sexta-feira, 11 de novembro de 2005

Que se passa, Marco?

Há alguns dias atrás já me referira a este assunto, em artigo que publicámos analisando o plantel 2005/2006. Aflorei-o ao de leve, não pretendendo aprofundá-lo muito. Volto agora ao assunto, infelizmente.

Tudo o que poderão ler a partir deste ponto do texto insere-se numa lógica muito simples e que passo a explicar, previamente, de modo a que não restem dúvidas sobre o propósito do que escrevo e do apreço que tenho pelo Marco.

Tenho profunda admiração pelo Marco Aurélio, considero-o uma referência absoluta do Belenenses dos últimos anos.

Como homem, pela sua simpatia, abertura e afabilidade. Pelo respeito que demonstra pelos adeptos e pelos colegas de profissão.

Como profissional do Belenenses tenho para com ele uma enorme gratidão, porque reconheço tudo o quanto já nos deu de bom ou de mau evitou que nos acontecesse.

Recordo as tantas vezes em que, com as suas defesas impossíveis, foi ele que nos salvou de desgraças maiores.

Quantas vezes foi ele o enorme rochedo que nos defendeu das piores intempéries. Quantas vezes foi ele o garante da estabilidade e da coesão do grupo.
A última coisa que faria, em face do que acabam de ler, seria desrespeitá-lo. Não.

Mas algo não está bem com o Marco. É impossível não o ver.

Começámos a época em Alvalade. Jogo sempre difícil. Não perdemos por causa do Marco. Não. Perdemos apenas porque em dois lances capitais (os dos golos) o Marco a que estamos habituados não esteve lá. Noutro qualquer guarda-redes não estranharíamos. Provavelmente. Mas com um guarda-redes desta classe estranhamos.
Pensei então: “Bem, o jogo mau da época do Marco está feito. A partir daqui isto volta ao normal”.
Mas não voltou.

O jogo deste sábado passado foi apenas um exemplo, mais óbvio, da intranquilidade visível.
Apesar de continuar a fazer algumas defesas “impossíveis” há algo de errado. Gostava de perceber o quê. Não conseguindo ser adivinho, nem tal me competindo, limito-me a registar o facto.

O Marco não tem sido o esteio, o garante da estabilidade e da confiança na defesa. Antes pelo contrário. Como incontornável referência que é para os companheiros, o seu momento menos bom também não lhes transmite tranquilidade.

Em várias situações reparo que hesita por demais, em situações que normalmente resolvia de forma decidida.
A sair da baliza, por exemplo. São já muitas vezes, mesmo muitas, em que se vê bolas que são dele e o Marco não reage, não sai da baliza ao encontro da bola, antes espera, espera... e “a gente” desespera.

Apesar de ele já não ser uma criança, não creio que o seu problema seja ao nível da capacidade física.
Se o Marco não está bem, se se mostra repetidas vezes intranquilo, representando ele o que representa na equipa, algo deve ser feito. Os atletas devem ter um acompanhamento neste sentido. É bom que o façam.

Repito o que referi a esse propósito na Análise ao Plantel 2005/2006:

Marco Aurélio é o titular indiscutível. Estatisticamente o seu domínio é avassalador.(...)

(...) A curto prazo, diria pelo menos dois ou três anos não deverá haver necessidade de grandes alterações. Marco Aurélio, tirando alguma situação conjuntural que altere o cenário actual, apresenta condições para prolongar a sua carreira durante este período.

Mesmo não sendo uma prioridade imediata, este sector deverá merecer a melhor atenção durante esta e a próxima época para garantir a continuidade sem sobressaltos de um dos sectores mais críticos de uma equipa.
(...)

(...)Quando vejo o próprio Marco Aurélio, muito hesitante em certas jogadas e noutras ficando muito longe do que lhe é reconhecido por todos, pergunto-me o que se passará na realidade por detrás desta aparência de normalidade.
Um jogador experiente para mais um guarda-redes tem na sua defesa o seu apoio ou o seu factor de estabilidade ou instabilidade. É frequente ouvir (melhor na TV) Marco Aurélio a orientar a defesa, fazendo uso da sua larga experiência (positivo) e da ausência de um patrão na defesa.
A instabilidade ou hesitação que por algumas vezes patenteou devem-se, quanto a mim, ao estado geral anímico da equipa (não sei se físico também) mas acima de tudo por ainda não estar totalmente identificado com todos os elementos que compõem a defesa ou, simplesmente, por não haver uma relação de confiança.
Apesar de falhas isoladas continua a ser um baluarte, um símbolo e uma referência para a equipa.
(...)”


Que este apontamento sirva para duas coisas:
- Para que digamos o que precisa ser dito e cumpramos a nossa função de alerta a quem nos quiser ler.

- Para que, ao levantar o tema de forma desassombrada (sim, o Marco é apenas um Homem), possamos aqui prestar a nossa homenagem e demonstrar o nosso apoio a essa figura grande do Belenenses, que é o Marco Aurélio.

Termino em discurso directo e por certo ser-me-á perdoada a excessiva familiaridade, pois só falei com ele e muito brevemente, por duas ou três vezes.

Para mim serás sempre o Imperador. Volta depressa que ainda precisamos muito de ti.