1990 – Mário Rosa Freire completa quatro mandatos (de dois anos) como Presidente da Direcção
Mário Rosa Freire chegou ao dirigismo do Belenenses ainda na primeira metade de 1982. Foi num dos momentos mais graves da vida do clube, que havia sido deixado em completo desgoverno (meses sucessivos sem dirigentes!), atolando-se numa terrível crise financeira e desportiva, com a dolorosa descida de divisão – a primeira em toda a sua longa história. Na altura, a descida deu brado e comoveu o país inteiro, sendo capa de todos os jornais.
Mais uma vez, depois de muitos terem abandonado o barco, foi Acácio Rosa quem lhe deitou mão.
Lançou então uma vaga de novos dirigentes, entre os quais, justamente, Mário Rosa Freire.
Curiosamente, os dois viriam mais tarde, em 1986/1987, a entrar em choque. Na Assembleia-Geral de 26 de Fevereiro de 1982, foi aprovada a suspensão temporária dos estatutos e eleitos corpos gerentes, sendo Acácio Rosa o Presidente do Conselho Executivo e Mário Rosa Freire o seu substituto.
Em 1 de Agosto de 1982, o Belenenses voltou à normalidade estatutária e Mário Rosa Freire surgiu como Presidente da Direcção. Foi reeleito em 1984, 1986 e 1988 e completou em 1990, com quase oito anos, a mais longa permanência sucessiva na Presidência do Clube (Francisco Mega foi Presidente durante nove anos mas interpolados).
Na primeira época, com um plantel escolhido quando ainda não era o dirigente máximo, o Belenenses falhou a subida.
Na segunda época, contudo, em parte graças à medida acertada da contratação do treinador Jimmy Melia, deu-se o festejado regresso.
A nação belenenses que, numa grande mobilização, enchia os campos dos adversários, às vezes por encostas afora, às vezes até nos sectores de sócios da equipa visitada, pôde rejubilar com o regresso ao seu lugar.
A subida ficou selada em Sesimbra, com uma grande festa azul, que se continuou uma semana depois, no Restelo, praticamente cheio. Parece impossível mas, nos últimos 22 anos não voltou a haver um momento de êxtase, como esse, no Estádio do Restelo. Que grande alegria! Todos os sonhos voltavam a ser possíveis! Em fins de Agosto de 1984, voltávamos a jogar na Primeira Divisão, no nosso Estádio, com o Vitória de Setúbal; e, nesse dia, as lágrimas marejaram os olhos de muitos de nós com “o regresso das caravelas”, recebidas em delírio. Era o fim de um pesadelo, que imaginávamos que nunca, nunca mais se repetiria...Mal saberíamos o que viria a partir de 1990!
A partir daí, o Belenenses foi dando passos seguros no que parecia a recuperação da sua grandeza perdida. (Já agora, refira-se que nos Jogos Olímpicos de 1984, tivemos três atletas: José Pinto, que arrancou um magnífico oitavo lugar na marcha, Margarida do Carmo e Maria João Falcão).
Em 1984/85, fez-se uma época estável na Primeira Divisão, com um sexto lugar (e conquistas de Campeonato, Taça e Supertaça de Andebol).
No ano seguinte, 1985/86, nova alteração certeira, com a vinda, a meio da época, de Henry Depireux. Devemos-lhe muito. Vivia intensamente o clube, onde chegava às oito horas da manhã e saía a altas horas da noite. Fomos finalistas da Taça de Portugal e tivemos três jogadores (José António, Sobrinho e Jorge Martins; e Jaime esteve quase a ir...) entre os 22 que representaram a Selecção Nacional na Fase Final do Campeonato Mundial, no México.
Entretanto, novamente com mérito de Rosa Freire e da sua Direcção, abria finalmente o Bingo, que se viria a tornar a grande fonte de receitas do Clube. Infelizmente, o que poderia ter sido a grande expansão do Belenenses, acabou por ser um mar de equívocos. Como se desbarataram milhões de contos?! Durante 67 anos sem dinheiro, o Belenenses construiu uma história gloriosa; quando o passou a ter, afundou-se...
No entanto, durante três anos, os efeitos do boom de receitas do Bingo foram, aí sim, bem visíveis. A época de 1986/87, começou espectacularmente, com a contratação de um búlgaro genial, Mladenov, e ainda de Mapuata. O Belenenses liderou durante várias jornadas, o Restelo registou assistências grandiosas e, apesar de todos os atropelos (arbitragens e não só) de que fomos vítimas, garantimos o regresso à Taça UEFA.
Em 1987/88, agora com Marinho Peres a treinador, depois de nos batermos taco a taco com o Barcelona na Taça UEFA, regressámos ao pódio: terceiro lugar (e nova presença na Taça UEFA).
Belém voltava a festejar, a ter alegria! Nesta época, foram-se buscar jogadores como Zé Mário (verdadeiramente fabuloso), Baidek (que foi duas vezes Campeão Mundial de clubes), Chico Faria e Juanico (autores dos golos que nos deram uma imensa alegria no ano seguinte) e, já agora, Baptista (podia estar em final de Carreira mas realce-se que tinha estado com a selecção brasileira nos Campeonatos do Mundo de 1978 e 1982 – coisa só ao alcance de grandes “craques”).
Em 1988/89, liderámos o campeonato durante algumas jornadas e eliminámos da Taça UEFA o detentor do troféu, o Bayer Leverkusen, com Mortimore a treinador; seguiu-se uma crise de resultados e o regresso de Marinho Peres. Voltámos aos bons resultados, fomos à final da Taça de Portugal. Ganhámos, vencendo o Benfica na Final. Vibrámos de alegria, enchemos o Jamor e as estradas e a Praça Afonso de Albuquerque de Azul, sentindo-nos recompensado de tantos contratempos e desgostos.
O último ano, porém, foi já de regresso à melancolia. Saíram Jorge Martins, Mladenov e Sobrinho, embora tivessem entrado jogadores valiosos como Jorge Silva e os internacionais búlgaros Mihaylov e Sadkov. Em termos de resultados, apesar da participação na Taça das Taças, ficámos em sexto lugar no Campeonato e, quando parecíamos embalados para nova vitória na Taça de Portugal, caímos nas meias-finais.
Tristemente, porém, mesmo isso foi muito melhor do que aquilo que haveria de vir.
Assim, embora os mandatos de Mário Rosa Freire tenham sido questionáveis em alguns aspectos, embora, a meu ver, tenham falhado em termos de política de imagem e projecção, alguns dados são indiscutíveis:
- Construiu-se sistemática e continuadamente uma equipa de futebol competitiva, com alguns fora-de-série e muitos lutadores, uma equipa sempre melhorada de 1983 a 1989;
- Teve-se cinco anos que foram um oásis no meio do deserto de resultados das últimas décadas:
- Garantiu-se uma grande – e hoje essencial – fonte de receitas para o clube;
- O que veio foi incomparavelmente pior.
Podemos continuar a discordar de algumas coisas, mas é impossível não sermos gratos a Mário Rosa Freire e, já agora, a dirigentes daquele tempo, como José da Silva e Barcínio Pinto. Quanto mais não seja por aquela vitória imensa na Taça de 1989, frente ao mais poderoso Benfica das últimas décadas, por aquele dia de plenitude, um grande, grande obrigado!
Uma nota final: Rosa Freire ainda voltaria a fazer parte dos corpos sociais do clube, como Presidente do Conselho Fiscal, ao tempo em que Ramos Lopes foi Presidente.
Integra hoje o Conselho Geral. E há ainda quem pense que ele pode dar algo ao clube, directa ou indirectamente...