domingo, 2 de julho de 2006

Neste dia, em . . .

1933 – O Belenenses conquista o Campeonato Nacional de Futebol pela terceira vez

Esta é uma data que os belenenses que prezem a identidade e a grandeza do seu clube devem preservar no coração.

Nela, ainda antes de completar 14 anos de existência, o Belenenses guindava-se à posição de primeira potência do futebol português. Não nos referimos apenas a essa época mas a tudo quanto tinha decorrido durante esses 14 anos da nossa existência.

Para explicarmos esta afirmação, é necessário desmontar, antes de tudo, uma completa falácia. O Belenenses não foi uma vez Campeão de futebol no nosso país. Foi-o por 4 vezes.

Desde 1921/22 até 1933/34, houve uma prova que se destinava a apurar o campeão, a melhor equipa de futebol do nosso país. Era a forma vigente, e não há nenhuma razão para, tendo existido essa competição, com esse fim, e com regras aceites por todos, não serem considerados os campeonatos conquistados nesses anos.

Ora, esses Campeões devem, justamente, ser adicionados aos que, desde 1934/35, ganharam os Campeonatos da I Liga, os Campeonatos Nacionais, as Superligas e a Liga Betandwin. Nessas 12 edições, foram assim distribuídos os títulos:

F.C.Porto – 3
Belenenses – 3
Benfica – 2
Sporting – 1
Olhanense – 1
Marítimo – 1
Carcavelinhos – 1

Donde, em rigor, os Campeões do nosso país, desde o momento em que passou a apurar a melhor equipa até hoje, foram os seguintes:

Benfica – 33
F.C. Porto – 23
Sporting – 18
Belenenses – 4
Olhanense – 1
Marítimo – 1
Carcavelinhos – 1
Boavista – 1

Dir-se-á: mas o Campeonato de Portugal era uma prova a eliminar; não pode, pois, ser vista em igualdade de circunstâncias com uma prova em que jogam todos contra todos.

Porque não, respondemos? No Campeonato do Mundo ou no Campeonato da Europa também as selecções não jogam todas entre si – e nem por isso se questiona a qualidade de Campeão Mundial ou Europeu.

Pela mesma ordem de ideias, ao Benfica, por exemplo, não se deveria reconhecer o facto de ter sido duas vezes campeão europeu: então chamava-se Taça dos Campeões Europeus, agora chama-se Liga dos Campeões; então era uma prova puramente a eliminar, agora tem a fase de grupos...

Outro argumento ainda avançado é o de que, nos Campeonatos de Portugal participavam poucas equipas. É verdade que, nas primeiríssimas edições (não aquelas que o Belenenses ganhou), os participantes eram poucos. Mas, diga-se, também os primeiros Campeonatos da Europa se resumiam, na fase final, a 4 selecções, e nem por isso deixam de ser considerados.

De qualquer forma, não é verdade que, nas edições que o Belenenses ganhou, os participantes tenham sido poucos. Já agora, refira-se que os primeiros Campeonatos da Liga ou Nacionais, ganhos pelo F.C.Porto e pelo Benfica, tiveram só 8 participantes – e por tal razão não deixam de ser computados.

Em contrapartida, neste Campeonato de Portugal de 1932/33, participaram 28 equipas! Acresce que, para lhe acederem, os clubes tinham que ser bem sucedidos nos Campeonatos Regionais – que, no caso de Lisboa, eram disputadíssimos, quase com o mesmo afã e denodo com que hoje se disputa um Campeonato Nacional, pelo Benfica, pelo Sporting, pelo Belenenses, pelos então poderosos Carcavelinhos e União de Lisboa e, até, durante vários anos, pelo Vitória de Setúbal.

A partir de 1934/35, surgiram, então, os Campeonatos da I Liga/Nacionais, que realmente apuravam os melhores de Portugal; e os Campeonatos de Portugal que se disputaram desde essa época até 1937/38, deviam ser considerados juntamente com a Taça de Portugal, que lhe sucedeu a partir de 1938/39.

No mínimo dos mínimos, os Campeonatos de Portugal deveriam todos ser considerados juntamente com a Taça de Portugal – e, então, o Belenenses teria sido o vencedor de 6 edições (não de 3). Note-se, de resto, que nos troféus das primeiras Taças de Portugal está inscrita a designação de Campeão de Portugal (veja-se, na sala de troféus, a que conquistámos em 1942). Como veremos amanhã, quando Belenenses e Sporting se defrontaram na final da Taça de Portugal, o jornal “A Bola” considerou que era o quinto confronto entre as duas equipas – ou seja, três para Taça de Portugal e duas para o Campeonato de Portugal.

Agora, o que não lembra ao diabo e constitui um escândalo autêntico, é não se considerar em absoluto os Campeonatos de Portugal.
No entanto, eles existiram! E os dirigentes do Belenenses – e seus sócios e adeptos – devem lutar pela reposição da verdade!

Bem, e centremo-nos agora neste Campeonato de Portugal de 1933, que brilhantemente conquistámos. Na mesma época, o Belenenses foi Vice-Campeão de Lisboa. O Benfica ficou à nossa frente (apesar de termos tido o melhor Ataque e a melhor Defesa), e não conseguimos revalidar o título alcançado no ano anterior.

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Iniciou-se então o Campeonato de Portugal. Vejamos a marcha da prova, não somente com os nossos resultados mas, também, os dos nossos maiores rivais;

Na primeira eliminatória, o Belenenses venceu o Lusitano de Évora por 5-1 (para que conste, o Lusitano de Évora participou em 14 Campeonatos da Primeira Divisão); o F.C. Porto bateu o Vianense por 8-0; o Benfica ganhou ao Marinhense por 6-0 e o Sporting venceu a União Operária por 2-1.

Nos oitavos de final, já disputados a duas mãos, a tarefa do Belenenses foi mais difícil: frente ao Carcavelinhos (que, recorde-se, fora Campeão em 1928), perdemos o primeiro jogo por 3-2 mas seguimos em frente ganhando na segunda mão por 5-1; o Benfica venceu ambos os jogos com o Comércio e Indústria por 2-0; o Sporting desembaraçou-se do Luso do Barreiro, com um triunfo por 6-0 e um empate 1-1; o F.C. Porto arrumou a questão no primeiro jogo, com uma vitória 9-1 sobre o União de Lisboa, sendo insuficiente a vitória desta última equipa, na segunda mão, por 4-2.

Até aqui, tínhamos tido os adversários mais difíceis. E nos quartos de final, a tarefa não foi fácil, pois o nosso adversário, o Barreirense, era então um grupo muito forte.

Perdemos o primeiro jogo por 2-1, marca com que ganhámos a segunda mão. Houve, pois, necessidade de um desempate, que o Belenenses venceu por 4-1. Também o Sporting teve dificuldades: face ao Marítimo (que fora Campeão em 1926) ganhou por 3-1 mas sofreu depois, perdendo por 1-0. Por sua vez, F.C. Porto e Benfica defrontaram-se, com resultado invulgar: no seu campo, na Constituição, os portistas triunfaram por 8-0, só de consolação valendo a vitória do Benfica em Lisboa por 4-2.

Nas meias-finais, o Sporting e o Porto tiveram que ir a terceiro jogo, depois de empates 1-1 e 0-0, prevalecendo a equipa verde-branca por 3-1. Quanto ao nosso Belenenses, praticamente resolveu a questão na primeira mão, triunfando por 4-1 sobre o Vitória de Setúbal. No segundo jogo, um empate 3-3 foi suficiente.

E, assim, no dia 2 de Julho de 1933, Belenenses e Sporting disputavam a final no Campo do Lumiar, perante grande expectativa.

Perto de 25 mil pessoas, algo de gigantesco para a época, assistiram ao jogo. Foram até criadas carreiras especiais...

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No estimável livro “Pontapé na Bola – Histórias do Futebol Português”, de Fernando Correia (Sete Caminhos, Lisboa, 2006), podemos ler:

Às três horas da tarde já os eléctricos iam apinhados de público para o jogo, que só começava às cinco e meia.

No Estádio não havia um único lugar vago e, no camarote presidencial, lindas colgaduras punham uma nota de bom gosto e elegância que emprestavam ao espectáculo uma maior beleza, tal como escreviam os jornais da época
”.

(Neste livro de Fernando Correia, pessoa que até nos parece simpática, há também uma muito infeliz referência a Matateu: “...conseguiu a celebridade fora dos circuitos normais dos três ‘grandes’ clubes portugueses”.
Isto é reescrever a história!!! Quando Matateu jogou no Belenenses – e ainda depois, por muitos anos – havia fora de qualquer discussão QUATRO grandes! Aliás, até 1955, já Matateu estava há quatro épocas no Belenenses, a nossa equipa tinha mais pontos acumulados em todos os Campeonatos Nacionais que o F.C. Porto, apesar deste ter participado em duas edições graças a alargamentos. O triste é os nossos dirigentes máximos nada, absolutamente nada, se importarem com isto!).

O Belenenses apresentou o seguinte onze: Morais; José Simões e João Belo; Joaquim Almeida, Rodrigues Alves e César de Matos; Alfredo Ramos, Heitor Nogueira, Rodolfo Faroleiro, Bernardo Soares e José Luís.

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Ao intervalo, o Sporting ganhava por 1-0, golo marcado aos 27 minutos. Aos 10 minutos, o Belenenses desperdiçara soberana oportunidade, com a bola sobre o risco de baliza da equipa sportinguista.

Os nossos bravos rapazes voltaram determinadíssimos para a segunda parte. Apesar do vento contra, Rodolfo Faroleiro, a passe de José Luís, fez o empate ainda no primeiro quarto de hora. Porfiou a nossa equipa, ciosa da vitória. Aos 73 minutos, depois de boa jogada de Alfredo Ramos, veio o segundo golo, novamente por Rodolfo Faroleiro. O título adivinhava-se!

E aos 87 minutos, veio a confirmação: José Luís assinava o 3-1. Eramos Campeões! A festa era belenenses, com muitos adeptos do Sporting a abandonar o campo.

A nossa vitória, além do mais, fora valorizada pelo facto de o jogo se ter disputado no campo habitualmente utilizado pelo Sporting e pela ausência do nosso grande capitão Augusto Silva. Assim, neste jogo, o nosso capitão foi João Belo, que recebeu o troféu das mãos do Presidente da República.

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Aos jogadores foram entregues medalhas. O grande homem, futebolista, atleta e belenenses que foi Joaquim de Almeida, teve mais uma das suas nobres atitudes, correndo para Augusto Silva e oferecendo-lhe a sua medalha.

E ali estávamos! O Belenenses não era apenas o Campeão desse ano: era o mais poderoso clube de futebol em Portugal, no período de 14 anos que decorrera desde a sua fundação.

De facto, em Campeonatos de Portugal, o Belenenses e o F.C. Porto lideravam com três troféus (tendo ambos sido igualmente duas vezes Vice-Campeões). O Benfica tinha dois, o Sporting (e o Marítimo, o Carcavelinhos e o Olhanense), apenas um.

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No mesmo período, o Belenenses vencera quatro Campeonatos de Lisboa, o Sporting, cinco, o Benfica (e o Vitória de Setúbal), dois.

A nossa superioridade sobre os rivais lisboetas era, pois, um facto numérico.

Quanto aos nossos adversários portistas, não podendo encontrar forma de desempate em Campeonatos Regionais (concorríamos em diferentes provas), outros factores dirimiam a questão: o Belenenses era o clube com mais jogadores representados na Selecção Nacional desde o início da sua actividade. Augusto Silva era o mais internacional dos jogadores portugueses e o Capitão da Selecção.

Todos estes feitos se verificavam apesar de, com apenas 23 anos, se ter dado a morte trágica de Pepe em 1931. Com mais 10 ou 12 anos de actividade desse jogador enorme, quantos mais títulos não teríamos conquistado!

Não admira, pois, que o 14º aniversário do clube tenha sido festejado com enorme alegria e pujança (num livro de poemas já mencionado em outra ocasião, Perfeito Rodrigues refere-se a isso). Na altura, o Belenenses foi condecorado como Comendador da Ordem Militar de Cristo. Era o reconhecimento da força e do mérito do clube dos rapazes da praia.

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Era então Presidente da Direcção José Rosa, o pai de Acácio Rosa. O Vice-Presidente era Francisco Mega.