1934 – Homenagem do Desporto Nacional a Augusto Silva
Qualquer Belenenses que se preze, que não limite o seu interesse ao presente fugidio e a idolatrar um qualquer “rolador” que para aqui venha, deve ter para com Augusto Silva o máximo respeito e extrema veneração. Ele é uma das “figuras sagradas” do Belenenses e uma legenda do Futebol Português.
Como jogador, estreou-se no nosso clube em 1921 (com apenas 19 anos) e Artur José Pereira logo viu nele o seu sucessor como centro campista de raça, a pautar o jogo da equipa. Envergou a nossa camisola até 1934, despedindo-se do futebol aos 32 anos. Saiu carregado de títulos: 4 Campeonatos de Lisboa (tendo sido Vice-Campeão por outras 4 vezes) e 3 Campeonatos de Portugal, demonstrativos do poderio do Belenenses de então! Foi ainda finalista em duas outras edições do Campeonato de Portugal. Numa delas, a de 1932, em jogo com o F.C.Porto, o Belenses estava a perder por 4-1 a 15 minutos do fim. Deu-se então um dos mais extraordinários “quartos de hora à Belenenses” que fizeram muito da lenda do nosso clube: Artur José Pereira, o nosso ilustre fundador e então treinador da equipa, decidiu avançar Augusto Silva de médio para avançado. Em boa hora o fez: Augusto Silva apontou três golos e o Belenenses recuperou espectacularmente, chegando ao empate.
Na finalíssima, contudo, o Belenenses perdeu por 2-1.
No ano seguinte, o Belenenses não deixou escapar o título, batendo o Sporting, na final, por 3-1. Lesionado, Augusto Silva não pôde disputar o jogo decisivo. Por isso, o Capitão da nossa equipa foi Joaquim de Almeida, outra grande figura do Belenenses (que tanto contribuiu para a construção das Salésias). Assim que recebeu a medalha de Campeão, Joaquim de Almeida correu para a tribuna para a oferecer a Augusto Silva, envolvendo-o em caloroso abraço (e provocando profunda comoção em Augusto Silva). Este gesto ilustra inequivocamente o fervor que então existia no Belenenses e o respeito que Augusto Silva merecia.
Já nos seus tempos de jogador, Augusto Silva revelava especial gosto em ensinar os “miúdos” a jogar, de tal modo que, em 1930 e 1931, apenas a tal se dedicou. Terminada a carreira com jogador, descobrir e preparar jovens talentos era a sua paixão. Subia, no entanto, a treinador principal quando as coisas na equipa não corriam bem ou havia uma necessidade a preencher. Assim aconteceu em 1945. Os resultados foram notáveis. Ainda nesse ano, o Belenenses conquista o seu 5º Campeonato de Lisboa, pondo fim a um interregno de 13 anos. Nessa mesma época, 1945/46, o Belenenses conquistou o Campeonato Nacional. Augusto Silva foi o primeiro treinador português a ser Campeão Nacional.
Mas não foi só no Belenenses que Augusto Silva se distinguiu. Também pontificou na Selecção Nacional. Foi internacional por 21 vezes, tendo marcado 2 golos. Estreou-se em 1925. A partir de 1929, tornou-se o Capitão da “Equipa de Todos Nós”. Foi titular até ao ano em que se despediu de jogador, em 1934. Durante longos 16 anos, até 1950, foi o jogador português com mais internacionalizações!
Juntamente com 3 outros futebolistas do Belenenses – Pepe, César de Matos e Alfredo Ramos -, esteve na Selecção Nacional que participou nos Jogos Olímpicos de Amsterdão, em 1928. Foi tal o valor e a garra que demonstrou, que recebeu o epíteto de “O Leão de Amsterdão”. Marcou o golo da vitória 2-1 sobre a Jugoslávia já no dealbar do jogo. Quando Portugal claudicou, surpreendentemente, face ao Egipto, foi Augusto Silva o esteio que ficou de pé.
Em 1929, quando Portugal foi jogar a Itália, escreveu-se na “Gazzeta dello Sporto”, principal jornal desportivo daquele país: “Augusto Silva – sólido, forte e bronzeado como um lobo do mar, cabelos crespos e negros – foi durante vinte minutos o melhor atleta em campo. Rápido nas entradas, preciso no controlo de bola, resoluto mas leal no ‘corps-a-corps’, o médio-centro impôs-se à admiração da multidão como um jogador de alto valor e excelentes meios técnicos”.
A Festa de 1934 não foi apenas uma homenagem do Belenenses mas do Desporto Português, o que é bem significativo. Do programa constou um jogo de futebol, em que o Belenenses triunfou sobre o F.C.Porto por 4-1.
Por tudo quanto deu ao Belenenses, consideramos de justiça dizer que Augusto Silva está entre as 6 maiores figuras de sempre do nosso clube (a par de Artur José Pereira, Pepe, Amaro, Matateu e Vicente).
1934 – Militão Antunes vence 1º Lisboa-Porto em Ciclismo
Durante décadas esta prova gozou de enorme popularidade no nosso país. Como aconteceu em tantas modalidades e provas ao longo da história, a vitória foi para o Belenenses, neste caso para o seu atleta Militão Antunes. Este último, também obteve um excelente 6º lugar na Volta a Portugal em bicicleta.
1987 – Vitória por 1-0 sobre o Barcelona, para a Taça UEFA
Depois de uma ausência de 11 anos, o Belenenses tinha voltado às competições europeia. É já tradição saírem-nos adversários fortíssimos no sorteio. E, desta feita, e pela 3ª vez, nas 7 participações que então se cumpriam, saiu-nos “na rifa” o poderoso Barcelona.
Estavam ainda por chegar reforços que se viriam a revelar muito importantes (nomeadamente, Zé Mário e Baidek) e tínhamos um certo receio da nossa performance defensiva, sobretudo no jogo da 1ª mão, na Catalunha (que se disputou em 16 de Setembro). No entanto, aos 90m, o resultado continuava em 0-0, o que era excelente. Nos descontos, o pesadelo: sofremos 2 golos! Custava a acreditar! Lembro-me de ir de carro na marginal, a ouvir na rádio, e até parei logo que pude, não fosse bater em alguém. Era outra vez o nosso “fado”.
Apesar disso, mantínhamos uma grande esperança. Confiávamos na nossa capacidade atacante e o Barcelona mostrara debilidades. Contávamos os dias para o 2º jogo, decididos a ter uma grande noite europeia em que, pelo menos, não faltasse o nosso apoio, e fosse feita uma séria tentativa da equipa em virar a eliminatória
E chegou a noite da 2ª mão. O Restelo voltava a “vestir-se” de Europa, em trajes de gala. As ruas à volta do estádio estavam outras vez cheias de Beléns… como nos velhos tempos! A alegria pairava no ar. A assistência cifrou-se em 25.000 pessoas, entusiásticas. Estreámos a nova iluminação, de luxo (por acaso, falhara o ensaio da véspera; mas naquele dia, ali estava ela, esplendorosa). Uma grande parte de nós quase rebentava de renovado orgulho e mostrámos isso mesmo quando as equipas entraram em campo: “Belém! Belém! Belém!". Lindo, arrebatador!
Aos 5 minutos, foi o delírio no Restelo: uma vedeta do Barça tentou dar “baile”, Mladenov tirou-lhe a bola, cruzou e Mapuata (que fora gozado como tosco pelos catalães) fez o 1-0. Foi uma explosão estrondosa!. As bancadas dos sócios tremiam com os nossos saltos, literalmente! Gritámos até ficarmos rouco, agitando freneticamente bandeiras e cachecóis. Era imenso o calor do nosso entusiasmo…
Depois, vieram 20 minutos alucinantes: Mapuata isolado falha, Chiquinho idem e um autêntico climax: o Guarda-Redes deles encontrava-se adiantado, Mladenov fez um chapéu magistral a uns bons 40 metros (à meia volta!), a bola ia a entrar, o guardião blaugrana a recuar, a recuar... e em cima da linha salvou para canto! Seria um golo para ficar registado a letras de ouro! Tantas oportunidades perdidas...
A 2ª parte foi consumida com contínuas picardias (um jogador espanhol chegou a arrancar a bandeirinha das mãos do liner, por discordar de um lançamento!) mas nos últimos 10m voltámos à carga. Mesmo a acabar a partida, houve remate de Chiquinho à baliza do Barca, o guarda-redes não agarrou, José António voou para a recarga, era o golo (e empate na eliminatória)… mas por centímetros não chegou lá! Como na altura se disse, tivesse o nosso Capitão cabelo em vez da sua carequinha e tinha chegado à bola e ao golo! Foi por milímetros! Seria o 2-0 e o empate na eliminatória.
No final, vitória no jogo, derrota na eliminatória mas, de qualquer modo, uma noite inesquecível!