1988 – Belenenses vence Boavista por 2-0 e assegura presença na Taça UEFA (terceiro lugar, no final do Campeonato)
A classificação que o Belenenses obteve mais vezes no Campeonato Nacional de Futebol foi o terceiro lugar, seguindo-se, a razoável distância, o quarto lugar.
No entanto, a última vez que conquistámos uma terceira posição (e também a última vez que alcançámos um dos lugares do pódio, noutros tempos tão habituais) foi na época, já tristemente distante, de 1987/1988.
A temporada até não tinha começado bem, com uma pesada derrota nas Antas; porém, a pouco e pouco, o Belenenses foi embalando para uma boa época.
Na penúltima jornada, realizada a meio da semana (um feriado de Quinta-feira), perante cerca de 15.000 espectadores (pagantes...), em jogo contra o Boavista, decidia-se o acesso às competições europeias (disputado pelos dois clubes e pelo Sporting) e, praticamente, para o terceiro lugar. Tínhamos um ponto de vantagem sobre os axadrezados e dois sobre os leões. Após esse jogo, manteve-se a vantagem sobre o Sporting e aumentou-se para três pontos a que levávamos sobre o Boavista.
Quer isto dizer que ganhámos, mais propriamente por 2-0. O jogo foi intensíssimo e a primeira parte muito difícil. Recordo que o Major Valentim Loureiro passou o tempo atrás da baliza do Belenenses, a fazer comentários dirigidos ao nosso Guarda-Redes (Jorge Martins) e ao árbitro (ao intervalo, alguém do Belenenses o convidou a sair dali…). Sinceramente, não quero dizer que tenha sido por isso mas o árbitro deixou por assinalar um flagrante e confirmado fora de jogo a um jogador boavisteiro, que por pouco não resultou em golo: Jorge Martins desviou a bola para o poste. Não sei o que foi mais forte, se o susto, se a indignação! Ficou ainda por assinalar um penalty contra o Boavista...
Na segunda parte, tudo foi diferente. Entrámos a dominar e, aos 52 minutos, chegámos à vantagem. Lembro-me perfeitamente do golo: depois de tabelar com Mladenov e Chiquinho, Paulo Monteiro disparou um remate enrolado, na meia direita, fora da área. O Guarda Redes axadrezado não chegou à bola e ela encaminha-se para as redes, onde se vai anichar. Foi um enorme alívio, uma explosão de júbilo nas bancadas.
A partir daí dominámos o jogo mas o golo da tranquilidade (2-0) só surgiu quase no final (85 minutos), aliás num auto-golo, na sequência de livre de Dudu. Os minutos finais foram vividos entre gritos pelo Belém e muitos abraços entre nós. Que grande festa! Tantas e tantas bandeiras azuis, tochas acesas, balões e serpentinas! Belém de novo lá em cima! Depois de tantos anos afastados do topo, o regresso ao pódio (terceiro lugar), confirmado na última jornada, em jogo na Póvoa de Varzim (de que falamos no dia 6 de Junho)...
Neste dia, a nossa equipa alinhou da seguinte forma:
Jorge Martins; Carlos Ribeiro, José António, Baidek e José Mário; Paulo Monteiro, Juanico, Dudu e Chiquinho; Chico Faria e Mladenov. Aos 20 minutos Artur substitui Baidek (que se lesionara) e aos 88 minutos Galo entrou para o lugar de Dudu.
Três notas finais:
1ª) Nesta época não tínhamos nenhum ala esquerdo; contudo, Marinho Peres não se agarrou a essa desculpa e fez o que se espera dos treinadores: encontrar soluções.
2ª) Nesta altura, não havia rivalidade especial nenhuma com o Boavista. De resto, para mim, basicamente, continuo a recusar-me que exista. Sem querer ofender ninguém, que esse não é o nosso objectivo, gosto de olhar para cima ou para o lado e não para baixo.
3ª) O péssimo árbitro, que tanto nos prejudicou neste jogo, foi Francisco Silva. Dois anos depois, foi irradiado. Na nossa opinião, este árbitro, na sua carreira, começou por ser claramente tendencioso a favor do Benfica, tendo depois “virado o bico ao prego” a favor do Porto. Até que (como às vezes sucede nestes casos de cata-ventos), caiu em desgraça.
Assim, na época de 1990/91, o Presidente do Conselho de Arbitragem, Dr. Lourenço Pinto (sócio do FCP e actualmente advogado do Major Valentim Loureiro), armou-lhe uma cilada. Num determinado jogo, combinou com um Presidente de um clube (o Penafiel) que este oferecesse 1.000 contos (há 15 anos, tinha outro valor!) para beneficiar aquela equipa em desfavor de outra.
O presidente do Penafiel, pouco antes do jogo, assim fez. “Chico” Silva aceitou, agradeceu e guardou. Alegou, quando confrontado pelo Presidente do C.A. (com as gravações na mão) que tencionava posteriormente denunciar o caso! Agora bem: quem é que ia ser prejudicado? Nem mais nem menos que o Belenenses!!! Podemos pensar que foi um acaso… ou podemos pensar que o Belenenses é a vítima ideal. E se é, porquê? Acho que vale a pena reflectir!
2005 – Morte de José António, Capitão da equipa vencedora da Taça de Portugal de 1989
José António é um símbolo da história recente do Belenenses. É o último «grande capitão».
Para quem como eu vive o Belenenses a partir da década de 80, poucos momentos houve de verdadeira alegria e de conquistas. E nesses esteve sempre José Antonio.
O estilo sóbrio, a correcção para com os adversários, a superior capacidade de colocação em campo e o modo como comandava o sector mais recuado, no Belenenses e nos jogos que efectuou pela Selecção Nacional, eram a sua imagem de marca. Imagem que fica indelevelmente marcada na minha memória. E pensar que hoje adulamos “santos de pés de barro”...
Era impossível para um jovem Belenense não o idolatrar e, quando jogava à bola com os colegas, não dizer: eu sou o José António.
Receber a notícia da sua morte foi um choque tremendo. Ninguém o esperava. Nascido a 29 de Outubro de 1957, falecia com apenas 47 anos de idade.
A morte trágica chegou inesperadamente durante um jogo de futebol com um grupo de amigos, em Carcavelos, localidade em que viveu toda a sua vida.
Quarenta minutos depois do início do jogo José António, sentindo-se indisposto, saíu. Mal se sentou no banco caíu para o lado fulminado. A assistência médica do INEM chegou apenas sete minutos depois, mas já nada havia a fazer.
José António deixara de jogar em 1991, mas sempre manteve hábitos de educação física e nunca se lhe conheceram problemas de saúde que indiciassem este inesperado desfecho para quem dedicou toda a sua vida ao Futebol.
No dia seguinte à sua morte e na sequência de um convívio de adeptos do Belenenses, foi-lhe prestada uma simbólica homenagem, sendo colocado um pequeno quadro, feito em sua memória, primeiramente na Estátua do também malogrado Pepe, no Restelo, e, mais tarde, entregue à Mãe de José António e colocada junto ao seu corpo em câmara ardente em Carvelos.
De todos os Belenenses, José António tem a admiração e a eterna gratidão. Como dos amigos nunca nos despedimos, dizemos: Até sempre, José António!