domingo, 29 de janeiro de 2006

Neste dia, em . . .

1928 – Inauguração das Salésias

Tendo obtido os terrenos para o efeito (em condições, aliás, bastante onerosas – cfr. 15 de Dezembro - e que importa registar como exemplo do desfavorecimento com que o nosso clube sempre foi tratado em relação ao Benfica e ao Sporting), o Belenenses atirou-se à construção das Salésias. Fê-lo paulatinamente, melhorando-as progressivamente, até chegar a ser o melhor complexo desportivo de Portugal. Haveremos de voltar a sumariar os diversos passos em alguma oportunidade futura (já anteriormente o fizemos).

Nesta data, embora ainda com muito por fazer, o Belenenses já pôde jogar nas Salésias, que mais tarde se viriam a chamar Estádio José Manuel Soares Pepe. No jogo principal, das 1ªs categorias, para o Campeonato de Lisboa, vencemos o Carcavelinhos por 4-2.

Na altura, Ribeiro dos Reis emitia a seguinte opinião, registada por Acácio Rosa:
Não obstante a chuva que caiu durante a noite, o terreno de jogo estava excelente, o que demonstra o cuidado que presidiu à sua construção. O rectângulo do jogo é amplo e desafogado. O plano inclinado para os peões é o mais vasto de todos os nossos campos e, quando devidamente acabado, deve, em dias de grandes enchentes, produzir um magnífico aspecto. O campo ainda não tem bancadas. Provisoriamente foram utilizados para o efeito uns bancos corridos ao longo do ‘touch’”.

Registe-se que a chuva esteve presente quer na inauguração das Salésias, quer do Restelo; e que o Belenenses tinha tradições de construir amplos terrenos de jogo. Lembremos que até há cerca de uma década, o nosso rectângulo de jogo era o maior de Portugal. E continuaria a sê-lo, se não nos tivéssemos auto-mutilado. E assim perdemos mais um galardão...

Nas Salésias, o Belenenses foi poderoso e viveu tardes inesquecíveis de glória. Infelizmente, o último jogo do Campeonato que ganhámos em 1946, não foi disputado ali; a festa ficou marcada para...1955 mas o destino trocou-nos as voltas a 4 minutos do fim...



1933 – Augusto Silva tornou-se o jogador português com mais presenças na Selecção Nacional

Completando 17º jogo na Selecção Nacional, e ultrapassando o sportinguista Jorge Vieira, Augusto Silva tornava-se assim o jogador português com mais internacionalizações. Foi num jogo em que Portugal venceu a Hungria por 1-0. No ano seguinte, aquele em que pôs termo à sua carreira de jogador, ampliou esse record até 21, e só em 1950, ou seja, 16 anos depois, foi ultrapassado. De resto, desde 1929 que o Belenenses se alcandorara à 1ª posição entre os clubes que mais jogadores tinha representados na Selecção; e desde esse ano que Augusto Silva era o Capitão do Onze Nacional.

Sobre o que Augusto Silva representou no Belenenses, já falámos anteriormente (cfr. 30 de Setembro e 8 de Janeiro).

Lembremos apenas que, como jogador, conquistou 3 Campeonatos de Portugal (estando presente em mais duas finais) e 4 Campeonatos de Lisboa; e que, como treinador, fez a dobradinha em 1945/46: Campeão de Lisboa e Campeão Nacional.

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E, este sim, era um treinador (e jogador) verdadeiramente identificado com os grandes e reais valores do clube...



1949 – Definição da futura localização do Estádio do Restelo

Os terrenos das Salésias foram cedidos, precariamente, ao Belenenses, nas condições já mencionadas neste dia, em 1926. Como também já vimos o campo foi primeiramente inaugurado em 1928.

Desde então (até 1949) fora alvo de várias beneficiações relevantes, sempre no intuito de melhorar as condições para a prática das várias modalidades para as quais fora idealizado e também para a comodidade dos sócios e adeptos em geral, incluindo todos os portugueses que durante anos aí puderam assistir a todos os jogos da Selecção Nacional realizados em Portugal, dado ser, até à construção do Estádio Nacional, o único campo relvado.

Em 1936, foi posta cobertura das bancadas, junto com o arrelvamento do terreno de jogo e a construção de um campo de treinos.

Em 1946, ou seja, em fase coincidente com a conquista do Campeonato Nacional da Primeira Divisão, o Belenenses pretendia introduzir um novo conjunto de melhoramentos na mesma linha dos anteriores. Sempre a expensas próprias o que, como sempre sucedera, beneficiariam o desporto português em geral e não apenas o Belenenses.
Assim, em 17 de Junho desse ano (duas semanas depois da conquista do Campeonato), o Belenenses recebeu a resposta da Câmara ao seu pedido formulado em Maio.
Como seriade esperar a resposta foi positiva. No entanto, recebe a insólita notificação de que apenas poderia permanecer nesses terrenos por um período de mais 6 anos. Não o disse a Câmara então, mas veio o Belenenses a saber mais tarde, que a razão se prendia com a execução do novo plano de urbanização para aquela zona da cidade, que incluia para os terrenos ocupados pelo Belenenses a construcção de um bairro habitacional. O que como sabemos hoje, volvidos 60 anos (!), que nunca seria construido.

Obviamente que, face a este facto, o Clube desistiu dos melhoramentos que pretendia introduzir, nunca é demais referir, a expensas próprias, como sempre fizera.

Tal era a monta de tudo o que o Belenenses já investira no Estádio José Manuel Soares que se tentou, de todos os modos legais e lógicos, impedir que o doloroso investimento de anos (do qual beneficiou – repetimos – todo o desporto nacional), fosse assim sacrificado, apresentado para isso estudos e sugestões de alternativas para a localização do anunciado bairro – fantasma, acrescentariamos.

O objectivo da Câmara era óbvio e tal recurso e acções foram improfícuos.

A criação de novo parque de jogos passou a ser a principal missão das várias direcções que se seguiram à notificação «de despejo».

Por várias razões, das quais sobressaíam as históricas, com o que se passou com o nado belenense Sport Lisboa, que desenraízado de Belém pelas mesmas razões, se degradaria em Sport Lisboa e Benfica, era impensável para os dirigentes de então equacionar sequer a deslocalização do Clube para fora de Belém. Gente de fibra e com memória.

Encontrar um terreno nestas condições e para mais com a já patente e mal disfarçada má-vontade da Câmara Municipal de Lisboa, era tarefa que pareceu, várias vezes, missão impossível.

Até que um dia, foi apresentado um terreno, uma antiga pedreira, numa encosta íngreme, um terreno junto à Rua dos Jerónimos. No mapa de Lisboa de então, mais não era do que um ponto negro. A Câmara não sabia o que fazer dali.

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O Belenenses, sem outra alternativa e não querendo de nenhuma forma sair da zona onde nascera e florescera, aceitou esta localização, à falta de alternativa.
Cerca de três anos depois era assinado o contrato de arrendamento e hasteada, no local a Bandeira do Belenenses, como parte das comemorações do 33º aniversário do Clube.
A honra desse momento simbólico e do «descerramento» da maquete (ver figura seguinte), coube a Francisco Pereira, sócio nº3, fundador e irmão do então já falecido Artur José Pereira. Presenciaram o acto os Ministros da Marinha, Obras Públicas e Educação Nacional, além de outras entidades oficiais.

Desse local inóspito e à força de toneladas de dinamite, o Belenenses ergueu o magnífico Estádio do Restelo. Contribuiu assim e de que maneira para o enriquecimento daquela zona da cidade de Lisboa ao tornar uma zona «morta», perfeitamente inútil, num dos pólos de interesse e romaria popular (longe vão os tempos) além de criar condições para a existência do actual bairro de vivendas e residências diplomáticas.
Outros clubes, que não deixaram nada de obra que se visse, foram muito bem compensados.

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O objectivo alheio estava conseguido. O Belenenses sairia exaurido deste esforço. Passados alguns anos, estavamos à beira da inviabilidade financeira e prestes a fechar portas. Portas que, então, face a essa crise profunda, já nem eram nossas.