quarta-feira, 26 de julho de 2006

Neste dia, em . . .

1927 – Nasce Matateu

E, uma vez mais, ainda e sempre, Matateu...

Não pode de maneira alguma caber nas nossas concepções que uma(s) quaisquer(s) Divindade(s), naturalmente universais e imparciais, possam ser invocadas ou “metidas ao barulho” para decidir a sorte de um jogo, onde dois grupos de jogadores e, portanto, de adeptos, querem a vitória e, inerentemente, a derrota do outro.

Deixa-nos na maior perplexidade a tendência de jogadores para dizer “Graças a Deus ganhámos” ou “Graças a Deus, marquei”, como se Deus – a existir um tal Deus que fosse interveniente nos pequenos assuntos do mundo, a hver o Absoluto que assim se tornasse tão relativo – pudesse querer que os “outros” sofressem a tristeza da derrota ou do golo que não puderam evitar. Já nem entro na questão de saber como é que, com tantas rezas e implorações de sentido oposto, Deus ou alguma Entidade Superior decidiria a quem atender...

E, no entanto, ao pensar em Matateu, nas infindáveis narrativas das suas jogadas, dos seus golos, dos seus golpes de génio, fica-nos a sensação de que, durante uma década, Deus esteve entre nós, no Belenenses...

Certo, certo, é que um deus do futebol mundial envergou a camisola do Belenenses, durante 13 anos!


Photobucket - Video and Image Hosting

Em outros artigos, sobretudo no texto admirável e tão completo que o Álvaro Antunes elaborou à data da sua morte (27 de Janeiro de 2000), fizemos muitas afirmações sobre Matateu. Decerto, ficará ainda sempre algo por dizer; mas, hoje, em vez de afirmações, deixamos antes, preferencialmente, algumas perguntas...

Qual foi o maior jogador de sempre da história do Belenenses? É difícil dizê-lo. A nosso ver, sem desprimor para os gigantes que foram, por exemplo, Amaro e Vicente, há quatro fortes candidatos.

Temos, desde logo, o nosso ilustre Fundador, o grande, o enorme e incomparável Artur José Pereira. Um quarto de século passado sobre o fim da sua carreira, ele era ainda venerado como “o melhor jogador português de todos os tempos”.

Não podemos deixar de ter em conta o grande Augusto Silva, três vezes Campeão de Portugal (e mais tarde, Campeão como treinador), durante 16 anos o jogador Português com mais internacionalizações, o discípulo perfeito do Mestre Artur José Pereira, a garra, a raça e o talento infindáveis (Como é possível que Artur José Pereira e Augusto Silva não tenham a Cruz de Ouro???!!!).

E é impossível esquecer Pepe, que com 19 anos já arrebatava multidões, que 75 anos depois é o jogador com mais golos marcados num só jogo, que deixou um entranhado perfume de génio, na sua, não obstante, tão breve carreira, interrompida pela morte brutal (Pepe morreu aos 23 anos; Matateu chegou ao Belenenses aos 24. Com mais dez anos de Pepe, com mais cinco anos de Matateu, quantos Campeonatos mais não adornariam o nosso palmarés?).


Image hosting by Photobucket

E depois, há Matateu. Foi o único que não foi Campeão mas, mesmo assim, talvez tenha sido o maior. Quase todos nós nascemos a ouvir falar de Matateu. Mesmo hoje, em que para grande parte dos nossos sócios, os nomes Artur José Pereira e Augusto Silva (e tantas outras figuras imensas) nada dizem; mesmo hoje, em que é possível um ignorante da televisão dizer que Pepe jogou no Belenenses e no Porto (!!!) e em que o speaker no nosso próprio Estádio diz que ele foi jogador mas pára aí, por mais nada saber (!!!!!!) – talvez desconhecesse que ele jogou no Belenenses e na Selecção – mesmo hoje, não há ninguém que não saiba quem foi Matateu.

Se o Belenenses, com todas as desventuras por que tem passado, ainda é um clube muito popular, deve-o, numa parte importante, indubitavelmente, a Matateu.

E agora, perguntamos: quem foi o maior jogador português de sempre? Dir-se-ia, no status quo vigente e talvez pouco parcial, que foi indiscutivelmente Eusébio; e talvez se acrescentasse que, entretanto, Figo se assumou ao segundo lugar. Mas....será mesmo assim?

Não está em causa o imenso valor futebolístico de Eusébio mas supomos que, se, por exemplo, Eusébio tivesse jogado no Belenenses, e Matateu no Benfica, a questão se pusesse.

Ouvimos de pessoas insuspeitas, por não serem adeptas do Belenenses, que o génio e o valor de Matateu em nada ficava atrás do de Eusébio; simplesmente, este último, teve circunstâncias muito mais favoráveis para a sua consagração nacional e internacional.

Em 1987, Alexandre Pais, hoje Director do jornal “Record”, relatava os esforços do nosso antigo jogador e treinador Carlos Silva (ao tempo, Chefe do Departamento do Futebol do Belenenses e hoje amplamente envolvido na Selecção Nacional) para fazer Matateu voltar a Portugal, vindo do Canadá, onde viveu as últimas décadas da sua vida. Já falámos dessa visita, que efectivamente se concretizou, em outras ocasiões.


Image hosting by Photobucket

Reproduzimos algumas passagens:
Falo-vos desta vez de Carlos Silva e faço-o não exclusiva, mas especialmente, para me referir de seguida à missão impossível a que aderiu com o empenho azul de sempre: trazer Matateu a Lisboa!

Não que eu acredite assim, tout-court, na vinda do Lucas, mesmo que de passagem para o torrão natal, ainda que no início de uma viagem triunfal à terra que o viu nascer e o aguarda para o receber em triunfo. Como o fez a Coluna, Eusébio e Vicente, todos moçambicanos, todos tocados pelo génio da bola. É que, mais cedo, existiu Matateu, não o melhor jogador português, antes seguramente um dos quatro melhores, com Pinga, Travaços e Eusébio; não ‘um dos dez melhores jogadores do Mundo de todos os tempos’ como proclamou a veneração apologética de Carlos Silva, embora indubitavelmente um dos 20 ou 30 melhores jogadores do Mundo de sempre; mas sem nenhuma hesitação, O MELHOR JOGADOR DE GRANDE ÁREA E DE POTÊNCIA DE REMATE DO FUTEBOL PORTUGUÊS e, nessas qualidades (aí sim) um dos dez melhores do Mundo desde que o futebol nasceu para a competição e para o espectáculo (...)

Salvé, Matateu! Os que te esperaram em manhã de nevoeiro, entre pequenas tricas de irmãos, finalmente te saúdam. Com o coração em sangue pelos tempos que não voltam, com o espírito decepcionado pelos golos que ninguém poderá repetir. E dizem-te enfim: OBRIGADO!


Penso que ninguém poderá acusar Alexandre Pais de pecar por excesso nas suas apreciações sobre Matateu. Pelo contrário: elas pecarão eventualmente por defeito, sem nenhum desprimor para o portista Pinga e o sportinguista Travaços, indiscutivelmente grandíssimas figuras do futebol Português (e, já agora, lembremos que Cândido de Oliveira considerava Artur José Pereira superior a Artur Sousa “Pinga”).

E, enfim, ficam as perguntas: porque é que hoje em dia, o Belenenses já não descobre um Matateu, nem um Vicente, nem sequer um Yaúca, nem ao menos alguém que se lhes assemelhe, apesar de ainda haver partes do mundo onde é possível encontrar grandes talentos a preços muito acessíveis? E pior: se hoje descobríssemos um Matateu, passado dois meses, não estaria ele ferrado com direitos de preferência, e passados seis meses não o venderíamos – quiçá o empurraríamos - para o Dragão a Luz ou Alvalade, perante o delírio de muitos dos “filhos da decadência”?



1966 – José Pereira presente no jogo com a Inglaterra para a meia-final do Campeonato do Mundo de 1966

Nesta data, no mítico estado de Wembley, em Londres, Portugal tentava chegar à Final do Campeonato do Mundo.

A tarefa apresentava-se muito difícil, desde logo por defrontarmos a selecção do país anfitriã. Somou-se uma cansativa viagem de comboio de Liverpool para Londres. E, depois, lesionado, o nosso Vicente não pôde jogar. A realidade é que a sua falta fez-se sentir e, com ele, talvez não tivéssemos sofrido um dos golos, não obstante, no resto do jogo, o substituto José Carlos ter estado bem.

Assim, em vez dos dois jogadores dos desafios anteriores, José Pereira foi o único atleta do Belenenses presente no Onze Nacional.

Portugal perdeu por 2-1 e não conseguiu chegar à final. A Inglaterra marcou aos 31 e 79 minutos, Portugal reduziu aos 82 minutos, através de um penalty transformado por Eusébio. A nossa selecção continuou a atacar, remetendo os ingleses a uma defesa a todo custo mas, apesar de uma grande oportunidade perdida a dois minutos do fim, já não chegámos ao empate.




2003 – Belenenses conquista Torneio do Guadiana, ultrapassando Benfica na Final

A época de 2003/2004 foi de péssima memória. Uma das piores classificações de sempre (15º lugar, entre 18 clubes) e uma manutenção assegurada a cerca de um quarto de hora do fim dos jogos da última jornada. A diferença para o 16º classificado (o Alverca, que desceu de divisão) cifrou-se apenas em um golo na diferença dos confrontos directos. Magro e inaceitável pecúlio para um Clube com os pergaminhos do Belenenses e para uma gestão de SAD, que nos escusamos de adjectivar, que apontava como objectivo um dos quatro primeiros lugares. Mais palavras para quê.

A época até começou razoavelmente bem sob a orientação de Manuel José. No entanto a sua saída para o Egipto, pouco tempo depois de iniciado o campeonato, precipitou um descalabro classificativo que só teve paralelo nos tristes anos de descida de divisão.

Na pré-época, foram realizados alguns jogos de preparação que até prometiam um pouco mais que a mediocridade que em épocas anteriores apenas tinham sido quebradas em 2001/2002 com a obtenção do quinto lugar no campeonato, sob a orientação de Marinho Peres, mau-grado não ter dado acesso às competições europeias.

Assim aparecia o Troféu do Guadiana e logo frente a um forte adversário como uma forma de testar o estado da equipa.


Photobucket - Video and Image Hosting

O jogo, disputado em Vila Real de Santo António, decorreu sob intenso calor apesar de ter sido disputado já no final da tarde. Esse factor aliado ao facto de as equipas se encontrarem no início da preparação da época, levaria a crer que o jogo seria disputado num ritmo mais pausado. Não foi o que aconteceu.

O Belenenses entrou de rompante, marcando por duas vezes no primeiro quarto de hora da partida, surpreendendo totalmente o seu adversário. Aos 12 minutos, por Antchouet e, aos 14 por Verona, ainda mal tinham cessado os festejos do primeiro golo.

Depois de oito substituições operadas (contra apenas duas por parte do Belenenses em toda a partida), o adversário conseguiu equilibrar as operações não sem que o Belenenses dispusesse de algumas oportunidades de avolumar o resultado para lá do alcance da recuperação do adversário. Não as converteu, também com mérito do guarda-redes adversário e assim abriu terreno à recuperação da equipa benfiquista. Esta viria a empatar a partida na sequência de dois lances de bola parada. O segundo deles foi mesmo pacientemente aguardado pelo árbitro da partida, que além do tempo compensatório anunciado quando findos os 90 minutos regulamentares, prolongou o jogo o tempo necessário até poder assinalar o livre do qual resultaria o golo do empate.

Assim, a atribuição do Troféu foi decidida imediatamente na marcação de grandes penalidades. Por linhas tortas escreveu-se a justiça da vitória do Belenenses, alcançada pela conversão de duas grandes penalidades contra apenas uma pelo adversário. Marcaram, pelo Belenenses, Sousa e Marco Paulo.

Alinharam pelo Belenenses: Marco Aurélio, Sousa, Filgueira, Wilson, Carlos Fernandes; Pelé, Marco Paulo, Fábio Rosa; Sané (Eliseu), Verona (Leonardo), Antchouet.

Uma vitória sobre um rival é sempre saborosa e motivo para festejo. O pior, nessa época, viria a seguir...

Ao menos, fica a consolação de Manuel José ter ido buscar o Pelé. Três anos depois, a sua venda foi um balão de oxigénio...