quinta-feira, 13 de julho de 2006

Neste dia, em . . .

1929 – Inaugurada nova sede, na Rua da Junqueira, Nº 279

O Belenenses aprestava-se para as comemorações do décimo aniversário. Dez anos em que, além de notáveis resultados desportivos para um clube tão jovem, apostara fortemente na construção de instalações condignas, fossem desportivas ou de apoio aos associados. O aumento da massa associativa foi uma preocupação constante, com múltiplas iniciativas.

Havia um arreigado fervor clubista a que não era alheio o bairrismo do povo de Belém. Orgulhoso do Clube do seu bairro, aderia na medida das suas possibilidades. Era um povo, na sua esmagadora maioria, pertencente a classes de baixos recursos financeiros, trabalhadores enrijecidos pela dura labuta (ver o caso de Pepe e a forma como faleceu aos 23 anos de idade – e era uma figura importante) e não um grupinho de meninos «queque», beneficiados do sistema. É importante sublinhar e reavivar memórias pois actualmente e desde há muitos anos, assistimos a uma campanha cujo objectivo é conotar o Belenenses com o «estado novo» como querem pintar actualmente muitos, adeptos de outros clubes, de forma a desviar a atenção dos benefícios que os seus próprios clubes recebiam e ainda recebem apesar de todas as transformações sociais que ocorreram no País. É uma tentativa de reescrever a história apoiando-se na teoria de que se torna verdade uma mentira desde que muitas vezes repetida. Além do mais, pouco ou nada o Clube actual faz por repor essa verdade, contando a sua história como ela ocorreu.

O Belenenses era – e sempre foi – um Clube do povo e para o povo. Como, aliás, o prova a madrugadora preocupação de disponibilizar espaços para a prática de diversas modalidades de forma acessível a todos, com grande ênfase para a ginástica. Pense-se que então o acesso à escolaridade era muito reduzido e que mesmo aí não se dava à prática desportiva o carácter obrigatório necessário.

Como temos abordado ao longo destes apontamentos, o fomentar da prática desportiva (o que é bem diferente da profissionalização da mesma prática) foi sempre uma missão inteiramente assumida e com inevitáveis custos ao nível da competitividade do Futebol, inevitavelmente o desporto com mais projecção e objectivo principal do Clube, desde cedo consagrado em estatutos e no próprio nome do Clube.

Neste espírito, o Belenenses inaugurava, nesta data em 1929 a sua nova Sede, que passava para a Rua da Junqueira, no Nº 279, o que significou uma considerável melhoria da qualidade e dimensão das instalações.

Para se entender a dimensão do que já então representava o Belenenses, veja-se os principais factos e feitos desta primeira década:

1920
Vice-Campeão de Lisboa em Futebol. Vitórias nos primeiros jogos com Benfica e Sporting. Conquista da Taça dos Mutilados da Guerra (final, vitória 2-1 sobre o Sporting).

1921
Vitória 2-0 sobre o Sevilha, no primeiro jogo internacional de Futebol. Primeira vitória sobre o F.C.Porto (3-0). Augusto Silva ingressa no Belenenses. Conquista da Taça Belenenses / Sporting / Porto, em Futebol. Início de actividade do Atletismo. Belenenses é determinante na constituição da Associação de Atletismo de Lisboa. Início de actividade do Ciclismo.

1922
Primeiro jogador do Belenenses (Alberto Rio) na Selecção Nacional de Futebol (no 2º jogo desta). Conquista da Taça “O Século” em Futebol (final, vitória 2-1 sobre Benfica). Último jogo de Artur José Pereira.

1923
Posse definitiva da imponente Taça dos Mutilados da Guerra em Futebol.

1924
Conquista da Taça Camões, em Futebol (vitória sobre o Sporting, na final).

1925
Vice Campeão de Lisboa em Futebol. Início da actividade da Natação.

1926
Campeão de Lisboa em Futebol. Vice Campeão de Portugal, em Futebol. Campeão de Lisboa de Infantis, em Futebol. Início da actividade do Pólo Aquático. Um dos mais famosos “quartos de hora à Belenenses” (de 1-4 para 5-4 em jogo com Benfica), em Futebol. Início da actividade do Ciclismo Feminino. Primeiro praticante do Belenenses (Severo Tiago) a integrar a Selecção Nacional em Atletismo. Primeiro praticante do Belenenses (Matos Henriques) a bater um Recorde Nacional de Atletismo. João da Silva Marques vence Travessia do Tejo, em Natação. Posse dos Terrenos das Salésias. Clube tem 1659 sócios.

1927
Campeão de Portugal de Futebol. Vice-Campeão de Lisboa, em Futebol. Pepe marca 2 golos na vitória da selecção nacional sobre a França e é levado em ombros no final. Início da Actividade do Basquetebol. Início da Actividade do Ténis de Mesa. Ciclistas do Belenenses participam na Primeira Volta a Portugal em Bicicleta. Começo das obras de construção do Estádio nas Salésias. Nova sede na Rua da Junqueira. Surgem as duas primeiras filiais do Belenenses.

1928
O Belenenses é o clube mais representado na Selecção Nacional de Futebol que brilhou nos Jogos Olímpicos de Amesterdão, com Augusto Silva, Pepe, César de Matos e Alfredo Ramos. Realiza-se o primeiro jogo nas Salésias. Vice-Campeão de Lisboa de Pólo Aquático. António Augusto Carvalho ganha Campeonato Nacional de Fundo, em ciclismo. Primeiro jogo de Basquetebol. Início da actividade do Râguebi (primeiro jogo, vitória 11-0 sobre o Benfica). Início da Actividade do Hóquei em Campo.

1929
Campeão de Portugal em Futebol. Campeão de Lisboa em Futebol. Pepe marca 10 golos num jogo do Campeonato de Lisboa, o que constitui record de todos os Campeonatos. Primeiro jogo do Belenenses disputado fora de Portugal. O Belenenses passa a ser o clube com mais jogadores representados na selecção nacional de Futebol, o que manterá até 1935. Augusto Silva torna-se Capitão da Selecção Nacional. Vice-Campeão Nacional de Atletismo, em Equipas Masculinas.


Honrando este fantástico palmarés obtido em tão pouco tempo e que guindara o Belenenses aos postos cimeiros do futebol português, entendeu a Direcção presidida por João Luis de Moura, realizar um extenso programa de comemorações, que se estendeu de 15 a 23 de Setembro, Dia da Fundação.

Como relata, Acácio Rosa, no seu «Factos Nomes e Números, 1919-60», no programa constaram duas provas de Ciclismo, vários jogos de Futebol, Râguebi, Basquetebol, Hóquei em Campo e Ténis de Mesa para o que foram convidados vários clubes portugueses, destacados representantes de cada dessas modalidades.

Photobucket - Video and Image Hosting

As comemorações, que foram uma demonstração cabal de todo o prestígio alcançado em tão pouco tempo, seriam encerradas no dia da Fundação, com a realização de um jantar comemorativo e, simultaneamente, de homenagem a todos os representantes do Clube.



1966 – Vicente no primeiro jogo da Selecção Nacional numa fase final de um Campeonato do Mundo

Nesta data, Portugal estreou-se finalmente numa Fase Final do Campeonato do Mundo de Futebol. E começou bem, vencendo, com alguma surpresa, a então poderosa e conceituada Hungria por 3-1.

Photobucket - Video and Image Hosting

Foram convocados para esta presença em Inglaterra dois jogadores do Belenenses: José Pereira e Vicente. Foram ambos titulares na maioria dos jogos. José Pereira só ficou no banco no primeiro jogo, sendo titular nos restantes, e Vicente esteve sempre no Onze até se lesionar, só por isso não participando nos dois últimos encontros.

Aliás, o historial de presenças da Selecção de Portugal nos grandes palcos do futebol mundial dá-nos a noção do que tem sido o percurso do Belenenses:

Em 1928, nos Jogos Olímpicos de Amsterdão (então um autêntico Campeonato do Mundo, pois não havia nenhuma limitação, etária ou outra, à presença de jogadores), o Belenenses teve quatro jogadores seleccionados, Augusto Silva, Pepe, César de Matos e Alfredo Ramos, dos quais os três primeiros foram habituais titulares. O Belenenses era a equipa mais representada.

Photobucket - Video and Image Hosting

Em 1966, neste Campeonato do Mundo de Inglaterra – a meio da, para nós, terrível década de 60 –, o Belenenses, apesar dos momentos difíceis que viveu, teve dois jogadores convocados e habituais titulares. Foi o terceiro clube com mais jogadores titularess e, aliás, num dos jogos, foi mesmo o segundo.

Em 1984, no Europeu de França, a recuperar da primeira queda, não tivemos nenhum jogador convocado, embora, logo a seguir, tenhamos contratado um dos presentes, o guarda-redes Jorge Martins.

Em 1986, para o Campeonato do Mundo do México, fomos o quarto clube com mais jogadores convocados, três em 22: Jorge Martins, Sobrinho e José António. Só este último chegou a jogar, nos escassos três encontros que disputámos, mas tal mostrava um Belenenses, de Mário Rosa Freire, José da Silva e Henry Depireux, a reerguer a cabeça. (Henry Depireux acaba de se tornar Seleccionador do Congo, ele que já foi Vice-Campeão de África. Para alguns de nós, era o homem ideal para tutelar todo o futebol do Belenenses: vive apaixonadamente os projectos, mas é metódico e pragmático; tem o Belenenses no coração; Chegava ao clube de manhã cedo e saía às tantas da noite; conhece bem o futebol africano, onde nos poderia encontrar bons jogadores acessíveis. Era muito caro, dirão alguns... Duvidemos que fosse inacessível; mas não é muito mais caro ir buscar gente que nos “espeta” na Segunda Divisão?).

Depois, nas participações em Fases Finais do Europeu de 1996, 2000, 2002, 2004 e 2006, nem um jogador do Belenenses convocado. Significativo, não? E mais triste é que, se em 1996 Fernando Mendes, Paulo Madeira, Tulipa e Neves foram hipóteses, de então para cá, que dizer? Nem soubemos ir buscar o Rui Jorge em devido tempo...

Sobre a exibição de Vicente contra a Hungria, escreveu-se: “Uma das grandes exibições da equipa” (Aurélio Márcio no Diário Popular); “É de elementar justiça salientar os que realmente se distinguiram: Eusébio, Vicente e Carvalho” (Francisco Mata no Século). O nosso grande Vicente fez, pois, um excelente jogo, cabendo-lhe aliás marcar Bene, a grande vedeta da Hungria).