1951 – Contratado o Arquitecto Carlos Ramos para projectar o Estádio do Restelo
Carlos Manuel Ventura de Oliveira Ramos, nasceu em Oeiras em 1922. Filho de um muito reputado arquitecto, Carlos Chambers Ramos, viria a seguir os passos do pai, concluindo o Curso Superior de Arquitectura na Escola de Belas-Artes de Lisboa em 1944.
É apenas com 29 anos que Carlos Ramos é contratado, precisamente nesta data, para a execução do ante-projecto, projecto e respectivos estudos para a construção do novo Estádio do Belenenses. Até então, já colaborara, entre outras obras, no projecto conjunto da Praça Marquês de Pombal e elaborara o projecto do novo Cinema Restelo.
O projecto do Estádio do Restelo, em co-autoria com Jorge Viana, seguir-se-ia a algumas outras tentativas de localização na zona de Belém, como referimos noutros apontamentos.
Uma primeira tentativa, que ocorrera alguns anos antes, procurara instalar o novo estádio do Belenenses nas chamadas terras do Desembargador.
Nesta hipótese, que apresentava algumas dificuldades de enqudramento e limitação de espaço, ficaria o Estádio encaixado entre, a poente, pelos terrenos livres da cercania dos quartéis, num polígono definido pela Rua do Embaixador, Calçada da Ajuda, Rua das Casas do Trabalho (no fim da qual se encontrava o Estádio das Salésias, actual Rua Alexandre Sá Pinto) e uma futura rua.
Nesta ocasião houve várias razões de limitação de espaço pelas construções já existentes além das conhecidas dificuldades de disponibilização dos terrenos necessários.
A localização final era excelente do ponto de vista de enquadramento, e com bastante espaço disponível para a construção de parques de estacionamento e outros equipamentos desportivos, no entanto as dificuldades inerentes à topografia do local teriam as consequências económicas que se conhecem, pela dificuldade dos trabalhos preparatórios dos terrenos e pelo necessário movimento de terras que criou grandes problemas ao nível da estabilização das fundações e elevados custos em estudos devido à acção dos ventos na estrutura de cobertura das bancadas.
Em entrevista à revista “Arquitectura e Vida”, na sua edição de Julho/Agosto de 2005, Carlos Ramos, já com 83 anos de idade, voltaria a referir-se à emblemática obra:
“(...) Aquilo era uma pedreira que já estava a incomodar toda a gente, e conseguimos calcular a cota económica de desmonte daquilo tudo.
O Jorge Viana dizia-me que só sobraram as pedras para fazer a drenagem do campo, porque não sobrou mais nada daquele desmonte todo.
A cova tinha entre 15 e 20 metros de profundidade. Fomos enchendo e, depois, calculámos o nível do relvado que, dizia-se, só podia ser visto a partir do Cristo-Rei. (...)”.
Carlos Ramos conta ainda no seu curriculum com obras como o Instituto Pasteur, a Sede do Ginásio Clube Português (co-autoria com Fernando Mendes, o Edifício do Banco Espírito Santo na Rua Castilho (co-autoria com João Monteiro Leite), Hospital Distrital de Faro, Hotel Estoril Eden, Estádio de Bagdad (com Keil do Amaral) e, mais recentemente, o novo edifício da RTP.
Para nós, Belenenses, a sua obra mais grandiosa e emblemática será sempre o Estádio do Restelo.
1994 – Belenenses conquista Campeonato Nacional de Andebol pela sexta vez
O Belenenses foi Campeão de Portugal de Andebol, na altura de Onze, em 1948. Ganhou os Campeonatos Nacionais da mesma modalidade, mas agora de Sete, em 1974, 1976, 1977, 1985 e 1994.
Nesta data, há 12 anos atrás, quis o capricho do sorteio que as únicas equipas em posição de chegar ao título, se defrontassem na última jornada, em jogo, portanto, decisivo. Eram o Belenenses e o Benfica.
O ABC, campeão na época anterior, o F.C.Porto e o Sporting haviam ficado, entretanto para trás.
O jogo teve lugar no Pavilhão Acácio Rosa. Muitos de nós assistimos, no Estádio, a parte do jogo de futebol entre o Belenenses e o Boavista e rumámos, já na 2ª parte, para o Pavilhão. Foi já aí que se festejou o 2º golo do Belenenses ao Boavista, noticiado pela rádio, e que nos deu a vitória por 2-1.
O pavilhão estava cheio como um ovo, a rebentar pelas costuras, dando origem a um calor quase insuportável. Cerca de 95% dos presentes eram “pastéis”.
Ao Belenenses, que tinha um ponto de vantagem sobre o seu opositor, bastava o empate.
O Belenenses esteve quase sempre na frente. Ao intervalo, o resultado estava 12-9 a nosso favor. Aos 10 minutos da 2ª parte, a nossa equipa comandava por 16-12. O título parecia assegurado.
Subitamente, porém, as coisas começaram a correr mal. O Benfica começou a aproximar-se, a nossa equipa intranquilizou-se, permitiu o empate, e aos 20 minutos, o Benfica chegou pela primeira vez à vantagem, por 19-18.
A angústia atingiu-nos mas o público azul nunca deixou de incentivar a nossa equipa, nem esta de lutar bravamente.
Fizemos o 19-19 e o 20-19.
O Benfica voltou a empatar.
A 1 minuto e 19 segundos do fim, o Belenenses, por Alberto Oliveira adianta-se no marcador, 21-20, mas o Benfica voltou a empatar 17 segundos depois.
A 46 segundos do fim, o Belenenses tem um livre de 7 metros a seu favor, que desperdiça.
Os últimos 40 segundos foram dramáticos. Um golo do Benfica deitaria tudo a perder. A 4 segundos do fim, o sofrimento acabou-se: recuperámos a bola, Armando Pinho embalou para a baliza do Benfica. Já não conseguiu marcar mas pouco importava. O jogo morreu nas suas mãos e o Belenenses (re)nascia Campeão!
Foi a apoteose: invasão de campo, um imenso “Belém! Belém! Belém!”, o “We are the Champions” dos Queen a tocar, abraços e mais abraços, uma grande alegria!
Na edição seguinte do Record (que então era à 3ª feira), lia-se: “Foi o Belenenses quem ‘rapou o prato’, para gáudio de milhares de adeptos num pavilhão repleto de uma fúria azul...”.