em que a sua saúde era já muito débil.
O fim aproximava-se a passos largos. Chegaria precisamente a 6 de Setembro de 1943. Não chegaria a ver o seu Belenenses a conquistar o título máximo de Campeão Nacional da Primeira Divisão (1945/46). Viu e conquistou muitos outros títulos, mas esse não.
Em sua memória, do seu principal fundador, o Clube instituiu, por unanimidade, na Assembleia-Geral realizada nesta data, que 6 de Setembro seria daí em diante celebrado e respeitado como o “Dia da Saudade”.
Instituíu também, a mesma Assembleia-Geral, que, nesse dia ou no Domingo seguinte, seria realizada romagem ao Cemitério da Ajuda, ao túmulo de Mestre Artur – o «BELENENSES Nº1».
Por deliberação da mesma assembleia, esta romagem contitui também “como uma Homenagem a todos os sócios desaparecidos da vida e sem distinção alguma”
Mais tarde, esta homenagem passaria a ser incluída nas cerimónias e festividades do aniversário do Clube.
É desta forma que se presta homenagem, anualmente, a uma figura ímpar do Belenenses, verdadeira razão de ser deste nosso sentir.
Só que homenagear não é por si só sinónimo de honrar. Honrar faz-se pela pressecução inabalável dos seus propósitos e princípios que o levaram à fundação do Clube. Propósitos e princípios que são actuais e essenciais à continuação da existência do Belenenses. Um Clube independente, forte e solidário. Com Alma.
1953 – Início da Construção do Estádio do Restelo
Tanto sofrimento foi imposto e injustiças cometidas ao longo dos anos sobre o Belenenses.
Um Clube que sempre fez uma das suas prioridades a criação de instalações excelentes para a generalizada e acessível prática desportiva, que durante anos albergou no seu Estádio, nas míticas Salésias, os jogos da Selecção Nacional de Futebol.
Pois, fora o Belenenses notificado, pelos poderes instituídos, a abandonar esse espaço que fizera seu e desenvolvera como ninguém apesar de ainda estar a concluir remodelações e a projectar já novas nesse mesmo espaço das Salésias. Em nome de uma realização habitacional que nunca chegaria a existir. Até hoje.
Ao longo destes apontamentos referimo-nos várias vezes a estes momentos. É incontornável.
A notificação de despejo, a aprovação do terreno do Novo Estádio (ver 23 de Setembro) e outros tantos momentos. E referimo-nos a estes momentos porque consideramos fundamental que se perceba o quanto o tratamento desigual a que o Belenenses foi sujeito, influiu na queda, na decadência que se seguiu.
Tantos e tantos episódios, alguns muito graves e penosos marcam a nossa história a partir da notificação de despejo das Salésias. A destruição funcional de um estádio, o José Manuel Soares – “Pepe”, onde tanto empenho e sacrifícios foram deixados pelos Belenenses, efectivava-se nesse momento. Inapelavelmente. As suas ruínas ainda hoje são visíveis no local, transformado num baldio sem utilidade. Uma vergonha, caso a houvesse.
Recordamos que, para permanecer em Belém, o Belenenses aceitou o único terreno disponibilizado pela Câmara Municipal de Lisboa. Uma antiga pedreira abandonada, a que a Camâra não sabia que destino dar.
O dia 7 de Março de 1953 marca, embora de forma apenas simbólica, o início das obras de construção do “Novo Estádio”. Foi uma cerimónia simples, mas com a presença de altas individualidades e autoridades oficiais e, além dos dirigentes do Clube (Francisco Mega – Presidente e Reis Gonçalves – Presidente da Mesa da Assembleia-Geral) assitiram à cerimónia alguns milhares de sócios.
“É um dos momentos mais felizes da minha vida e é um dos momentos mais felizes de todo o Belenenses” diria então Francisco Mega, após o que se deu a primeira detonação de dinamite que faria cair enormes massas de terra e pedras sobre o terreno onde assentam hoje as bancadas do Estádio do Restelo.
Muitas outras cargas se lhe seguiram. De tal forma que muito do que inicialmente estava previsto como valor total de construção, diz-se, foi gasto apenas na construção dos aterros.
Cada detonação significava muito do esforço financeiro de um clube e do esforço individual de tantos e tantos Belenenses que contribuiram monetariamente para a sua construção, assim como foram lançadas enormes campanhas de recolha de dinheiros (os famosos “mealheiros”) e de recolha de ferro para a construção da estrutura do estádio. São relatos impressionantes que podemos ler sobre uma capacidade de mobilização notável de uma massa adepta viva e participativa.
Reforce-se (nunca é demais fazê-lo) que nada recebemos pelo excelente Estádio que fomos obrigados a abandonar, ao contrário de outros que mais não deixaram que caducas construções de madeira. Não é exagero dizer que o tratamento discriminatório, a que quase sempre estivemos sujeitos, nasceu connosco, no dia da fundação. O que é fácil de verificar pela leitura dos momentos da história do Belenenses que recordamos nestes apontamentos.