Parecer-vos-à, estou certo, que só penso no Belenenses e no que se está a passar e nas possíveis consequências de tudo o que se (não) está a conseguir. De certa maneira é verdade. Resulta naturalmente da intensidade com que vivo todas as coisas que me são caras.
É inevitável. Pelo que (não) leio nos jornais pelo que (não) vejo ser feito como a maior das prioridades.
Dou diariamente comigo a pensar se os actuais responsáveis do meu Clube entenderão, da mesma maneira que eu, como é essencial, vital, assegurar a sobrevivência do Clube, assegurar a permanência no principal escalão?
Obviamente que sim, mas (e HÁ SEMPRE UM “MAS”) quando dou comigo a ler frases como “ Roma e Pavia não se fizeram num dia” e outras do género que me escuso a revelar ou comentar fico desconcertado.
Esquecem-se os utilizadores regulares da expressão para uso desculpatório que apesar disso Roma ardeu num dia e pouco importa quem lho pegou. Queimou, morreu, “era uma vez...”.
O Belenenses está vazio de sócios, está vazio de participação popular. Está “às moscas”. Literalmente.
Esta deveria ser a PRIORIDADE Nº1.
Porém, pelo que temos visto, certamente não o é. Caso preocupasse, na medida da gravidade e consequência do problema, ter-se-ia lançado, neste último ano, uma campanha séria e competente de recuperação de sócios e adeptos, apenas com paralelo na lançada em 1967/69 e que nos fez duplicar o número de sócios (com menos meios financeiros e técnicos).
Assisti a algo de aterrador ao fazer quatro capítulos de uma saga, sempre igual, de “O Fim da Ilusão”. Fica aí para registo e para a posteridade, até me arrepia só de ver. Um adepto tem o direito de se deixar iludir. Quem conhece os números tem o dever do contrário.
Face ao que vi e continuo a ver só não digo que o Clube DE FUTEBOL os Belenenses está morto apenas por respeito aos 1000 a 2000 persistentes, dos quais faço (ainda) parte.
Algumas contas simples
Estamos em coma profundo. O número de sócios baixa assustadoramente:
24.056 (13.044 contribuintes), no final de 2001;
22.551 (11.972 contribuintes), no final de 2002 (-1.500 geral e -1050 contribuintes);
21.176 (9.966 contribuintes), no final de 2003 (-1.400 geral e -2.000 contribuintes);
19.156 (9.439 contribuintes), no final de 2004 (-2.000 geral e -500 contribuintes)
Em 3 anos (até 2004) perdemos 4.900 sócios, dos quais 3.600 contribuintes (73% do total perdido).
Ou seja, em percentagem, PERDEMOS, relativamente a 2001, 20% da massa associativa. UM QUINTO!
Ano a ano deixámos para trás 6,24% (em 2002), 6,21% (em 2003) e 9,44%, repito, 9,44% ( ! ! ! ) em 2004. Crise económica o tanas!
Se a estes números mais recentes subtraírmos os piscineiros menores e respectivos progenitores (que são obrigados a ser sócios) o caso assume proporções assustadoras. Pelo menos para mim são.
E por favor não me venham com o argumento da crise económica. Nunca pegou e não é agora que vai pegar.
Temo que veremos valores à volta de 16.000 a 17.000 sócios no relatório de 2005, dos quais 8.000 a 8.500 serão contribuintes.
Pensemos um pouco nas consequências de uma queda na 2ª divisão:
- Vai potenciar o crescimento do número de sócios?
- Vai potenciar uma melhor propagação de imagem e aumentar a projecção mediática (e não só) do Clube?
Se calhar vai... nalgumas “cabeças”.
Mas se não vai, consenso geral pelo menos entre os não-mentecaptos, que tem feito o Clube nas pessoas dos seus responsáveis eleitos nestes 4 anos (volto a excluir propositadamente os resultados do ano de 2005 pela falta do R&C respectivo).
Mesmo os actuais Orgãos Sociais, que já conhecem esta evolução mesmo antes de tomar posse, que têm feito para reverter esta tendência?
A verdade é que, para acordar o Belenenses, é necessário um choque de tal energia que, hoje, sincera e tristemente, não creio que apareça (ou haja) alguém com capacidade para o administrar. Alguém com capacidade de mobilizar de entusiasmar e de fazer chegar a mensagem ao sócio ou ex-sócio mais desgostado ou convencido da inevitabilidade da morte do Clube.
Desabafo
Na ausência de tal capacidade, o Belenenses tornou-se, pela patologia apresentada, um bonito vegetal, embora extremamente decorativo para outros, é certo.
De cara lavada, em coma profundo, bem lavadinho e devidamente algaliado.
Cujos esmagadora maioria de familiares, por desgosto e antecipação de morte, deixaram de visitar. Pré-cadáver que aguarda apenas, na ala dos comatosos profundos, no hospital, a confirmação oficial da morte, comme il faut.
A continuar assim, sem que nada de concreto e continuado seja feito, como qualquer boa Família, a belenense reunir-se-à no funeral para se poder despedir daquele que foi, em tempos, o mais pioneiro e vanguardista Clube português de desportos.
Se continuarmos sem fazer nada, unir-se-à, a breve trecho, o ex-agonizante e já defunto Belenenses ao seu criador, Artur José Pereira, já resignado ao seu madrugador reencontro, juntando-se também à companhia de todos aqueles que, figuras maiores de uma extraordinária gesta, já partiram desta vida terrena, pela lei natural da vida (N.E.: a das pessoas termina obrigatoriamente em morte).
Cumprir-se-á assim um ciclo de vida que poderia ter sido mais longo e glorioso, acima de tudo mais digno, se poupado às vergonhas da decadência das últimas décadas, houvesse para isso dirigentes à altura e com visão que honrasse esses pergaminhos como inicialmente.
Oxalá...
Oxalá ainda fosse possível...
Oxalá houvesse alguém...
Oxalá houvesse Belenenses para deixar aos meus filhos...
Acreditar face a tanta indolência seria um acto de fé. Seria acreditar em algo que não se vê, já se ouviu que seria assim, mas não há provas nem leves indícios da possibilidade de ser ou acontecer. Nem já rumores há dessa vontade de “Crescer”, bandeira agitada nas últimas eleições (embora sem grande convicção, diga-se).
Actos de fé é algo para o qual nunca estive fadado. Acredito até às últimas consequências na intervenção humana, desde que capaz e competente.
Além disso, se enquanto era tempo de aplicar medicina preventiva não o fizemos (as direcções sucessivas têm acesso a informação em “tempo-quase-real”), se já com a patologia latente e em sofrimento há anos continuamos a não acudir negando a medicina curativa, que dizer?
Somos, por analogia, uma daquelas seitas que impede a intervenção médica em auxílio dos seus? Enquanto assiste impavidamente à degradação e morte do paciente por falta de tratamento?
Ou teremos que nos virar para as medicinas alternativas ou práticas de alienação colectiva? Estas últimas aliás parecem estar a resultar em grande parte com os familiares que lá vão (entenda-se ao hospital ver o paciente).
Será algo químico, natural ou. . . ou será algo como isto? . . .