domingo, 15 de janeiro de 2006

Belenenses - Sporting: Tudo Num Jogo

As linhas que se seguem não constituem uma crónica. Ela será feita, mais tarde, pelo Nuno. Representam, somente, um desabafo. Note-se que este post é da minha exclusiva responsabilidade, nela não sendo envolvidos os restantes editores do blog.

O Belenenses perdeu hoje com o Sporting por 1-0, no Restelo.

Isto, para mim, significa perder o jogo que mais me dói perder.

Há dois clubes que “detesto” visceralmente. Esses clubes são o Benfica e o Sporting. Claro, também tenho cá as minhas “coisas” com o Boavista, o F.C.Porto e o V. Setúbal (por esta ordem) mas não é tão visceral.

Por essa razão, os jogos com o Benfica e o Sporting, mais a mais em nossa casa, representam muito mais do que um jogo. Isto é puramente instintivo. Não tem a ver com lógica. Obviamente, não ignoro que, infelizmente, na posição em que estamos, é mais importante em termos pontuais ganhar ao Gil Vicente, ao Estrela da Amadora ou ao União de Leiria (que tristeza e que vergonha!). Mas são nestes jogos com os (para mim) rivais ao nível do instinto que a coisa dói cá dentro muito fundo (derrota) ou conduz a estados de euforia (vitória).

Se medir até ao limite, confesso que a “aversão” é mais visceral para com o Sporting. Claro que me irrita até ao indizível a propaganda jornalística e estatal à volta do Benfica; e sei que é o Benfica, mais que ninguém, o clube beneficiado e privilegiado por excelência.

Mas... na minha família, como em muitas outras, havia três ramos. Um era (e é) Belenenses; outro, (irmão do meu pai), benfiquista; outro (marido da irmã da minha mãe e os irmãos dele), sportinguista. O meu tio benfiquista, pessoa de bem a quem muito estimava, sempre falou do Belenenses com respeito; pelo contrário, o meu tio sportinguista, ao nível do autêntico estafermo que sempre foi, nunca perdia oportunidade de picar e amesquinhar o Belenenses. Por isso, cada vitória nossa sobre o Sporting era uma bofetada na cara dele e dos seus não menos abjectos (sic) irmãos, e uma derrota...certeza de piadas porcas.

Por isso, no limite, o Sporting está no topo das minhas embirrações clubísticas. Depois, acresce os momentos a que assisti (a meio da década de 70 e no fim dos anos 80), em que nos voltámos a assomar a uma grande rivalidade com o Sporting (a retomar o que sucedeu desde a nossa fundação até ao início dos anos 60) e poder disputar uma maior fatia de adeptos lisboetas. Enfim, o Sporting sempre foi, preferencialmente, o clube das élites sociais e financeiras, dos viscondes, dos meninos ricos. Claro, depois vem as cenas indecentes que os “lagartos” já fizeram no estádio (mas nisso, o Benfica ainda é pior) ou os escândalos da arbitragem (mas, nisso, Porto e Benfica pedem meças).

E pronto, é isto. Perdemos e doeu.

O jogo teve um pouco de tudo, como que se fosse a síntese deste “calvário” que o Belenenses atravessa e de como é difícil, terrivelmente difícil, ser do Belenenses. Num editorial excelente, há uns 17 ou 18 anos atrás, Alexandre Pais falou do Belenenses “como um clube nobre e atormentado, tantas vezes infeliz”. E é. Infeliz e triste. A tristeza paira sob o Restelo há décadas e é talvez por isso que amo desesperadamente o Belenenses. (O Editorial que referi era uma tentativa de conciliar Mário Rosa Freire e Acácio Rosa. Meu Deus! Há 17 anos atrás, defrontavam-se esses dois gigantes; nas últimas eleições defrontaram-se Cabral Ferreira e Mendes Palito. Sem ter pessoalmente nada contra ou a favor de ninguém, está tudo dito e muita coisa fica explicada...).

Teve um pouco de tudo, o jogo.

Teve uma táctica inicial deplorável de Couceiro e uma exibição paupérrima da nossa equipa da 1ª parte, sobretudo nos primeiros 30 minutos, culminados num golo muito mal sofrido.

Passou por ter que ouvir os festejos lagartos e ver as suas hordas de javardos animalescos na cena já habitual de partir cadeiras. É a vergonha que as matilhas dos clubes de estado (Benfica, Porto e Sporting) vão fazendo impunemente, perante o silêncio cúmplice e nojento da comunicação social.

Continuou no festival de ocasiões que desperdiçámos na 2ª parte, onde melhorámos muito e mostrámos a vulgaridade da equipa sportinguista, sem dúvida uma das mais frágeis daquele clube que alguma vez vi no Restelo (meus ricos Mladenov e Zé Mário, ou Gonzalez e Quaresma, e Scopelli e Marinho Peres: a uma equipa verde destas, eram 4 ou 5 a zero!).

Prosseguiu no habitual “gamanço”, ao ser-nos sonegado um penalty.

Teve o seu climax na infelicidade de falharmos um penalty. Já vi este filme várias vezes. Como se não bastasse o resto, Benfica, Porto e Sporting ainda ficam com a sorte! Pode dizer-se: o Sporting também falhou um penalty. Mas é totalmente diferente. Se tivéssemos empatado, a história do jogo teria sido outra. O penalty a favor deles surge já nos descontos, quando a nossa equipa, naturalmente, já pouco se importava em defender.

Gostava de fazer referências individuais a três jogadores.

A primeira vai para Rúben Amorim. Falhou o penalty. Acontece a todos. Matateu, Eusébio, Pelé, Maradona, Van Basten, todos falharam penaltys. Não culpo Rúben Amorim. Mas culpo Couceiro por ter posto essa carga emocional e de responsabilidade em cima de um dos dois jogadores mais jovens da nossa equipa.

A segunda menção, e de honra, vai para Sousa. A 2ª parte foi grandiosa. Todos sabemos que ele tem as suas limitações técnicas. Mas o que ele correu, lutou e empurrou a equipa para a frente, fica como um exemplo.

A terceira referência é para Dady. Gostei. Mexido e habilidoso, mostrou pinta de jogador. No entanto, questiono o que andou e anda a fazer a nossa SAD. Com dois jogos em casa em Janeiro, e com Meyong fora, só dois dias antes do 2ª jogo chegou um avançado. Andou-se a mendigar junto do F.C.Porto, continuando a expor-nos à humilhação. A venda de Rolando ao F.C.Porto foi desmentida tarde e a más horas e sem me convencer. Sei desde há dias que não vem ninguém emprestado. Basta ver a evolução do inquérito no blog CFBelenenses. Claramente, houve gente que deixou de lá ir votar “em massa” no "a favor" e não duvido quem era essa gente. Naturalmente, o "não" está agora em clara vantagem. A manipulação (não pelos editores do blog, claro) deixou de interessar. Só há 3 ou 4 dias, porém, é que a SAD terá pensado em alternativas. Se é que pensou... Silva e Rui Jorge estão livres, não podem ser emprestados, e não sei se há outra razão para não estarem cá...


Nem sei o que sinto quando penso que é Couceiro e esta maneira de estar da SAD que vai preparar a próxima época. “Shit happens”. Pois acontece! Sobretudo, quando nos pomos a jeito...