Os resultados desportivos obtidos pelo Belenenses ao longo dos últimos 15 anos têm estado muito, muitíssimo aquém dos que foram conseguidos ao longo das décadas anteriores, de brilhante historial.
Com efeito, desde a conquista da Taça de Portugal de 1989, não mais tivemos uma época futebolística de verdadeira alegria. E, não nos iludamos, não nos deixemos iludir, são os resultados futebolísticos aquilo que verdadeiramente mexe com os adeptos. É preciso tê-lo em conta, e gostava de o afirmar peremptoriamente, ainda quando eu sou defensor do ecletismo do Belenenses – embora, como tentarei expor em futuro artigo, de um ecletismo inteligente, de impacto maximizado, e com pressupostos diferentes dos actuais.
Mesmo, porém, noutras modalidades colectivas, nesta última década e meia, e contrastando com os inúmeros sucessos anteriores, apenas conquistámos 2 campeonatos da 1ª Divisão no escalão principal: o de Andebol , em 1994 – já vai para uma dúzia de anos – e o de Râguebi, em 2003. É demasiado pouco para a grandeza do palmarés do Belenenses.
Houve alguns feitos importantes de atletas individuais? Alguns houve, sim. Mas que repercussão tiveram? Tomemos o exemplo do brilhante feito de Anaís Moniz ao sagrar-se Campeã Mundial de Juniores em Triatlo. Merece as nossas mais vivas congratulações (mais a mais quando o Belenenses é não somente o clube que representa mas, também, o clube do seu coração). No entanto, quando ela chegou ao aeroporto, além de colegas do Triatlo, dirigentes do clube e familiares, havia apenas dois adeptos – eu e o meu filho (é certo que tinha acabado de haver o jogo de Futebol em Penafiel mas, mesmo assim...). Que percentagem de portugueses sabem que uma atleta do Belenenses foi Campeã Mundial? Mais: que percentagem de adeptos do Belenenses souberam que uma atleta sua foi Campeã Mundial? Dez por cento? Talvez nem isso...
Pode ser que este ano o Andebol ou o Basquetebol, para além do Râguebi, nos propiciem uma alegria. Vão bem lançadas, essas nossas equipas. Fazemos votos por que sejam bem sucedidas e não deixaremos de felicitar os responsáveis, visto que procuramos sempre ser justos. Não obstante, a modalidade principal, o Futebol, está na posição que sabemos (embora ainda haja muito campeonato pela frente para inverter, até exactamente, a nossa posição na tabela classificativa). Por favor, não nos tentemos anestesiar: preferíamos estar cá por baixo em todas as outras modalidades e estar lá em cima no Futebol, porque é este que tem verdadeiro impacto na opinião pública.
Entretanto, a nosso ver, pior que a crise desportiva do clube, é a sua crise anímica. Eu divirjo de quem pensa que essa crise anímica é consequência da crise de resultados. Julgo, muito convictamente, que é fundamentalmente o contrário.
As miseráveis assistências nos jogos de Futebol, que conseguem ser ainda piores que as já de si péssimas da época passada (este ano, a melhor assistência até agora foi com o V.Guimarães e não ultrapassou as 3.500 pessoas!), o silêncio e frieza das bancadas, o cinzentismo vigente (exactamente o oposto do Belenenses original) são os sinais indiscutíveis dessa crise. Mas há outros: a perda acentuada dos valores característicos do Belenenses, a perda de identidade e de referências, a adesão de muitos a empréstimos e subserviências, a tendência para a mentalidade de coitadinho-pequeninho, os protestos quando se hasteia a bandeira do orgulho belenenses e os aplausos quando ela se arreia, etc, etc, etc. Basta ver algumas reacções ao nosso artigo “Em Busca do Belenenses Profundo”: quem se sentiu atingido, esteve nesse mesmo momento a confessar, a comprovar e a gritar essa mesma crise.
Do clube heróico que foi no início, vergando adversários poderosos pela sua vontade indomável e pelo clamor dos seus apoiantes (o famoso quarto de hora à Belenenses partia dos incentivos do público azul), do clube de mística, respeitado de chapéu na mão, que eu conheci na minha infância e juventude, o Belenenses descambou para situações a todos os títulos lamentáveis na década de 90, e tornou-se esta coisa cinzenta (embora honesta, justiça seja feita!) na década presente... Que tristeza!
Até chegar a década de 90, o Restelo era, fora de dúvida, o 4º estádio português com maiores assistências; o Belenenses, o 4º clube a levar mais gente a jogos fora, pelo menos em distâncias idênticas. E agora? Continuamos a ser o 4º clube nacional em número de adeptos mas as assistências aos nossos jogos são das piores da 1ª Divisão. Como é isto possível?
A resposta fácil e habitual é: são os maus resultados. Mas será mesmo essa a causa? A Académica está com melhores assistências que nós e, no entanto, mesmo nestes terríveis últimos 15 anos, quantas vezes ficaram eles melhor classificados que nós? Uma vez, duas no máximo. São os resultados?! Em 2002, o Belenenses ficou em 5º lugar, enquanto o Guimarães e o Braga (os tais, dizem alguns, que estão muito além da nossa capacidade competitiva!!!!) ficaram bem mais para baixo; mas as nossas assistências já eram piores que as deles. De resto, neste actual campeonato, nós estamos à frente do Vitória de Guimarães em pontos – mas, e quanto a número de público? A questão será (só) mesmo a dos resultados?
Várias vezes já o escrevi mas, face ao exposto, quero reiterar que enfrentar e combater essa crise anímica do nosso clube é, ou deveria ser, a primeira de todas as prioridades. Lamento que (por falta de sensibilidade para certas subtilezas psicológicas, acho eu) não se pense assim, agindo-se em conformidade. Cada dia que passa, mais o clube definha. O Belenenses profundo está deprimido, acabrunhado, de olhos fechados.
Raramente terei criticado fosse o que fosse sem que, primeiro, tenha construtivamente sugerido medidas. Por isso, lembro que, para fazer face a este problema tremendo, propus a criação de uma poderosa e nuclear Vice-Presidência de Imagem e Projecção e uma série de pelouros, departamentos e iniciativas (ver http://belenensessempre.blogspot.com/2005/10/um-programa-e-uma-carta.html ), quando, há uns 8 ou 9 meses atrás, elaborei um conjunto de propostas para o futuro do clube.
Tristemente (quase) nada foi feito. Os responsáveis não falam aos quase duzentos mil belenenses que não consultam o site oficial; a última carta para os sócios foi enviada há 14 meses (não falo, é claro, das remetidas pelas candidaturas aquando do último acto eleitoral; então sim, houve tempo, iniciativa, diligência e recursos...); não se vê o mais leve plano para projectar o clube e o retirar deste torpor, desta tristeza profunda que invadiu e se instalou no Restelo...
Com efeito, desde a conquista da Taça de Portugal de 1989, não mais tivemos uma época futebolística de verdadeira alegria. E, não nos iludamos, não nos deixemos iludir, são os resultados futebolísticos aquilo que verdadeiramente mexe com os adeptos. É preciso tê-lo em conta, e gostava de o afirmar peremptoriamente, ainda quando eu sou defensor do ecletismo do Belenenses – embora, como tentarei expor em futuro artigo, de um ecletismo inteligente, de impacto maximizado, e com pressupostos diferentes dos actuais.
Mesmo, porém, noutras modalidades colectivas, nesta última década e meia, e contrastando com os inúmeros sucessos anteriores, apenas conquistámos 2 campeonatos da 1ª Divisão no escalão principal: o de Andebol , em 1994 – já vai para uma dúzia de anos – e o de Râguebi, em 2003. É demasiado pouco para a grandeza do palmarés do Belenenses.
Houve alguns feitos importantes de atletas individuais? Alguns houve, sim. Mas que repercussão tiveram? Tomemos o exemplo do brilhante feito de Anaís Moniz ao sagrar-se Campeã Mundial de Juniores em Triatlo. Merece as nossas mais vivas congratulações (mais a mais quando o Belenenses é não somente o clube que representa mas, também, o clube do seu coração). No entanto, quando ela chegou ao aeroporto, além de colegas do Triatlo, dirigentes do clube e familiares, havia apenas dois adeptos – eu e o meu filho (é certo que tinha acabado de haver o jogo de Futebol em Penafiel mas, mesmo assim...). Que percentagem de portugueses sabem que uma atleta do Belenenses foi Campeã Mundial? Mais: que percentagem de adeptos do Belenenses souberam que uma atleta sua foi Campeã Mundial? Dez por cento? Talvez nem isso...
Pode ser que este ano o Andebol ou o Basquetebol, para além do Râguebi, nos propiciem uma alegria. Vão bem lançadas, essas nossas equipas. Fazemos votos por que sejam bem sucedidas e não deixaremos de felicitar os responsáveis, visto que procuramos sempre ser justos. Não obstante, a modalidade principal, o Futebol, está na posição que sabemos (embora ainda haja muito campeonato pela frente para inverter, até exactamente, a nossa posição na tabela classificativa). Por favor, não nos tentemos anestesiar: preferíamos estar cá por baixo em todas as outras modalidades e estar lá em cima no Futebol, porque é este que tem verdadeiro impacto na opinião pública.
Entretanto, a nosso ver, pior que a crise desportiva do clube, é a sua crise anímica. Eu divirjo de quem pensa que essa crise anímica é consequência da crise de resultados. Julgo, muito convictamente, que é fundamentalmente o contrário.
As miseráveis assistências nos jogos de Futebol, que conseguem ser ainda piores que as já de si péssimas da época passada (este ano, a melhor assistência até agora foi com o V.Guimarães e não ultrapassou as 3.500 pessoas!), o silêncio e frieza das bancadas, o cinzentismo vigente (exactamente o oposto do Belenenses original) são os sinais indiscutíveis dessa crise. Mas há outros: a perda acentuada dos valores característicos do Belenenses, a perda de identidade e de referências, a adesão de muitos a empréstimos e subserviências, a tendência para a mentalidade de coitadinho-pequeninho, os protestos quando se hasteia a bandeira do orgulho belenenses e os aplausos quando ela se arreia, etc, etc, etc. Basta ver algumas reacções ao nosso artigo “Em Busca do Belenenses Profundo”: quem se sentiu atingido, esteve nesse mesmo momento a confessar, a comprovar e a gritar essa mesma crise.
Do clube heróico que foi no início, vergando adversários poderosos pela sua vontade indomável e pelo clamor dos seus apoiantes (o famoso quarto de hora à Belenenses partia dos incentivos do público azul), do clube de mística, respeitado de chapéu na mão, que eu conheci na minha infância e juventude, o Belenenses descambou para situações a todos os títulos lamentáveis na década de 90, e tornou-se esta coisa cinzenta (embora honesta, justiça seja feita!) na década presente... Que tristeza!
Até chegar a década de 90, o Restelo era, fora de dúvida, o 4º estádio português com maiores assistências; o Belenenses, o 4º clube a levar mais gente a jogos fora, pelo menos em distâncias idênticas. E agora? Continuamos a ser o 4º clube nacional em número de adeptos mas as assistências aos nossos jogos são das piores da 1ª Divisão. Como é isto possível?
A resposta fácil e habitual é: são os maus resultados. Mas será mesmo essa a causa? A Académica está com melhores assistências que nós e, no entanto, mesmo nestes terríveis últimos 15 anos, quantas vezes ficaram eles melhor classificados que nós? Uma vez, duas no máximo. São os resultados?! Em 2002, o Belenenses ficou em 5º lugar, enquanto o Guimarães e o Braga (os tais, dizem alguns, que estão muito além da nossa capacidade competitiva!!!!) ficaram bem mais para baixo; mas as nossas assistências já eram piores que as deles. De resto, neste actual campeonato, nós estamos à frente do Vitória de Guimarães em pontos – mas, e quanto a número de público? A questão será (só) mesmo a dos resultados?
Várias vezes já o escrevi mas, face ao exposto, quero reiterar que enfrentar e combater essa crise anímica do nosso clube é, ou deveria ser, a primeira de todas as prioridades. Lamento que (por falta de sensibilidade para certas subtilezas psicológicas, acho eu) não se pense assim, agindo-se em conformidade. Cada dia que passa, mais o clube definha. O Belenenses profundo está deprimido, acabrunhado, de olhos fechados.
Raramente terei criticado fosse o que fosse sem que, primeiro, tenha construtivamente sugerido medidas. Por isso, lembro que, para fazer face a este problema tremendo, propus a criação de uma poderosa e nuclear Vice-Presidência de Imagem e Projecção e uma série de pelouros, departamentos e iniciativas (ver http://belenensessempre.blogspot.com/2005/10/um-programa-e-uma-carta.html ), quando, há uns 8 ou 9 meses atrás, elaborei um conjunto de propostas para o futuro do clube.
Tristemente (quase) nada foi feito. Os responsáveis não falam aos quase duzentos mil belenenses que não consultam o site oficial; a última carta para os sócios foi enviada há 14 meses (não falo, é claro, das remetidas pelas candidaturas aquando do último acto eleitoral; então sim, houve tempo, iniciativa, diligência e recursos...); não se vê o mais leve plano para projectar o clube e o retirar deste torpor, desta tristeza profunda que invadiu e se instalou no Restelo...
Até onde se vai permitir o agravamento desta crise? Até ao ponto de não retorno? A culpa da situação a que chegámos não é da Direcção eleita em Abril, resultando de um acumular de acções e, sobretudo omissões, de muitos anos; mas ela passará também a ser culpada, se nada se fizer. Há que mobilizar todas as vontades, quanto antes!