domingo, 8 de janeiro de 2006

Neste dia, em . . .

1962 – Morte de Augusto Silva

Augusto Silva é indiscutivelmente uma das primeiríssimas figuras de toda a história do Belenenses e atrevemo-nos a dizer que nem sempre lhe foi feita suficiente justiça.

Nascido em 1902, estreou-se no Belenenses como jogador em 1921 (com apenas 19 anos) e o nosso fundador Artur José Pereira logo viu nele o seu sucessor como centro campista de raça, a pautar o jogo da equipa.
Envergou a nossa camisola até 1934, despedindo-se do futebol aos 32 anos. Saiu carregado de títulos: 4 Campeonatos de Lisboa (tendo sido Vice-Campeão por outras 4 vezes) e 3 Campeonatos de Portugal, demonstrativos do poderio do Belenenses de então!

Foi ainda finalista em duas outras edições do Campeonato de Portugal. Numa delas, a de 1932, em jogo com o F.C.Porto, o Belenenses estava a perder por 4-1 a 15 minutos do fim. Deu-se então um dos mais extraordinários “quartos de hora à Belenenses” que fizeram muito da lenda do nosso clube: Artur José Pereira, o nosso ilustre fundador e então treinador da equipa, decidiu avançar Augusto Silva de médio para avançado. Em boa hora o fez: Augusto Silva apontou três golos e o Belenenses recuperou espectacularmente, chegando ao empate. Na finalíssima, contudo, o Belenenses perdeu por 2-1.

No ano seguinte, o Belenenses não deixou escapar o título, batendo o Sporting, na final, por 3-1. Lesionado, Augusto Silva não pôde disputar o jogo decisivo. Por isso, o Capitão da nossa equipa foi Joaquim de Almeida, outra grande figura do Belenenses (que tanto contribuiu para a construção das Salésias). Assim que recebeu a medalha de Campeão, Joaquim de Almeida correu para a tribuna para a oferecer a Augusto Silva, envolvendo-o em caloroso abraço (e provocando profunda comoção em Augusto Silva). Este gesto ilustra inequivocamente o fervor que então existia no Belenenses e o respeito que Augusto Silva merecia.

Já nos seus tempos de jogador, Augusto Silva revelava especial gosto em ensinar os “miúdos” a jogar, de tal modo que, em 1930 e 1931, apenas a tal se dedicou. Terminada a carreira com jogador, descobrir e preparar jovens talentos era a sua paixão. Subia, no entanto, a treinador principal quando as coisas na equipa não corriam bem ou havia uma necessidade a preencher. Assim aconteceu em 1945. Os resultados foram notáveis. Ainda nesse ano, o Belenenses conquista o seu 5º Campeonato de Lisboa, (note-se que os Campeonatos de Lisboa eram quase tão importantes como os Campeonatos de Portugal ou, mais tarde, os Campeonatos Nacionais. Nessa mesma época, 1945/46, o Belenenses conquistou o Campeonato Nacional.

Augusto Silva foi o primeiro treinador português a ser Campeão Nacional. Assim que acabou o jogo que nos sagrou campeões, em Elvas, os jogadores correram para ele e, todos abraçados, entoaram o grito de vitória e de paixão: “Belém! Belém! Belém!”.

Mas não foi só no Belenenses que Augusto Silva se distinguiu. Também pontificou na Selecção Nacional. Foi internacional por 21 vezes, tendo marcado 2 golos e tendo sido Capitão por 8 vezes.

Estreou-se em 1925 (num jogo em que Portugal venceu a Itália por 1-0, o primeiro triunfo de sempre da Selecção Nacional). A partir de 1929, tornou-se o Capitão da “Equipa de Todos Nós”. Foi titular até ao ano em que se despediu de jogador, em 1934. Durante longos 16 anos, até 1950, foi o jogador português com mais internacionalizações, apesar do já referido interregno de dois anos na sua carreira!

Juntamente com 3 outros futebolistas do Belenenses – Pepe, César de Matos e Alfredo Ramos -, esteve na Selecção Nacional que participou nos Jogos Olímpicos de Amsterdão, em 1928. Foi tal o valor e a garra que demonstrou, que recebeu o epíteto de “O Leão de Amsterdão”. Marcou o golo da vitória 2-1 sobre a Jugoslávia já no dealbar do jogo. Quando Portugal claudicou, surpreendentemente, face ao Egipto, foi Augusto Silva o esteio que ficou de pé.

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Em 1929, quando Portugal foi jogar a Itália, escreveu-se na “Gazzeta dello Sporto”, principal jornal desportivo daquele país: “Augusto Silva – sólido, forte e bronzeado como um lobo do mar, cabelos crespos e negros – foi durante vinte minutos o melhor atleta em campo. Rápido nas entradas, preciso no controlo de bola, resoluto mas leal no ‘corps-a-corps’, o médio-centro impôs-se à admiração da multidão como um jogador de alto valor e excelentes meios técnicos”. Esta apreciação resume as características de Augusto Silva: fibra e talento, técnica e raça, valor e inconformismo, energia inesgotável, nunca se dando por vencido. Tantas e tantas vezes, foi ele que galvanizou o Belenenses para transformar derrotas em vitórias.

Na inauguração do Estádio do Restelo, lá esteve Augusto Silva á frente dos desfile de 700 atletas do Belenenses, como porta bandeira, juntamente com Francisco José Pereira (o irmão do principal fundador do clube), Georgete Duarte e Rui Ramos.

Menos de cinco anos depois, ainda antes de completar 60 anos, a morte levou-nos Augusto Silva. No entanto, para quem ama o Belenenses e a paixão e talento com que este nosso clube se fez grande, Augusto Silva estará sempre entre nós, como um autêntico gigante de alma azul.