Marco,
Antes de tudo, parabéns e obrigado pela vossa/nossa vitória de 2ª feira, que veio aliviar um pouco o nosso sofrimento. Mas agora, é preciso continuidade.
Antes de tudo, parabéns e obrigado pela vossa/nossa vitória de 2ª feira, que veio aliviar um pouco o nosso sofrimento. Mas agora, é preciso continuidade.
Como todos os que acompanham o Belenenses, sou-te grato pelos serviços que prestaste ao nosso clube.
Não temos a memória curta, e sabemos quantos pontos nos conquistaste, quantas vitórias nos seguraste, quantas derrotas nos evitaste.
Muitas vezes, em horas de aperto, os nossos olhos e os nossos corações se voltaram ansiosos para ti, sabendo que podíamos confiar em que deterias os perigos. Muitas vezes, em lances de surpresa, admirámos e aplaudimos o teu voo elegante, a tua saída oportuna. Muitas vezes rejubilámos quando, lá no alto, acima de todos, agarravas a bola, imperial e nos aliviavas os receios.
E por isso te chamámos Imperador. E por isso, como decerto sabes, te tributámos os nossos aplausos, o nosso respeito e o nosso carinho.
Decerto o sentiste e não ignoras. Mas esse mesmo facto, aliado ao destaque que alcançaste ao serviço ao Belenenses, também te impõem deveres.
Um deles, é o de seres um bom profissional – e sobre isso, nada temos a dizer. Outro, é o de seres uma pessoa educada – e sobre isso, também nada temos a apontar. Mas os deveres não se esgotam aí. Há um outro, de que talvez nunca ninguém te tenha falado, que é o de respeitares o que o Belenenses representa e o efeito que certas declarações podem ter nos sentimentos mais profundos dos seus adeptos.
Durante décadas e décadas, ninguém em Portugal falava em “três grandes” mas, sim, em “quatro grandes”. O Belenenses era um deles. Fomos, muito de nós, educados e criados nesse ambiente, e cada vez que se fala em “três grandes”, sofremos um abalo e um estalo.
A afirmação de sermos um grande clube não foi uma quimera nem significava um “mais ou menos grande”. É grande mesmo!
Não temos a memória curta, e sabemos quantos pontos nos conquistaste, quantas vitórias nos seguraste, quantas derrotas nos evitaste.
Muitas vezes, em horas de aperto, os nossos olhos e os nossos corações se voltaram ansiosos para ti, sabendo que podíamos confiar em que deterias os perigos. Muitas vezes, em lances de surpresa, admirámos e aplaudimos o teu voo elegante, a tua saída oportuna. Muitas vezes rejubilámos quando, lá no alto, acima de todos, agarravas a bola, imperial e nos aliviavas os receios.
E por isso te chamámos Imperador. E por isso, como decerto sabes, te tributámos os nossos aplausos, o nosso respeito e o nosso carinho.
Decerto o sentiste e não ignoras. Mas esse mesmo facto, aliado ao destaque que alcançaste ao serviço ao Belenenses, também te impõem deveres.
Um deles, é o de seres um bom profissional – e sobre isso, nada temos a dizer. Outro, é o de seres uma pessoa educada – e sobre isso, também nada temos a apontar. Mas os deveres não se esgotam aí. Há um outro, de que talvez nunca ninguém te tenha falado, que é o de respeitares o que o Belenenses representa e o efeito que certas declarações podem ter nos sentimentos mais profundos dos seus adeptos.
Durante décadas e décadas, ninguém em Portugal falava em “três grandes” mas, sim, em “quatro grandes”. O Belenenses era um deles. Fomos, muito de nós, educados e criados nesse ambiente, e cada vez que se fala em “três grandes”, sofremos um abalo e um estalo.
A afirmação de sermos um grande clube não foi uma quimera nem significava um “mais ou menos grande”. É grande mesmo!
O Belenenses foi 4 vezes o campeão do nosso país (3 Campeonatos de Portugal, em 27, 29 e 33, e um Campeonato Nacional, em 46). Quando se tornou tricampeão, nem o Benfica e o Sporting o tinham feito. Fomos seis vezes vice-campeões, uma delas perdendo o título a quatro minutos do fim. Em cerca de 70 campeonatos, ficámos 17 vezes nos três primeiros e 26 vezes nos quatro primeiros. Ganhámos ainda três Taças de Portugal, estivemos nas finais de várias outras. Fomos o primeiro clube português a ter um estádio relvado e coberto em Portugal. Quando o mais bem sucedido clube do mundo, o Real Madrid, inaugurou o seu estádio, foi ao Belenenses que convidou; e quando celebrou as bodas de prata do mesmo, foi ao nosso clube que voltou a convidar. Três dos nossos jogadores, até aos anos sessenta, foram considerados os melhores (de sempre) de Portugal: Artur José Pereira (o nosso fundador), Pepe e Matateu. Durante muitos anos, fomos o clube que mais jogadores deu à Selecção Portuguesa e outro grande jogador nosso, Augusto Silva (3 vezes Campeão como jogador e 1 como treinador), foi o mais internacional dos jogadores portugueses durante quase 20 anos. As Torres de Belém e o grande Mariano Amaro, foram lendas imensas do futebol Português. Vicente, foi outra delas. Era ele o jogador, no mundo inteiro, que melhor marcava o Rei Pelé, e era este próprio a reconhecê-lo.
Nós sabemos, meu caro Marco, que os tempos são outros e que o presente está distante dessa grandeza. As vozes que enchiam os nossos estádios de brados de incitamento e triunfo, muitas delas, partiram já deste mundo, e outras afastaram-se, mortas de outra maneira: de saudade e de um desgosto insuportável. Não sei se já te disseram isto. Se não disseram, deviam ter-te dito.
Nós sabemos, meu caro Marco, que os tempos são outros e que o presente está distante dessa grandeza. As vozes que enchiam os nossos estádios de brados de incitamento e triunfo, muitas delas, partiram já deste mundo, e outras afastaram-se, mortas de outra maneira: de saudade e de um desgosto insuportável. Não sei se já te disseram isto. Se não disseram, deviam ter-te dito.
Mesmo assim, ainda temos sobressaltos de grande clube. Olha, no jogo contra o Braga, vieram 16 adeptos de Ovar - vista a tarja? Ovar é uma pequena cidade a 300 km de Lisboa. Só 4 clubes em Portugal têm assim adeptos no país inteiro - e até no mundo. Ainda que com menos, nós somos um deles. E é preciso ter um coração enorme para resistirmos a tantos desgostos que temos tido.
Vem isto a propósito, meu caro Marco, de uma visita que fizeste recentemente a uma escola. Noutros tempos, muitos daqueles jovens seriam do Belenenses. Hoje, com tantos desencantos, e com a terrível propaganda que se faz de outros clubes, eram menos. Mas alguns havia. Um deles, aliás, levou um cachecol do Belenenses.
Tinham que te fazer a pergunta sacramental: se não gostavas de ter jogado num outro clube, “num grande”. E tu respondeste que sim, e até os nomeaste. Sei que não o fizeste por mal. Mas imaginas que bofetada não recebeu aquele(s) jovem(ns) do Belenenses? Imaginas que soco não levamos quando vocês, jogadores, e sobretudo um tão respeitado como tu, dão respostas dessas em público? Gostavas que disséssemos que, em vez do Marco Aurélio, gostávamos de ter um grande guarda-redes?
Tu podes dizer que a nossa grandeza é do passado. Em grande medida, é verdade. Mas existiu, foi bem real e imensa (e não desistimos de a recuperar!). E por isso, deve ser respeitada. Quando, daqui a trinta anos, tu já não fores capaz de voar para a bola como fazes agora, não gostarás que se negue que o fizeste, que foste um grande, um belíssimo guarda-redes - pois não?
Vocês, jogadores, têm o direito de procurar melhores contratos ou maior projecção para a vossa carreira. Reconhecemos isso, da mesma forma como nós quereríamos sempre reforçar-nos com melhores jogadores. Mas tal como nós devemos evitar a referência a que o jogador X do Benfica, o jogador Y do Porto, ou o jogador Z do Real Madrid são melhores que vocês (até porque, enquanto envergarem a nossa camisola, queremos sempre ver-vos como os melhores do mundo), assim vocês, podendo tratar da vossa vida, com correcção, devem abster-se de certas afirmações.
Talvez não saibas, Marco, talvez não te tenham dito mas, para grande parte dos Belenenses, falar em grandes, excluindo-nos, é uma bofetada imensa e brutal! Dói-nos muito cá dentro.
Eu tenho-te por um homem de bem e espero, tenho a certeza que vais ser sensível a isto. O que foi dito, está dito, não se pode apagar. Mas, para o futuro, por favor, tem-no em conta; e, se queres de alguma forma emendar o mal que foi feito, ensina-o também aos teus colegas, que te respeitam. Ainda na segunda feita te vimos a juntar alguns deles para virem agradecer os nossos aplausos.
Para além de tudo, respeitamos-te como homem e como atleta. Estamos certos que continuarás a defender a nossa camisola com a dignidade com que sempre o fizeste e confiamos que o farás com o brilhantismo a que nos habituaste.
Tinham que te fazer a pergunta sacramental: se não gostavas de ter jogado num outro clube, “num grande”. E tu respondeste que sim, e até os nomeaste. Sei que não o fizeste por mal. Mas imaginas que bofetada não recebeu aquele(s) jovem(ns) do Belenenses? Imaginas que soco não levamos quando vocês, jogadores, e sobretudo um tão respeitado como tu, dão respostas dessas em público? Gostavas que disséssemos que, em vez do Marco Aurélio, gostávamos de ter um grande guarda-redes?
Tu podes dizer que a nossa grandeza é do passado. Em grande medida, é verdade. Mas existiu, foi bem real e imensa (e não desistimos de a recuperar!). E por isso, deve ser respeitada. Quando, daqui a trinta anos, tu já não fores capaz de voar para a bola como fazes agora, não gostarás que se negue que o fizeste, que foste um grande, um belíssimo guarda-redes - pois não?
Vocês, jogadores, têm o direito de procurar melhores contratos ou maior projecção para a vossa carreira. Reconhecemos isso, da mesma forma como nós quereríamos sempre reforçar-nos com melhores jogadores. Mas tal como nós devemos evitar a referência a que o jogador X do Benfica, o jogador Y do Porto, ou o jogador Z do Real Madrid são melhores que vocês (até porque, enquanto envergarem a nossa camisola, queremos sempre ver-vos como os melhores do mundo), assim vocês, podendo tratar da vossa vida, com correcção, devem abster-se de certas afirmações.
Talvez não saibas, Marco, talvez não te tenham dito mas, para grande parte dos Belenenses, falar em grandes, excluindo-nos, é uma bofetada imensa e brutal! Dói-nos muito cá dentro.
Eu tenho-te por um homem de bem e espero, tenho a certeza que vais ser sensível a isto. O que foi dito, está dito, não se pode apagar. Mas, para o futuro, por favor, tem-no em conta; e, se queres de alguma forma emendar o mal que foi feito, ensina-o também aos teus colegas, que te respeitam. Ainda na segunda feita te vimos a juntar alguns deles para virem agradecer os nossos aplausos.
Para além de tudo, respeitamos-te como homem e como atleta. Estamos certos que continuarás a defender a nossa camisola com a dignidade com que sempre o fizeste e confiamos que o farás com o brilhantismo a que nos habituaste.
Um abraço azul. Belém até morrer!