Dor de alma
Já passaram dois dias e ainda não passou.
Há dois jogos por época que não suporto perder mais do que todos os outros. Este é um deles.
E se a derrota, só por si, já me faria doer a alma, a forma como perdemos torna a dor persistente, insuportável e não reactiva à própria passagem do tempo.
Porquê?
Porque nos derrotámos a nós próprios.
Perdemos porque tivemos medo, porque entrámos com medo e porque tardámos a perceber que o medo, afinal, não tinha qualquer razão de ser, que era só um problema nosso, que infligíamos a nós próprios.
Mas, medo de quê?
Vem a parte mais estúpida: de uma equipa vulgaríssima que veio ao Restelo para ser derrotada, assim nós tivéssemos querido ganhar.
No futebol está tudo inventado. Ele joga-se, pelo menos, com um ponta de lança.
Não há, repito, não há, no desporto chamado futebol tácticas que não incluam ponta de lança.
O “4-6-0” não existe.
Não existe em sítio nenhum do mundo, seja em que contexto for.
Jogar, perdão, não jogar, em 4-6-0 significa dizer ao adversário que entrámos para perder. Ele que escolha quando e como.
Logo, o 4-6-0, apesar de não ser punido pelas leis do jogo (deveria ser) é anti-jogo.
É uma traição ao princípio mais básico do futebol – tentar ganhar.
É conduta anti-desportiva.
Por isso, falhámos na coisa mais básica que existe neste desporto. Jogá-lo.
E acabámos derrotados pelos nossos próprios fantasmas.
Curioso, este record de asneira táctica dá-se quando temos um ponta de lança (suponho que até um dos mais caros do plantel) no banco. Pesado, sem ritmo, mas de boa saúde.
O efeito de ter entrado, mesmo nessas condições, produziu resultados quase instantâneos.
E esse erro táctico é ditado pela decisão de um treinador que, segundo quem o contratou, e passo a citar: “partilha os valores do clube”
Paro por aqui.
A dor, essa, não sai de cá.
Política de Estádio - questões de curto-prazo
Para efeitos deste capítulo a expressão “vandâlos” designa o conjunto de meliantes organizados que dá pelo nome de claques, que cá vêm partir cadeiras, insultar o nosso clube e disputar batalhas campais com a polícia.
Está excluído o Sportinguista comum, respeitador dos outros, ainda que fervoroso no apoio ao seu clube.
Já há 3 décadas que assisto à “invasão” do Restelo por vândalos e hordas bárbaras afins. Estou vacinado e habituado.
Mas há aqui coisas que não fazem sentido.
Tenho ido a Alvalade e à Luz todos os anos ver o Belenenses.
Tenho memórias frescas dos últimos jogos nos velhos estádios e nos novos.
E constato uma coisa surpreendente: o número de “vândalos” nos nossos jogos em Alvalade é inferior, repito, é INFERIOR, ao número dos que se deslocam ao Restelo.
Este facto, assaz surpreendente, deve ter, na minha opinião, a seguinte explicação: O “vândalo” tem acesso mais fácil e barato ao Restelo do que ao seu próprio estádio.
Vendo as coisas do prisma que me parece fundamental: O Belenenses facilita mais a entrada do “vândalo” no seu estádio, do que o próprio clube de que o “vândalo” é adepto, o facilito no seu.
O “vândalo”, claro está, retribui. Por isso, comovido e agradecido, arranca cadeiras do estádio para levar para casa como recordação e entoa cânticos de agradecimento jogo afora ao clube que lhe facilitou o acesso e à própria mãe deste.
Presumo que o clube não faça isto sem esperar retorno. Imagino que este se dê algures nos camarotes centrais, em forma de bonacheirões sorrisos Lagartos e expressões onde se pode ler: “não há nada como vir jogar um sítio de gajos porreiros. Vocês são mesmo diferentes. Vá, toma lá um chequezito de 5 mil para pagar as cadeiras”.
O retorno vem também de outras formas, por exemplo, da consciência de mais um bom serviço prestado à “sociedade civil de Lisboa”.
Tais serviços fazem com que ofereçamos aos “vândalos” um bilhete entre cerca de €7,5 e €10, ou seja, mais ou menos um terço do que o “vândalo” pagaria para entrar no seu estádio.
Sou pelos preços baixos. Sou por uma política segundo a qual um indivíduo de coração pastel não deixe de poder ir ao estádio por causa de dinheiro.
Mas, por amor de Deus, não posso aceitar uma política de preços baixos que contribua para a vandalização (física e psicológica) do nosso estádio.
Neste meu primário, e seguramente fanático, modo de ver as coisas (odeio gente que chama nomes à mãe do meu clube), acho que perdemos uma excelente oportunidade de pôr os bilhetes daquela superior ao preço mínimo de 25 euros.
Assalta-me ainda uma dúvida: será que todos os “vândalos” pagaram mesmo os já de si míseros €10?
A dúvida atormenta-me.
E só passa quando me disserem qual foi a receita do jogo, em especial a daquele anel inferior. Temo o pior.
Continuando com as questões de curto prazo, verifico o aumento de cachecóis verdes na bancada dos sócios.
Este aspecto, quanto a mim, simboliza a falência absoluta do método dos “convites”.
É preciso recuperar sócios e, de entre estes, recuperar o número dos que vão aos jogos.
A política de convites é contra-producente.
É um tiro no pé.
Há outros métodos (falarei noutra altura)
Agora, isto é que não!
Ainda por cima parece que é fino os sócios fazerem-se acompanhar de lagartos.
Não tenho nada contra a presença de lagartos no estádio, mas na geral e pagando o preço que eu pago para ir a Alvalade.
Também aqui está tudo inventado. Experimentem ir à Luz ou a Alvalade para os lugares dos sócios. Eles não vos deixam. E ainda bem para vocês.
Isto está inventado ao ponto de se reger por um dito Português muito simples que é o "cada macaco no seu galho".
No nosso estádio há-de haver, pelo menos, um "galho" nosso - a "nossa" bancada, a bancada dos sócios.
É o mínimo!!!!
Quem quiser praticar o acto de sã convivência de ir à bola com adeptos do adversário, cada um deles trajado com as respectivas cores, sentados lado a lado (acto que eu acho muito bonito) terá outros lugares do estádio para se sentar.
Não ali, na "bancada dos sócios", no sítio do fervor, no sítio onde eu não posso estar lado a lado com um indivíduo que torce para que o meu clube perca!
Depois, há aqui questões absolutamente ridículas: eu pago um cativo de 60 Euros, pago 13 quotas por ano de 8,5 Euros e pago a "quota social única" que foram 35€, enfim, já não lembro. Pago tudo isso de bom grado como tudo o que pago ao clube, mas espero um retorno mínimo: que me garantam que estou à vontade, que, mesmo em minoria no estádio, verei o jogo ao lado da "minha gente". Só dela.
Eu acho que tenho esse direito mínimo. Eu pago o máximo para o ter.
E, no entanto, sou forçado a gramar com Lagartos ou Lampiões no meu sector!!! Lagartos ou Lampiões que pagam míseros 10 Euros para lá estar!!!
Eu cresci naquela bancada. Naquela bancada tenho imensas recordações. Considero-a como o nosso local "sagrado".
Por amor de Deus! Lá que decidam andar de mãozinhas dadas com Lagartos e Lampiões, lá que decidam enveredar pela política do "entreposto", como disse o Laurentino, lá que queiram ser os "Mister Simpatia" do futebol Português, tudo bem. Façam isso nas relações institucionais. Foram eleitos. Têm essa legitimidade.
Agora, poupem-me a mim, que não vos fiz mal nenhum!!!
Uma coisa é ser-se "diferente". Outra coisa é ser-se "toino".
Sejam toinos à vossa vontade. Agora, não façam de mim "toino"
Política de estádio – Questões de longo prazo
O Restelo é lindo.
Sou por um estádio “grande”.
Mas há várias formas de um estádio ser “grande”.
A pior delas será aquela em que se entrega uma superior inteira a “vândalos”.
Uma superior enorme em semi-círculo sobre uma pista de atletismo não homologada e que fica a 50 metros do rectângulo de jogo.
O recreio perfeito para hordas de vândalos se confrontarem com a polícia, com esta em manifesta desvantagem.
Para mais, quando os donos do estádio, na definição da política de bilhetes, também não ajudam nada.
Aliás, qualquer dia, a polícia farta-se. Se eu fosse polícia já me tinha fartado. Obrigaria quem facilita a entrada a vândalos a confrontar-se com eles!
Também aqui está tudo inventado. O estádio ideal para vândalos é aquele em que estes se compartimentam em sectores demarcados, de preferência com arame farpado com um cordão policial de cada lado e um corredor directo para a carrinha da PSP. Os custos policiais diminuem. Está também provado cientificamente que os vândalos se portam melhor. Alguns, tornam-se mesmo recuperáveis como cidadãos.
Para nós, mesmo que cresçamos como acho que temos de crescer para sobreviver, este estádio, com esta configuração, não será o estádio ideal.
Como disse, há várias formas de um estádio ser grande. O Restelo poderia sê-lo (até mais bonito e espectacular) de outras formas, que se ajustassem à nossa realidade e àquilo que devemos ser no futuro.
Defendo um clube que recupere a sua vocação popular, que recupere milhares dos seus (não de convidados), que tenha expressão nas bancadas, mesmo aceitando que não somos um clube de massas como lagartos e lampiões.
Nessa condição, não defendo um estádio pequeno, o que, só por si, seria sinal de fraqueza, seria uma auto-limitação.
Porém, em termos pragmáticos, sei que teremos que os recuperar gradualmente e que teremos que gerir o nosso estádio em conformidade.
Como disse, creio que o actual não serve.
Além disso, em termos de construção, não é eterno (acho eu).
Fazemos 100 anos em 2019
Faltam 13.
É uma questão de “longo prazo”.
Mas é uma questão.
A curto prazo, como disse, já muito se poderia fazer. Bastava deixarmos de ser “toinos”.