terça-feira, 25 de abril de 2006

Às vezes vale a pena viver certas situações

CRÓNICA DUMA VIAGEM A PAÇOS DE FERREIRA

Pelo nosso amigo Vítor Gomes

Não há dúvida que o desporto ainda é uma escola de virtudes. Tem sem dúvida altos e baixos, ultimamente mais baixos que altos no que toca à essência da nobreza de procedimentos, mas apesar de tudo ainda existe um pouco desta última. Tudo se deve afinal a uma questão de boa educação e de princípios bem formados.

Vem isto a propósito da viagem que fiz com minha mulher a Paços de Ferreira no domingo, integrado na caravana (lamentavelmente dispersa) do Belenenses.

E vou começar pela parte negativa do dia que afinal foi pequena em relação ao resto. A organização foi muito má. Saímos tarde, largaram-nos à porta do campo e para almoçar tivemos de palmilhar alguns quilómetros até à cidade para encontrar um restaurante. Almoçámos a correr e a correr voltamos ao local ajustado para receber os bilhetes de ingresso. Esperámos mais de meia hora para além do combinado e quando finalmente recebemos o papelinho, defrontámo-nos com uma fila imensa que integrava centenas de pacences. Devo acrescentar que o atraso da entrega apenas se verificou num dos autocarros, por azar aquele que me correspondia. Foi-nos dito por alguém da terra que havia uma entrada especial para os belenenses. Quando para lá nos dirigimos já estava fechada. A parte mais negativa deste capítulo negativo, foi a “descasca”com que o responsável belenenses da viagem nos brindou, dizendo muito zangado que “as pessoas não sabem estar a horas nos locais combinados, não ligam a compromissos por isso agora sofrem as consequências”. O caricato é que momentos antes, essa pessoa tinha estado comigo e com os componentes do nosso autocarro partilhando, como aliás era sua obrigação, a preocupação pelos bilhetes ainda não terem aparecido. Quando lhe fiz reparo dessa situação, muito “dignamente” virou-me as costas. Vou partir do princípio que ficou envergonhado por não pensar na imbecilidade da sua atitude.

Mas entremos agora na parte positiva deste relato. Quando finalmente entrámos tivemos que ficar sentados rodeados de gente da casa com os seus cachecóis, bandeiras e legítimo entusiasmo. Aqui aparece mesmo a parte positiva. Que eu tenha dado conta, nem “bocas”, nem insultos nem más vontades. Eles gritaram e festejaram o golo deles e nós gritamos e festejámos o nosso. No final ouvi desejos de boa sorte de parte a parte e até troca de cachecóis.

No regresso foi decidido no nosso autocarro por unanimidade, jantarmos no centro da Mealhada. Um grupo nosso entrou no primeiro restaurante com bom aspecto, perto do local onde o autocarro nos deixou.

Imediatamente se nos deparou um ambiente festivo e de muita alegria. Era a equipa de futsal do Sporting que de regresso de Coimbra tinha conquistado a taça de Portugal batendo copiosamente o Benfica. Pouco depois, ao verem que éramos do Belenenses deu-se um espontâneo e saudável convívio, com saúdes e “bota-abaixo” de parte a parte e alguns de nós a beber espumante pela taça. Numa determinada altura toda a gente cantou parabéns a uma nossa Sofia.

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Convívio na Mealhada

Num canto da sala, um televisor a dada altura mostrou o golo do empate do Nacional. Foi o delírio. Cada grupo, por razões diversas, manifestou efusivamente o seu anti-milhafrismo.

Quando saímos houve abraços e recíprocos desejos de bom regresso.

Afinal ainda há testemunhos de civilidade, mesmo quando não se partilha a mesma cor.